Quando Amanda chegou, perguntei se ela conhecia a filha da vizinha do lado para ela começar a se enturmar com as pessoas e esquecer um pouco sobre o acidente.

—Não, não conheço. - Respondeu ela. - Ela é irmã do Andrew?

—Sim, é sim. Quero que você a conheça. Talvez vocês, um dia, possam ser amigas.

—É. Quem sabe. - Ela subiu as escadas correndo. Me deixando sozinha. Acho que não irei convencê-la tão fácil assim.

Eu estava preocupada com Amanda. Ela nunca tinha passado por uma situação desse tipo. Eu sei como ela está se sentindo, eu também me sinto do mesmo jeito. Mas eu sabia controlar, já Amanda...

Subi atrás dela. Quando cheguei em seu quarto ela estava tentando trocar de roupa.

—Opa! Calma ai, gafanhoto. - Falei.

Amanda estava com a cabeça enfiada na blusa, mas estava rindo.

—Isso não é legal! - Disse ela. - Agora, me ajude por favor.

Ajudei Amanda a se vestir e fomos para a cozinha comer alguma coisa.

—Será que tem manteiga e laranja? - Perguntou Amanda.

—É claro que tem! - Respondi. - Você quer pãezinhos com manteiga e suco de laranja?

—Sim!

Amanda adorava pãezinhos com manteiga e suco de laranja. Mas ela não come muito porque a médica disse que ela tem que diminuir o consumo de gordura. Amanda só come manteiga uma vez por semana.

Fiz os pãezinhos e o suco de laranja para Amanda. Enquanto ela comia, fui até o meu quarto dar uma olhada na janela para ver se Andrew estava lá.

Quando vi, Andrew estava sentado em sua cama lendo o meu livro. Ele parecia estar concentrado na leitura porque não parecia nem piscar direito.

Fiquei na frente da janela uns cinco minutos olhando para ele. Seus cabelos loiros estavam cobrindo uma parte de seu rosto, ele estava usando uma camiseta branca e sua pulseira de Reggae. Ele era lindo.

Depois de um tempo, ele pareceu perceber que eu estava ali.

—Clem! Eu não tinha te visto. Eu estava lendo o seu livro.

Ele parecia estar envergonhado pois suas bochechas ficaram vermelhas.

—Não tem problema. - Falei. - O que está achando do livro?

—Até agora está...como eu diria, viciante.

Eu ri. Andrew também.

—Está em qual capítulo? - Perguntei.

—No capítulo 5 - Respondeu ele.

—Mas já?! - O livro só tinha dez capítulos, claro que fiquei surpresa.

—Eu falei que ele está viciante. - Disse ele dando um sorriso. Aquele sorriso...

—Clem! - Chamou Amanda. - Acabei!

—Eu tenho que ir. Depois a gente se fala. - Falei.

—Qual é o seu número? - Perguntou ele. - Ai a gente se comunica mais.

Enquanto eu falava o meu número, ele o digitava no seu celular rapidamente. Ele o repetiu para ver se estava certo.

—Está certíssimo! - Falei. - Agora me dê o seu.

Peguei meu celular e digitei o número dele enquanto ele o falava.

—Que horas eu posso te ligar? - Perguntei. Meu coração estava acelerado.

—Qualquer hora. - Respondeu ele. - Estou sempre disponível.

Me despedi de Andrew e fui até a cozinha.

Quando cheguei lá, Amanda estava sentada à mesa lendo um livro de, mais ou menos, cem páginas que ela ganhou no seu aniversário de cinco anos chamado "Isabela e Isabelle". Ela, que já havia lido esse livro umas três vezes, me contou que o livro é sobre duas garotas que descobrem que o pai está desaparecido em uma floresta e elas decidem ir atrás dele para achá-lo e levá-lo para casa em segurança.

—Por que você demorou? - Perguntou ela.

—Eu estava conversando com Andrew. - Respondi.

Ficamos em silêncio por um tempo.

—Você gosta dele?

Senti minhas bochechas ficarem vermelhas e meu corpo esquentar.

—Nã-não. - Gaguejei. - Por que você acha isso?

Amanda me fitou com seus olhos verdes como se estivesse tentando dizer "você está se aproximando muito dele". Por fim, ela disse:

—Por nada não.

Ficamos em silêncio por um tempo.

—Eu vou assistir TV. - Disse ela, se levantando da cadeira e indo para a sala.

