Quando acordo, olho para a janela. O dia está nublado de novo, mas mesmo assim, quente. Faz algumas semanas que não tem um dia totalmente ensolarado. Sinto falta do cheiro das flores, das pipas coloridas no céu, da luz do sol entrando pela minha janela.

Sento-me na cama e observo novamente minha janela. Eu tenho alguns vizinhos que ficam a mostra. Minha janela fica exatamente na frente de outra janela, que é a da casa de trás. Bem, nunca vi ninguém naquela casa, até agora.

Um garoto mais ou menos da minha idade estava falando com alguém no celular. Não prestei atenção na conversa, estava mais prestando atenção em como ele era. Tinha cabelos loiros reluzentes, sua pele era... Bem, não dava para reparar, mas deduzi que era morena. Ele estava usando uma camiseta preta e falava ao celular.

— Espera, você está terminando comigo? – O garoto perguntou.

Parei de prestar atenção. Mas falando sobre isso, nunca vi uma garota terminando um namoro pelo telefone. Deve ter tido um bom motivo para terminar assim.

Levantei-me e fui para o banheiro. Meu cabelo estava horrível. Parecia um ninho, só que macio, porque faço chapinha. Abro o armário e tiro de lá um potinho onde guardo minhas lentes de contato. Eu preferia óculos, mas minha mãe queria as lentes, porque ela acha que as pessoas da minha escola iriam ficar me zoando. Penteio meu cabelo e escovo meus dentes. Meu cabelo está tão liso e macio, meus olhos azuis (verdadeiros) e minha pele branca como a neve.

Hoje é, como sempre, um dia de domingo comum. Meus pais sempre saem dias de domingo, para passarem o dia juntos, e me deixam sozinha com minha irmãzinha, Amanda.

Vou até o quarto dela. Lá está ela, minha irmãzinha de oito anos e meio. Ela dorme tranquilamente. Minha mãe disse para eu nunca acorda-la, porque minha irmã tem leucemia e a médica diz que dormir combate o câncer. E minha irmã também quebrou o braço direito, não sei como, mas ela quebrou.

Fecho a porta e a deixo dormir em paz.

Volto para o meu quarto e troco de roupa: Blusa branca caída no ombro e short jeans. Desço as escadas e vou para a sala ligar meu computador para jogar um jogo de concentração e inteligência.

Um dos objetivos do jogo é passar todas as oito fases sem encostar o mouse no branco. Você pode personalizar seu cubinho (mouse) e até dar um nome para ele, o nome do meu é Clementine2510, o meu nome e minha data de nascimento; 25 de outubro.

Eu não gostava muito do meu nome, Clementine. Muito menos do meu sobrenome, Evert, mas mesmo assim, eu achava legal, já que não era brasileiro.

Olho para a janela da sala e vejo que começou a chover, isso não é raro. A primavera é fria, o verão é mais ou menos frio, o outono é quente e o inverno é frio, basicamente. Parece até que faz sol uma vez por ano. Geralmente, é assim no Brasil, mas só aqui, no Nordeste.

A campainha toca. O que é estranho, porque eu não estava esperando ninguém.

Levanto-me e vou até a porta. Quando abro, vejo que é meu novo vizinho.