🌸Amor que Resiste ao Tempo🌸 escrita por Aura


Capítulo 6
Desculpas


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal! Voltei! :D Tá, eu sei que demorei um monte pra postar, mas é que minha inspiração tinha simplesmente desaparecido, e o meu tempo também não estava muito comprido... :P

Bom, mas agora eu voltei, e trouxe um capítulo novinho em folha da nossa amada história! Ah, e um aviso: não importa o quanto eu demore pra postar, eu nunca, NUNCA desisto de uma história. Que isso tenha ficado bem claro!

Tenham uma boa leitura! ;)



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Mansão Shindou, 05:30

“E se você tentasse conversar com ela?”

Pensando nessa pergunta pela décima vez naquela manhã, ouvi meu despertador tocar no criado mudo. Sem me importar com o som agudo e irritante, continuei deitado. Já faziam horas que eu estava acordado. Simplesmente havia despertado de madrugada, não conseguindo voltar a dormir por causa da grande quantidade de pensamentos que preenchiam minha mente.

Lembrei-me da conversa que havia realizado com Kirino naquela última sexta-feira. Após me despedir do rosado e seguir novamente para minha casa, havia sentido um grande alívio e satisfação em meu peito. Desde o momento em que vira aquela garota no Clube de Futebol, eu não soubera o que fazer, o que pensar. Simplesmente não conseguia entender o porquê de ter visto uma pessoa idêntica a Okatsu. Pensava naquilo a todo momento, sem conseguir me concentrar, me focar nos acontecimentos a minha volta. Eu estava deprimido, sabia disso.

E para meu grande alívio, Kirino havia me tirado desse estado. Ao me interrogar, ouvir o que eu tinha a dizer, ao me levar a um lugar mais calmo e me apoiar quando não consegui mais segurar minhas lágrimas. Eu agradecia ao rosado com todo o meu coração por aquilo tudo. E com uma grande felicidade, redescobri que podia confiar em alguém, alguém que me ajudaria quando eu mais precisasse: meu melhor amigo.

– Takuto-sama? – ouvi uma voz chamar atrás da porta do quarto. – Já está acordado?

Sentando-me na cama, desliguei o despertador.

– Já. – respondi.

– Oh, certo. – a voz disse educadamente antes de se retirar. – O café da manhã começará a ser preparado em alguns minutos.

Suspirando, me levantei e segui até o banheiro. Após lavar o rosto, voltei ao quarto e vesti o uniforme da escola. Depois de pronto, segui pelo longo corredor e desci até o salão, rumando até a sala de refeições. Lá sentei-me sozinho na mesa espaçosa, tomando o café da manhã enquanto trocava algumas míseras palavras com a cozinheira, que perguntara se estava gostando da comida. Ao terminar meu café, subi as escadas e terminei de me arrumar, em seguida pegando minha mochila e saindo pela porta da frente.

Passando pelos portões da mansão, me despedi do mordomo e comecei a andar pela calçada. Observei o movimento ao meu redor. Pessoas caminhavam tranquilamente, algumas vestindo uniformes escolares, outras seguindo para seus trabalhos. Sentindo uma brisa fria balançar meus cabelos, olhei para o céu azulado, que possuía uma quantidade razoável de nuvens cinzentas. O clima havia mudado bastante desde o fim de semana, adquirindo ventos mais frios nos horários matinais.

Andei alguns quarteirões, até avistar os portões da Escola Raimon a alguns metros de distância. Repentinamente, lembrei da voz de Kirino em minha mente. “É. Pedir desculpas pelo jeito de como agiu. Sei que ela vai entender se você explicar.” Sentindo uma pequena hesitação, continuei seguindo até o colégio, fazendo com que a imagem de uma garota de cabelos e olhos castanhos escuros preenchesse minha mente.

Lembrei-me do modo assustado com que aqueles olhos brilhantes e gentis me fitaram naquela segunda-feira no Clube de Futebol. Possuíam tanta confusão, tanto... Medo. Sentindo uma grande culpa, pensei em como poderia me desculpar com aquela garota. Qual era mesmo o nome dela? Yumei. Sim, eu precisava me desculpar, explicar o porquê de ter agido daquela maneira, deixar que ela finalmente pudesse se expressar da forma certa. A primeira impressão que eu havia passado já era muito ruim, não podia deixar com que as próximas também fossem negativas.

