Apresso um pouco o passo, confesso que tenho um pouco de medo do escuro e estou insegura, devia ter falado para Sebastian me buscar em casa, porem não confio nele, nunca disse para ninguém onde eu moro por medo que fosse assaltar ou qualquer outra coisa do gênero.

Imagino como seria uma festa, se são iguais aos dos filmes que assisto ou se são totalmente diferentes, eu vou descobrir ainda hoje, em poucas horas. Começa a brotar borboletas no meu estomago, não sei se é porque estou muito ansiosa para ir a primeira festa da minha vida, ou se estou com medo de eu estar fazendo um erro enorme. Sacudo a cabeça negativamente, é uma festa, não há nada de errado nisso. Ate hoje mais cedo eu estava presa no meu cubo, e Sebastian quebrou todas as paredes desse cubo, talvez eu esteja apenas me sentindo que todos estavam olhando para mim e não sei ao certo oque fazer. Claro que ninguém esta me vendo agora, a rua esta deserta, não quero ter atenção. Gostaria de ter aquela vida que eu levava antes de volta.

Essa noite eu decido que ou ser algo que eu nunca fora antes, vou falar pessoas, soltar o sorriso, ou tentar parecer como qualquer outra garota da minha idade. Mas só por hoje, amanhã eu volto a me fechar, ou pelo menos, tentar voltar um pouco do que eu era. Possivelmente vou gostar da festa e vou querer mais, e é por isso que não da para eu ser exatamente como eu era, ou sou. Não sei ao certo como eu sou, mas não importa.

Chego à frente da escola conforme o combinado, vejo um garoto, um único garoto no estacionamento da escola, apoiado numa moto vermelha, ao menos parece vermelha. Aproximo-me devagar, na esperança que ele não notasse mina presença, poderia ser outra pessoa que não seja o próprio Sebastian.

Vejo o garoto deslizando sua mão para o bolso da calça e pega o celular e liga para alguém, meu celular toca, deixando claro que realmente é Sebastian. Não atendo o telefone, ele olha para trás e me vê e corre ao meu encontro.

Ele estica os braços para me abraçar e hesita ao lembrar-se do que eu havia pedido.

– Pensei que você não vinha. – ele me olha, estudando cada parte de mim e abre um sorriso que vai de uma orelha e termina na outra.

– Estou aqui. – respondo, por mais que ele não tenha me perguntado nada.

– Vamos? Aline esta nos esperando. – diz, ele se põe ao meu lado e me incentiva a andar ate a moto que não esta muito longe.

Ao chegar à moto, ele sobe nela, eu observo-o parada como uma estátua. Sebastian lança um olhar para que eu subisse nela atrás dele, penso se o fato dele ter vindo de moto foi proposital para eu ficar colada atrás dele.

– Você não vem? – pergunta-me, monto na moto lentamente, um pouco desconfortável com a situação. Ao sentar na moto, atrás de Sebastian, tento abraçar ele, mas hesito, pensando que poderia ser inconivente para ele. Sebastian pega minhas mãos e as contorna em volta do seu corpo. Ele parece relaxar, liga a moto e saímos pelas ruas desertas para sua casa, seguro firme nele, enterro minhas unhas em sua camisa para não cair, nunca andei de moto. Essa noite esta como um baú de coisas novas, e estar agarrada em Sebastian como eu estou parecia bom, ele cheirava doce de jasmim, gostaria que esse tempo não passasse tão de pressa. Não vou me envolver, repito para mim mesma. Seguro mais forte em Sebastian, tentando controlar a ânsia de vomito que aprece devido ao vente que bate em meu rosto com força – Esta tudo bem ai atrás? – grita Sebastian para mim.

‒ Sim. – grito de volta para ele. Sebastian desacelera, e para no meio da estrada.

– Você não me parece bem. – sussurra.

– Estou bem, não pare por isso.

Ele me obedece, volto a sentir o vento no meu rosto e fico um pouco enjoada, enterro meu rosto em sua camisa, e relaxo com seu perfume e me obrigo a lembrar a me equilibrar e segurar nele. Não demora muito e chegamos a sua casa.

– Pode me soltar agora – eu o solto no mesmo instante, e saio da garupa da moto.

