... cuidado, mundanos não possuem magia, mas podem dominar quem o faz. O mundo das sombras não está seguro por muito tempo.

PANDEMONIUM. O começo e o fim.

–Theo! -Chamou uma voz de longe- Está me ouvindo?

O menino sacudiu a cabeça e focou-se na irmã. Seu rosto se contorcia de preocupação.

–Pelo, Anjo, o que foi? -Perguntou assustado.

–O que foi? VOCÊ DESMAIOU, CRIATURA!

–Eu o que? Valerie, eu estava lendo o livo! -Afirmou calmamente. Ele havia realmente lido o livro, só que de um modo diferente...

Theo sempre imaginara o que lia, como um filme em sua mente, mas ele sabia a diferença entre ver um de verdade. Aquele livro foi tão real quanto um sonho que alguém tem em seu inconsciente. Todas as imagens refletiam em sua cabeça, mas não conseguia expressá-las.

–Theo! Droga, você esta parecendo um cadáver. Pegarei um pouco de água, tudo bem? Fique aqui. -Falou Valerie, correndo para fora.

Levou um tempo. Os poucos segundos até que a mensagem se fixou em sua cabeça. Procurou pelo livro, mas não o encontrou. Nenhum rastro. Nada. Só uma frase, ecoando em sua mente. Ele encarou o relógio. 20 segundos.

Corra.

–Valerie! -Foi como um grito de súplica. As terríveis imagens o seguiam enquanto corria escada abaixo.

Sua irmã segurava um copo, mas ele não esperou. Apenas agarrou seu braço e arrastou-a para fora da casa. Deixando para trás o barulho do vidro se estilhaçando. Ela berrava, tentando se afastar dele, mas nada o impediu de correr.

O gramado do solar já havia ficado para trás quando ele ouviu. O som alcançou seus ouvidos enquanto algo o puxava para o chão. Val se encontrava encolhida, os olhos manchados pela maquiagem e lágrimas. Theo se abaixou junto a ela e finalmente encarou a cena. O Solar Verlac, que outrora havia sido uma enorme mansão onde ele e a irmã brincavam, agora se encontrava em chamas, despedaçado.

–Nossa casa... -Sussurrou ela- Como... como você soube?

–O livro... não era um livro comum. Me disse, de alguma forma estranha.

–Mas agora está perdido. -Lamentou-se.

–Não, está em minha cabeça, as imagens se repetem aqui.

–Será que é magia?

–Pior... vingança.

–Do que está falando?

–Alguém fez isso. E não vai parar, nossa família cometeu alguns erros com as pessoas erradas, agora querem vingança, precisamos...

–O que diremos à Clave?

–Eu... eu não sei, Val...

–Precisamos sair daqui.

–Tem razão. Se alguém esta atrás de nós, precisamos descobrir quem é!

Valerie segurou o riso. As vezes se esquecia que seu irmão podia agir como um assassino louco, e não só de demônios.

–E o que faremos? Mataremos? -Ironizou ela.

–Se for necessário. -Concluiu.

–Theodore!

***

–Para onde estamos indo afinal? -Perguntou Val.

–Procurar, Fehr!

A biblioteca se encontrava em um estado caótico. Fehr corria de um lado para o outro. Seu rosto estava alarmado.

–Fehr! O que houve aqui?

–Theodore, Valerie, o que fazem aqui? Vão embora!

–O que? Está nos expulsando? Ora, seu...

–Val, não! Precisamos de ajuda, precisamos sair de Alicante, aquele livro...

Os olhos do velho ganharam um brilho perturbador.

–Era isso que eles procuravam. -Sussurrou.

–Eles quem?

–Não importa, vocês só tem de ir! -Esbravejou, Fehr.

–Mas como? -Val parecia brava e confusa ao mesmo tempo.

–Portal... sim, claro. Fica bem ali! -Ele apontou para uma porta no final de um dos corredores. -Andem, vamos!

Os três correram. Theo procurou não pensar no que faria, só...

Uma terrível dor se alastrou em seu ombro. Não teve tempo de gritar, ouviu um clamor fraco. Virou-se e viu Fehr, de joelhos. Tinha alguém atrás dele, mas ele não pôde enxergar. A pessoa havia enfiado uma espada nele.

–CORRAM! -Berrou, Fehr.

Theo ignorou a dor de seu ombro e levou a irmã até a porta. Corra. Corra. Alcançou a maçaneta e pulou para a escuridão.

De algum modo, ele sabia o que havia acontecido. Estava na hora. Eles teriam de pagar o preço. A vingança havia chegado. Nada os protegeria agora.