Capitulo 02

Um mês antes:

Sentia-se péssima quando acordou. O corpo pesado, o pulmão inchado, sentia um gosto horrível na garganta, que somente era superado pelo o gosto horrível que sentia na boca, não sabia o que era, lembrava-lhe remédios.

Com um pouco mais de atenção percebeu onde se encontrava. Numa caverna. Poderia caracterizá-la mais apropriadamente, uma caverna de lobos. Encontrava-se envolta em grossas peles de lobos, percebia que haviam retirado suas roupas e que estas secavam perto do fogo. Não conseguia falar, sua garganta parecia que fora destruída. Assustada procurava se levantar, em vão, sentia uma dor aguda nas costas.

—Espere alguns dias para falar apropriadamente, Kagome. — dizia um rapaz entrando na caverna sorridente, o cabelo estava solto, aparentemente ele havia acabado de tomar um bom banho, com rapidez prendeu-o, se sentando a sua frente. Somente então a garota percebeu as pequenas vasilhas que se encontravam ao seu lado.

Kouga não esperava ver aquela expressão em seu rosto, ela estava sem roupa alguma e fora ele quem havia feito um pedido de casamento. Provavelmente deveria estar assustada, mas ela apenas o encarou, com o olhar profundo.

—Se for sobre as suas roupas, eu achei que estavam muito molhadas... Bem, elas estão logo ali. — o lobo apontou para perto da fogueira. — Eu fechei os olhos na hora de tirar, se isso te traz algum consolo... — dizia, meio sem jeito, enquanto ela olhava desconfiada — Ta bom! Eu olhei um pouquinho... Mas foi só isso!

Kagome não pode evitar soltar um riso doloroso. Kouga não estava chegando nem perto do que realmente gostaria de saber. Sua risada o fascinou, o que ela estava pensando? Com esforço, Kagome respirou fundo preparada para soltar a sua verdadeira pergunta.

—C-com... Como?

—Bem, eu estava correndo junto com Junta e Gunta a procura de pistas sobre o paradeiro de Naruku, quando eu senti o seu cheiro, o que era estranho, não estava junto com o cheiro do cara de cachorro... Eu te encontrei presa em alguns galhos num rio turbulento, Kagome, você mal respirava... Eu... — dizia o youkai com dificuldade — Eu achei que você fosse morrer...

Kagome sentia um aperto no peito, havia algo errado. Estava se esquecendo de algo muito importante.

—Cara de... Cachorro? — disse forçando sua garganta, embora não tenha ouvido som algum, mas os ouvidos de Youkai atentos de Kouga podiam ouvi-la.

—Você não se lembra?

A garota balançou a cabeça, sem saber exatamente o que havia acontecido. Algo importante havia ficado pra trás. Sentia que conhecia o garoto lobo a sua frente, sabia que se encontrava no Japão feudal, se lembrava de Naraku, forçou seu cérebro ao máximo, lembrando muito pouco, lembrava-se de um desfiladeiro, vagamente do rosto de uma mulher e uma voz... Como? Essa voz carinhosa... Não era a voz de Kouga... —Você não se lembra quando nos conhecemos?

Ela assentiu com a cabeça. Lembrava-se. Ele a havia pedido em casamento, quando alguém...

Kouga se perguntava o que havia acontecido, estava claro que Kagome não se lembrava daquele infeliz do cara de cachorro. Pela primeira vez se viu tentado a dizer algo em seu favor, quantas chances como essa ainda teria em vida?Poderiam se casar finalmente e não somente ela, como os fragmentos da jóia, tão preciosos para a sobrevivência de seu clã, estariam a um passo de distância...

—Você se lembra que me rejeitou? — dizia abaixando a cabeça, forçando o melhor de si a falar, não poderia mentir para Kagome — Você disse que já estava apaixonada por alguém.

—Quem? — dizia se esforçando ao máximo, ainda sem ouvir qualquer som — Quem... Eu amava?

***

—Inuyasha! — gritava Miroku correndo ao seu encontro — O que você?

Inuyasha destruía a floresta ao seu redor, Miroku via assombrado o corpo do hanyou se dobrar de dor. As garras destruíam a grama verde que os rodeavam, as flores antes banhadas pela brisa fresca vinda do furioso rio ao lado haviam simplesmente desaparecido, as arvores quebravam-se como palitos nas mãos de uma criança. Tamanha era a sua fúria.

—Inuyasha!! Pare! — o hanyou mal o ouvia, segurou com força os próprios ombros, sentiu suas garras entrarem por sua carne. O monge sentiu seu corpo se arrepiar perante tal cena — Acalme-se!Eu entendo que você esteja frustrado, mas...!

—Não me venha com essa Miroku!Ela morreu!A Kagome!Eu a perdi!De todos o Youkais, de tudo o que enfrentamos!!— dizia golpeando o companheiro enquanto Miroku se defendia com o cajado.

—Miroku! — gritava Sango preocupada, fala sendo seguida por um grunhido raivoso vindo de Kirara. Mas ele pouco respondeu, ainda se defendendo das garras que vinham em sua direção.

Inuyasha aos poucos foi perdendo a velocidade, a força, a vontade. Seus joelhos caíram ao chão, fraco. De que adiantava?

—Não havia nada do que protegê-la, não há nada do que me vingar. A Kagome morreu para salvar a Kikyou... — olhava as garras sujas com o próprio sangue, as lagrimas caiam por seus olhos sem que percebesse. Não... Aquilo só podia ser um pesadelo... Se olhasse para trás ela estaria ali ao seu lado, não estaria? Se fosse ate a vila, ela sairia sorridente daquele poço, não sairia? Com velocidade voltou ao rio turbulento, recheado com o cheiro de Kagome, que desaparecia no fundo daquelas águas. Sabia que Shippou ainda se encontrava lá. Assim como ele, a morte de Kagome o esmagava, Inuyasha sabia, antes de tudo, Kagome era uma mãe para o pequeno Youkai raposa.

O hanyou correu ate o rio turbulento. O cheiro de Kagome desaparecia num trecho repleto de pedras. Seria impossível uma humana sobreviver a isso. Ainda sentia o cheiro de Kikyou próximo, sentia e o ignorava.

—Kagome não esta morta. — Inuyasha se assustou ao ouvir a voz de Shippou, arrastada — A Kagome não pode ter morrido — dizia entre lagrimas — Não é Inuyasha?

Inuyasha não respondeu, respirou fundo, tomando fôlego, em seguida mergulhou nas águas. Onde quer que ela estivesse, iria encontrá-la.