Azul Turquesa escrita por Le0Andrad3


Capítulo 1
A Mudança




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Lá estava eu, em uma cidade desconhecida, num bairro desconhecido, com vizinhos desconhecidos, uma mulher cujo qual eu só ouvi falar, e meu pai. No começo do mês, um acidente de carro no centro da minha antiga cidade tirou de mim a pessoa que mais me importava no mundo. Incrível como uma pilha de metal ambulante pode virar seu mundo de ponta cabeça... Quase não aguentei. Só não desisti de tudo porque ela queria me ver indo longe na vida, tanto que você sempre dizia que “após uma tempestade sempre tem um arco-íris”.
Era sábado, e me disseram que eles já tinham me matriculado em uma escola de lá, que não era repleta de pessoas como a minha antiga, mas eu até prefiro dessa forma, não sou chegado em pessoas. Ser humano é uma coisa falsa, interesseira, desleal, maquiavélica e gananciosa. Pessoas são capazes de trocar sua própria família por uma galinha de ovos de ouro. São muitas coisas ruins pra proporção de coisa boa que se possa achar então eu acabo preferindo ficar na companhia de meus leais bichos de estimação. Tenho seis animais ao todo; um píton, um escorpião, uma coruja, um cachorro e dois gatos. Passei meu final de semana ouvindo minhas bandas e meus músicos desconhecidos favoritos, que tinham letras que falavam sobre o lado da vida que as pessoas fingem não ver, mesmo estando debaixo de seus narizes.
Primeiro dia de aula nessa cidadezinha, parece-me que será mais fácil de me enturmar com esse povo... A quem eu quero enganar? Nunca vou me dar bem com ninguém daqui, sou uma tampa sem panela, perdida na cozinha, que vai enferrujar sozinha, largada à poeira... Oh deuses, estou sendo dramático... Esse é o contra efeito de ouvir artistas alternativos, eles mexem com o seu psicológico e te deixam sofridos.
Quando olho para o velho relógio da sala, vejo que estou oito minutos atrasado para a escola. Então entro em pânico, odeio perder meus compromissos, principalmente quando se trata de pontualidade. Saí correndo em disparada à escola, pois meu pai recusou-se a me levar de carro por conta do leve atraso. Aproveitei para analisar um pouco a vizinhança e as pessoas que a habitam, mas sempre mantendo o passo para não me atrasar mais ainda.
Meus vizinhos de porta pareciam uma família normal. Um pai com aparência mais séria, uma mãe que cuidava dos afazeres domésticos e uma filha adolescente com o cabelo liso e curto, de coloração rosa... Achei bem fofo. Seguindo mais um pouco pra frente uma casa mais mal cuidada me chamou a atenção. Ela tinha um ar meio sombrio e assustador, que por algum motivo, me despertou um grande interesse e curiosidade. Mais a frente, eu passei por uma casinha pitoresca, bem maltratada com as paredes descascando a tinta, cercas enferrujando, porteira quebrada, árvores sem folhas... Mas eu não deixo de achar a casa atraente, pois até a simplicidade rústica tem a sua beleza própria. Acelerei o passo, estava me distraindo demais.
Quando cheguei não me surpreendi nem um pouco, mas minhas expectativas também não eram lá grandes coisas, pois a cidade era bem pequena.
As pessoas de lá me pareciam tão diferentes de mim... Às vezes me arrependo por ser quem eu sou, é difícil eu encontrar alguém com quem eu me associe para amizades, mas por outro lado eu gosto de ser assim, me da à sensação de ser único, no meio de tantas pessoas no planeta. Quando eu entrei na construção, me deparei com a diretora perguntando se eu era John Hope. Respondi que sim, e ela pediu que eu a acompanhasse até sua sala, para verificarmos umas coisas antes de eu ir à aula. Os corredores estavam bem vazios, pelo fato de os alunos já estarem em aula, o que os tornava bem tenebrosos. A iluminação era fraca, mesmo eu não gostando muito de claridade, aquilo me dava certo desconforto que eu não conseguia explicar.
Ela pediu para me sentar, então a obedeci. Ela disse que lhe contaram sobre os novos acontecimentos, e disse que sentia pena e dó de mim. Eu a disse que na vida não há motivo para ter pena, e que não importa quão machucado você esteja, você tem que seguir em frente, pois o tempo não para pra te esperar. Ela ficou surpresa com minha resposta, não deve ter sido uma boa impressão de mim. Após conversarmos um pouco sobre mim, ela me encaminhou pra sala que ela achou que eu mais fosse me dar bem.
Quando ela abriu a porta, a primeira coisa que eu fiz foi reparar nos alunos e em seus devidos comportamentos. Não é tão mal como eu estava esperando, esses pelo menos não pareciam antas trogloditas como os da outra escola. Havia várias carteiras sobrando, então eu sentei-me na mais afastada do aglomerado de pessoas sem hesitar. Todos me olharam de um jeito estranho, como se eu fosse um ser de outro planeta, só pelo fato de eu evitar proximidade física... Odeio que me toquem, eu me sinto vulnerável, como se eu fosse ser abusado. A professora pediu para eu me apresentar para sala, dizendo meu nome e algumas coisas sobre mim. Recusei com um simples e objetivo “não” antes mesmo de terminar de ouvir a proposta. Ela ficou meio surpresa com a minha “grosseria”, mas ao mesmo tempo, me respeitou. Devem ter lhe contado sobre aquilo também... Outra coisa que eu odeio é ser notícia, porque fica um holofote te deixando em evidência, e essa é a ultima coisa que eu quero no momento. Aula após aula, professor após professor, meu tédio e vontade de sumir de lá não paravam de crescer.
Na hora do intervalo, esperei todos saírem para eu não me misturar com aquela maçaroca de pessoas no corredor. Quando aquilo se aquietou um pouco, eu saí da sala e fui à procura urgente de uma biblioteca, para eu aliviar um pouco a mente, e pra minha sorte, achei uma. Não era grande, porém seu conteúdo era muito interessante. Enciclopédias antiquíssimas, que falavam de diversos assuntos, que variavam desde História até Biologia. Quando me dou conta, já está quase no horário de voltar para aquele xilindró chamado de sala, pois não posso aprender comigo mesmo (que em minha opinião, é a melhor forma de aprendizado). Após longas e tediosas horas desenhando pensamentos aleatórios e ideias abstratas em minha apostila, eu vejo que a aula acabou. Eu saio, vejo o carro preto de meu pai se destacando entre os outros carros cheios de vida e cor. Ele buzina, pra variar, estava apressado e com a cabeça quente.


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