Mas... Como conseguiria fazer isso? Em primeiro lugar, eu não podia nem vê-la andar pelos corredores que já sentia uma onda de sentimentos passar por meu corpo, fazendo com que meu coração doesse. E em segundo, eu começara a notar que ela me evitava. Sempre quando notava que eu estava me aproximando, ou quando via que eu me localizava em algum lugar em que estava prestes a se dirigir, dava a meia volta ou se retirava, tentando não manter contato visual. Não sabia o porquê, mas, me sentia incomodado com aquele modo de agir.

Entrando no colégio passei por alguns alunos, seguindo na direção da sala do Clube de Futebol. Os jogadores do time sempre chegavam mais cedo que os outros alunos, a fim de realizar um pequeno treino antes das aulas se iniciarem. Por isso a escola ainda possuía um aspecto um tanto vazio no momento em que eu passava pelos portões.

Chegando á sala do clube, observei várias expressões cautelosas me fitarem no momento em que entrei. Todos os jogadores da equipe já se encontravam no local, conversando enquanto vestiam seus uniformes e calçavam suas chuteiras. Olhando seus rostos, deduzi que como não possuíam conhecimento da minha recente recuperação de humor, ainda achavam que eu me comportaria daquela maneira arrogante e estressada da semana passada.

– Bom dia pessoal. – fiz com que minha voz soasse da forma mais normal possível. Olhando-me com atenção, todos responderam pequenos “bom dia”.

Senti que aquele era o momento de me desculpar com eles também.

– Bom... Eu gostaria de me desculpar com todos vocês. – comecei, mostrando sinceridade. – Eu passei por algumas coisas muito difíceis na última semana, e acabei tratando todos vocês de forma arrogante. Sei que agi de forma estranha, mas quero que saibam que já me recuperei. Então, espero que vocês me perdoem.

Baixei os olhos brevemente, sentindo uma alegria reconfortante ao ver todos sorrindo no momento em que os encarei novamente. Aproximando-se de mim, Tenma pôs uma das mãos em meu ombro.

– Que bom que está de volta. – sorriu com satisfação. – Estávamos esperando que você se recuperasse.

Devolvi o sorriso, olhando mais a frente. Sentado em um dos sofás, Kirino me fitava serenamente, feliz ao me ver em meu estado normal. Após trocar meu uniforme escolar pelo de futebol, peguei minhas meias e chuteiras, sentando ao lado do rosado.

– Yo. – ele sorriu.

– Yo. – comecei a vestir as meias, apoiando os pés na beira do sofá. – Como foi o final de semana?

– Foi bom. E o seu?

– Pensativo.

Seus olhos azuis me fitaram com mais atenção, mostrando certa reflexão. Curiosidade e interrogação surgiram em seu rosto, eu já sabia o que ele iria perguntar em seguida.

– Vai conversar com ela? – sua voz trazia uma grande expectativa.

Baixei os olhos, suspirando fundo. Calçando as chuteiras, pensei um pouco enquanto amarrava os cadarços. Ao terminar, fitei o rosto do rosado novamente, notando uma pequena impaciência surgir em sua expressão por causa de minha demora em responder.

– Vou. – disse por final, a voz falhando um pouco ao não conseguir imaginar como faria aquilo.

– E... Vai ser quando?

– Vou procurá-la na hora do intervalo.

Kirino piscou, parecendo surpreso.

– Mesmo? – sorriu. – Que bom.

– É. – afirmei com a cabeça. – Só não sei como irei falar com ela... E se eu não conseguir?

O rosado segurou o queixo com uma das mãos, olhando para cima ao juntar um pouco as sobrancelhas, pensativo.

– Você não sabe se vai conseguir se não tentar. – começou. – Hum... Você sabe onde pode encontrá-la?

