Acordei assustado, ofegante, a blusa colada em minhas costas por causa do suor, meu peito subia e descia rapidamente. Olhei para os lados a procura de algum ponto de luz, mas não havia nada. Empurrei as cortinas de dossel que cobriam minha cama e levantei-me rapidamente, mas me arrependi no instante em que o fiz, uma tontura invadiu-me e me senti enjoado, com o estomago embrulhado, sentei novamente na cama. Eu havia jantado na noite anterior? Não sabia dizer. Aquele sonho havia apagado tudo em minha mente. Levantei, mas com cuidado dessa vez, e andei na ponta dos pés até a porta para não acordar Crabbe e Goyle. Saí do quarto e fui em direção ao banheiro. Olhei-me no espelho e percebi que estava mais pálido do que o normal, abri a torneira e joguei um pouco de água em meu rosto para clarear minha visão e passei a mão direita em meu cabelo claro. Tirei a blusa com um pouco de dificuldade e mirei-a no cesto de roupa suja, porém errei por pouco. Voltei para o quarto arrastando os pés no chão gelado, a mão ainda na cabeça, como se estivesse tentando impedi-la de desabar de meu pescoço. Entrei no quarto e levei um susto quando Crabbe roncou alto, e por consequência, bati o dedo mínimo do pé esquerdo na porta. Xingando baixinho, fui até a minha cama mancando e sentei-me. Olhei no relógio de cabeceira e me dei conta de que faltava apenas uma hora para o amanhecer.

Peguei meu malão e comecei a colocar todas as minhas coisas dentro, sem nem mesmo me dar conta do que estava colocando. Alcancei minhas vestes de Hogwarts no cabide atrás da porta, dobrei e coloquei no fundo do malão. Não as vestiria por um longo tempo. Um sol ralo começou a clarear o quarto, faltava pouco para ir embora. Crabbe e Goyle ainda roncavam e aquele barulho já estava começando a me irritar, decidi que era hora de acordá-los. Peguei minha varinha e fui até a cama de Crabbe, que por uma incrível sorte, ficava ao lado da minha.
– Crabbe... - cutuquei-o com a varinha. Crabbe, acorda!
Crabbe não se mexera e seus roncos aumentaram, Malfoy resolveu apelar.
– Crabbe, café da manhã! - cutucou-o de novo com a varinha e num instante Crabbe já estava sentado em sua cama, os olhos sonolentos esquadrinhando o quarto.
– Quê...? Já é hora do café? - sua voz estava grogue de sono, coçou os olhos e focalizou Malfoy indo até a própria cama, sentando-se e colocando os sapatos.
Levantou-se tropeçando nos próprios pés e foi até a cama do irmão, sacudiu-o assim como Malfoy fizera com ele. Acordar Goyle foi mais fácil do que acordar Crabbe, reparou Draco, Goyle gostava mais de café da manhã do que o irmão.
Subiram os degraus da sala comunal, passaram pela porta e dirigiram-se para cima, para o Salão Comunal. Draco esquadrinhou o local procurando por Potter, Granger e Weasley, mas como não os encontrou na mesa da Grifinória, voltou seus olhos para a sua própria mesa e pegando uma caixa de cereal, despejou-o em seu prato. Os alunos da Sonserina conversavam animadamente sobre as férias que pretendiam ter nesse verão.
– Draco - chamou Pansy defronte a ele. - Ficará na escola ou irá viajar com seus pais?
Draco deixou os pensamentos sobre o sonho que teve de lado e fingindo um sorriso, gabou-se para os amigos:
– Iremos viajar para a Irlanda. Papai tem amigos importantes lá e iremos visitá-los...
– Então, passará as férias discutindo negócios com seus pais e os amigos importantes dele? - foi interrompido por uma voz à suas costas. Virou-se e se deparou com um aluno alto e louro, assim como ele. Reconheceu-o como sendo um aluno da Lufa-lufa, mas não lembrava direito de seu nome.
– Não! E, aliás, o que você tem a ver com isso? Por que está metendo o nariz onde não deveria? - guinchou Malfoy já se levantando com Crabbe e Goyle em sua retaguarda.
O garoto riu.
– Não estressa Malfoy, foi só uma pergunta. - E dando as costas aos alunos da Sonserina, voltou a sua mesa.
– Sentem-se. - Draco ordenou aos amigos.
