Stay With Me escrita por Fenix


Capítulo 8
Quando tudo vai desaparecendo




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Estou sentando na minha cama enquanto mexia no meu laptop, meu Pai entra no quarto para me irritar como de costume e deita na cama em minha frente.

– Falei com meu amigo sobre arranjar um trabalho pra você!

– Ah é? - Disse sem nem olhar para ele.

– Sim, você só quer trabalhar com essas coisas de escrever histórias, então falei com ele sobre colocar você na emissora de TV.

– E o que ele disse?

– Disse que ia tentar, mas só tem um problema!

– Qual?

– Ele é bicha!

Engoli minha saliva que arranhou minha garganta nessa hora. Eu me mantenho sério olhando para a tela do laptop.

– Já viu né? Esses bichas são f*da, você tem que tentar se manter longe deles o máximo possível.

– Okay Pai! - Digo rapidamente.

– Se um deles der em cima de você, mete logo um soco no meio da cara.

– Pai eu to meio ocupado aqui - Disse à ele, eu não aguentava mais vê-lo falar assim.

– Esse ramo tem muito viado, você precisa tomar cuidado!

Reviro meus olhos e bufo em seguida. Ele sai do quarto reclamando que eu nunca consigo conversar sério com ele e que eu não me interesso por arranjar um emprego. Foi parecido como um dia que eu jamais vou me esquecer, até porque cada vez que meu Pai diz essas coias para mim, eu lembro dessa cena. Não sei o tempo ao certo, faz meses, estávamos na sala e assistindo Tomb Raider pela televisão, meu Pai está sentado no chão e encostado no sofá, tomando sua cerveja e comendo queijo fatiado que estão no prato em cima da mesa da sala. Bruna está ao meu lado e fazia seu dever do curso de inglês. O assunto começou de repente, e quando foi notar já estavam falando sobre eu estar sempre no meu quarto e no computador.

– Ele não vai arranjar uma namorada assim, fica só naquele maldito quarto - Diz meu Pai, com seu tom sarcástico que me irritava sempre - A namorada dele vai ser o computador!

– Mas é mesmo, o Felipe não sai de lá, tem que viver, você não ta vivendo assim - Bruna se mete no assunto, isso é o que mais odeio nela, quando é ela que está levando bronca, eu respeito e fico quieto, mas quando é comigo sempre se acha no direito de se meter.

Eu me pergunto sobre o que eles sabem sobre viver? Eu tenho que viver do meu jeito ou do jeito que eles acham que eu deveria? Isso é impressionante, eles só reclamam e já estou vendo o jeito que vão me chutar para a rua e só vão me deixar voltar quando eu chegar de alguma boate e tiver beijado no mínimo umas cinco meninas. Dizem que os pais sempre sabem quando o filho é gay, se eles sabem, porque fazem isso? Acham que eu vou mudar só porque fazem esses comentários preconceituosos? Eu queria mudar, mas eu não consigo, então não tornem isso pior.

– O Felipe não tem vida, ele só sabe sair do quarto pra cozinha e da cozinha pro quarto - Diz meu Pai.

– É por isso que ta assim! - Bruna comenta novamente.

O máximo que eu podia fazer nessas horas é ficar olhando para o filme e tentar não ouvir estavam dizendo.

– Ele deveria sair, ir para algum lugar, sair com os amigos! Eu só vejo ele dentro de casa.

– Pai, meus amigos moram longe, não tenho nenhum amigo nesse bairro - Nos mudamos há 1 ano, e tudo que faço é fora daqui, então não tenho como ter amizades pelas redondezas.

– É sempre a mesma desculpa!

– Pai, eles não podem ficar vindo pra cá toda hora, ficar saindo e tudo mais... E eu não gosto de ficar indo para boates.

– É por isso que está solteiro - Sinto que meu Pai está começando a se irritar.

– Como eu vou conseguir uma nora assim? - Minha mãe sai da cozinha limpando as mãos no pano de prato e se aproximando da sala.

Bufo voltando a minha atenção para o filme.

– Eu fico impressionado com o estilo de vida desse garoto, eu já estaria enlouquecendo... Dezoito anos na cara e ainda é virgem, como pode? Ele tem algum problema, já falei para levá-lo ao psicólogo, mas ninguém acredita em mim! - Essas foram as palavras de meu Pai sobre mim.

É assim toda vez que eu tento ficar perto da minha família, eles sempre arranjam um jeito de me criticar, seja por meu estilo de vida, seja pelo o que eu faço, mas eles sempre criticam, e então reclamam quando eu não passo meu tempo com eles. É difícil, porque vejo alguns garotos homossexuais aceitos pela família, e enquanto a minha é tão mente fechada para qualquer tipo de coisa.

– Não, o Felipe só quer saber de fazer historinhas bobas, fazer filminhos idiotas e postar na internet e ficar feliz por dez pessoas mais idiotas ainda ficarem comentando e lendo... Ele não está na realidade, esse moleque ainda não acordou para a vida - Meu Pai continua dizendo.

A cada vez que ele falava, eu ficava com mais raiva. Como eu disse, eu nunca tive o apoio da minha família para qualquer coisa que eu faça, e isso me deixa muito mal, o que eu mais queria era poder compartilhar tudo isso com eles.

– Ele só quer ficar enfurnado naquele quarto feito um vi... - Essa pausa que minha Mãe deu foi como se o mundo tivesse parado por um instante, porque ela não completou a frase? O que ela queria dizer? Essa pausa durou máximo 1 segundo, mas para mim foi como 1 hora -...Um bicho!

