The Mutants - O Dragão Branco escrita por Mano Vieira


Capítulo 6
Capítulo Seis


Notas iniciais do capítulo

Olá, caros leitores ô/
O calor está demais, não acham? Ontem choveu, mas não adiantou nada. Olha, o que acham de fazermos um super-pacto para chover todos os dias? OAIEOAEIOAIE
Enfim, deixando essas minhas maluquices de lado, aqui está o capítulo seis!
Boa leitura *3*



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Jen bateu na porta pela terceira vez e, ao perceber que não teria nenhuma resposta que lhe ordenasse a entrar, abriu a porta com força e totalmente irritada. Procurou pelo quarto, mas não pôde ver a garota, só ouvir um pequeno resmungo. Não parecia nem vir daquele cômodo, ao menos. "Lá em cima!" Pensou a garota. Subiu as escadas correndo e percebeu que o som tinha ficado um pouco mais audível.

Abriu uma porta. Deparou-se com um banheiro muito cheiroso e vazio. Abriu a outra. Roupas e roupas, no chão, uma garota agachada, ostentando, com os joelhos, uma cabeça cheia de fios dourados. Jen já estava se preparando para abrir a próxima porta quando se deu conta de que o que procurava estava ali. Entrou no guarda-roupa, empurrando para o lado alguns tecidos que atrapalhavam a sua estadia ali. Aconchegou-se ao lado de May, que estava fungando. Não era possível ver toda a face da loura, mas dava para ver que seu nariz estava vermelho e que os olhos provavelmente estavam inchados.

— Sabe, — Jen começou. Não tinha a menor ideia do que dizer numa situação dessas — esse lugar é bem inovador e também bem confortável para chorar.

May fungou. Olhou para o lado, para Jen. A única pessoa com quem ela era diferente. Sentia algo diferente pela garota, como se pudesse se jogar de um precipício só para salvá-la. As lagrimas saiam numa frequência menor agora, mas ainda rolavam de seus olhos para baixo.

—Antes de vir para cá — May iniciou, era a hora de desabafar, pelo menos para a garota, o que sentia — eu era bem diferente do que sou com você. Vivia batendo nas pessoas más, perseguindo elas e até mesmo judiando. Quando eu vim para cá, pensei que continuaria do lado dos meus irmãos, mas não pude. Nossas idades eram diferentes, então ambos foram para outro colégio. Doeu na alma na hora em que pisamos em terra firme e me forçaram a entrar num ônibus diferente. Era como se estivessem me separando da minha família, me enviando para um local onde eu não teria mais aquele conforto todo. — May fungou. As lagrimas haviam secado em sua bochecha. — Quando cheguei, percebi que a maioria das pessoas não eram tão boas fisicamente assim, nenhuma que se comparasse aos meus irmãos no quesito força. Você foi a única que chegou mais perto, só que, diferente deles, você é uma garota, como eu! Senti-me confortável ao seu lado, por isso eu te tratava diferente. Mas sempre havia uma voz que dizia que eu estava mudando, e então eu começava a tratar os outros de uma maneira ignorante... Até mesmo peguei ódio dos que não chegam nem perto da força de vocês... Como o Kentin.

Jen estremeceu. Não sabia o que falar para a loura, que estava se abrindo ao seu lado, se expondo. Grande era a responsabilidade da menor agora. A garota mediu as palavras antes de revela-las, ela precisava ser extremamente cuidadosa com o que iria dizer.

— May, você não estava mudando. — Disse, por fim. — Você estava sendo quem você realmente é, mas que estava sendo mantida presa dentro de você por todo esse tempo, por que você fingia ser outra pessoa para agradar ou se elevar ao nível de seus irmãos... E sobre o Ken, meu Deus! Coitado do moleque! Ele não fez nada para merecer o seu ódio. Ele é uma boa pessoa, dá para se ver isso de longe.

May riu da entonação da voz da garota, mas ainda não estava convencida a mudar por todos. Tinha sido humilhada e não se perdoava por isso. Havia uma voz em sua cabeça que a impedia de se perdoar. “Você só está passando por isso por estar dando mais espaço para os sentimentos. Corte-os e parará de ser humilhada.” Era exatamente isso o que May podia ouvir o seu irmão dizer clara e repetidamente em sua cabeça.

