Nascida nas Sombras escrita por Bruna Ribeiro


Capítulo 20
Capítulo 19




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CAPÍTULO 19 - ONDE ESTÁ?

Florence desejou não ser o centro das atenções.

Depois de uma semana inteira da morte de Amélia, as pessoas pareciam cada vez mais assustadas, se perguntando quem seria a próxima vitima.

Só que Florence tinha outras coisas na cabeça agora. Apenas queria digerir completamente tudo o que a mãe disse em sua última visita.

Ela tinha uma irmã, que morreu por ser diferente.

Alexander estava curioso quanto a essa conversa, mas a garota soube contornar a situação e inventou algumas mentiras para deixa-lo afastado. Ela não sabia se era um boa hora para compartilhar algo como aquilo com Alexander - filho do Comandante que parecia ter um grande vazio no lugar do coração. Florence se lembrou muito bem das coisas que ele falava sobre Edmund Willis, achando que o pai era inocente. Provavelmente Alexander não acreditaria na história da mãe dela, porque seus olhos estariam fechados pelo amor que sentia.

–Como eu estava dizendo, as famílias de Filhos da Noite estiveram em todos os lugares do mundo, mas principalmente na Europa Antiga. Esparta era uma cidade bastante... – a professora Marize, que lecionava algo como história sobre a Noite, falava.

Florence suspirou, cheia de tédio.

–Ei, você – Anna a chamou baixinho, ao seu lado – Tome.

–O que... – antes que terminasse de falar, um papel acertou seu rosto em cheio – Ai, Anna! Você está ao meu lado, poderia simplesmente me dar.

–Eu acabei de fazer isso – ela revirou os olhos – Vamos, leia.

Florence abriu o papel embrulhado de forma tosca.

‘’Você está bem? Não parece bem. Está usando uns sapatos bem horríveis’’

–Eu estou ótima – Florence respondeu a amiga – E meus sapatos são lindos.

–Florence? – a professora chamou – Vejo que está animada para responder a minha pergunta.

–Na verdade....

–Venha aqui na frente.

–Professora, eu......

–Agora, senhorita.

Sem vontade alguma e culpando todos os descendentes de Anna, Florence levantou de sua cadeira e se dirigiu a frente da classe.

–Sim, senhora? – se virou em direção a professora e sorriu falsamente.

–O Comandante anterior, Felipe Woodley, criou um projeto para que os Filhos da Noite pudessem melhorar seus aprendizados. O qual citei nessa aula. Que projeto foi esse?

–Provavelmente algum que envolvesse seus interesses.

A professora a olhou, confusa.

–Mas é claro. Os interesses de todos nós estavam envolvidos.

–Acho que precisa interpretar textos de uma forma mais satisfatória, senhora. Eu não disse os meus e muito menos os seus interesses, eu disse os dele. Afinal, ao que parece, ele fazia muito isso.

–Isso é um absurdo – ela levantou de sua cadeira e se aproximou de Florence – Estava me referindo ao projeto que consiste em fazer com que os Filhos da Noite entrem nas escolas especializadas anos antes do que era estipulado... Para sua informação, senhorita, foi um grande feito.

–Me diga, mas foi antes ou depois dele se meter em uma guerra?

–Não se esqueça que quem arrumou uma guerra contra o próprio povo não foi o Comandante.

–É o que acha mesmo? – Florence levantou as sobrancelhas, provocando-a. Ela sabia que deveria simplesmente ignorar, mas não conseguiu se conter ao ver um pessoa falando tão bem de um homem que matava crianças por não nascerem do jeito que ele desejava.

–Vá conversar com a diretora, senhorita – ela vociferou – E se não for, eu saberei, e o castigo será pior.

Quase agradecida por ter que sair daquele lugar, Florence pegou sua mochila e caminhou para fora da sala. Os corredores, iluminados pela noite, estavam vazios. Mesmo assim, Florence ouviu perfeitamente bem as vozes dos alunos vindos das várias salas de aula ao seu redor.

Caminhou mais rápido.

–Florence?

Ela então se virou e encarou Alexander, que parecia quase furioso.

–Ah, é você.

–Sim, sou eu – ele andou em sua direção – Que negócio é esse de acusar meu pai de ter se envolvido na guerra de propósito? Porque todos sabemos que ele só fez isso porque seu pai..

–Como sabe disso? Que me lembre não estava na sala – falou, indiferente – Mas, pelo menos, interpreta bem minhas falas

–Minerva pediu para eu entregar esses avisos – ele apontou para alguns papéis em sua mão – E eu ouvi, quando estava aponto de entrar.

–Ah, sim, tudo bem. – e se virou.

Florence escutou os passos de Alexander acompanharem-na, até que ele segurou um de seus braços e a fez parar.

–O que quis dizer com aquilo? – ele perguntou – De onde tirou uma coisa dessas?

–Temos que trabalhar com todas as opções, meu caro.

–Sua mãe te disse isso?

–Não sei o que está falando.

–Vamos logo, você sabe exatamente sobre o que estou falando.

Florence escutou alguns passos se aproximando e afastou-se de Alexander.. Uma menina,, mais ou menos do seu tamanho e com os cabelos avermelhados, passou por eles no corredor. Ela estava tímida e usava um casaco preto e pesado, com detalhes em vermelho. Ela permaneceu cabisbaixa. Mas seu plano não funcionou.

