– Marian, faça um pedido.

Ouvir esta frase pela décima sexta vez para mim já era um sacrifício. Dez anos. Dez anos sem aqueles que me deram um nome e me criaram até onde puderam. Dez anos depois daquele dia.

Lembro cada detalhe como se estivesse sido ontem. Estávamos indo á praia. Meu pai, minha mãe e eu. Todos cantando, alegres e felizes, parece que foi coisa surreal, não sabemos como e nem de onde surgiu aquela viatura da polícia. O baque foi tão grande que eu cheguei á desmaiar. Lembro-me de terem me contado que eu fui á que fui salva primeiro, antes do incidente. Antes do carro explodir.

– Quero ter amigos verdadeiros. Um família. Um amor de verdade. Eu quero ser feliz. - Respondi depois de ter parecido uns cinco minutos.

– Agora vamos festejar. - Gritou a Anne - Lipe, pode soltar o som, festa sem música, não é festa.

Sério, não sei de onde a Vivianne tira essa animação toda. Realmente, este namoro com o Felipe está deixando á bem animadinha. Quando ela chegou aqui, não tinha quase ninguém, á não ser a Triz, a Bel e eu. Fomos as primeiras á chegar no orfanato. Não fazia nem 3 meses que tinha aberto. Chegamos praticamente na mesma semana. A Bel chegou em uma terça, pelo o que a Dona Carol disse, eu na quarta e a Beatriz, ou melhor, a Triz– como ela prefere ser chamada -no sábado. Eramos muito pequenas, então foi fácil se adaptarmos.

– Vamos para a pista, Marian.

– Que pista minha filha, você quis dizer sala, né?

– Você e suas piadinhas, né? Anda logo, amada.

– Já vou...

[...]

– Gente, o que vocês acham de jogarmos verdade ou conseqüência?

– Tá, Anne. Mas como se brinca disso?

– Jogar, Tequinha. Se diz jogar. E você, a Tati e o Binho não vão jogar já que ainda são muito crianças.

Ok. Eu não sabia como se jogava aquele jogo, mas já que os pequenos não podem jogar, boa coisa não é.

A Vivianne nos informou que iriamos precisar de uma garrafa e só. Também devermos sentar em roda, já que assim que se "jogava" o jogo.Estávamos sentados na seguinte forma: Eu, o Felipe, a Anne, o Rafael, a Bel e o André. Já iriamos começar o jogo, quando a campainha tocou.

– Eu atendo - Eu disse já indo em direção á porta.

Eu nunca vi coisa parecida na minha vida, ou era coisa demais para os meus olhos ou estava alucinada.

– Eu preciso de ajuda. Me ajuda?

Eu não tive reação, a única coisa que eu vi foi um garoto, da mesma idade que eu, aparentava. Todo machucado, ralado, sujo. Uma coisa me surpreendia. Ele era bonito. Muito bonito, por sinal.

– Entre. Qual é o seu nome?