+++

May não voltou para a aula de luta, mas Jen sim. A maior resolveu tirar um tempo para si, para relaxar e pensar sobre os seus atos e sobre as palavras da menor.

Kentin estava soado, com os membros doloridos e Jen se encontrava no mesmo estado. Ambos estavam tentando travar uma batalha justa com a sua mais nova professora, porém nem respirar normalmente estava conseguindo. Não que a sala ajudasse também, já que a pressão aplicada em seus corpos era grande e eles ainda não tinham se acostumado com isso.

—Há uma coisa que vocês precisam melhorar e muito... — Começou a professora. Era incrível o como ela ficava séria e confiante durante uma batalha. — Não deixe que a sua respiração saia do ritmo constante, jamais.

Ken se sentiu ofendido, Jen anotou a dica em seu caderno de notas mental.

—Você está zombando da gente? — Perguntou ele, estressado.

—Não, eu estou ajudando vocês a melhorarem a condição física.

—Não é o que parece. — Disse ele, irado. — Você aparece aqui pela primeira vez, toda tímida e gaguejando para falar, mas dá uma surra na garota, fazendo-a chorar e sair correndo para se esconder. Depois disso luta comigo e com Jen como se só estivesse fazendo isso para passar o tempo e, quando vê que estamos cansados, diz para não ficarmos do jeito que estamos?

Meltran sorriu maliciosamente.

—Você até parece ser mais esperto do que parece, Kentin. — Gargalhou. O sangue ferveu nas veias e nas artérias do garoto. Ela estava provocando-o como ninguém nunca tinha conseguido. — Vai ficar aí parado, olhando para mim com essa sua cara de quem quer revolucionar o mundo, mas é fraco demais?

Ken não aguentou. Perdeu a cabeça, pulou para cima. Nenhum ser consciente faria isso, ainda mais sabendo de todas as circunstâncias da sala, mas ele não estava consciente. Tinha sido possuído pela raiva e já não agia mais por si mesmo.

Jen só observava. Ela ainda não tinha sido influenciada pelas frases de Meltran, já que estava mais preocupada com May do que com a aula. E ela também tinha consciência suficiente para entender o que a professora queria: queria ver até onde Ken ia, mesmo estando no estado de raiva. Ela sabia que nem o corpo dele e nem o próprio iria aguentar muito mais, então decidiu manter-se quieta no lugar. Observando para aprender.

Ken correu descontroladamente em direção à professora, com os olhos queimando de raiva, mas não demorou muito para que uma simples cutucada o fizesse cair e se contorcer no chão.

—Vocês aguentaram bastante, até. — Disse ela, ainda séria. Os olhos brilhavam — estão dispensados. Estejam aqui amanhã e tragam a loura com vocês.

+++

Kentin estava cheio de hematomas, os braços doíam e as pernas acompanhavam os braços. Tomou um banho para tirar o suor do corpo e sentiu um vazio supremo na barriga. Foi até a pequena cozinha do quarto para ver o que tinha de bom lá. Quase nada. Ia ter que sair para comer no refeitório.

+++

Só faltava um lugar para que Jen procurasse por May, já que a loura não tinha ido às aulas hoje, esse lugar era o refeitório. Passou por lá e pôde encontrar a garota sentada, comendo o seu lanche solitariamente. Sentou-se na frente de May.

Jen poderia simplesmente ignorar, mas percebeu que algo estava muito errado com a garota. Seus olhos não tinham mais o mesmo brilho e seus atos eram quase robóticos, ela nem sequer a cumprimentou quando a menor sentou-se ali.

—May? — Jen tentou, olhando mais de perto para ver se a garota estava em algum tipo de mundo paralelo. — Está tudo bem?

—Está. — Miley não ousou olhar para Jen para responder. Continuou mastigando o hambúrguer, que parecia delicioso.

—Não, não está tudo bem. — Jen aumentou o tom da voz — por que você não foi à aula hoje?

—Porque eu não quis.