– Só sei que ela estuda na mesma sala que Tenma e Shinsuke. – respondi com decepção. – Não faço a menor ideia de onde ela vai após as aulas ou no intervalo.

– Você pode perguntar pra Aoi. – optou. - Ela também estuda com eles.

O problema era que eu também não sabia aonde nenhuma das garotas do Clube de Futebol ia na hora do intervalo.

– É, pode ser... – concordei mesmo assim. – Mas ainda preciso pensar no que dizer.

Ouvindo a porta da sala se abrir, vimos Haruna Otonashi entrar segurando uma prancheta, chamando a atenção de todos os garotos presentes.

– Bom dia meninos. – sorriu com simpatia. – Estão todos prontos para o treino?

Todos concordaram.

– Muito bem, então vamos até o campo realizar alguns alongamentos. Logo passarei as habilidades que deverão treinar para os próximos jogos.

Saindo da sala do clube, eu e Kirino acompanhamos a equipe até o campo no centro da escola. Após um produtivo alongamento começamos o treino, fazendo com que a bola rolasse alegremente pelo gramado. Correndo, me movi de forma rápida e concentrada, calculando cada um dos movimentos dos outros jogadores. Roubando a bola várias vezes realizei dribles, cortes e posições de defesa, surpreendendo a todos com meu empenho. Ao final do treino acabei acertando dois gols, sentindo uma grande satisfação no momento em que voltamos ao clube com a intenção de nos arrumar para as aulas que logo começariam.

Em minha sala de aula, prestei atenção ao que o professor falava, ficando surpreso ao ouvir o sinal que indicava o começo do intervalo. Senti um frio na barriga. Só de pensar que estava na hora de começar a procurar Yumei para me desculpar quase não consegui me levantar da carteira, relutante em sair para o pátio.

– Quer que eu vá com você? – ouvi a voz de Kirino ao meu lado.

Pensei um pouco. Seria muito bom ter alguém para me ajudar a procurar, afinal eu não fazia a menor ideia de onde Yumei poderia estar. Mas... Não sei se conseguiria falar com ela se alguém estivesse ao meu lado, mesmo que esse alguém fosse Kirino. Parecia muito mais prático fazer aquilo sozinho, então respondi:

– Não, tudo bem. Eu consigo sozinho.

Saindo de nossa sala de aula, andamos pelos corredores até chegar ao pátio da escola, onde Kirino me desejou boa sorte antes de seguir na direção do Clube de Futebol.

Suspirei fundo, preparando-me mentalmente para começar minha busca pelo pátio da escola. Olhando constantemente para os lados e procurando em todos os cantos possíveis, comecei minha procura, chamando a atenção de alguns alunos que me observavam curiosos. Não me importando com os olhares alheios, tentei em vão reconhecer algum vestígio daqueles cabelos castanhos escuros por entre a multidão. Vários alunos passavam por mim, tranquilos e despreocupados enquanto eu olhava para cada um na esperança de encontrá-la. Após um bom tempo, olhei meu relógio de pulso. Faltavam somente alguns minutos para que o intervalo chegasse ao fim.

Sentando-me em um dos bancos do pátio, parei para pensar. Será que valia mesmo a pena procurar por Yumei? E se ela fugisse como das outras vezes em que me aproximei? E se não aceitasse minhas desculpas? E se eu quando ouvisse sua voz, começasse a me sentir como na semana passada e a tratasse mau novamente? Várias dúvidas preencheram minha mente, impedindo-me de saber exatamente o que deveria fazer.

Respirei fundo lentamente, me acalmando. Não podia desistir. Eu tinha que encontra-la. Saber o porquê de possuir o nome de Okatsu como sobrenome, o porquê de ser idêntica a ela. E principalmente, eu sentia que precisava conhecê-la, saber quem era de verdade. Com força de vontade renovada, me levantei e rumei até a construção principal da escola. A procuraria até o último minuto do intervalo; se ela não estava no pátio com certeza estaria lendo na biblioteca ou estudando em sua sala.