Olho para casa, ela é enorme, possuía pelo menos quatro andares incluindo o sótão, possui varias madeiras a vista e há umas plantas enroscadas em boa parte da casa. Encaro-a por um longo tempo, ate que Sebastian toca em minha mão e eu olho para ele de cara fechada e ele já recolhe a mão e a pousa no meu ombro e me guia até a porta enorme e toda trabalhada na madeira. Ele abre a porta para mim e me faz gesto para eu entrar

– Bem vinda à propriedade Tunner. – anuncia, eu solto um largo sorriso para ele. A casa de Sebastian no interior é mais impressionante do que o lado de fora. É tudo muito iluminado com diferentes lustres de cristal, vários vasos de porcelana com botões de rosas vermelhas e várias pinturas. A escada fica bem de frente a porta principal, ela é enorme, e os corrimões tem um trabalhado meigo de madeira. – Fique a vontade. A casa é sua.

Vago pelo hall em direção as pinturas. E paro para observar uma agricultora colhendo algumas cebolas em sua plantação, vejo os acabamentos muito bem feitos e me perco em pensamentos ao ver a pintura.

Ouço um barulho na escada e já me viro num salto. Na escada há uma garota, penso que é a irmã de Sebastian, ela esta usando um vestido roxo, apertado em cima e mais ou menos na altura do umbigo solto em varias camadas como uma flor, e calçava um delicado salto lilás com uma flor aberta na ponta na cor roxa. Seus cabelos eram escuros, como os de Sebastian, e encaracolados e tem olhos escuros como uma jabuticaba, esta com maquiada bem carregada. Delicadamente ela desce as escadas, olha para mim incrédula e lança um olhar furioso para Sebastian.

– Sebastian! - grita a garota - No que você estava pensando? Ela é igualzinha à tia Kelsey. Papai e mamãe não vão gostar.

– Eu não acho. - diz dando os ombros e em seguida se dirige a mim - Essa é minha irmã, Aline, ela é meia rabugenta assim mesmo.

– SEBASTIAN! - explode Aline

– Não é uma boa ideia você ir logo fazer Clary se arrumar?

Embravecida, Aline bufa e me pega pela mão e me arrasta pela escada e pelo imenso corredor. Aline entra num quarto onde ha muitas roupas jogadas no chão.

– Acho que isso deve servir. - ela me lança uma peça preta, parece que é uma blusa pois e bem curta.

– Vou usar isso com uma saia, certo? – pergunto

– É um vestido isso. – explica – Se vista, não tenho a noite toda.

Aline me aponta um banheiro. Troco de roupa sem demora. Pego minha jaqueta de couro e jogo por cima, para tentar esconder um pouco do meu corpo. Saio do banheiro, insatisfeita de como o vestido fica em mim.

– Tem certeza que isso é um vestido? É todo apertado, me sinto numa lata de sardinha. - reclamo

– Ficou ótimo em você. - ela levanta dois sapatos, uma bota de cano longo com salto, e um tamanco preto simples. Aponto para a bota, pois ela iria esconder um pouco das pernas e eu me sentiria um pouco mais confortável com isso. Ela me passa as botas fazendo biquinho. - Você precisa de um pouco de maquiagem.

– Não quero. - respondo.

– Só um pouco, ai você ficara perfeita, tudo bem? – Assinto e calço as botas enquanto ela sai em busca do seu kit.

O resultado ficou eu com meus olhos e minha boca bem destacados, fazendo-me mais pálida e branca que eu já sou, e com um vestido ridículo que melhora quase nada com a jaqueta e as botas.

– Perfeito. Podemos ir? Sebastian deve estar nos esperando.

Descemos as escadas, eu ando muito devagar, não estou acostumada a andar de salto. Só de ouvir o barulho que ele faz ao andar eu penso que estou trotando. Sebastian esta nos esperando perto da porta, ele trocou de roupas, pôs uma camisa social azul bebê e deixou desarrumada em si, penso que ele deixou assim de propósito. Ele me encara por um longo instante.

– Você está ótima.

Em resposta eu solto um sorriso, e nossos olhares acabam se encontrando. O sorriso de repente parece desaparecer de nossos rostos, mas o sorriso renasce.

– Vamos pombinhos, vamos nos atrasar - e sai pela porta.