O Tratador de Leões escrita por Last Rose of Summer


Capítulo 1
Prólogo




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A gaiola era imensa. Ele já entrara ali várias vezes, junto com um tratador de verdade, mas aquela era a primeira vez que entrava sozinho. Castor achava que ele estava pronto, mas Edmund não se sentia assim. Suas mãos não tremiam e seu rosto aparentava tranquilidade, mas, em sua mente, ele questionava se aquilo tudo era uma boa ideia.

Seguiu em frente.

O que tinha que fazer era simples; ele já fizera várias vezes e observara ser feito também mil vezes antes disso. Sabia a técnica de cor e salteado, duvidava que fosse errar, mas também sabia que era perigoso e que precisava ter cuidado.

Teria; mas, ainda assim, respirou fundo e deixou um pouco do nervosismo transparecer.

Seu medo maior não era que Aslan o atacasse. O que o assustava, francamente, era toda a confiança que Castor depositava nele… e a liberdade. Não sabia qual havia sido a última vez que se sentira assim, sem amarras, só ele e o trabalho que precisava ser feito. Não com os irmãos e, principalmente, não ali com Jadis. Temia que fizesse besteira e quebrasse a confiança de um dos poucos amigos que fora capaz de fazer.

— É para hoje! — Castor gritou, sem traços de mau humor. Parecia, na verdade, estar se divertindo bastante com a situação. Edmund acenou e deu um último passo, pronto.

Foi como se ele se tornasse outra pessoa. O peso que geralmente sentia nos ombros sumiu, o brilho melancólico no olhar e o mau humor também. Ele encarou Aslan, com seu pelo dourado e a enorme juba, sem se importar com as garras ou os dentes afiados, e fez o gesto que sabia ser necessário.

Como um cachorrinho adestrado, o grande rei da selva saiu do canto em que estava e trotou docemente até ele; o que precisava fazer, então, era só conduzi-lo até o meio da gaiola, virado para Castor, e fazê-lo rugir. Foi o que fez, com certa maestria. Sentiu-se bem durante e depois, como se tivesse feito aquilo por quase toda a vida.

Normalmente, uma pessoa que acabara de iniciar no ramo não seria deixada com um leão sozinha na gaiola, mas, naquele caso, não tinha problemas porque Aslan não arranjava problemas, Ed possuía uma espécie de talento nato, e aquele era o circo. O acontecimento jamais entraria num relatório oficial e qualquer pessoa que fosse perguntada diria que não sabia de nada ou simplesmente ignoraria a pergunta. Assim eram todos os circos.

Quando saiu da gaiola, a primeira coisa que Castor fez foi dar-lhe alguns tapinhas nas costas que, dada a altura e os músculos do cara, certamente deixaram marcas. Ainda assim, Edmund sorriu como não sorria há muito tempo. Falou pouco, como era de seu feitio, e suas respostas eram monossilábicas, mas isso não pareceu incomodar Castor, que tagarelava sem parar sobre o próximo show enquanto ajeitava o cabelo castanho escuro.

Os dois se sentaram numa mesa improvisada com alguns caixotes, e Castor abriu uma garrafa de cerveja saída sabe-se lá de onde. Alguns comentavam que ele tinha alguns esconderijos de cerveja espalhados por todo o circo, outros diziam que ele tinha habilidades mágicas e podia fazê-las brotar. Ed, é claro, ficava com a primeira, embora achasse a segunda particularmente divertida.

Uma vez que morara em circos quase a vida inteira, já estava familiarizado com os boatos que sempre rolavam. Também sabia que, por mais ridículos que pudessem ser, geralmente tinham um fundo de verdade. Naquele caso específico, a verdade era que Castor era um alcoólatra inveterado, que bebia mesmo quando não devia. Edmund sempre dizia que isso ia acabar matando-o, mas ele sempre ria e dizia que não tinha graça viver a vida sem riscos.

Aceitou meio copo, porque era meio fraco para a bebida, mas sabia que Castor continuaria insistindo até que ele bebesse. Tomou um gole, que desceu queimando, e se engasgou. Castor riu por vários minutos até ficar vermelho, e Edmund só percebeu que tinha alguma coisa errada quando ele subitamente parou de sorrir e ficou sério.

Um olhar por cima do ombro indicou o motivo, porque sua recém-felicidade também desapareceu ao perceber quem era. Ela tinha esse efeito na maioria das pessoas que a conheciam por tempo suficiente. Sua beleza rara, sua voz musical e sua personalidade tão fria e arrogante a fizeram receber o apelido de rainha do gelo. Quase todo mundo se referia a ela pelas costas como “majestade”, sempre com aquele tom de ironia maliciosa na voz.

O apelido era preciso. Ela agia como uma rainha, sempre disparando ordens a torto e a direito. Era quase inatingível. Além disso, se alguém lhe desobedecesse ou fizesse alguma coisa de que ela não gostasse, sofreria as consequências. Todos em Charn sabiam disso.

— Edmund? — chamou, sua voz enganosamente doce. — Edmund, preciso de você.

Ele se levantou quase imediatamente. Aprendera da pior maneira possível a não deixá-la estressada.


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Notas finais do capítulo

Espero que gostem :3