Enquanto comia seu café da manhã, Pansy olhou para cima e fez uma expressão que Malfoy detectou ser de nojo. Olhou para trás e entendeu instantaneamente a expressão da amiga.
Do outro lado do salão, o trio famoso de Hogwarts, sentava-se à mesa da Grifinória. Por incrível que parecesse, Draco não estava muito a fim de caçoar deles para os amigos, não sabia por que, mas seu estomago revirou-se repentinamente e logo perdeu o apetite.
– Draco? - Chamou Pansy com sua voz anasalada.
Malfoy ergueu os olhos distraidamente para a garota.
– Sim?
– Não vai se despedir de nossos melhores amigos? - caçoou ela.
– Hum... - ele estava seriamente pensando no assunto, desde que entrara em Hogwarts já virara rotina caçoar daqueles idiota no último dia de aula só para sair por cima. - Daqui a pouco, vamos esperá-los comer para que vomitem uns nos outros.
Todos na mesa que ouviram, riram de suas palavras, mas Draco já não prestava atenção neles. Ficou olhando para seu prato, agora quase vazio, e pensou no pai. Será que naquele ano seria novamente do jeito que estava prevendo? Esperava sinceramente que não, já não conseguia suportar mais daquilo.
Olhou para o relógio, faltavam dez minutos para irem embora.
– Venham. - Draco se levantou e sua tropa também. Avançaram para a mesa da Grifinória e tomando fôlego, Draco começou. - Ei, Potter! Onde passará as férias? Junto com seus tios trouxas novamente? Será que eles esperam que você volte com uma perna a menos, quem sabe sem a cabeça? - Os alunos da Sonserina riram. Malfoy percebeu que Potter não olhava para ele, mas sentia que estava ouvindo, dando-lhe atenção, isso o motivou. Acho que posso resolver esse problema para eles se você deixar, juro que não vai doer. mais gargalhas as suas costas. Granger cochichou algo para Potter, algo que Malfoy daria tudo para ouvir. Ultimamente, vinha sentindo coisas estranhas com relação à Hermione Granger. Estremeceu.
Potter levantou os olhos para ele, Draco percebeu que brilhavam de malícia e não gostou nada daquilo.
– Você não se cansa né, Malfoy? - Disse Harry. - Acho que terei de lhe dar outra lição no Quadribol, a última perda de sua casa não pareceu o suficiente. - Os alunos na mesa da Grifinória riram.
Malfoy fuzilou-o com os olhos. Já não bastava passar dias se mutilando com aquela imagem de Potter derrotando-o de novo no quadribol, e o próprio estava jogando em sua cara a derrota. Os sonserinos já não mais riam, mas sim resmungavam entre si. Crabbe e Goyle tentaram avançar em Harry, mas Draco impediu.
– Vamos embora. - Levantou mais a cabeça, se sentindo superior e saiu com os alunos em seu encalço. Na porta do Salão Comunal todos se separaram, e os capangas de Draco fizeram o caminho de volta e foram buscar mais comida.

Draco desceu as escadas, indo em direção a sala comunal para pegar seus pertences. Pensava nas férias que o aguardavam, não conseguia tirar da cabeça o terrível verão que tivera no ano passado e temia que este verão fosse igual. Já em seu quarto, olhou em volta e não sentiu nada, nem o mínimo de saudade de que já deveria estar sentindo. Não se encaixava naquele lugar, deveria estar lá fora, se aventurando pelo mundo, mas seus pais o trancavam aqui, nessa escola onde ninguém o conhecia de verdade, ninguém o entendia de verdade. Começou a ouvir o barulho da sala comunal se enchendo lá embaixo e deduziu que já estava na hora de ir embora. Pegou seu malão e arrastando-o dirigiu-se para a porta. Os garotos se abraçavam e desejavam uns aos outros Boas férias, Draco sorriu ao passar, observou que algumas pessoas avançavam para ele, levantou a mão e disse:
– Terei ótimas férias, obrigado. - Eles riram.
– Sentirei sua falta, Draco. - Disse Pansy fazendo biquinho. Draco percebera que a menina gostava dele fazia algum tempo, mas não iria corresponder, era apenas uma amiga.
– Eu também Pansy... - Apertou o ombro da garota. - Bom, temos que ir agora. Vamos.
E seguido por Crabbe e Goyle, subiram as escadas indo para o corredor e deparando-se com uma multidão de gente à entrada do Castelo. A porta se abriu e todos saíram rumo ao Expresso.