Stay With Me escrita por Fenix


Capítulo 9
Contando à Michele




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Quando nos encontramos no dia seguinte na faculdade, eu lhe pedi para que fosse à minha casa, ela não entendeu muito bem, óbvio eu não falei diretamente sobre o assunto, mas disse que queria que ela visse um filme. Já tínhamos comentado sobre "Orações Para Bobby", Michele não parece uma pessoa que tem preconceito e então me senti bem comentando sobre o filme com ela, logo depois eu a convidei para assistir e ela aceitou sem hesitar.

Voltamos da faculdade e fomos direto para a minha casa, meus pais tinham saído com Bruna para o shopping, Aline ainda estava trabalhando e ficamos apenas eu e Michele, assim podemos assistir ao filme sem problemas. Enquanto eu fazia a pipoca, Michele vai me contando sobre seu termino do namoro, eu particularmente não sou bom em dar conselhos, mas sou um ótimo ouvinte! Adoro poder ajudar, principalmente quando é um amigo.

Eu me segurava para não contar de Zac pra ela, talvez devesse esperar mais um pouco, vamos ver a sua reação depois do filme. Então me mantive quieto e ás vezes me atrevia em dar palpites e alguns conselhos que apesar de achar inúteis, Michele parece concordar com alguns.

– Vou levando os copos pra sala - Diz Michele, indo até o armário em cima da pia e pegando dois copos.

– Tudo bem, eu já levo a pipoca - Respondo.

Ela pega o refrigerante na geladeira e caminha para a sala, coloco a pipoca no pote e paro um pouco para tomar fôlego, estou prestes a contar para ela sobre quem eu sou, e isso me assusta! E se tudo der errado agora? Fico alguns segundos olhando sério pra parede, pensando da forma como seriam as próximas horas.

– Fê? - Michele aparece na porta da cozinha, eu olho pra ela devagar - Vamos assistir?

– Ah, sim, eu já terminei aqui - Pego a tigela e vou com ela até o sofá da sala - Se prepara você vai chorar muito...

– Ai meu Deus! - Ela diz rindo.

– Eu não sou de chorar e chorei horrores com esse filme - Sentamos no sofá e nos cobrimos com edredom.

– Esse filme é sobre o que mesmo?

– Você já vai assistir... - Digo, enquanto procuro o controle remoto da televisão, com a minha incrível habilidade de perder as coisas, não sei onde deixei o controle.

– Não está na cozinha? - Pergunta Michele.

– Eu não deixei na cozinha!

– Bom, em algum lugar tem que estar.

Nos levantamos para procurar o controle pelo sofá, ao retirar o edredom, meu celular cai no chão e desliza até a parede.

– Merda! - Eu falo ao ouvir o som dele caindo no chão.

– Eu pego - Michele vai até meu celular, ela o pega e vai até mim - Você recebeu uma mensagem!

– Uma mensagem? - Pego o celular da mão dela e desbloqueio a tela. Era um número desconhecido, não me dei o trabalho de ler a mensagem agora e ponho o celular na mesa - Vamos assistir sem controle mesmo!

Voltamos pro sofá, nos ajeitamos e começamos a assistir ao filme.

– Não sei como uma mãe não pode apoiar o filho, isso é um absurdo! - Michele comenta durante o filme.

Eu olho pra ela com um sorriso de canto, acho que finalmente vou poder contar tudo para alguém. Não que eu já não tenha feito com a Ana, mas é que com a Michele é diferente, ela é mais velha que eu, 27 anos e eu tenho 19, então seus conselhos são mais maduros e confortantes.

– Meu Deus... - Ela diz ao ver a última cena do personagem de Bobby.

E então o grande final do filme, meus olhos estão vermelhos e cheios de lágrimas, olho pra ela e está totalmente normal, e penso "Como assim? Ela não ta chorando? Mas... Mas...".

– Aaaahhh você chorou - Ela brinca.

– Claro, o filme perfeito!

– Eu talvez chore na próxima vez que assistir, porque agora eu estou com muito ódio da mãe do Bobby.

