Eu não fazia idéia de onde estava, mas eu precisava sair dali porque pela luz do sol que entrava pela janela da sala, já era tarde. Levanto do sofá onde estava resmungando e quase piso em alguém sem querer. É uma moça, me lembro vagamente dela e quando estou saindo de sua casa ela acorda.

– Não vai nem tomar café ? – ela faz beicinho.

– Não. Tenho que ir.

– Ok. Vou te dar meu nu...

– Estou realmente com pressa, não vai ser necessário.

Saio pela porta quase correndo com meus sapatos, minha carteira e minhas chaves na mão, jogo as coisas dentro do carro e entro. Meu celular que estava no banco da frente começa tocar.

– Alo – atendo mesmo dirigindo.

– Onde você está ? – Jackson diz meio grogue.

– Saindo da casa da... eu não lembro o nome dela.

– Sei... Corre pra cá.

– Tá na faculdade ?

– To.

– Tá horrível.

– To numa ressaca desgraçada.

– Dá pra perceber.

Jackson me xinga e desliga o telefone. Dirijo até a faculdade, quando paro o carro no estacionamento, coloco os sapatos e saio correndo. Algumas pessoas andam de um lado para o outro enquanto eu corro até a próxima aula que acaba de começar. Entro sorrateiramente pela porta dos fundos e me sento ao lado de Jackson.

– Depois eu é que to ruim – ele diz ao me ver.

– Não enche.

...

Já é de madrugada quando fecho o bar, o desgraçado do Jackson foi embora sem que eu visse. Estou um caco, não parei um minuto desde que sai da casa da... não lembro seu nome. Só fui pra casa pra tomar banho.

Entro no carro, só consigo pensar em quanto tempo vai demorar pra ir para casa e quanto estou cansado. Tão cansado que não vejo quando o carro da frente para e eu bato com tudo atrás. O airbag é acionado batendo na minha cara e impedindo minha visão, demoro um pouco para organizar os pensamentos e sair do carro, mas quando saio vejo o estrago. Meu carro está todo amassado na frente, com a tintura arrancada pelo carro da frente de onde sai um senhor.

– Meu carro! – ele exclama.

Seu carro também esta amassado, na verdade, bem mais amassado que o meu. Olho para o homem que deve ter uns 50 anos, há um corte no alto de sua cabeça que sangra.

– Você está bem ? – pergunto.

– Est... – o homem dá uma cambaleada.

Eu o ajudo a se manter de pé. As pessoas começam se acumular a nossa volta, enquanto eu mantenho o homem em pé, ouço alguém ligar para a ambulância, e em seguida, ótimo , para a policia. A policia chega primeiro, em seguida a ambulância, o homem é levado para o hospital, eu fico por que disseram que estou bem, e tenho que falar com os policiais.

– O que aconteceu ? – o policial me pergunta.

– Me distrai, e bati no carro.

O policial faz todos os procedimentos necessários então faz mais algumas perguntas, respondo todas elas, e quando acabam me preparo pra ir embora. Meu carro foi confiscado e eu perdi quatro pontos na carteira. Dá pra acreditar? Pensei em ir embora andando, mas estava cansado demais para isso. Tento ligar para Jackson, mas a secretária eletrônica atende.

– Eai ? Você ligou pra mim, o Jackson e não posso atender. Diz ai o que depois do bipe.

– Seu filho da mãe, desgraçado que foi embora antes, eu bati o carro e não tenho como ir pra casa. Você ta tão ferrado quando eu chegar, eu vou...

– Alec? Você está bem ? – alguém me interrompe. Conheço essa voz.

Viro-me e dou de cara com Mindle, ela está usando uma calça de moletom cinza com um roupão rosa por cima, usa pantufas e o cabelos está armado, como sempre.

– O que você quer ? – pergunto rude, mais rude do que queria.

Ela me olha com aqueles grandes olhos nos óculos e abre um pouco os lábios – só queria ver se estava bem, já vi que está.

Então ela me dá as costas e sai andando com ar magoado.

– Ei, espera – chamo.

O que eu estava fazendo ?

Mindle vira de frente para mim, esperando que eu fale.

– Você tem carro, não tem ?

– Sim, eu tenho – ela responde um pouco impaciente.

– E está com ele aí ?

– Sim – ela bufa e vira de costas – vamos, Alec, eu te dou uma carona.

Ela se afasta alguns passos de mim, e eu começo segui-la. Não acredito que estou fazendo, mas não tenho escolha, ou melhor, é a mais viável no momento. Ela entra num carro pequeno e esquisito, é o mesmo carro de sempre, mas não tinha notado como ele era feio antes.

– Esse é o seu carro ? – pergunto.

– Algum problema ? – ela está na defensiva.

– Nenhum – mentira, seu carro é uma bosta.

Entramos no carro e meu ombro dá um encontrão com o ombro de Mindle quando fecho a porta.

– Ai! – ela resmunga esfregando o ombro.

Ignoro-a, ninguém mandou ter um carro tão... nem sei definir isso aqui.

– Me diz pra onde tenho que ir – ela diz.

Eu lhe explico o caminho, que é curto e ela segue, um pouco depois paramos na frente do meu prédio. Saio do carro com um pouco de dificuldade.

– De nada! – ela grita lá de dentro quando fecho a porta.

Abaixo na altura do vidro e escoro no carro.

– O que estava fazendo lá ? – digo sorrindo sugestivamente.

– Meu mundo não gira em torno de você, Alec. Estava indo ao mercado quando você causou aquela zorra.

– Mercado essa hora ? Comprar o que ?

– Nada que te interesse, tchau.

Com isso ela parte, entro no prédio e depois no elevador. O apartamento estava escuro quando eu entrei mas eu ouvia Jackson roncando cansado no seu quarto. Eu queria muito acordado com um belo chute na bunda ou com água gelada na cara, mas estava cansado demais para isso, por isso só fui até o meu quarto e me joguei na cama.

No outro dia eu não podia esquecer de recompensar o homem do carro pela batida.