Eu Queria Que Não Fosse Assim escrita por A Garota Dos Livros, Mais um romance por favor


Capítulo 7
Kate




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É meu dia de folga, e eu sempre tomava café no Seu Arlindo agora eu não tenho mais aonde ir então vou cada dia em uma cafeteria diferente. Estranho é não ter com quem conversar ou dar risada. Seu Arlindo foi um parente pra mim, ele sempre conversava comigo desde o dia que cheguei ao bairro, perde-lo foi como se uma parte estivesse faltando, falta às conversas matutinas e conselhos sábios.

Hoje estou em uma cafeteria do centro, ela é como um vagão de trem, com bancos e mesas iguais a trem de longa distancia, o balcão tem placas com nomes de países. Eu sento sozinha, e a cafeteria está quase peço meu café com leite e um pão de queijo. A garçonete anota meu pedido e sai. Antes que ela pudesse voltar entra duas garotas que rouba a atenção de todos no local por sua beleza. Elas conversam freneticamente, uma dela é bem alta e veste uma sai na cintura e uma blusa de renda, a outra é mais baixa mas usa um sapato de salto alto rosa e um vestido preto de franjas. O momento passa e todos voltam ao que estavam fazendo, mesmo um rapaz, ele continua olhando pra elas uma das amigas percebe e fala pra outra que riem. O rapaz se levanta e vai conversar com elas, os três se sentam à mesa da frente, quando uma delas percebe que eu observo, começa a me olhar de cima a baixo e cutuca a amiga com um sorriso nos lábios. Os três de repente começam a comentar e rir sobre mim, mas que depressa eu me levantei para ir ao balcão cancelar meu pedido, a risada aumentou então decidi ir embora direto, ao passar pela mesa deles ouço baixo “de que lixeiro ela veio?” “tá com jeito de morador de rua” e risos. Saio de lá e as lagrimas queimam pra escorrer, mas não deixo seguro o choro e entro no carro.

Dirijo até o cemitério, vou até o tumulo da minha mãe. A flores frescas que mando deixar todo dia, amarelas que era a cor preferida dela, me sento na frente da lapide e encaro o gramado. Eu costumava conversar com ela a todo o momento, quando estava trabalhando ligava pra ela, quando ia pra escola ligava pra ela e quando estava em casa eu não parava de falar, ela me apelidou de tagarela. Desde então muita coisa eu conversava com Seu Arlindo, agora eu não tenho mais com quem conversar. Acho que a partir de agora vou vim bastante aqui.

Eu fico por ali pro umas duas horas, o lugar é bonito, o clima agradável e o local é todo arborizado. Levanto e me despeço vou em direção ao meu carro, quando noto uma leve inclinação. Não podia ser verdade, o pneu estava furado, no meio do nada. Eu olho pela estrada e lá longe uma moto se aproxima, resolvo pedir ajuda e começo a acenar. A moto se aproxima e não diminui a velocidade não demora muito pra eu perceber que ela não vai parar, só que no instante em que vejo o rosto do motorista meu braço abaixo e eu apenas olho ele passar me olhando. Cinco minutos depois do choque me conformo que sou eu que vou trocar o pneu mesmo.

Um pneu furado depois, eu me levanto e olho minha calça está manchada de preta, e minha blusa que era cinza agora parece chumbo. Mas agora eu podia ir pra casa, entrei no carro e dirigi até meu portão branco. Entro deixo as chaves em lado da foto da minha mãe, e vou direto pro quarto, passo pelo espelho que fica bem na entrada e me sinto obrigada a voltar e ver minha situação. Eu usava uma vestido preto de algodão por cima de uma legging escura com uma bota de cano baixo confortável, agora com o cabelo desarrumado e manchas de graxa no rosto e na roupa. Penso nas meninas da cafeteria, olhando pra mim e rindo, falando da minha roupa e cabelo, e em como o garoto que estava com elas olhava com desdém pra mim. Disperso os pensamentos quando a campanhinha toca, eu corro até a porta e abro. Pela parte de baixo do portão só consigo ver o sapato de salto alto verde pistache, só podia ser a Amy.

–Entra tá aberto. – ela abre enquanto eu volto pro quarto.

Quando ela chega ao quarto, para na porta com a mão na boca.

–O que foi?

–Amiga, que caminhão passou por cima de você?

