The Mutants - O Dragão Branco escrita por Mano Vieira


Capítulo 21
Capítulo Vinte e Um


Notas iniciais do capítulo

Aqui está o último capítulo!!!! Eu disse que ia lançar os dois juntos, aí eu decidi juntar em um só único capítulo e lançar de um vez. Não ficou muito grande, mas deu pra encerrar essa temporada numa boa xD
Boa leitura õ/



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Teny ajudou diversas vezes dando mais impulso com a sua mutação. O estado de May era mais sério do que as crianças podiam imaginar e, caso eles não chegassem logo ao colégio, poderiam ter complicações sérias.

—O estado berserker pode ser ativado em dois casos: ou por impulso próprio da pessoa, ou por um estado elevado de raiva e determinação. —Explicou Fer— normalmente, a maioria de nós desconhece essa habilidade bônus que temos, pois nossos poderes já são bastante úteis. Só aqueles com poderes não muito agressivo e que trabalham com batalha corpo a corpo buscam o domínio total da habilidade. —Fer olhou para May, analisando os ferimentos que ela apresentava. A pele alva marcada pelos hematomas gritantes em contraste. — Me parece que ela atingiu o modo através de raiva e determinação.

—Vocês podem continuar com a aula depois. — anunciou Trícia ríspida — chegamos. Crianças nos ajudem abrindo as portas para a gente.

E assim foi, Kentin e Jen iam à frente abrindo as portas e dando auxilio aos mais velhos e Teny ia um pouco atrás, impressionado com o tamanho do colégio.

+++

Após dormirem à tarde pra ter mais disposição para a noite, as garotas se esgueiraram sorrateiramente até o quarto de Meltran. O mais silenciosamente possível, Rachel criou um pentagrama grande e afiado. A mutação da menina emanava uma tênue luz amarelada. Em baixo do pentagrama, Meltran dormia tranquilamente. Cacau estava vigiando a porta, enquanto Rachel sorria maliciosamente, já sentindo o sabor amargo da vingança.

—Ande logo com isso, Chel! —Cacau protestou— parece que chegou gente no colégio.

—Desde que não me atrapalhem não há problema... — Rachel sorriu e seus olhos continuavam na coloração vermelha viva — Chegou a hora de pagar pelo que você me fez... Tutora de merda— Rachel sorriu mais ainda e desceu seu pentagrama com a ponta voltada para o pescoço de Meltran.

O barulho do impacto chamou atenção de Cacau, que percebeu que Meltran não estava na cama.

—O que você fez? —Caca perguntou desnorteada.

—Eu a matei — Rachel estava com os olhos fechados, e seu rosto demonstrava total prazer. — Está feito.

Cacau sentiu seu corpo arrepiar quando observou melhor o pentagrama.

—Chel... —Sua voz estava trêmula, a morena já havia recuado alguns passos, por mera precaução. —Chel... E-ela não morreu...

—O que? —Os olhos da ruiva se abriram e ela fitou a amiga, amedrontada, com um semblante sério. —O que você quer dizer com isso?

Cacau não disse, só apontou. Rachel finalmente viu: Pendurada no pentagrama estava um corpo com cabelos frisados que tapavam totalmente o rosto da mulher que vestia uma camisola amarelo bebê. Rachel se assustou, mas não ouve tempo para gritar e nem para terminar de pensar no palavrão que estava prestes a soltar: dois olhos escarlates se viraram para ela. Era como se Meltran estivesse possuída por um demônio e ele estivesse se manifestando ali naquela hora.

As pernas da ruiva estavam tão bambas que não aguentaram quando a tutora saltou sobre a garota: foram ambas para o chão. Rachel começou a ser atacada e a gritar alto. Cacau se desesperou e só não correu por consideração à amiga, mas fez o eu podia também: gritou como se estivesse no show do seu cantor de rap preferido.

Os gritos chamaram a atenção dos que estavam acordados e também acordaram aqueles que estavam no mundo dos sonhos. Não tardou para que Fer e Ian estivessem no local para ver o que tinha acontecido.  Cacau pulou nos braços de Ian assim que o viu e começou a chorar desesperadamente.