Decidi ir para o meu quarto ler um pouco. Para mim, ler um livro é um dos melhores modos de fugir da realidade. Como eu queria fazer isso agora...

Fui até a minha estante de livros, e peguei um livro que eu nunca havia lido. Ele estava ali há, mais ou menos, uns três anos e eu só o toquei para abri-lo, nada mais. O título era "Anjos e Rebeldes" e pelo o que eu li na contracapa, era a história de uma garota que estava planejando se matar porque nada dava certo em sua vida. Então, ela conheceu uma garota que iria mudar a sua vida inteira. Na verdade, eu só comprei esse livro porque ele me deixou curiosa.

Quando eu ia me sentar na cama para ler, meu celular tocou. Quando vi, era Katheryn. Ainda bem que ela me ligou, porque eu precisava falar mesmo com ela. Pego o celular e atendo perguntando:

—Por que você não foi pro colégio hoje?

—Oi para você também. - Era muito bom ouvir a voz dela com aquele sotaque russo. - Eu não fui hoje porque tive que levar a Lolô no veterinário. - Lolô era a gatinha de Katheryn. Sempre que eu ia na casa de Katheryn, Lolô chiava para mim. - Teve alguma coisa de especial hoje?

—Não, só uma briga da Lara com Thalia.

—Quando eu vou pro colégio nunca tem briga. Quando eu falto tem! - Disse ela. - Que raiva! Mais alguma coisa?

—Tem um aluno novo na nossa sala. - Respondi.

—Qual o nome dele? Ele é inteligente e bonito? - Perguntou Katheryn.

—O nome dele é Andrew e sim, ele é inteligente.

—Você não respondeu a última pergunta. Pow, ele é bonito ou não? Como que ele é? Quero detalhes.

Eu ri.

—Bem, eu diria que sim. Ele tem cabelos loiros e olhos verdes...

—Puxou papo com ele?

—Sim, tem mais uma coisa: ele é meu vizinho.

—Aê Clem, tendo um vizinho bonito. - Ela faz uma pausa. - Acho que eu vou ai na sua casa agora, se esse tal de Andrew não estiver muito ocupado, chama ele para ir ai para eu conhecê-lo.

—Eu não estou em condições de receber visitas essa semana sabe...

—Por que? - Ela perguntou.

—Katheryn, meus pais morreram.

—Ai meu Deus, eu não sabia. Você está bem? Como está Amanda?

—Sim estou. Amanda está meio....estranha.

—Deve ser difícil perder os pais... - Disse ela. Katheryn sabia como era perder alguém que ama, já que ela perdeu o pai quando tinha catorze anos. - Tenho que lavar a louça. Se você quiser desabafar, quiser que eu vá na sua casa...

—Ai meu Deus, que horas você vai vir? - Eu sou do tipo que "não consegue convencer a amiga a não vir para a minha casa".

—Sabia que você não iria resistir. - Disse ela. - Vou dizer a minha mãe o que aconteceu e que você está sofrendo e precisa muito de mim. Chego ai em dez minutos com um pote de sorvete.

—Tudo bem. - Falei rindo. Desliguei o meu celular e olhei para o livro.

—É, parece que não será hoje que você será aberto.

Coloquei o livro de volta na estante e fui me preparar, começando por Andrew. Liguei para ele e perguntei se ele podia dar uma passadinha aqui em casa porque uma amiga minha queria conhecê-lo.

—Tudo bem. - Respondeu ele. - Ai eu aproveito e devolvo o seu livro.

—Já acabou?! - Perguntei, surpresa.

—Eu já te falei, o livro é viciante.

—Tudo bem, se você diz...

—Chego ai em dez minutos. - Disse ele.

—Ah! Mais uma coisa. Kate está ai com você? - Perguntei.

—Sim, por que?

—Quero que Amanda a conheça para que ela esqueça sobre o acidente um pouco.

—Pode deixar, estarei ai com Kate em dez minutos.

Me despedi de Andrew e desliguei o celular.

Desci as escadas dizendo:

—Amanda Evert, daqui a dez minutos você terá uma visita.

—Posso saber de quem? - Perguntou ela.

—Da irmã de Andrew.

—O Andrew também virá?

Sentei ao lado dela.

—Sim, ele e Katheryn.

—Hm... Me chame quando Kate chegar, estarei na cozinha. - Amanda se levantou e foi para a cozinha.

Encostei a cabeça no sofá e comecei a pensar em como seria daqui a dez minutos. Depois disso tudo, terei que anotar na minha agenda de "Dias Inesquecíveis".