Diário de Um Garoto de Programa escrita por Worky


Capítulo 2
Aquela infância


Notas iniciais do capítulo

Peço desculpas pela demora >.



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Bom, ainda tenho minhas dúvidas se começo pela minha morte ou pela meu nascimento. Minhas memórias são “confusas”, porém acredito que ela pelo menos tem o direito de saber da vida de um escravo de sua própria beleza.


Nasci em uma família humilde, nada de riquezas ou exageros, porém sempre tive um substituto interessante para isso. O carinho de minha família.


 


Meu pai, Gustav, era um imigrante que com muito esforço virou um pequeno comerciante. Os tempos eram difíceis, principalmente para imigrantes: o nacionalismo da época chegava a ser repulsivo. Vivíamos com o que nossa pequena loja nos rendia, mas eu não podia reclamar, pois era uma criança quase mimada. Por seus filhos, meus pais seriam capazes de passar fome e dar suas próprias vida.


 


Minha mãe, Anne, trabalhava em uma mansão de um dos ricaços da cidade; então tínhamos algumas coisas melhores, graças à pena e piedade deles. Quando as roupas ficavam velhas minha mãe as recebia então também não posso reclamar que não tive roupas boas para a época porque mesmo velhas ou com algum furo elas eram ótimas , claro que quando criança nem ligava para isso.


 


Mas infelizmente as pessoas bondosas e úteis para o mundo sempre são as que vão mais cedo, enquanto quem deveria morrer por ser uma simples escória humana vive longos e prazerosos anos, sempre se aproveitando dos outros. A vida não era justa, mas reclamar já não me adiantava de nada, principalmente aqui. Dispensarei sua pena partir deste ponto.


 


Minha mãe descobriu um câncer avassalador e que em pouco tempo a consumiu. Quer um trauma maior para uma criança do que quebrar seu brinquedo preferido? Mostre a ela sua mãe de contorcendo de dor por causa de uma doença, mostre a ela a verdadeira realidade enquanto aos seus olhos tudo é perfeito. Foram incontáveis às vezes que via meu pai tendo que levá-la ao hospital; a vi se contorcer de dor e mesmo assim sorrir para mim, e dizer a minha irmã o que estava tudo bem e que a “mamãe” melhoraria e iria nos levar ao parque assim que isso acontecesse. Bom, ela não melhorou, e o câncer a levou embora em pouco tempo, fazendo com que meu pai se endividasse para tentar pagar os tratamentos que no final foram inúteis.A medicina da época não era tão avançada como hoje e uma família como a nossa tinha acesso limitado a ela.


 


 Voltando a minha mãe,a todo momento eu pude provar com meus próprios olhos que o amor realmente existe, só não fui capaz ou merecer de encontra-lo e usufrui-lo, já que durante os meses de sofrimento e as crises de dor meu pai ficou ao lado dela, sofrendo com ela, desejando a cada segundo que ele pudesse sentir sua dor, para que ela melhorasse. Desejando que Deus o levasse e a deixasse feliz e saudável na Terra. No desespero de salvá-la, ele trabalhou dia e noite. Cuidando da nossa loja e arranjando bicos para conseguir o dinheiro, noites sem dormir para trabalhar mais, dias se alimentando pouco para não precisar gastar com comida, mas nada adiantou. Mesmo com minha mãe morrendo ele continuou com esta rotina por mais um tempo: ela merecia um enterro digno, um enterro perfeito.


No final o esforço para fazer o melhor enterro, o melhor adeus, acabou sendo em vão, já que na noite em que ele estava trabalhando até tarde e decidiu sair mais cedo do serviço foi atropelado por dois filhinhos de papai bêbados estreando o carro novo ganhado pelo trabalho do pai e usado nas idiotices deles. O enterro “perfeito” foi feito, só que lá eu acabei por dar o último adeus aos meus pais.


Refaço minha pergunta...Quer dar um trauma maior para uma criança do que ver sua mãe agonizando de dor? Leve-a ao enterro de seus pais e explique que a partir daquele momento ela está sozinha no mundo. Sem parentes, sem família, sem nada, só uma irmã menor para cuidar.


No momento em que vi meus pais em um caixão com aquelas expressões serenas me despedi da minha infância. Dei adeus a brincadeiras e sorrisos infantis e abri meus olhos para um mundo de sofrimento e dor.


 


Fui para um orfanato: minha passagem para o inferno. Lugar que se for após morrer, vou me dar bem, já que já morei lá.


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Notas finais do capítulo

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10 de janeiro de 2010