Jen se irritou. Odiava quando alguém ficava lhe dando respostas curtas e grossas, como May estava fazendo. E também odiou o fato da loura não ter levantado os olhos para olhar em sua face, como se sequer se importasse com a presença dela ali. Jen levantou-se irritada e saiu a passos firmes e largos de perto da maior.

"Onde já se viu? Eu me preocupo toda, para ser tratada assim? Será que ela não tem o mínimo de gentileza ou compreensão de que sou sua amiga?"

Mas a garota logo se esqueceu disso, bastou esbarrar em algo grande e duro. Olhou para cima e pôde ver um garoto com o cabelo bege, todo espetado. Sobrancelhas grossas, olhos cor de mel e lábios carnudos. Jen se arrepiou e não sabia se se sentia envergonhada ou amedrontada.

—Me desculpe! — Disse assim que conseguiu. Afastou-se do corpo do garoto.

—Acha quem deve desculpas sou eu. —Disse sorrindo. Sua voz era grossa e marcante. Ela sabia que jamais iria esquecê-la — não te vi andando por aí.

Ela não sabia se isso era mais uma das brincadeiras relacionadas a sua altura ou se ele realmente não tinha visto ela ali, mas preferiu ignorar.

— A propósito, me chamo Kakaroto e sou novo aqui. Como você se chama?

—Me chamo Jeniffer, mas pode me chamar de Jen, muito prazer! – Disse rapidamente.

—Você estuda aqui há bastante tempo, né? Será que você poderia me mostrar a escola?

Os olhos dela brilharam. Jamais desperdiçaria uma oportunidade dessas.

+++

A garota chegou toda sorridente, feito boba, na sala de treinamentos, May e Ken já estavam lá e a professora parecia àquela pessoa tímida novamente.

—O-olá, Jen! V-você demorou um pou-ppouco — Disse, toda encolhida.

—Me desculpe! — Ela ainda estava afetada pelo que acabara de lhe acontecer. Ken estranhou o jeito da garota, May sequer moveu um centímetro de seu corpo.

—C-omo na aula passada eu só lutei com Ken e J-Jen, e-eu acho que hoje eu p-poderia lutar c-com você, M-May!

Todos olharam para a garota. Ela continuou ereta, seu corpo parecia mais duro do que uma rocha. Dois passos para frente foi a sua resposta.

A professora esperou que a garota atacasse em primeiro. May foi para frente, ainda calma. Ao se aproximar da professora, preparou a mão para dar-lhe o golpe, mas as coisas foram repetidas. A professora, em questão de segundos, já não estava mais ali na frente da garota loura. Apareceu atrás da mesma, pronta para ataca-la, porém — dessa vez, May conseguiu ser bem mais rápida do que a tímida mulher que era a sua rival — foi pega de surpresa ao ver a aluna virando agilmente o corpo e socando-lhe fortemente o rosto. O impacto do punho com a bochecha foi tão forte, que mandou a mulher para a parede, fazendo-a fincar a cabeça na parede.

+++

—Silêncio! — Exigiu a diretora, um pouco mais alto.

Todos voltaram a sua atenção para ela.

—Eu já providenciei pessoas especializadas para irem atrás do Dragão Branco. Elas já estão a caminho. — Revelou. — Essas pessoas são de confiança, mas temo que apenas elas sejam pouco para que lidem contra O Primeiro.

Um dos professores se manifestou, irado.

—Você não está querendo nos dizer que aqueles alunos que entraram em treinamento especial são a sua providência especializada, não é? — Seu tom era praticamente um que ninguém jamais pensou em usar com aquela pessoa.

A diretora riu.

—Você não sabe de nada dos meus planos, preste bem atenção do jeito em que se pronuncia a um superior. Os três alunos que eu coloquei em treinamento especial são diferentes dos demais alunos da academia. Eles têm potencial para saírem e lidarem com as coisas do exterior.

Uma nova manifestação vinda da parte de todos começou, mas não demorou muito para que a pergunta de um deles calassem todos os outros:

—Mas, mesmo assim, você planeja mandá-los atrás do Dragão Branco? — A diretora sorriu maliciosamente.