O garoto ficou alguns segundos frustrado, sem saber como proceder, mas apertou-a nos braços afagando-lhe o cabelo.

—Calma, vai passar! — Prometeu ele, sem saber o que, ao certo, passaria.

Cacau tentou se explicar, mas os soluços tornavam as frases indecifráveis.

Fernando já estava no quarto e havia separado uma da outra. O garoto se surpreendeu quando viu que Meltran estava atacando à ruivinha.

—Qual é Meltran? —Disse, estendendo as mãos para as duas, impossibilitando que se aproximassem— o que aconteceu?

—Essa pirralha me atacou enquanto eu dormia, ia me matar cortando o meu pescoço! — cuspiu as palavras num tom de irritação. 

Fernando se assustou com o fato.

—Isso é verdade? —Perguntou pra ruiva, ainda não crendo no que Meltran estava dizendo. Meltran era querida demais por ele, já que ela o havia treinado quando mais novo.

Rachel bufou.

—Não pense que saiu ganhando, tutorazinha de merda. — A ruiva apontou o dedo para ela e seus olhos pulsavam em vermelho. — Ainda vou te matar, nem que eu seja expulsa desse colégio.

—Ok! Isso já deu. — Fernando pegou Rachel e tirou-a do quarto — Boa noite, Meltran, nós nos vemos mais tarde. —Disse fechando a porta do quarto. Olhou pra o corredor e viu que um pouco atrás deles estava Ian abraçado com uma garota morena em prantos. —Enquanto a você— colocou a mão nas costas de Rachel —vem comigo.

—Para onde vai me levar a essa hora da noite? Quem é você? Novo demais para ser um inspetor e infantil demais para um professor.

—Vou entender isso como um elogio, senhora gentileza. — Fer empurrou-a de leve para que começassem a andar — vamos para o seu quarto. Amanhã nos vemos na diretoria.

+++

Kakaroto acordou com as fortes batidas na porta. Olhou para o relógio no criado mudo e praguejou — quem quer que fosse num horário desses deveria ter um bom motivo para acordá-lo.

Abriu a porta e coçou os olhos para enxergar melhor o louro.

—Você deve estar acostumado a ficar sem roupa, pelo visto. —Disse Louis, olhando-o de cima a baixo.

—Estou de samba-canção. —Rebateu o maior, ainda na porta — e o que é que você quer?

—Vim pegar a jaqueta do uniforme que te emprestei ontem. Tenho outras, claro, mas ela não serviria em você nem se você mandasse alargar!

Kakaroto revirou os olhos e foi para dentro do quarto procurar o uniforme.

—Ficou irritado com o que aconteceu ontem? —Louis perguntou com um tom irônico. Vendo que K iria simplesmente ignorar, continuou: — Qual é... Você não precisa me tratar assim. Ninguém viu nada demais. 

K voltou com o uniforme em mãos, cara fechada e controladamente possesso pela raiva.

—Não importa. O lance é o seguinte: não vou mais te procurar e sequer continuarei sendo seu escravo pensando que serei retribuído. Você só prestou para me fazer cair na real, obrigado Louis. —Sorriu forçadamente e tentou fechar a porta, mas o outro não deixou.

—Não quero você me procure, mas como não tenho nada a perder: localize a energia num só lugar e solte-a. — Quando ia se afastar, Louis lembrou: — Ah, é preferível que este lugar seja a mão, já que ela não fica coberta por panos.

Kakaroto não bateu a porta. Não tinha entendido e por isso ficou ali, encarando o louro partir como se a compreensão viesse de encontro a ele em questão de segundos.

+++

—Assassinar? — a diretora não conseguia imaginar Rachel tentando cometer tal atrocidade. Nenhum diretor conseguiria imaginar um de seus alunos fazendo isso. — Bem... Isso... Uau, Rahel, isso é muito sério.

A garota deu de ombros.

