Nascida nas Sombras escrita por Bruna Ribeiro


Capítulo 19
Capítulo 18




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CAPÍTULO 18 - ALGUMAS PESSOAS QUEREM A VERDADE, SEM SABER SE PODERÃO AGUENTÁ-LA.

–Como foi? – a mãe perguntou assim que Minerva e o Conselho saíram do quarto, onde Florence se mantinha em repouso.

–Eu contei o que a voz me disse. Cada palavra. – respondeu, com as pálpebras pesadas – Me lembro como se ainda estivesse sussurrando na minha cabeça. Não vou conseguir esquecer. A dor. Eu senti o fogo dentro de mim, queimando...

–Florence, pare. Por favor, querida.

–Eu acho que isso está saindo do controle, mãe. Na verdade, já achava isso, mas está piorando invés de melhorar.

–Vai melhorar.

–O pior nem é isso.

–O que é então?

–É eu estar totalmente ignorante a tudo. As pessoas parecem ter medo de dizer o que está acontecendo, como se eu fosse quebrar.

–Meu amor...

–Não acha que já contornou a situação demais? Não acha que já me fez de idiota tempo suficiente?

As duas ficaram em silêncio, apenas encarando uma a outra.

–Tudo bem – a mãe suspirou – Me pergunte qualquer coisa e eu responderei.

–Meu pai... Ele fez tudo isso? Essa guerra?

–Fez.

–Ai meu Deus – Florence exclamou, quase que não preparada para escutar o que esperava.

–Mas não do jeito que acha.

–Como assim?

–Ele se revoltou contra o Comandante, é verdade. Mas ele nunca quis o mal dos Filhos da Noite. Pelo contrário.

–Ele fez uma guerra querendo a paz?

–Havia uma regra seguida a risca por todos, que seu pai repudiava, desde da adolescência – a mãe começou a contar – Ela consistia, basicamente, em matar bebês Filhos da Noite que nascessem com deficiências físicas ou mentais e que não pudesse lutar, caso fosse preciso.

–Que horror! Vocês pegaram algumas dicas com os Espartanos?

–Para a sua informação, a maioria dos Espartanos eram Filhos da Noite e esse costume veio desde aquele tempo. Mas não importa agora – ela abaixou os ombros, cansada – O pai de Felipe Woodley, melhor amigo do seu pai, era o Comandante e fiel a essa regra. Ele até mesmo a justificava para todos, até a família. Quando seu pai declarou ser contra essa regra absurda, Felipe Woodley o detestou e encarou isso como algo pessoal. Eles se afastaram.

–Isso explica algumas coisas. Mas e a guerra?

–Seu pai, juntamente com Ronald Jones, fundaram uma Irmandade de fachada.

–Como de fachada?

–Eles declararam ser apenas coisas bobas de Irmandades adolescentes, como grupos de estudos, festas particulares, mais como um grupo de amigos reunidos.

–E não era isso?

–Não.

–O que era?

–Seu pai conseguiu reunir todas as pessoas que conhecia que eram contra essa lei. E esse grupo, na verdade, se reunia para arquitetar algo contra a regra.

–Eles decidiram pela guerra então?

–Não – a mãe respondeu, quase indignada – A guerra nunca passou pela cabeça da Irmandade, nunca foi uma opção.

–E o que houve?

–Seu pai tinha perdido dois irmãos por causa dessa regra e tinha visto outras pessoas morrerem por ela também. Ele sentia que precisava fazer algo. Foi quando o pai de Felipe morreu, fazendo o filho virar o novo Comandante.

‘’Seu pai achou que isso foi um sinal da Noite, dizendo para ele seguir em frente. Edmund tinha certeza que se explicasse tudo o que achava sobre a regra dos nascimentos para Felipe, ele entenderia. Seu pai sempre achou que ele fosse alguém bom.’’

–E não era?

–Não, pelo visto – a mãe se sentou, finalmente, na cama, junto com Florence – Felipe negou ir contra a lei e iria acusar seu pai de traição, se ele não pedisse desculpas.

–E ai a guerra começou?

–Florence, esqueça a guerra por um tempo, okay? Eu vou chegar lá.

–Tudo bem, continue.

–Edmund teve que se desculpar, forçadamente, porque ele não era burro de ir contra o Comandante e acabar parando na prisão ou sendo morto.

–Vou fingir que não estou com vontade de saber se a guerra começou agora.

–Então – a mãe ignorou-a – Edmund decidiu que seria bom se, por enquanto, mantivessem apenas a Irmandade, visto que Felipe parecia pensar igual o pai. Foi, nesse momento, que o conheci.

‘’Nunca pensei que fosse me apaixonar a primeira vista, mas seu pai era muito bonito, acho que a maioria das garotas já estavam na mesma situação que eu. Só que, diferentemente das outras, ele veio conversar comigo. Eu nunca soube o motivo. Nós conversamos e namoramos por um tempo, pouco, muito pouco, eu diria, até que fiquei grávida.’’