—E porque não? Não criei o colégio para que somente tivessem uma educação adequada. Criei o colégio com o intuito de fazê-los ter controle total sobre os seus poderes, e não há nenhuma oportunidade melhor do que essa para que eles possam se desenvolver.

—Então você vai manda-las também?

—Eles serão uma segunda via. Claro que eu estou muito mais confiante no primeiro grupo, já que já são mais responsáveis, porém o segundo grupo pode ser uma maneira de descobrirmos se há algum problema com a missão do primeiro...

+++

Os pés de May pesaram um pouco mais no chão, fazendo com que ela não se distanciasse muito. A professora estava impressionada com a diferença que a garota estava apresentando agora. Na primeira vez apanhou demais. Agora estava resistindo, até. A mão dela parecia mais pesada e o corpo parecia bem mais leve, já que estava desviando dos golpes com facilidade.

Jen já estava de volta para o nosso mundo e estava estranhando a maneira de se mover que a loura estava usando. Os movimentos eram precisamente calculados, parecia ser apenas um robô executando movimentos sugeridos pela pessoa que o comanda. Ken estava empolgado. Não conseguia ver uma luta dessas sem que sentisse vontade de estar trocando golpes com os participantes. May e Meltran não estavam sequer soando e nem com dificuldades respiratórias.

—Você pode usar os seus poderes, caso julgue necessário, queridinha. — Meltran falou com aquela sua nova personalidade que irritava Ken por completo! O garoto sentiu um arrepio passar-lhe pela espinha quando ouviu a professora falando tal frase.

A aura começou a vazar dos poros da garota, mas algo estava mais sombrio. Jen começou a soar frio, Ken simplesmente sentiu-se totalmente intimidado. Os músculos da professora endureceram, mas a sua mente continuou em paz. Somente o corpo estava reconhecendo o verdadeiro perigo que iria passar.

Meltran foi para cima — com o corpo ainda relutante em obedece-la — chutando a lateral da menor. May não sentiu dor, sequer se moveu. A perna de Meltran começou a latejar, os olhos se encheram com lágrimas que imploravam para serem despejadas como cachoeiras, mas foi mais forte, prosseguindo com os golpes. Tentou chutar o queixo da garota, mas teve a sua perna inutilizada com a tentativa. Ainda segurando firmemente a perna da professora, May girou e girou trinta voltas de 360º e lançou a maior para longe.

Meltran estava com os olhos esbugalhados. Totalmente impressionada com o avanço que a garota teve desde sua primeira luta até agora. Olhou para a perna que tinha sido pega. Veias e artérias estavam tendo os seus percursos marcados sobre a pele, como se fosse veneno se espalhando pelo sangue.

—Vocês dois! — Meltran apontou — estão esperando o que? Venham lutar!

O coração de Ken bateu mais forte. Era por isso que ele estava esperando desde que tinha pisado naquela sala, naquele dia.

+++

Jen estava destruída.

Andou pelo quarto, com medo de que suas pernas descolassem do tronco, de tanto que doíam. Massageá-las não era necessário, pois a dor insistia em permanecer, mas havia algo que a incomodava mais que isso. Esse algo era May.

May estava muito estranha. “Falava pouco, diferentemente de antes. Não cumprimentava mais ninguém e parecia sempre estar com um ar de superioridade. Sem contar que os seus olhos não tinham mais o mesmo brilho de antes. Isso seria devido a sua influência pelos irmãos? Mas eles não estavam mais lá, não haveria como eles continuarem influenciando-a.” Jen parou para refletir, enquanto estava deitada. A dor não era nada para a garota, quando ela pensava em seus amigos. Jen também não entendeu o ódio que May sentia por Ken. O garoto não tinha feito nada de ruim para ninguém, não que ela soubesse.

Jen só saiu de seus pensamentos quando se tocou que o celular estava vibrando no criado-mudo. Pegou-o e viu que havia mensagens que ainda não tinha lido. O número era desconhecido.

Abriu todos, curiosa. Leu-os um por um, com um bobo sorriso no rosto. Era Kakaroto, o garoto que ela conhecera mais cedo. Ele estava convidando Jen para dar mais uma volta.