—Se quer me jogar na cadeia é melhor não hesitar. — Disse por fim. —Antes que eu tente matá-la novamente.

—Eu não vou te jogar na cadeia, Rachel. — A diretora olhou bem fundo nos olhos da garota pra falar isso. —Bem, pelo menos não na daqui. —Reconsiderou pensando que talvez Meltran entrasse com um B.O, mas isso era muito improvável. —Você é jovem, se daria muito mal na prisão da Nova União, os mutantes presos lá parecem mais monstros do que humanos. E, eu acho que podemos usar essa sua... Vocação em nosso favor. Já faz parte do grupo de busca, não há por que se controlar contra o inimigo quando se luta por uma boa causa.

—Você está incentivando... Ela... A matar os nossos rivais? — Fernando perguntou espantado com o que ouvira.

—Nando, entenda algo — a diretora voltou-se para ele, os olhos calmos e a voz baixa, serena. —É assim que eles pensam. Eles não irão hesitar em matar vocês para alcançar o objetivo. Você poderia perguntar a May caso ela estivesse em condições de responder...

Fernando se calou, desconfortável. Não era assim que ele gostaria que fosse. Nunca tinha sido assim a história que ele desejava para si, mas a vida insistia em surpreendê-lo com o pior.

—E a sua amiga— a diretora voltou à atenção para a ruiva — convide-a para os treinamentos. Ela fará parte do grupo de buscas a partir de agora.

+++

—JEN! — A felicidade de Kakaroto era tão grande que o garoto sequer se importou com os olhares e murmurinhos das pessoas em volta dele. —Ah cara, eu senti tanta saudade! —Disse ele abraçando a garota, que parecia que iria quebrar ou ser esmagada como a latinha de coca, a qualquer momento, nos braços dele.

—Eu precisei me ausentar por um tempo – Disse cautelosa —mas também senti sua falta.

—Não precisa manter segredo, Jen – Kakaroto colocou-a no chão e sorriu. Jen alegrou-se em vê-lo daquele jeito. —Eu sei de tudo. E também faço parte disso agora.

—O que você quer dizer? —Jen perguntou por precaução.

—Assim que vocês partiram, eu senti sua falta. A diretora foi obrigada a me contar tudo e já aproveitou a chance para me convidar para o projeto também. —Disse o maior comum sorriso no rosto.

Jen adorou a novidade. Os dois se ajuntaram e continuaram pondo o papo em dia.

+++

—Kentin! Finalmente te achei! — Teny agradeceu totalmente cansado de se perder pelo colégio.

Ken riu ao ver a expressão do garoto. Convidou-o para se assentar a mesa junto com ele e ofereceu um pedaço do seu lanche, que foi recusado pelo outro.

—Eu achei que teria que dormir em um corredor hoje. Por sorte sei que seu quarto fica no mesmo corredor que o meu! – Teny se sentira aliviado quando soube que era só seguir o amigo que suas chances de se perder diminuiriam. — Esse lugar é muito grande... Todos vocês vivem aqui? —Indagou o garoto olhando em volta, impressionado com a quantidade de pessoas que estava por ali.

—Sim... —Kentin respondeu com certa graça ao ver o quão impressionado, e curioso, estava o garoto. —Você também mora aqui a partir de agora, mas terá passe livre para sair nas missões com a gente.

—Os outros não podem sair?

—Não, a maioria não tem para onde ir então nunca saem. Até em férias, ficamos aqui no colégio.

—Férias? —Teny estranhou. Nunca tinha ido à escola, tudo o que sabia provinha do irmão mais velho.

—É um período de descanso pra os alunos e para os funcionários. Bem, para os professores, pelo menos — avaliou melhor ao lembrar de que todos os outros compartimentos do colégio continuavam funcionando normalmente: biblioteca, ala de jogos, cantina e etc.

—Vocês não sentem saudades dos parentes?

Kentin riu nervoso. Teny pegou algumas batatas fritas ao perceber que Kentin não iria comê-las.