–Sabe que não pode estar andando por aqui a essa hora, não é? – Alexander perguntou a ela, enquanto a garota continuava caminhando.

–Me desculpe – ela disse, com uma voz fraca, mas não parou de andar.

Alexander suspirou.

–Eu vou garantir que essa garota volte para a sala dela, mas eu não acabei com você. Me encontre na biblioteca, logo depois de ir ver Minerva.

–Pelo visto ouviu a conversa toda, não?

–Vai logo

Ela continuou a caminhar e a se afastar do garoto, até não vê-lo mais.

[...]

–Pode entrar – Minerva falou, assim que Florence bateu na porta.

Relutante, ela fez o que sua diretora pediu.

–Olá, Diretora – cumprimentou sorrindo.

–Por que algo me diz que essa não é uma visita casual, senhorita?

–Bem, foi a senhora Martine que me mandou aqui.

–Martine? Não temos nenhuma professora chamada Martine.

–Não? Ela disse que dava aulas sobre história da Noite ou algo assim.

–Ah, sim – Minerva sorriu – Professora Marize.

–Bem, é parecido – Florence caminhou e se sentou em uma cadeira a frente de Minerva, jogando sua mochila por perto – O caso é que ela implicou um pouco comigo, eu impliquei um pouco com ela e agora estou aqui. Olha, eu sinto muito e não vou mais fazer isso e blá blá bla. Agora já posso ir?

–Florence, o que eu faço com você?

–Pode me dar o resto do dia de folga.

–Não quero recompensá-la, quero dar-lhe um castigo apropriado.

–Olha, acho que já estou com muitos castigos por enquanto, mas posso abrir uma vaga para você.

–Eu sei que tudo está sendo difícil, mas precisa manter o controle. Não posso livrar você de todos os castigos que arruma, se eu não eu terei problemas.

–Isso me pareceu mais uma dica do que um castigo. Você está dizendo que vai me liberar dessa?

–Vou conversar com a professora Marize e resolverei isso. Mas só dessa vez, Florence Willis.

–Obrigada, diretora – Florence se levantou, mas não chegou a sair da sala – Ah, diretora? – Minerva olhou em sua direção – Vocês tem alguma ideia sobre quem pode ser a Voz?

–Nós estamos avaliando as opções, eliminando suspeitos.

–Há muitas pessoas que podem falar com outras pela mente?

–Esse é um dom, no caso. Mas ele é bem complexo e é difícil saber sobre as pessoas que o possuem.

–Como assim?

–Algumas pessoas realmente nascem com ele, mas outras não.

–Acho que estou confusa.

–Pessoas que tem um laço muito forte com outras, podem se comunicar entre si através de pensamentos também. É o caso de pais, irmãos, parentes em geral.

–Então, meu pai ainda não foi eliminado dessa lista?

–Na verdade, mesmo morto para mim, ele é um dos maiores suspeitos do Conselho.

–Certo...

A porta se abriu com um estrondo e Florence só teve alguns segundos de vantagem para dar um passo para trás e não ser atingida em cheio.

O porteiro da escola entrou na sala, com a camisa cheia de sangue e o olhar preocupado.

–Philips, o que aconteceu? –Minerva caminhou em sua direção, logo notando a macha de sangue em sua roupa.

Mas ele mantinha os olhos apenas em Florence.

–Ela – ele apontou em sua direção – Me agrediu e me mataria se eu não tivesse corrido. E ainda teve coragem de vir aqui com você.

–Eu? Mas isso é impossível – ela rebateu.

–Ela estava andando lá fora – ele começou – E eu a vi. Então cheguei perto para dizer-lhe que deveria voltar para dentro, já que ela estava quase entrando no bosque e era um horário proibido. Ela simplesmente começou a me bater, com uma pá.

–Uma pá? Por que eu teria uma?

–Não sei, pergunte a você mesma – ele revidou, furioso – Então eu consegui empurrá-la e corri.

–Philips, tem certeza? - Minerva perguntou – Florence nem está suja de sangue.

–Eu não vi o rosto dela completamente, mas era o dela. Vi os cabelos perfeitamente e o jeito de falar. Era Florence Willis. E ela não deve estar manchada de sangue, porque usava um casaco grande e isso deve ter protegido a roupa de baixo.

–Calma, ai – Florence pediu – O que disse?

–Que foi você.

–Não, depois disso – ela deu um passo a frente – Falou sobre um casaco. Que cor era o casaco?

–Ah, agora ela vai fingir que não sabe de nada - Philips riu, sem humor – Claro que era preto.

–Ai meu Deus – Florence só conseguiu dizer isso, antes de sair correndo pelos corredores.

Ela ouviu Minerva gritar seu nome, mas seus pensamentos estavam em outro lugar.

‘‘Por Favor, por favor, esteja lá’’ ela dizia em sua mente, enquanto corria ‘’Por favor, esteja me esperando lá’’

Ela desceu as escadas, quase caindo em vários degraus e dobrou em alguns corredores, sem parar um segundo.

Então finalmente chegou onde queria. Com hesitação, abriu a porta, encontrando a biblioteca vazia.

Quando Minerva a alcançou, Florence já tinha olhado cada pedacinho daquele lugar.

–O que está havendo, Florence Willis? – Minerva disse por fim, recuperando o fôlego..

Mas a garota se manteve calada, porque não saberia explicar para sua diretora, que Alexander havia sumido. E que ela tinha certeza que corria um terrível perigo.


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