Fascínio escrita por IzzySchiller


Capítulo 1
Parte I


Notas iniciais do capítulo

One betada pela fofa da Lucyanni.
Espero que gostem =) Boa leitura!



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Ele estava lá, no Salão Vermelho, fiando seu ouro.

Belle hesitou diante das enormes portas duplas de carvalho, seu coração perdendo uma batida. Podia ouvi-lo cantarolar lá dentro, esganiçando a voz, embora as grossas portas abafassem suas palavras. Seus olhos encontraram o próprio rosto refletido no carvalho polido.

Belle suspirou.

Estava tão... tão vermelha e tolamente agitada. Precisava se acalmar.

A princesa deu as costas ao reflexo e deixou-se cair contra a porta, o reluzente carrinho com o material de limpeza esquecido ao seu lado.

O que estava acontecendo com ela?

Não tinha a menor ideia de onde vinha a enervante sensação que revirava seu estômago, ou o calor que se espalhava em ondas por todo o seu corpo com a mera expectativa de vê-lo. Era completamente absurdo.

Quer dizer, sim, eles estavam se entendendo. Ela já não tinha pavor dele como no dia em que chegara ao castelo, conhecendo apenas as lendas ao seu respeito. Se um terço delas era verdade, então Belle deveria dar um jeito de fugir dali o mais depressa que pudesse, rezando para nunca mais encontrá-lo.

Até pensara em fazer isso, em suas primeiras semanas no Dark Castle. Seu início naquele lugar havia sido bastante turbulento. O tratamento tortuoso de Rumpelstiltskin, sua indiferença zombeteira e algumas vezes até cruel, as mudanças bruscas de humor, os hábitos assustadores, a cela em que ela fora largada, tendo que dormir no encardido chão de pedras como uma criminosa... Podia ser bastante intimidador, o Senhor das Trevas. Se acostumar a ele não era nada fácil.

Mas depois que você se acostuma... Então, talvez, se tiver muita sorte e se ele também se habituar a você, se for perseverante e suave, paciente e cheia de tato, se souber olhar da maneira certa, então, só talvez, você possa ter um vislumbre do que há por baixo da excentricidade meio atroz de Rumpelstiltskin.

Havia o humor, a primeira coisa que ela percebeu, antes de conhecê-lo mais a fundo. Seu humor sarcástico e as tiradas mordazes a divertiam mais até do que a maioria dos seus livros preferidos. O que não era pouca coisa, para uma pessoa apaixonada pela literatura como ela. Rumpelstiltskin tinha uma maneira curiosa de lidar com o mundo e, embora Belle visse muito pouco do seu lado mais sombrio, aprendera a gostar dos seus modos imprevisíveis, da ironia à beira do gracejo, das reações inesperadas em momentos aleatórios ou de muita tensão.

Ele era um excêntrico encantador, se a pessoa soubesse como olhar.

E Belle sabia.

Havia também, por baixo de todas as camadas e defesas, um cavalheirismo adorável, ainda que um tanto enferrujado. Ele se esforçava para agradá-la, mesmo negando se importar com ela. Disfarçava pequenas gentilezas com uma indiferença fingida. Nunca era violento perto dela, embora tivesse alguns hábitos que a assustavam no início, como esganiçar a voz cantarolando palavras macabras, descrever as barbaridades que planejava infligir a alguém ou surgir em um aposento usando um avental coberto de sangue.

Ao mesmo tempo, porém...

Ela havia pegado um forte resfriado, uns dois meses após sua chegada ao Dark Castle. Foram cinco dias sem ter forças sequer para levantar da cama, quanto mais cumprir suas tarefas diárias. A princesa logo se preparou para enfrentar a fúria de Rumpelstiltskin, rezando para que ele ao menos esperasse até ela ficar boa. Supôs que ele a jogaria de volta na cela que outrora fora “seu quarto”, ressentido pela sua incapacidade de cuidar dele e de seu precioso castelo durante a doença. Talvez enfim cumprisse a ameaça de transformá-la em uma lesma e pisar nela. Provavelmente.

Ao invés disso, logo que a descobriu debilitada em seu leito, ele cuidou dela. Alimentou-a, lhe deu uma poção que fazia as dores passarem, o chiado forte em seus pulmões diminuir e a febre baixar. Velou seu sono até ela se recuperar por completo.

Também a dispensou rudemente quando ela tentou lhe agradecer, dizendo que só o tinha feito para não perder a empregada e ter que arrumar outra, pela praticidade, e que ela não lhe amolasse ou a jogaria de volta em sua antiga cela. Belle não acreditou em uma única palavra. Havia visto a preocupação em seus grandes olhos amarelos, preocupação genuína, e isso a havia tocado profundamente. Ela guardou sua gratidão para si mesma, já que ele preferia assim. E eles nunca mais tocaram no assunto.

O que será que seus tutores diriam se a vissem parada ali toda alvoroçada e corada de expectativa, ansiando ver o Senhor das Trevas, o feiticeiro mais ardiloso e monstruoso de todos os reinos?

Só que ele não era um monstro. Não no fundo.

Belle abriu os olhos e, por puro hábito, esticou-se na postura altiva e graciosa que fora treinada a vida toda para manter. Cabeça erguida, ombros alinhados, coluna ereta e mãos repousando delicadamente entrelaçadas no colo. Uma princesa capaz de lidar com qualquer dificuldade. Nascida para governar.

Lentamente, ela relaxou cada músculo em seu corpo e recuperou o domínio de si mesma. Depois estendeu uma mão para o carrinho com os suprimentos de limpeza e, com o auxílio da mão livre e um impulso dos quadris, abriu uma das pesadíssimas portas do Salão Vermelho.

E lá estava ele, concentrado, fiando em sua roca. Não se virou para olhá-la.


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