Nascida nas Sombras escrita por Bruna Ribeiro


Capítulo 8
Capítulo 7


Notas iniciais do capítulo

Olá :)



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CAPÍTULO 7 - A VERDADE ESTÁ MUITO ALÉM DO QUE SEUS OLHOS PODEM VER, ENTÃO, FECHE OS OLHOS E A SINTA.

Florence soltou o ar que nem sabia estar prendendo, assim que Rick saiu da sala de Minerva e bateu a porta.

–Florence Willis – Minerva disse, logo depois – Acho que sabe muito bem que haverá consequências para seu desacato mais cedo, não sabe?

–Minerva, eu não vim aqui para saber qual será meu castigo. Há algo sobre mim que você e minha mãe não me contaram. – Florence apertou as mãos atrás da costa, talvez tentando controlar as batidas rápidas de seu coração ansioso. A verdade é que ele estava nervosa, por conversar com Minerva, que a intimidava tanto – E me poupe de argumentos como ‘’Ah, você deve estar imaginando coisas’’ porque eu não vou aceitar.

–Já disseram a você como é petulante?

–O tempo todo, mas por favor, continue.

–Florence...

–Eu tenho certeza que esse ódio todo é comigo, mas, vendo a cena daquela garota, a Linda...

–Lindsay – corrigiu Minerva, atenta.

–No refeitório – Florence continuou, sem se importar – Percebi que o ódio deles por mim é tão grande que está decaindo sobre minha família também. O quê? Amanhã vou acordar e vou ouvi-los xingar minha mãe ou Paul?

–Florence, a questão não é essa.

–Oh, não? Isso foi um tipo de convite para uma explicação melhor? Estou a sua disposição.

–Sente-se. – mandou, com os olhos fixos na garota. Embora, para Minerva, Florence puxasse bastante sua mãe, desde o cabelo até os olhos, ela continuava sendo a cópia do pai. Quando a diretora viu-a entrar, pela primeira vez em sua sala, pensou que os mortos pudessem voltar a vida. O jeito, a prepotência, o olhar, tudo.

–Estou bem em pé – ela retrucou.

–Não perguntei isso, aliás eu não perguntei nada – Minerva flou firme, como se já estivesse acostumada com isso – Mandei sentar, senhorita Willis.

Sem alternativa, Florence fez o que a diretora pediu.

–Bem – ela continuou – A história é um pouco complicada.

–Então comece. Eu realmente não sei o que eu fiz para eles me olharem e agirem daquele jeito. Vocês odeiam ruivas?

–O quê? De onde tirou isso? Não faz sentido! Não odiamos ruivas! – Minerva rebateu, rápido e confusa – E o ponto é que não é você que eles odeiam.

–Isso é que não faz sentido.

–É seu pai.

–Meu pai? – Florence queria rir, por que era uma piada, certo? – Meu pai?

–Sim – Minerva confirmou e não parecia estar contando uma piada – O que sabe sobre seu pai?

–Ele morreu quando eu era um bebê.

–Eu não perguntei isso. Perguntei o que sabe sobre ele.

–Sei o que minha mãe me contou. Ele era um militar e acabou morrendo em um acidente de carro quando voltava pra casa.

–Seu pai não era um militar.

–As pessoas me odeiam porque meu pai não era um militar, então?

–Não! – Minerva não sabia como começar a contar a história e Florence não ajudava – É aqui que a história começa a ficar complicada...

–Então...

–Florence se você não se calar agora mesmo serei obrigada a tampar sua boca com uma fita. Não era você que queria ouvir a história? Então apenas escute-a.

–Tudo bem, vou ficar quieta.

–Bem, seu pai era um Filho da Noite – Minerva tentou ignorar a revirada de olhos que Florence lhe direcionou – Pode não acreditar nisso e garanto que de hoje em diante, a partir de nossa primeira aula, vai começar... Mas a questão é outra. Seu pai era um dos melhores alunos que essa escola já teve em todo seu surgimento. Ele era rápido, ágil, esperto. Tudo que qualquer aluno poderia querer. Mas, além disso, ele também era ganancioso. O poder, o fato de controlar a tudo e a todos, sempre o encantou. O diretor, na época, o alertou para isso, mas já era tarde.

‘’Seu pai sabia muito bem que de acordo com a Lei ele jamais poderia ser mais do que um Conselheiro do Comandante - quem realmente têm o poder sobre tudo. Isso o deixava transtornado. Ele então resolveu agir. Reuniu traidores e ladrões de nossa espécie e fez deles sua família, seu exército. E, causando desgraçada para tantas e tantas pessoas, lutou contra nossa Ordem. Sobre morrer em um acidente de carro, ele, na verdade, se suicidou dentro de uma caverna um pouco mais ao longe onde seus companheiros morriam em uma guerra feita por ele mesmo. Só que os Filhos da Noite não perderam apenas alguns civis e ficaram com pessoas e mais pessoas feridas, eles perderam o equilíbrio ‘’

–O que o Comandante fez depois?

