Agar e o Livro-lei escrita por Dédalum Samigina


Capítulo 1
Tudo foi feito em sete dias




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Geni e Agar moravam em um povoado de tamanho médio, não muito desenvolvido e eram pessoas bem peculiares.

Não são muitas pessoas que lidariam com o câncer como a mãe de Agar. Ninguém nunca a viu se afogando em lamúrias por causa da doença – alguns até afirmam que ela se tornou mais vívida após a chegada dela.

Geni, mãe de Agar, não era lá muito popular, embora boa pessoa fosse sem dúvida – vivia envolvida em trabalhos de caridade e, ah! Grande coração tinha aquela Geni! Mas, por mais bondosa que fosse, acabava com sua imagem criar um filho sozinha e também tinham os boatos – vários deles! – dentre os quais se destacavam ela ser prostituta e seu filho ter vindo de um cliente.

Seja lá qual for a verdade, para todos Geni era uma botânica e seu filho, muito bem educado – ainda que sua curiosidade ingênua de garotinho de oito anos irritasse alguns.

Agar era bom com lógica e sabia que conflitos surgiam sem ela, então começou a crer que tudo que vinha dela era bom. Foi assim até seu aniversário de 11 anos, quando lhe anunciaram que iria para um lugar especial com outros de sua idade, onde lhes ensinariam as leis do povoado, e lhe deram um livro para que levasse junto àquele lugar.

A pessoa que ficou responsável de cuidar da turma de Agar contou de que existia um ser magnífico que amava muito os habitantes daquele lugar e que, por isto, deveriam obedecer suas leis ou algo muito ruim aconteceria – afinal, ele os amava tanto que nos puniria caso não obedecessem a ele e o amassem de volta. Agar, com medo, acreditou na história por um longo tempo e sempre voltava a ler o Livro-lei que lhe deram.

O deus de Agar e de seu povo era justo e bondoso, castigava os malvados por seus crimes contra ele, era todo-poderoso e poderia fazer o que quisesse em um piscar de olhos. Tudo que havia de errado no mundo era culpa do maior inimigo do criador: uma própria criação dele que se voltou contra ele, querendo poder. O criador não quis destruir a criatura, então apenas a expulsou de seu paraíso sagrado onde apenas os puros residiam e a deixou vagando no mundo, trazendo outras criaturas para o lado da desgraça.

O bondoso criador fez isto apenas porque queria que a fé das pessoas nele fosse testada. Algumas pessoas que foram extremamente bondosas para com as outras em sua vida foram para um lugar horrível após a morte porque não quiseram crer que este bondoso criador existe.

O lugar horrível foi criado pelo mesmo criador da criatura horrível e da maldade – que foi criada apenas como um teste para ver se os seres são realmente bons -, e lá reside até hoje todas as almas que não quiseram crer no deus bondoso. Algumas pessoas muito boazinhas sofrem muito naquele lugar por um motivo estúpido, mas Agar não quis dar atenção para isto, já que o deus bondoso deixou um livro avisando o que aconteceria com estas pessoas mas mesmo assim elas não quiseram obedecer. Agar estava de acordo com isto pois sabia que não tinha nada o que fazer.

Após um ou dois anos, Agar começou aprender sobre algumas guerras em sua escola e notou que algumas delas foram travadas por povos que acreditavam em um mesmo deus – o seu. Pesquisou em livros e revistas e descobriu que muitas pessoas estavam sendo agredidas em lugares próximos e que estas mesmas pessoas sofriam os mesmos preconceitos que sua mãe, Geni, e que as pessoas usavam o Livro-lei como desculpa para as agressões.

Agar sabia que sua mãe não era uma pessoa ruim só porque seu deus não havia lhe dado o corpo que queria – era uma mulher no corpo de um homem – e que ele não a puniria por querer “ser o que não era”.

Agar decidiu ler novamente o seu livro-lei e notou que os agressores estavam certos sobre aquilo estar escrito lá. Sua mãe estava violando uma lei importante, era uma terrível pecadora.

Mas não era isto que dizia o coração do garoto e por isto começou a duvidar as palavras de seu deus; o deus que o fez crer na bondade para com o próximo... não existia mais.

Ele odiou muito aquele deus - até o dia em que foi ao hospital com sua mãe. Ela foi para o consulta e Agar ficou vagando pelos cantos do hospital, onde encontrou o quarto de uma idosa que lhe contou uma parte de sua história.

Ela estava para morrer e nenhum de seus seis filhos jamais veio lhe visitar; era um tanto solitária, conversava apenas com as enfermeiras nas raras vezes em que vinham lhe ver. Sua única alegria era pensar que um dia a sua dor acabaria e que encontraria o conforto no paraíso de seu deus. Rezava muito para isto acontecer.

Agar se encontrou com sua mãe não muito tempo depois e eles voltaram por vários dias para ver a velha senhora - até o dia em que faleceu, sorrindo.


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Notas finais do capítulo

- A ideia para Geni veio da musica "Geni e o Zepelim".



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