–Ah! Isso?- digo apontando pra mancha no meu rosto e na calça. – tive que trocar o pneu do carro.

–Num tinha nenhum cavalheiro por perto pra fazer isso? – eu penso no cara do bar, mas não falo, apenas aceno a cabeça negativamente. – Num leva a mão amiga, mas sua roupa também não ajuda.

– Como assim? – eu me olho no espelho.

–Amiga ninguém mais usa essa bota faz dez anos. E você só esse vestido com legging só por Deus. Eu nunca vi suas pernas, a não ser depois do banho enrolada na toalha.

–Ah, eu me sinto confortável assim. Não vejo por que mudar.

–Entendo amiga, só to falando. Se um dia quiser mudar, estarei aqui pronta pra trazer a moda ao seu tempo escuro.

– Vou tomar banho Amy. Fica a vontade. - pego a toalha e sai pro banheiro. Entro debaixo do chuveiro e perco a noção do tempo que fico por lá. Abro os olhos e não vejo nada, há vapor por toda a extensão, imediatamente Amy bate na porta.

–KATE! KATE!

–O que foi Amy?

–Ufa! Pensei que tivesse morrido ai, faz duas horas que tá no banho.

–Me distrai, relaxa to bem.

Desligo o chuveiro e me enrolo na toalha.

–Sai do quarto que eu to entrando. – grito abrindo a porta.

Amy está parada na porta me olhando.

–Para de olhar pra mim, você sabe que não gosto.

–É. To me acostumado a ter uma amiga esquisita.

Eu entro no quarto e fecho a porta. Saio com um conjunto de moletom roxo e pantufas.

–Onde você pensa que vai assim?- Amy pergunta da cozinha com a geladeira aberta.

–Lugar nenhum, hoje é folga. Dia de filme, livros e Stuart.

–Seu gato quer folga de você, não vê a cara dele de “tira essa louca daqui, por favor.”. - eu olho pro Stuart esparramado na almofada no sofá, ele todo branco com uma mancha no pescoço que parece uma gravata borboleta.

–Não coloque palavras na boca do meu gato, ele me ama.

–Eu também por isso, volta pro quarto coloca uma roupa e vamos comer algo. – Amy chega e senta no sofá comendo uma ameixa. – Vamos, tem dez minutos. Num vai ser difícil pra você.

Me levanto e vou.

Saio em cinco minutos com uma calça jeans, uma camisa de algodão verde e uma sapatilha neutra. Amy olha pra mim e revira os olhos.

–Você tem o dom.

–Do que?

–Nada, vamos! – entramos no carro dela, e vamos para o litoral da cidade.

O pôr do sol é laranja e as ondas batem nas pedras, estamos em um barzinho novo. Tudo cheira a maresia e sal, a decoração é toda artesanal de madeira e renda feita a mão e os funcionários estão com roupa de praia e um avental pendurado na cintura. O lugar é aconchegante, e a brisa do mar traz paz. Pedimos um drink, um Martini pra Amy e uma dose de tequila pra mim. Não que eu beba sempre, é que achei que precisava relaxar e Amy apoiou completamente. Depois de algumas doses, o mar já estava embaçado e riamos á toa.

De repente o Jack chega e surpreende Amy, e me dá oi indiferente. Ela sorri alegremente ao vê-lo, eles logo começam a se beijar e eu saio disfarçadamente da mesa e vou em direção a areia. Molho os pés na água e sento olhando as ondas irem e virem. De repente ouço vozes e risos, olho pro lado e vejo um casal andando torto pela areia. A menina está de biquine e o garoto sem camisa exibe belos músculos. A desvantagem de ser míope e só enxergar as coisas quando elas se aproximam e não dá mais pra fugir. O casal se aproximou e eu vi que a moça era uma garçonete do bar, e o garoto era o tal dono do bar amigo do filé da Amy. Ele me encarou e imediatamente perdeu o riso, ela me encarou e riu, cochichou algo no ouvido dele e então rimos juntos. Me virei de costas pra eles e de frente pro mar, e quando eles passaram ele falou baixo, mas numa altura pra eu ouvir.

–E a Mindle, como sempre, só!

Espero eles se distanciarem, e subo até o bar pego as chaves do carro com a Amy e vou direto pra casa. Eu não sei o que ele tem, varias pessoas já me ignoraram, zombaram e riram de mim mas sempre que ele faz isso é diferente.


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