–O Comandante? – Minerva olhou na direção de Florence de forma tão intensa, que a garota achou que ela poderia estar lendo seus pensamentos – Seu pai estava na caverna com o Comandante, que tinha raptado, graças a ajuda de alguns traidores. Ele o matou, antes de se matar.

Florence riu. Não porque a história lhe era engraçada, mas porque aquilo parecia ser completamente errado. Seu pai definitivamente não era um monstro. Sua mãe sempre contava história sobre como ele era fantástico e altruísta, de como ele adorava ajudar pessoas e ver que elas estavam bem. Ele era bom! Ele tinha que ser bom!

–Isso só pode ser uma brincadeira de mal gosto, de péssimo gosto, na verdade! – Florence se levantou, raivosa – Isso é insano! Meu pai não era um monstro, meu pai era um militar! Meu pai não matou pessoas, meu pai as ajudou! Ele era uma pessoa boa, muito, muito boa e desonrar seu nome dessa maneira chega a me ofender.

–Se seu pai era bom, Florence Willis, eu realmente não quero conhecer alguém ruim.

Por um segundo, Florence achou que Minerva tinha lhe falado aquilo, mas percebeu, por fim, que era uma voz masculina., totalmente masculina. Assim que se virou em sua direção, confirmou seu pensamento. Alexander a encarava, sem emoção alguma, da porta.

–Se seu pai não matou e feriu pessoas, mandou que o fizessem e isso pra mim, é a mesma coisa do que pegar uma faca e cortar a garganta de cada uma – ele continuou, fechando a porta atrás de si – E...

–Alexander – Minerva chamou, mas pareceu a Florence mais como um sinal de alerta, quase como se gritasse ‘’Cuidado, garoto, campo minado’’

–Por favor, eu esperei por isso a minha vida inteira, eu preciso soltar todas as coisas que eu pensei durante toda a minha vida – ele disse, sem olhar em direção a diretora.

–Florence não é para quem você deve despejar isso.

–Ela tem o sangue dele, quem melhor? – Alexander sabia que Minerva queria dizer algumas coisas a Florence tanto quanto ele, mas tinha muito bom senso para tal. Infelizmente, para Alexander, a dor já tinha consumido todo o seu – Seu pai, bem, como você já sabe se suicidou...

–Não sei se é verdade – Florence cortou.

–Ah, vamos lá, é a verdade, você sabe. Militar? Ajudar pessoas? Esse definitivamente não é seu pai.

–Você não o conhecia.

–E você, por acaso, sim? Que eu saiba ele morreu quando era um bebê.

Florence se calou e isso deu ainda mais coragem para Alexander fazer o contrário.

–Seu pai, por onde ele passou, causou apenas dor e morte. As pessoas ainda choram pelas pessoas que amavam e perderam e ainda sofrerem pelos machucados que foram deixados em suas peles para cicatrizarem com o tempo. Ninguém esquece algo que pode destruir vidas e causar dor.

–Meu pai era um militar, eu vi suas medalhas de honra, ele era verdadeiramente bom.

–Sua mãe deve tê-las comprado, isso não prova coisa alguma.

–É a palavra da minha mãe!

–Aquela que mentiu sobre quem você é?

Mais uma vez, Florence ficou quieta.

–Bem, bem, bem – Alexander se aproximou um pouco mais, satisfeito por conseguir deixar ela sem palavras – Você se pergunta o porquê das pessoas te odiarem, estou certo? – ele esperou que Florence fizesse algum movimento, mas ela não fez – Mas não é para menos. Seu pai matou tanta gente, destruiu tanta coisa, que mesmo depois de muito tempo isso ainda pulsa no coração de cada Filho da Noite. Seu pai foi a pior coisa, isso mesmo, coisa que já viveu nesse mundo.

–Olhando para você agora, eu percebo que tem quase a mesma idade que eu, estou certa? – Florence não queria uma resposta – Se ele morreu quando eu era um bebê, segundo vocês se suicidando, então você não viu, de perto, a guerra. Não viu, com seus próprios olhos a verdade. Por que o odeia tanto, Alexander? Você não viu nada disso acontecer.

–Eu o odeio pelo motivo que qualquer outra pessoa da minha idade o odeia. Ele matou pessoas importantes para mim.

–Ah, ele matou?

Alexander não disse nada.

–E posso perguntar quem ele matou? – Florence provocou, apenas por estar se sentindo provocada.

–Meu pai! – ele vociferou, tentando controlar a raiva em sua voz – Ele matou meu pai.

–Al..

–Meu pai era o Comandante. E, você quer sentir a ironia da situação? Eles eram amigos! – Alexander riu, sem qualquer humor – Talvez esse seja o motivo por eu não querer ter amigo algum. Em um momento vocês podem estar rindo de uma história que aconteceu no passado e em outro ele pode estar matando você. Vai saber.