–Tudo bem, mãe, isso foi legal, adorei saber sobre meu nascimento, mas e a guerra?

–Florence, não fica óbvio o que houve depois?

–Não, não fica. Estou confusa. Como meu pai começou essa guerra? Ele não me quis? O que foi que aconteceu?

–Quando eu descobri que estava grávida, meu mundo parou por um tempo. Eu não conseguia comer ou estudar direito, porque estava muito preocupada com meu futuro. Então resolvi dividir minha angústia com seu pai. Eu contei sobre minha gravidez e por incrível que pareça, ele adorou. Nos tínhamos vinte anos e ele adorou. Adorou mesmo.

–Então ele não me negou?

–Negar você? Ele amou você desde o primeiro momento que ouviu que existia, Florence.

–Continue – pediu, ainda tentando entender porque se sentia tão bem com essa resposta.

–Mas não era só você que estava dentro de mim – agora a mãe parecia abalada.

–Não entendi – a mulher em sua frente começou a soluçar e Florence percebeu que ela estava chorando – Mãe? O que quis dizer?

–Você tinha uma irmã gêmea, amor – ela ainda conseguiu sorrir, mesmo em meio ao choro.

–Eu tinha uma... – Florence parou de falar e encarou a parede branca da ala médica, tentando processar essa possibilidade – Isso é possível?

–Nos estávamos muito feliz. - fungou - Contamos a nossas famílias e meu pai quase enfartou, mas fora isso, ocorreu tudo bem. Só que, depois de alguns meses de gestação, descobrimos que um dos bebês tinha nascido com uma deformidade no rosto e isso poderia resultar, futuramente, em alguns problemas mentais.

–Mãe, não me diga que eles... Eles..

–Seu pai se trancou no quarto por algumas semanas, sem querer falar com ninguém. Não era por causa do problema com uma de nossas filhas, ele já a amava também, mas porque sabia o que aconteceria depois.

‘’Quando seu pai, finalmente, saiu do quarto, ele já tinha montado um plano, com a Irmandade, para protege-la . Eles iriam fugir com ela para algum lugar e eu alegaria que só tinha tido você. Mas, quando vocês nasceram, a médica que havia cuidado de mim ficou com medo e contou ao Comandante. Seu pai conseguiu alguns dias de vantagem para se esconder, porque quando Felipe realmente descobriu sobre a existência de outra criança, estava viajando com o filho de um ano e a esposa.’’

–O que houve depois?

–Seu pai pegou sua irmã e fugiu com a Irmandade, mas não conseguiu se esconder por muito tempo. O Comandante o encontrou e matou nossa filha enquanto ele dormia, para mostrar o que acontecia quando alguém ia contra o Governo.

–Foi ai que começou a guerra, não foi?

–Não foi só Edmund que ficou furioso, a Irmandade inteira sentiu sua dor. Eles decidiram que isso não poderia continuar e montaram um tipo de exército para ir contra o Comandante. Seu pai não queria lutar, nunca quis, o exército era mais como um susto para Felipe voltar atrás na decisão de continuar com a regra. Mas o Comandante encarou aquilo como um desafio e quis a cabeça do seu pai mais que tudo. Eu nunca entendi porque tanto ódio.

–Eles começaram a guerra nesse momento, não foi?

–Sim, começaram. E o Comandante sabia muito bem ao lado de quem a população ficaria. Porque ele sempre soube, na verdade, o quão errado era aquela regra e o quanto as pessoas a repudiavam.

–Ele fez o quê?

–Difamou seu pai para todo mundo. Alegando que ele sempre quis tomar o poder, distorcendo o que realmente era o objetivo. - a mãe suspirou, como se estivesse revivendo tudo - Pelo menos, no final, seu pai conseguiu o fim daquela regra idiota. Tantas pessoas morreram na guerra, que os Filhos da Noite se negaram a matar ainda mais.

–E o que houve na caverna, quando o Comandante foi morto? Meu pai pode estar vivo? Ele pode querer vingança?

–Não sei o que houve na caverna. Sei tudo o que contei a você agora, porque seu pai me mandava cartas. E naquele dia....

–Ele morreu também – Florence completou – Ou fez todos pensarem que sim.

–Não sei se ele está vivo, duvido que sim, mas se estiver, sem dúvida não está por trás disso. Sei pai nunca quis sacrifícios. Alguém está usando o nome dele para isso.

–Será o Comandante?

–Impossível. O Comandante não podia se transformar em outras pessoas e era ele ali.

–Então quem é o culpado por trás de todas essas mortes e quem quer me envolver nisso?

–Não sei, querida – a mãe falou, com sinceridade – Mas até um nome seja revelado, você tem que tomar cuidado e dormir com os olhos abertos.

–Acha que o assassino pode estar na escola?

–Não tenho dúvida.

Alguma coisa dizia a Florence, que ela também não.


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