Seguindo pelos corredores prestei atenção aos alunos que passavam por mim, olhando para cada uma das salas por onde passava. Depois de analisar três corredores seguidos, notei que o sinal para o recomeço das aulas logo soaria. Eu não possuía mais tempo. Baixando os olhos, quase não acreditei que havia passado todo o intervalo procurando e não havia a encontrado. Consolei-me com o fato de que poderia procurá-la no dia seguinte, e se não a encontrasse novamente, procuraria no outro, e no outro. Eu não iria desistir. Conversaria com ela de algum modo, sentia isso.

Segui em frente. Ouvindo uma melodia ficar mais alta a cada passo que dava, notei que estava próximo da sala do atual Clube de Música da escola. Aproximei-me até chegar a frente da porta fechada, espiei pela janela. A frente do piano, estava uma garota de longos cabelos loiros e ondulados, rodeada por mais cinco pessoas, provavelmente os outros integrantes do clube. A melodia que tocava me chamou a atenção. Com notas graves e altas a música seguia com provocação e agressividade, como se a própria pianista que a tocava mostrasse estar sentindo uma grande raiva.

Um pouco incomodado com o som agressivo, dei a meia volta e recomecei a andar. Já a alguns metros de distancia, parei. Agora, um som diferente emanava da sala. Composta por notas suaves e delicadas, uma melodia tranquila chegou aos meus ouvidos, envolvendo-me de uma forma um tanto carinhosa. Voltei a frente da porta no mesmo momento, sentindo o coração bater forte em meu peito. Olhando pela janela, vi que os cabelos ondulados haviam sido trocados por lisos, de uma reconhecível coloração castanho escura. Não era mais a loira que estava a frente do piano, mas sim, ela. Me imobilizei alguns segundos com o susto, respirando fundo por causa da grande onda de emoção que passava por meu corpo. Finalmente havia a encontrado.

A observei tocar os teclados do piano. Tocando com vontade e calmaria, vi que parecia mais e mais envolvida com a música a cada nota que tocava. Olhando para seu rosto, vi que esboçava um pequeno sorriso, mostrando estar sentindo um grande prazer no que fazia. Me senti tocado. Então ela... Também gostava de música?

Continuei a ouvir sua bela melodia, sentindo-me feliz com a tranquilidade que me transmitia. Até que um som alto e estridente a interrompeu, fazendo com que cessasse. O sinal para o fim do intervalo havia acabado de soar, e junto dele uma multidão de alunos começou a entrar pelos corredores, rumando para suas salas de aula. Olhei novamente pela janela da sala de música, vendo a morena se levantar da frente do piano prestes a seguir para a porta, acompanhado dos outros garotos. Afastei-me no mesmo momento; não queria que soubessem que estivera os observando.

Vi as sete pessoas saírem juntas da sala, sendo que cinco seguiram em direções diferentes após se despedirem das outras. A frente da porta da sala, ainda ficaram duas garotas, sendo uma delas Yumei. Observando-a conversar com a outra garota, notei que eram muito parecidas. Medindo quase a mesma altura, ambas possuíam cabelos lisos e castanho-escuros; porém, os cabelos da outra garota seguiam até acima dos ombros, enquanto os de Yumei iam até as costas. Após alguns segundos, as duas se despediram, fazendo com que começassem a seguir em direções opostas.

Vi Yumei começar a se distanciar pelo corredor, uma sensação de pânico começou a tomar conta de mim. Eu não podia deixar que fosse embora. Não havia me esforçado tanto para encontrá-la e acabar sem dizer exatamente nada. Não! Aquela era a minha chance! Eu precisava falar com ela!

Começando a andar apressadamente pelo corredor, segui a garota antes que a perdesse de vista. Como não andava muito rápido, calculei que não levaria muito tempo para alcançá-la, apurando decididamente o passo. Quanto mais me aproximava dela, meu coração batia mais forte, sendo acompanhado de seguidas ondas de emoção e nervosismo. Estava quase a alcançando quando repentinamente um som alto chamou sua atenção, fazendo com que se virasse rapidamente para trás.