Florence confusa e atordoava, só queria correr dali. Ela procurou no rosto de Minerva alguma coisa que mostrasse que o que Alexander estava dizendo era mentira.

–Minerva – ela disse, por fim – Me diga, vocês estão brincando, não é? Isso.. Isso não pode ser verdade.

–Infelizmente, eu estava lá e é - a diretora falou – Meu irmão era o Comandante.

–Espera, o quê? – Florence olhou para Alexander e então depois para Minerva, atordoada – Alexander é seu sobrinho? Vocês são parentes?

–Sim, somos – confirmou ela – Ele é o que sobrou da minha família na guerra.

–Ela quis dizer – Alexander interrompeu – O que seu pai deixou que sobrevivesse da guerra.

Parecia loucura. É, talvez apenas fosse uma grande loucura. Em um momento, Florence era apenas sorrisos e felicidade, sua festa estava acontecendo e tudo parecia tão certo. Em outro ela percebia que não tinha uma amiga de verdade, que precisava trocar de escola e que seu pai era um assassino. E, embora, tudo doesse, saber que talvez, uma das pessoas que mais amava no mundo, tivesse matado tanta gente e o pensamento que carregava sobre ele estivesse errado, conseguia ultrapassar qualquer dor.

–Eu sou vou repetir uma vez – ela disse – Podem me dizer o que for, qualquer coisa, mas eu sei exatamente quem foi meu pai. Eu realmente sugiro que você, querida diretora, vá até o refeitório e fale para todos aqueles alunos o quão errados eles estão. Meu pai era uma pessoa boa e eu juro que vou morrer com esse pensamento.

Sem esperar qualquer replica, Florence correu até seu quarto. E, para seus nervos, não ajudou nada ela ter se perdido pelos corredores centenas de vezes até encontrar a porta que tanto queria ver. Ela a abriu totalmente derrotada e a fechou totalmente derrotada. E assim que se deitou na cama e começou a chorar, percebeu que era tudo o que sentia naquele momento. A derrota. Tudo, desde o desespero da mãe na despedida para a escola até os olhares tortos dos alunos em sua direção, parecia mostrar a ela que o a história de Minerva e Alexander era realmente verdadeira. Mas quando fechava os olhos e imaginava o pai, apenas sentia o melhor dele – ela sentia os abraços e os beijos de despedida, que sua mãe contava que sempre dava antes de sair para qualquer coisa. ‘’Ele te amava tanto’’ uma vez a mãe disse ‘’Ele dormia ao seu lado, esperando sonhar com você. Ele dizia sempre pra mim isso. Que você era um anjo e que habitava todos os seus melhores sonhos. Ele faria qualquer coisa para você gargalhar, como sempre fazia’’

Florence, por mais que a razão gritasse o contrário, sentia aquele amor tão vivo dentro dela. Ele era bom. Tinha que ser, tinha que ser.

Sem poder se conter, puxou de dentro da primeira gaveta do criado-mudo, seu celular muito bem escondido das revistas de Minerva.

–Mãe? – ela disse, assim que alguém atendeu do outro lado. Sua voz estava rouca, porque ela não conseguia conter as lágrimas – Mamãe?

–Amor, o que houve? – a mãe parecia preocupada e quase desesperada e ao fundo, Florence ouviu a voz de Paul falar ‘’ O que aconteceu?’’

–Por favor, por favor – ela pediu – Diga-me que o que eles estão falando sobre meu pai é mentira. Diga-me, por favor.

Ela escutou a mãe suspirar contra o aparelho.

–Florence, se lembra das histórias que contei sobre seu pai? Sobre seu pai e você?

–Sim.

–Nenhuma era mentira. Alguém que ama daquele jeito a filha não é capaz de destruir esse amor em outras pessoas. Ele era alguém bom, amor, alguém muito bom e não importa o que eles digam a você, mantenha a memória do seu pai. Ele era o homem mais corajoso e altruísta que eu já conheci em toda a minha vida. Aquilo, a guerra, o que eles dizem sobre ele, não é quem seu pai era. Florence?

–Sim, mamãe? – ela fungou.

–Não chore, amor, não chore – a mãe disse – Se eles fizerem você duvidar do seu pai, lembre-se que eles estão errados e que sei pai te ama. Confie em mim, ele era o melhor.

–Tem que dizer isso a todo mundo, diga!

–Eu já tentei, mas eles parecem só ver a dor. A verdade para eles parece muito clara, mas pra mim parece nebulosa. Eles não acreditam no meu relato, eles querem algo mais do que uma esposa desesperada pedindo pela honra do marido.

–Se é isso que eles querem, então darei a eles – Florence enxugou uma lágrima que fugia pela sua bochecha de forma meio furiosa, meio determinada.

–Querida, o que vai fazer?

–O que farei? O que já era pra ter sido feito a muito tempo – ela disse - Vou mostrar para todo mundo quem meu pai realmente é. Vou fazer eles verem a verdade, nem que para isso eu tenha que esfregá-la no rosto de cada um.


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