Fascínio escrita por IzzySchiller


Capítulo 2
Parte II




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/540501/chapter/2

– Bom dia, Rumpelstiltskin. - ela sorriu gentilmente e lhe fez uma reverência.

Ele fez um leve e ligeiramente contrariado gesto de cabeça, quase como se espantasse uma mosca irritante.

– Estou fiando, queridinha. Sem conversas. Apenas comece sua limpeza antes que eu perca a paciência e a transforme em um sapo. - o feiticeiro deu sua característica risadinha aguda.

E foi surpreendido pela risada doce da princesa.

Os olhos amarelos enfim deixaram sua roca. Ao olhar para ela, o feiticeiro pareceu um tanto perplexo. Esperara uma resposta impertinente lhe pedindo mais educação ou, no mínimo, um suspiro resignado. Qualquer coisa menos sua risada suave e feminina.

Era uma mulher intrigante, aquela princesa Belle. Raramente reagia como ele esperava.

Eles se encararam por um segundo. Então ela sorriu, aquele seu sorriso de anjo que iluminava todo o rosto delicado. Rumpelstiltskin apressou-se em voltar sua atenção para a roca.

O que ele estava fazendo?! Não devia perder seu valioso tempo dando atenção à empregada.

Ele recomeçou a fiar, e Belle interpretou aquilo como um sinal para voltar aos seus próprios afazeres. Foi puxando o carrinho de limpeza pelo aposento amplo e espaçoso, substituindo as rosas que espalhara nos vasos pelas recém-colhidas em um enorme balde de madeira. Manuseava as flores com tanto cuidado que não reparou em Rumpelstiltskin, aparentemente concentrado em sua roca, mas observando-a pelo canto dos olhos.

O feiticeiro acompanhou seus movimentos graciosos, perguntando-se por uma fração de segundo se ela tinha ideia do quanto era... cativante. Uma distração doce, leve e cativante, do tipo que atraía seus olhos sem ele ao menos perceber.

A princesa era agradável de se olhar, e ele não se questionava sobre o fato de seus olhos passarem a segui-la com uma certa frequência. Era algo natural, fácil, como a forma com que um certo par de olhos azuis se enchia de carinho ao lidar com algo delicado. Para Belle, tudo era delicado.

Não que ele tivesse qualquer interesse especial por ela. Sim, ele admitia que sua beleza de anjo era um atrativo bem-vindo. Assim como outros encantos dos quais ela não parecia ter consciência, como a voz macia, a graciosidade delicada, o temperamento ao mesmo tempo meigo e vibrante, os comentários que deixavam transparecer um intelecto afiado e bem desenvolvido, verdadeiramente culto.

Ela era uma doce e furtiva distração para sua mente corrompida e inquieta, e ele a admirava. Com relutância, mas admirava. Não que houvesse qualquer interesse romântico em sua admiração; Rumpelstiltskin repudiava sentimentalismos. Para ele a vida se resumia a poder, e... E Bae.

Ainda havia resquícios de humanidade dentro do monstro que ele se tornara, resquícios do pai que ele nunca devia ter deixado de ser. O arrependimento por ter abandonado seu Bae era uma constante ferida aberta na alma negra.

Mas ele iria encontrá-lo, e daria um jeito de fazer tudo funcionar daquela vez. Em breve teria ambos em sua vida, o poder e Bae. Não importava o preço. Ele faria acontecer.

– Hã... Rumpesltiltskin?

A doce voz de Belle o fez perder o fio do pensamento.

– O quê? - ele se forçou a parecer aborrecido com a interrupção.

– A palha. Não está... não está mais virando ouro.

Ele olhou para baixo.

O fio em suas mãos já não cintilava em dourado. Era apenas palha, simples e comum.

Maldição.

Pensar em Bae nunca era uma boa ideia quando ele fiava. A memória do filho o esvaziava da ira, o ódio e o desejo de sangue necessários para produzir ouro. Na hora de fiar, sua mente precisava estar ocupada apenas pelo monstro, pelo temido Senhor das Trevas. Não havia espaço para ecos de sentimentalismo humano.

O feiticeiro olhou para Belle, prestes a mandá-la cuidar da própria vida...

E encontrou-a muito mais perto do que esperava.

A princesa se inclinara ao lado dele, perto o bastante para que seu perfume o atingisse em cheio. Era um aroma delicioso, suave, ligeiramente adocicado. Por um louco segundo, o impulso de enterrar o rosto em seus cachos cor de chocolate surpreendeu o feiticeiro.

Então ele viu a pequena mão da princesa se estender, muito lentamente, como que para dar-lhe tempo de se afastar se quisesse.

Mas ele não queria. Estava paralisado.

Era a primeira vez que ficava tão perto de Belle.

A pálida e delicada mão estendida alcançou a dele. Rumpelstiltskin manteve-se rígido, controlando a própria reação com firmeza. Mas tremeu por dentro.