—Nós não tivemos a mesma sorte que você teve. — Teny olhou para ele sem entender ao certo do que Kentin se referia — digo, quando estávamos no outro continente, ou éramos trancafiados como aberrações ou simplesmente descartados em lixeiras quando a mutação se manifestava. A maioria de nós cresceu odiando os familiares ou simplesmente não o conheceram.

—Isso é horrível! Meu irmão vivia me dizendo que nosso pai nos odiava, mas eu achava que era só comigo.

—Infelizmente essa é uma realidade compartilhada por todos nós que nascemos mutantes. —Kentin terminou de comer seu lanche e limpou a boca com um guardanapo. Foi quando avistou quem vinha em sua direção e desejou morrer ou que sua mutação permitisse ficar invisível.

—Kentin! — Mailord disse com seu tom irônico. Ken revirou os olhos, já Teny virou-se para ver melhor quem estava ali com eles. —Vejo que temos um aluno novo no colégio. Muito prazer, eu sou Mailord DeFiore, um dos melhores alunos desse colégio. — Disse estendendo a mão.

Teny olhou para a mão do garoto, sem entender ao certo o que deveria fazer. Sentiu-se um pouco envergonhado por isso.

—Vamos, pegue! — Incentivou o louro.

Teny estendeu a mão e eles se cumprimentaram formalmente em silêncio.

—Interessante suas escolhas de amizade, Kentin — sorriu ele. —Qual seu nome, garoto?

—É Teny.

—Teny... Bem, bem-vindo ao colégio Teny. —Voltou-se para o mestiço e continuou: — notamos sua ausência por um tempo, Kentin, eu espero que você não esteja se drogando e nem pirando aula. Isso seria muito ruim...

—Isso não é da sua conta, Mailord. — Kentin disse irritadiço. Teny se encolheu ao sentir que o clima ali já não era o mesmo.

—É sim, pra falar a verdade. — Um sorriso malicioso brotou nos lábios dele. — Fui o aluno mais indicado para ser ajudante dos profissionais de ensino, sabe o que isso significa? Fico sabendo das notas e presenças de todos. Ajudo na hora de montar boletins e afins também. Notei que você estava ausente em uma série de aulas e preciso por uma justificativa em seu histórico escolar. Gostaria de saber o motivo.

—Motivos pessoais.

—Tenho total obrigação de saber qual motivo pessoal.

—Uau. Você é bem curioso, não? — Kentin levantou-se, mas não iria brigar. Não ali. —Você quer realmente saber o motivo da minha ausência? Pergunte para a diretora, já que ela está totalmente a par dos fatos. Com licença — disse e se retirou do local para não começar uma briga ali mesmo. Mailord tinha prazer em perturbar Kentin, por motivos totalmente desconhecidos para o mestiço.

+++

—Com licença – Jen esperou o consentimento da enfermeira para continuar e ir ver a amiga.

May estava deitada em um estado horrível, mas já podia falar e já se encontrava acordada.

—Como você está? — Sussurrou para a loura.

—Ainda dói um pouco. — Respondeu coma voz fraca — e meu braço coça muito. Mas recebo comida boa a hora que eu quiser então não está tão ruim assim.

Jen abafou o riso.

—Quebrei o braço e algumas costelas, torci meus tornozelos — May falou com pesar — mas estou melhor do que aparento. —Sorriu, mas sem deixar de sentir algumas partes de seu rosto incomodar.

—Já tem previsão pra alta? — Jen perguntou.

—Talvez, daqui alguns dias, May já esteja melhor — Respondeu a enfermeira. — O organismo dela se recupera mais rápido que o normal.

May piscou para a amiga.

—Está vendo só? — Jen riu — e o que aconteceu lá? Depois que Abyss me pegou eu apaguei.

Jen hesitou um pouco.

—Nós bolamos um plano para te levar pra longe, mas do nada você levantou e começou a lutar com Abyss. —Jen percebeu que May tinha se assustado — Isso se chama modo Berserker, mas mesmo assim nós não capturamos o dragão. Trícia nos salvou da Abyss e tentou conversar com ele, mas ele se negou a vir conosco e decidiu ir com Abyss.