Rimos desse pequeno comentário, estou me tremendo tanto que preciso me controlar para não bater o queixo, meu coração está quase rasgando meu peito, pensei que o filme fosse me ajudar, mas isso não é algo tranquilo de dizer.

Arrumamos tudo na sala e ela diz que precisa ir embora, fomos juntos para o ponto de ônibus e ficamos quietos nos encarando.

– Que foi? - Pergunto.

– Vai me contar?

– Contar o que? - Estou com medo, muito medo... Não queria mais fazer isso!

– Não sei, você que tem que me dizer...!

– Olha, acho que o ônibus vai chegar, você vai chegar tarde em casa.

– Não me importo! - Ela diz.

– Eu não... - Olho ao redor, estávamos sozinhos.

– Não tem ninguém, pode contar.

– Eu não consigo... Não sei nem como começar.

– Começa do começo!

– Eu... Existe um motivo por eu ter lhe mostrado o filme "Orações para Bobby"... - Sento-me no banco respirando fundo, ao menos tentando respirar nesse momento - Porque eu praticamente me vi nele!

– Eu já desconfiava, só queria que estivesse pronto para me contar...! Você não precisa ficar assim.

– Meus pais vão me matar!

– Não vão! Eu não posso falar que vai ser fácil, eu tenho amigos gays e realmente é complicado, mas você tem seus amigos... - Michele senta ao meu lado.

Isso está doendo muito, eu não achei que seria tão difícil, é algo muito complicado de lidar, e principalmente de dividir com alguém, o meu maior medo é saber que não posso mais voltar atrás.

– Meu pai viraria o rosto pra mim...

– No fundo eles já sabem, pelo menos sua mãe... As mães sempre sabem!

– Se sabem, então porque fazem isso comigo?

– Eles não vão aceitar até você contar - Diz Michele, ela inclina a cabeça para o lado ao notar meus olhos se enxerem de lágrimas - Seu Pai fica falando pra você namorar toda hora e tudo mais, pra depois dizer que se você não é hétero não foi por falta se incentivo! Isso é ridículo da parte dele.

Desvio meu olhar para a rua, respiro fundo e tendo me tranquilizar um pouco. Tento o máximo não piscar para que não escorra uma lágrima se quer.

– Eu nunca vi um Pai forçar tanto o filho para namorar alguém - Ela diz.

– Ele deve me odiar...

– Não diz isso...!

– Ta bem, se não odeia agora, vai odiar depois - Abaixo minha cabeça, sinto a mão de Michele tocar minhas costas me consolando, levanto o rosto - Droga...!

– Calma - Ela me abraça.

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Eu precisava conversar com alguém, eu tenho duas pessoas que agora posso conversar sobre isso, mas algo em mim não deixa com que eu fale, e isso está me matando! Tenho mil coisas para dizer, mas não digo uma vírgula se quer.

Estou perdendo as esperanças em mim novamente, meus pais não param de me criticar e fazem aquelas condenações homofóbicas ridículas, a verdade é que não parece que algum dia eu vou ser feliz. Meu quarto está fechado, estou conversando com Narayani pelo chat e quanto mais conversamos mais eu quero dizer para ela, no entanto não dá pra dizer muito por aqui, e acabei de passar por tudo isso com a Michele, não estou preparado para outro round.

Meu celular toca em cima da mesa do computador, o pego e olho o número, eu nunca o tinha visto antes, recuso a ligação e ao mudar de tela vejo que ainda não li a mensagem, a abro.

"Oi Felipe! Espero que esteja tudo bem, sou eu Zac! =)

Agora você pode me ligar quando quiser rsrs eu espero não estar te atrapalhando, seria bom conversar com você de novo!

Abraços!"

Fico encarando a mensagem por alguns instantes, leio e releio sem parar, levanto da cama abrupto. Isso não poderia estar acontecendo, porque um cara como ele iria querer alguma coisa com um cara como eu? Isso não está certo!