No princípio, apenas procurou a fonte do som que a interrompera, mas logo seu olhar me encontrou. Arregalando brevemente os olhos ao me fitar, sua expressão tranquila foi tomada por uma de surpresa e temor. Eu já havia visto essa expressão antes. Ela iria tentar se retirar. Virando-se novamente a frente voltou a andar, só que agora de modo diferente: agora ela fazia de tudo para se afastar o mais rápido possível de mim.

Seguindo apressada por entre a multidão, a morena tentava não empurrar os alunos a sua frente, mas mesmo assim acabou ganhando várias reclamações. Mesmo parecendo que todos os seus esforços seriam em vão, me surpreendi ao notar o quanto já havia conseguido se afastar. Segui atrás dela o mais rápido que consegui. Eu não podia deixá-la ir embora dessa maneira. Tinha que dizer o que deveria ter dito naquele primeiro dia em que a vi. Tinha que me desculpar pelo modo de como agi. Só assim que ela se sentiria melhor, que ela entenderia e deixaria de me evitar.

Enquanto tentava me aproximar, notei que sua passagem por entre a multidão se tornava cada vez mais difícil. Os alunos pareciam não dar a mínima importância ao seu temor, ao seu desespero em tentar passar, e isso a atrasou ao extremo. Logo, no momento em que a passagem finalmente havia se aberto completamente, eu já a havia alcançado e a agarrado pelo ombro.

No momento em que a toquei, todo o seu corpo tremeu, deixando-me assustado. Parada de costas pra mim, ela se imobilizou, mostrando nervosismo e medo. Esperei que se movesse ou dissesse algo, mas ela continuou imóvel, calada. Senti meu coração doer. Ela só estava agindo assim por minha causa, a culpa era toda minha. Se não tivesse á assustado e a tratado tão mau naquela segunda-feira, ela não estaria assim.

Respirei fundo, não aguentando mais a tensão em meu peito.

– Me perdoe. – foi a primeira coisa que consegui dizer. – Me perdoe por magoar você, por ter te tratado daquela maneira. Não foi a minha intenção. Eu não deixei que você se expressasse, que explicasse quem era de verdade. Fiquei tão surpreso quando te vi... Que não consegui pensar em mais nada...

Ainda com uma das mãos sobre seu ombro, senti que seu corpo estava menos rígido. Notei que respirava fundo, se acalmando aos poucos. Recolhi minha mão, tentando fazer com se sentisse mais livre. Esperei alguns segundos, mas ela continuou de pé no mesmo lugar.

– Eu fui arrogante. – tentei soar de forma tranquila, mas não consegui esconder a culpa em minha voz. – Deixei você confusa, sem entender o que estava acontecendo. Você tinha razão: sim, eu confundi você com outra pessoa. Mas agora sei que você não é ela. Você é a Yumei, e não ela. – respirei fundo. Baixando os olhos, olhei para minhas mãos, pensativo. - Eu te tratei muito mau. Entendo se você não quiser ficar perto de mim. Eu...

– Não se culpe tanto, Shindou...

Sua voz saiu de forma suave e doce, surpreendendo-me. Elevando o olhar, vi que agora se encontrava de frente pra mim, em uma postura calma. Encarando-a, encontrei seus belos olhos castanho escuros. No mesmo momento, senti meu coração bater de modo estranho em meu peito. Aquele olhar me transmitiu tanta tranquilidade, tanta ternura, tanta... Compreensão...

– A culpa não é só sua. – esboçou um pequeno sorriso. – Mas minha também...

Não consegui entender. Observando meu rosto, vi que notou minha confusão.

– Shindou... – começou, parecendo escolher as palavras que usaria. – Eu também não te tratei do jeito certo. Você perguntou quem eu era, e eu simplesmente fugi de você... Eu também te deixei confuso, também fui injusta com você.

Prestando atenção a cada uma de suas palavras, fitei seu rosto com admiração. Sem dúvidas, sua semelhança com Okatsu era realmente incrível. Tão incrível que, mesmo tendo prometido a mim mesmo que nunca mais as compararia, quase perdi o controle, sentindo meu coração bater mais rápido em meu peito.

– Então... Por que continuou fugindo de mim...? – no momento, aquilo era o que eu mais queria saber.