A pele dela era como porcelana sedosa, translúcida, macia e perfumada.

Ela percorreu seu punho com a ponta dos dedos, encontrando o fio de palha que ele segurava.

Seu toque foi puro prazer...

E isso o surpreendeu muito mais que a pele perfeita ou a constatação de como ela cheirava bem. Rumpelstiltskin já esperava essas coisas de uma moça bonita como ela, mas o calor prazeroso que ferveu seu sangue...

Isso o pegou completamente despreparado.

– Como...? – murmurou Belle, deslizando um dedo pela palha – Por que parou de virar ouro?

Ele levou alguns segundos para registrar as palavras dela.

– Não é da sua conta, queridinha. - a voz do feiticeiro endureceu, e ele a puxou pelo queixo para que visse seus olhos amarelos faiscando. - E eu teria muito cuidado com essa natureza intrometida se fosse você. Não queremos que arrume um problema sério, queremos?

Ela não respondeu. Parecia... Rumpelstiltskin franziu a testa. Parecia estranha. Não havia medo em seu rosto, apenas um delicado tom de rosa que coloriu suas bochechas. Ela estava envergonhada? Só podia ser isso. Estava obviamente abalada, os olhos azuis um tanto desfocados. Ela olhou para a boca dele, onde os lábios cinzentos se repuxaram para expor dentes afiados e amarelos, depois voltou aos seus olhos. Então corou mais intensamente, e até tremeu um pouco. Devia estar com medo, afinal.

O feiticeiro não quis admitir, mas se arrependeu da ameaça implícita. Algo dentro dele não gostava de assustá-la. O que era completamente absurdo. Assustar e intimidar eram dois dos maiores prazeres de sua pútrida existência.

– Certo. Eu... – Belle respirou fundo – Me desculpe.

Ela deu um passo para trás, livrando-se da mão em seu queixo com delicadeza. Continuou a recuar, os olhos no piso de tábuas corridas, nervosa demais para prestar atenção ao seu redor. Naquele ritmo, ia tropeçar na barra da tapeçaria atrás de si.

– Queridinha...

Tarde demais.

Ela deu um gritinho surpreso e oscilou.

Rumpelstiltskin impulsionou-se para frente, conseguindo pegá-la por pouco. Belle se chocou contra ele, as mãos macias espalmando seu peito, o pequeno rosto encontrando a curva entre seu pescoço e o ombro. Ele estremeceu ao sentir os lábios dela roçarem de leve sua pele grossa e cinzenta.

– Belle... – o nome lhe escapou de forma involuntária.

Ela ergueu o rosto para ele. Sua respiração estava irregular. As bochechas se avermelhavam, o corpo feminino derretendo em seus braços. Ele olhou para a boca dela. Os lábios rosados e cheios se entreabriram, quase que em um convite.

Naquele momento a vontade de provar seus lábios foi tão forte que Rumpelstiltskin não resistiu. Meio em transe, ele se inclinou para mais perto do seu rosto, e um pouco mais, e...

BAM, BAM, BAM!

Os dois pularam de susto, em direções opostas.

BAM, BAM, BAM!

Belle oscilou outra vez, mas conseguiu recuperar o equilíbrio sozinha. Estava de pernas bambas.

Rumpelstiltskin não parou para pensar no que aquilo significava. Era medo, é claro. Ou nojo. Ela estava aliviada por terem sido interrompidos antes que... antes que ele fizesse uma idiotice impensada. Só podia ser. Não havia modo no inferno de uma mulher bonita como ela querer um beijo de um monstro repulsivo como ele e...

BAM, BAM, BAM!

A batida nas imponentes portas duplas de carvalho ficou mais forte. Eram murros agora.

O feiticeiro fez as portas se abrirem com um gesto da mão. Estava louco por uma desculpa para ficar longe de Belle, pela chance de esquecer o que quase fizera. Não queria pensar nisso. Não queria sentir nada por ela. Não sentia.

Ele apenas quase cedera a um impulso momentâneo, depois de trinta anos sem ter uma mulher. Era perfeitamente normal. Belle era uma moça muito linda, e ele não estava morto.

Bom, talvez estivesse, tecnicamente, mas ainda tinha suas necessidades. Aquilo não significava nada. Ele apenas teria que manter uma distância mais sólida entre eles. Nada demais.

Rumpelstiltskin voltou sua atenção para Regina, que irrompera no Salão Vermelho querendo discutir os detalhes do seu mais recente acordo com ele.

Vá em frente, queridinha, ele pensou, convença-me se puder.

Era hora de voltar ao normal. E aos negócios.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Obrigada por ler! Então, o que você achou?
Comentários? Por favorzinho? >< rs
Estou ansiosa pra saber a opinião de vocês!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Fascínio" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.