Pôs-se em pé o mais rápido possível, sentindo um espasmo em sua perna. Fechou os olhos para aguentar o peso do corpo em pé, mas o ato foi desnecessário. Não ia aguentar manter-se em pé e muito menos andar por aí. O sorriso desapareceu de seu rosto e seu coração chorou na hora, mas seu cérebro recusava-se a levantar novamente. Jen, deitada em sua cama, respondeu a mensagem, recusando o encontro.

+++

May andava pelos corredores a passos firmes. Por onde passava, arrancava olhares de admirações das pessoas que estavam em sua volta. “Eles me admiram, eles me amam, me respeitam... Eles me temem!” era o que ela pensava, era o que May mais desejava. Mas, do que adianta ter o temor das pessoas, sem nenhum amigo ao lado? Do que adianta ter o respeito dos outros, mas não ter o amor filia? De nada adiantam essas coisas, a não ser para se trazer o imenso desgosto no coração pela vida. A Solidão corrói, destrói o ser humano, e até mesmo os mutantes, mas May estava cega demais para enxergar que esse seria seu destino, caso continuasse no caminho que começara a trilhar.

Sentou-se no canto do refeitório, isolada de todos. Eles eram profanos demais para presenciarem a sua tremenda e gloriosa presença de perto. Alguns alunos comentavam algo e olhavam para ela, rindo. Outros, simplesmente não conseguiam falar algo que não fosse um “Oh”. May estava adorando tudo isso.

+++

Kakaroto deitou-se, bufando. Estava irritado. É claro que ele sabia que não seria tão fácil assim, mas precisava de alguém. O tempo que passava sozinho direcionava automaticamente o seu pensamento a somente uma pessoa: Yuna. Ambas se pareciam, mas se odiava tanto assim a sua ex, por que foi procurar e se atrair logo por uma pessoa igual?

Virou-se pela terceira vez na cama, não conseguia dormir de jeito nenhum. Sentou-se. Yumo, seu parceiro de quarto, olhou para ele, incomodado.

—Cara, eu já te falei para parar com toda essa inquietação. — Reclamou. — Isso me deixa mais inquieto do que você.

O outro riu.

—É que é meio impossível eu ficar parado, sem fazer nada, se não me lembrar dela. — Rebateu. Seus olhos encontraram com os claros olhos do seu parceiro. Yumo e Kakaroto tinham a mesma idade e o mesmo tamanho. O que os diferenciava? Yumo tinha o cabelo longo e liso, abençoados pela escuridão, porém seus olhos foram uma bênção da luz: eram tão claros que o azul poderia ser facilmente confundido com o branco.

Yumo nada disse, ficou apenas observando o amigo, que estava de cabeça baixa. Não demorou muito para que os olhos dele começassem a despedaçar-se em lágrimas. O moreno se desesperou. Tinha que fazer algo para ajudar o amigo.

—Ei, pare de chorar, cara! — Falou, sem saber ao certo o que dizer. — O que os outros vão pensar se o vir assim? — Essa não era uma das frases mais brilhantes que poderia sair da boca de um indivíduo nestas circunstâncias. Yumo se desesperou, percebeu a burrada que estava fazendo. Levantou-se, fazendo com que Kakaroto levantasse a face, olhando, com os olhos repletos de lágrimas, para ele, sem entender nada do que o amigo estava fazendo. O garoto do cabelo cumprido precisava fazer algo que melhorasse a situação do parceiro, que o fizesse parar de chorar, antes que ele também começasse. — Levante-se. Lave o seu rosto, já que é para ficar triste, que seja com comida.

+++

O local estava repleto de pessoas. Caso fosse visto de cima, poderia ser facilmente confundido com um formigueiro.

Yumo e Kakaroto estavam sentados no canto do refeitório, já que ali era um dos únicos lugares disponíveis naquele inferno. A mesa estava totalmente coberta de hambúrgueres, milk-shakes, batatas-fritas, salgados, salgadinhos chips e outras coisas comestíveis, incluindo — claro que jamais poderíamos esquecer-nos dos doces.