Corou, mostrando constrangimento. Baixando os olhos, esfregou o braço com uma das mãos, um pouco sem jeito.

– Bem... Digamos que eu... Tive um pouco de medo de falar com você, e também... – fez uma pequena pausa. Sua voz mostrava uma grande sinceridade. – Pelo modo de como agiu aquele dia, pude ver que possuía muito afeto por aquela pessoa e... Achei que se ficasse longe, você não se lembraria dela á todo o momento. Achei que... Você ficaria menos confuso e se sentiria melhor assim.

Pisquei. Então ela havia feito aquilo até agora para que eu me sentisse melhor? Para me proteger da confusão que havia sofrido? Fiquei intrigado. Mesmo com medo, mesmo eu tendo a tratado daquela maneira, ela ainda se preocupava comigo? Eu não conseguia entender. Como podia ser assim, ter tanta... Compaixão...?

O silencio se instalou a nossa volta por vários minutos. Com os olhos baixos, tentei desvendar o verdadeiro significado por trás daquelas palavras. Ao ouvir um longo suspiro por parte da garota a minha frente, elevei o olhar, encontrando seu rosto novamente.

– Bom... Shindou, eu te perdôo pelo modo como me tratou naquele dia. Entendo que você também se sentiu muito mal com isso. Por favor, não se culpe mais. – suas palavras soaram de forma gentil. – Agora... Eu queria muito que você também me perdoasse.

Com um pequeno sorriso, me estendeu a mão receptivamente. Observei sua mão estendida por alguns segundos, em seguida voltando-me para seus olhos. Estavam muito diferentes das outras vezes em que havia a encarado. Ao invés de temor e confusão, agora brilhavam com serenidade. Senti algo muito bom ao fitá-los daquela maneira.

– Sim, eu perdôo você. – apertei sua mão, sorrindo. – E fico feliz por me perdoar por tudo o que fiz.

Aumentando seu sorriso, recolheu sua mão com delicadeza, parecendo satisfeita.

– Obrigada por tudo. – Continuou a sorrir. Olhando o relógio preso em seu pulso, arregalou os olhos em uma pequena careta. – Ai... Estou extremamente atrasada!

Olhei meu relógio também, ficando surpreso com o horário. Havíamos nos distraído tanto que nem notamos que as aulas já haviam recomeçado a uma grande quantidade de tempo. Yumei chamou minha atenção novamente.

– Bom, acho que agora devíamos voltar as nossas salas de aula...

Assenti com a cabeça. Em silencio, trocamos olhares significativos. Observando seu rosto, vi suas bochechas corarem de leve, fazendo com que seus olhos castanhos se desviassem rapidamente dos meus. Hesitante, Yumei deu um passo para trás, sinalizando sua partida. A expressão em seu rosto mostrava traços de relutância.

– Então, até logo... – disse meio sem jeito, antes de começar a se afastar rapidamente.

A segui com os olhos até que chegasse ao fim do corredor, desaparecendo de vista. Suspirei profundamente. Eu havia conseguido. Havia conseguido encontrar Yumei e me desculpar com ela. Uma onda de satisfação passou por todo o meu corpo, fazendo com que me sentisse muito mais leve. E me senti ainda melhor ao lembrar das palavras que havia acabado de pronunciar a minha frente. Era tão bom saber que ela me entendia, que havia me perdoado...

No momento em que a alcançara no corredor, havia simplesmente esquecido de todos os medos e dúvidas que haviam me rodeado no inicio do dia. As palavras haviam simplesmente saído da minha boca, como se possuísse uma certa facilidade em falar com ela. De algum modo, senti que mal esperava para vê-la novamente.

Lembrei-me do olhar que havia me lançado antes de seguir para sua sala de aula, junto de suas palavras de despedida. Sorrindo, senti algo quente e reconfortante em meu coração.

– Sim Yumei. – respondi a mim mesmo. - Até logo.

♩❤♩


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Notas finais do capítulo

Então, o que acharam? Mereço comentários? Espero que tenham gostado!

Até o próximo capitulo! ;)