Antes de respondê-lo ligo para Ana, não consigo ficar parado, acredito já ter andado cada centímetro possível do meu quarto.

– Ana, o Zac me mandou uma mensagem! - Digo animado.

Ta de sacanagem que você me ligou pra falar isso?

– O que foi? Eu to feliz, me deixa - Falo rindo.

– Ai Felipe, por favor...

– Iiiih... Não te conto mais nada também - Minha mãe entra no quarto naquele instante para colocar o carregador do notebook na minha cama.

– Com quem você ta falando?

– Com a Ana!

– Ah, manda um beijo pra ela, diz que ela precisa aparecer aqui em casa, to com saudades.

– Ela disse que vai tentar vir - Respondo depois de dizer o recado. Espero minha mãe sair do quarto e vou até a janela, onde fico debruçado olhando para as árvores que deixavam passar alguns raios de sol por entre as folhas e galhos - Você acha que eu devo ligar pra ele?

Você ainda pergunta? Está solteiro a vida toda, você pode se divertir às vezes, sabia?

– Eu sei, mas é que eu...

Mas nada... Você vai ligar logo pra ele e parar com esse mimimi... O garoto ta mega a fim de você.

– Mega a fim? Quem ficaria mega a fim de mim?

Ai Felipe, não começa não!

– Ta bem... Vou ligar pra ele...

Finalmente você ta gostando de alguém, não estrague isso!

– Aiiii, ta bem... Vou ligar pra ele - Finalizo a ligação e volto a ler a mensagem, a indecisão ecoa pela minha cabeça, então resolvo responder por mensagem.

"Oi Zac, tudo bem? Desculpa, mas só vi sua mensagem agora =)

Também ia gostar de conversar com você de novo!

Abraços"

Deito na cama e pego o laptop novamente, quando retorno para falar com Narayani, meu celular vibra, respiro um pouco de olhos fechados e estico o braço para alcançá-lo. Zac acabou de me responder, por milésimos de segundos me desliguei do mundo, senti meu coração parar. Voltei ao normal e tomei coragem para abrir a mensagem.

"Oi Fê... Cinema hoje, o que acha? =P"

Ele realmente disse isso? Eu não estou acreditando que ele está mesmo me convidando para ir ao cinema. Um sorriso se forma em meu rosto involuntariamente, sinto meus olhos brilharem, um formigamento começa levemente em minhas pernas.

"Claro! Que horas?"

Não demorou muito e ele me responde.

"Passou na sua casa em 30 minutos!

Estou animado rs"

Primeiro de tudo, isso não é um encontro, é só uma saída com um amigo que eu gosto muito! É assim que eu devo pensar, não posso me envolver em nada agora, apesar de tudo que sinto por ele, tenho que ser forte e resistir à isso. Mas não posso negar o fato de que estou completamente entusiasmado com o convite, levanto rápido da cama que faz meu pé se enrolar no edredom e caio de peito no chão, junto com meu laptop.

Fico rindo de mim e de tão estabanado que ele me deixa, levanto com uma leve dor no peito e vejo se está tudo certo com meu laptop, por sorte sim! Então me levanto ainda sorriso e respiro fundo. É engraçado o rumo que as coisas levam de vez em quando. Em um momento você está trancado no quarto, chorando sob seu travesseiro e se culpando por ser quem você realmente é. Até que alguém aparece e te resgata desse luto que parecia não ter fim, e te faz querer abraçar o mundo, te faz crer novamente, te faz se sentir feliz, vivo, e acima de tudo... Esperançoso! Eu posso ver que ele é a pessoa com quem eu vou poder sempre contar, não sei como, mas pegou minha confiança tão rapidamente que... Não sei se isso é normal!

Talvez ele seja um anjo, ou apenas fruto da minha imaginação, só espero que isso seja real. Falar com ele é a mesma sensação de quando você era criança e vai falar com o Papai Noel em algum shopping por perto, você se anima e você acredita nele! Ficar ao lado dele ou até conversar pessoalmente, me faz sentir como no show da minha cantora favorita, cantando a minha música favorita.


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