Kakaroto e Yumo devoravam tudo, ambos chorando. O amigo não aguentou ao ver o amigo sofrendo sozinho, então resolveu sofrer juto. Pelo menos sofreriam de barriga cheia.

May estava incomodada com a quantidade de gente que estava no local. Várias pessoas fracas se misturavam ali, porém a aura de alguns lhe chamava a atenção. Não estava mais comendo, porém estava preocupada com o horário. Não poderia ficar ali até tarde demais, senão não conseguiria chegar ao dormitório a tempo. E isso era um ato de fracassados: chegar atrasado. A voz dos seus irmãos em sua mente a impedia de se atrasar, mas também implorava para que encontrasse as pessoas cujas auras eram fortes e para que ela os derrotasse. Seus olhos percorreram todo o local, até encontrar em cores diferenciadas aqueles que se destacavam. Ambos comiam e choravam. Kakaroto e Yumo estavam marcados.

+++

As pessoas dançavam em volta do desejável lago de chocolate onde vários outros já nadavam e tomam dele. Kentin era um dos que estavam se deleitando. Mas o seu sonho foi destruído pelo despertador do seu celular. Olhou para o relógio, ainda não passava das 5AM. “Mas para que raios eu coloquei essa coisa para despertar nesse horário?” pensou Ken enquanto coçava, com as costas da mão, os olhos, visando obter uma visão mais nítida. Não demorou muito para que Ken lembrasse para o que era. Deveria estar na sala de treinamento em dois minutos. Pulou da cama, fez sua higiene matinal, vestiu-se e saiu em disparada.

Jen e May já estavam lá, Meltran também, toda tímida. Ken se ajuntou a elas.

—J-já que est-estamos to-todos aqui, — Meltran tremia enquanto falava. Ken e Jen já estavam acostumados com isso, May também estaria, mas, no seu estado atual, estava irritada com tamanha fraqueza demonstrada pela pessoa que estava a treinando para ser alguém forte. — Há al-algumas coisas que eu pr-preciso falar para vo-vocês...

—E que coisas seriam essas? — Jen perguntou.

—A m-mutação. — Meltran levantou o dedo. — V-vocês u-usam ela ainda ador-adormecida...

—Como assim? — Ken estava começando a se interessar pelo trajeto em que a conversa estava seguindo.

— E-existe algo chamado e-estado de dor-dormência, em que a n-nossa um-mutação es-está. É a q-que v-vocês usam. A-A m-mutação de v-vocês é b-bem mais f-forte do q-que vocês p-pensam. A r-real força de v-vocês p-pode ser u-usada ainda.

—E como fazemos para despertarmos o nosso poder? — Essa seria a vez de May perguntar, mas como ela estava estranha ainda, quem lançou a pergunta foi Jen.

Meltran fechou os olhos antes de responder. Ainda estava com o dedo levantado e, dele, foi possível enxergar uma luz, que logo se apagou. Ela abriu os olhos e continuou a dialogar. Os três alunos não entenderam nada do que ela acabara de fazer.

— M-meditação. V-vocês precisam conhecer m-melhor v-vocês mesmo e t-também a s-sua mutação. Só as-assim será po-possível usufruir tot-totalmente dela. — Os três consentiram. — A-agora, mudando de as-assunto, recebi u-uma mensagem da diretora. N-nós só t-temos mais três d-dias até v-vocês s-saírem p-para a missão.

Jen e Ken ficaram tensos. May não demonstrou nenhuma reação. Eles iriam, finalmente, sair do colégio, porém nem sequer sabiam o que iam fazer.

—Você já sabe qual é a nossa missão? — Perguntou Jen.

Meltran se assustou.

—Vocês n-não sabem? — Perguntou ela, com os olhos arregalados.

—Não... Só nos foi dito que sairíamos em uma missão, mas a diretora não nos revelou ainda qual é. — Explicou Ken.

—S-se não me engano, v-vocês i-irão em b-busca do D-Dragão Branco...

—Dragão Branco? — Jen perguntou por seus amigos. Nenhum deles sabia da história que estava por trás disso.