– Eu não consigo falar dele para os meus amigos, não dá, todos eles ficam falando das namoradas dos filhos e que os filhos saem com as namoradas e eu? Eu não falo p*rra nenhuma, só falo que ele escreve essas historinhas e pronto... Eu nem falo mais dele para os meus amigos! - E foi então que eu desisti de ouvir meu Pai e fui direto para meu quarto.

Essa última fala dele é a que me persegue até os dias de hoje, acredito que nunca mais vou esquecer, apesar de tudo, eu nunca mais vou esquecer o que ele me disse. Então quando me disse aquilo no quarto, toda essa cena voltou em minha mente e tentei não pensar mais nisso. Prometi a mim mesmo que não iria mais me importar para o que eles dizem, mas tem coisas que machucam você e abrem feridas que jamais vão se curar.

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Os dias iam se passando, eu me culpava por estar esquecendo aos poucos o rosto de Zac, logo ele que eu não queria esquecer nunca mais, logo ele que me dava esperança da vida possivelmente melhorar. Fiz alguns desenhos tentando capturar algumas partes parecidas, mas era um pior que o outro.

Amasso alguns papeis de desenhos e jogos para o lado, estou sentado na minha cama com meus olhos lagrimejando, esses dias eu tenho chorado sem nem saber o motivo, eu estou caindo tão feio que não tenho onde segurar, o pior de tudo é saber que estou perto de chegar ao fundo e ninguém está lá para me ajudar.

Vou para a praia perto de minha casa, fico horas sozinho sentado na areia apenas observando as ondas do mar, sentindo a brisa batendo contra meu rosto. Isso sempre me dá forças para continuar, todos têm uma válvula de escape, e vir aqui é a minha. A areia está gelada, mas eu não me importo, eu não gosto de vir à praia para ficar me queimando e ir para a água, gosto de vir para pensar, para relaxar e ficar apreciando a vista.

Alguns dias chuvosos se tornaram ainda mais deprimentes, fico deitado na cama o dia todo, pensando nos últimos fragmentos que ainda tenho do rosto de Zac em minha memória. A chuva bate graciosamente contra a minha janela, eu fico só olhando as gotas escorrerem pelo vidro. Minha televisão está desligada, realmente não quero pensar nesse momento, minha mente está em algum lugar que eu não sou capaz de encontrá-la agora, e por esse instante é bom.

Depois de semanas, eu já tinha perdido as esperanças de tentar lembrar perfeitamente do rosto de Zac, nem em meus sonhos eu o via mais, tal como se nunca tivesse existido. Talvez seja melhor assim, quem sabe eu pare um pouco com isso e volte a ser o que era.

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– O filme é perfeito, você tem que assistir- Eu insisto Narayani para assistir "Orações Para Bobby", esse é primeiro passo do meu plano para contar tudo pra ela.

– Esse filme fala sobre o que? - Ela pergunta.

Então resumo o filme, possivelmente não fará o mesmo efeito que teve em mim, mas queria que ela assistisse para entender melhor o que passou e o que estou prestes a passar e não tinha coragem para contar direto a ela.

– Vem cá, e esse Steve Grand? - Ela me pergunta.

– O que tem?

– Eu vi alguns clipes dele, American Boy.

– All American Boy - Eu a conserto.

– A música é bem gay - Ela diz depois de uma risada.

– Só porque é um cara cantando, se fosse uma mulher você não iria falar isso.

– Ta, mas aqueles tweet's de que o Steve é sua inspiração? O que você queria dizer com aquilo?

Eu sabia que ela já estava desconfiando, mas não estou pronto para contar agora, ainda me sinto muito estranho pensando em tudo isso.

– Não é nada! - Respondo.

– Tem certeza?

– Sim!

Sentia-me mal por estar mentindo para ela, essa é a primeira vez que eu não sou sincero com a Narayani e está me deixando pior do que já estou. Eu poderia falar tudo pelo chat, só que não é algo que eu quero contar por aqui. Todos os momentos mais importantes da minha vida se ela não estava por perto, eu contava para ela, todas as discussões que tinha com meus pais ou quando minha Mãe sempre brigava comigo por estar sempre rodeado de meninas. Narayani é a única que me conhece melhor que eu mesmo.

Ela sabia sobre a minha fascinação a respeito da história de Bobby, eu pesquisei sobre ele até não poder mais, o livro, que se tornou filme mais tarde, eu o encontrei na internet, no entanto ele não veio para o Brasil e está todo em inglês, isso não foi problema para mim, comecei a traduzir suas páginas, uma frase de cada vez. A verdade é que eu queria encontrar algo que pudesse me ajudar, algo que me desse esperança de novo! Possivelmente uma luz no fim do túnel.

Narayani acompanhou toda a tradução do livro, e apesar de tudo ela não fez qualquer comentário maldoso, eu sabia que ela não faria, mas só dela realmente não ter feito e ter ficado do lado do Bobby, eu sabia que futuramente ela seria a pessoa certa para que eu pudesse confiar cegamente.

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De repente eu não conseguia mais guardar isso dentro de mim, precisava desesperadamente contar para alguém. Minha amizade com a Ana é forte, mas não nos falamos muito já que nossos horários disponíveis não se batem, eu não podia contar com ela para ajudar em todas as horas que eu precisasse. Essas três meninas não tinham muito tempo comigo, exceto Michele, pelo fato de fazermos faculdade juntos, nos víamos quase todos os dias, então tomei a decisão de contar logo a ela.


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