—V-vocês não s-sabem?! — Meltran ficou horrorizada. — A-Assim que a Nova União foi formada, c-criaram alguns s-selos, s-sete no t-total, para que a p-paz fosse mantida p-por mais tempo. Há pouco t-tempo, h-há uma oscilação n-na paz m-mundial. U-uma organização q-que visa r-recolher o-os selos p-para q-que a paz seja d-destruída.

—Mas por que eles querem guerra? — Jen perguntou. — Estamos em plena paz, certo? Não é melhor assim?

—Definitivamente, para eles, não. — Disse a diretora, surpreendendo todos. May se sentiu intimidada com a presença poderosa dela ali. É como se, simplesmente o olhar da diretora sobre ela doesse, quebrasse os seus ossos em questão de segundos.

—Meltran, Kentin, Miley e Jeniffer. – Cumprimentou. – Se me permite, irei continuar a história.

Meltran assentiu.

— Eles não visam simplesmente destruir a paz mundial, como visam destruir o mundo atual. — Disse ela, sem poupar a preocupação em que tinha ao pensar nisso, era visível o tamanho dela simplesmente em seu tom de voz. — Eles pretendem construir um novo mundo, somente para as pessoas com mutações. Nós, acima de tudo, sabemos que isso é um ato errado e que a construção de outro local é totalmente complicada. Para que eles não venham a avançar com esse plano, decidimos atrapalhar de todas as formas possíveis. No momento, eles estão preocupados em reunir os selos para terminar com a paz. Vocês três foram escalados para recolher o primeiro selo antes deles.

—Há alguma ordem que precise ser seguida? — Kentin perguntou.

—Sim e não, necessariamente. — Respondeu, confundindo ainda mais a cabeça dos menores. — Os selos não precisam ser pegos numa determinada ordem, mas precisam ser usados fielmente como deve ser. O primeiro selo, o qual eles estão atrás, como Meltran já lhes contou, é o Dragão Branco. Estão atrás dele simplesmente por saberem a sua localização, que é bastante simples. Os outros demonstram complicações na hora de serem rastreados, por isso já estamos trabalhando no rastreamento deles, enquanto enviamos vocês na captura deste primeiro. Espero que entendam a seriedade do trabalho e que ajam com responsabilidade, já que minha confiança está totalmente em vocês.

Kentin engoliu em seco. Jen estava soando frio. May continuava ereta, como um robô ou até mesmo uma pedra. Sentimentos pareciam não existir mais naquele corpo.

—Eu mesma quis vir até aqui, avisar-lhes disso. — O tom de voz da diretora simplificou-se. — E venho reforçar: vocês só têm mais três dias até serem enviados. Deem o máximo de si neste curto tempo, para que saiam daqui com uma base de aprendizado e habilidades fortes. —Ela passou os olhos brilhantes pelos três alunos com quem conversava e depositava confiança, admirava-os. — Isso é tudo, agora, se me dão licença, tenho coisas a fazer.

Ela se retirou do local. Como todos estavam quietos para ouvir o discurso que ela tinha acabado de dar, foi possível ouvir os passos dela preenchendo o local. Meltran se virou rapidamente para eles, com o semblante sério, de quem estava numa batalha.

—Agora, vamos pegar firme no que disse a vocês. Meditem. Tentem conhecer a si mesmos até que de o horário de irem para a aula. E já vos aviso: Iremos intensificar o treino mais tarde e nos outros dias iremos acordar mais cedo para podermos treinar mais.

Os três assentiram e se prepararam para a meditação.


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Notas finais do capítulo

Hoje resolvi fazer diferente: editei as coisas pelo Nyah! mesmo. Percebi que a linha em branco que eu deixava no word para separar uma cena da outra não estava sendo aceita quando eu colava o texto aqui! Incrível isso, mas espero que agora tudo esteja resolvido (eu irei ler os outros capítulos visando arrumar os erros ortográficos e o espaçamento)
Mas enfim, o capítulo seis é isso aí! Gostaram? Lembrando que a partir do capítulo próximo, diminuirei o tamanho, para não sobrecarregar vocês.
(Próximo capítulo já está prontinho!)
Abraço e até o próximo capítulo!
Isso é tudo, pessoal!