—Nós demos o nosso melhor, ao menos — Consolou May, o silêncio estava perturbador.

—Só espero que isso tudo mude mais pra frente. Não quero que o mundo entre em guerra...

—Não vai, Jen, Não vai.

+++

Teny seguia Kentin pelos corredores para não se perder, mas o mestiço parecia ainda não ter percebido.

—Ken! — Implorou Teny — vá mais devagar! Vou acabar me perdendo de novo!

Kentin parou por alguns segundos e virou para trás assustado: estava tão irritado que realmente não tinha cogitado a ideia de que seu amigo estava seguindo-o.

—Desculpa, eu não...

—Relaxa, só vai mais devagar por que o fluxo por aqui está aumentando. Sou muito bom em me perder, se lhe interessa.

Kentin olhou em volta estranhando o tanto de pessoas que estavam por ali. Os corredores nunca eram lotados, independente do horário, a não ser que houvesse alguma briga ou algo estranho por perto.

—Ei! O que está acontecendo? — Ele perguntou pro primeiro que passou ao seu lado.

—Me falaram que o placar de alunos mudou. Ninguém acredita nas novas posições. —O garoto disse e continuou correndo.

—Placar de posições? — Teny indagou sem entender muito bem.

—Ele fica aqui perto. É um ranking com todos os alunos do colégio, que vai do mais forte até o mais fraco. Raramente ele muda no meio do mês... —Kentin começou a correr — vamos!

Não demorou muito para que os garotos alcançassem o tumulto frente ao grande placar. Kentin foi subindo os olhos. O placar localizado na parede mostrava somente do nível 27 pra cima e, a primeira vista, estava normal. Kentin continuou até chegar à divergência: do nível 10 em diante, os lugares estavam sendo ocupados por duas pessoas. E o primeiro, o que era mais estranho, estava com três nomes.

—Ei, não é o nome do garoto que estava com a gente até agora pouco? —Teny perguntou — Mailord... Não é? Uau, ele deve ser muito forte pra estar em primeiro lugar.

1.Marlene Blumstein; Mailord DeFiore; Acácia Bello;

2.Amélia Sanchez; Meritta Sanchez;

3.Leonard Burguez; Louis DeFiore;

4.Membo Castello; Miley Morgan;

5.Corey Turner; Isla McCoy;

6.Alice Brás; Fernando Zango;

7.Renan Michovick; Levy Dexter;

8.Lindsay de Pandora; Zilá Rodrigues;

9.Kim Mamura; Zachary Opera;

10.Luciana Morgenstern; Letícia Minerva;

E esses eram os nomes que chamavam tanto a atenção dos alunos. Alguns zombavam os amigos por não estarem no topo da lista, outros estavam totalmente impressionados com o fato de já os terem visto andando pelos corredores ou até mesmo na fila da cantina.

Kentin não viu seu nome, normalmente ele ficava próximo do 250º colocado. Sua mutação, notas e habilidades corporais não o ajudavam muito no ranking.

—Miley... — Teny chamou a atenção o mestiço — É a que estava com a gente?

—É sim... — Kentn comentou — Vamos, já vimos o que nos intrigava.

+++

A diretora estava um pouco nervosa, mas não deixaria que isso a impedisse de relatar o “fracasso” aos superiores, afinal, dever é dever.

A sala escura lhe trazia na mente a última vez em que entrou ali. O tom de reprovação dos outros lhe era claro agora, e o que estava prestes a dizer só lhes davam razão. A primeira vez que esteve ali também lhe viera à mente. Era jovem ainda, considerada uma completa humana, na época. Todos lhe depositavam uma grande esperança, como se estivessem olhando para a pessoa mais capacitada da galáxia em que se encontravam.

Os números começaram a brilhar na mesa e os hologramas surgiam numa explosão de luz e tecnologia. O estomago da diretora parecia querer expelir tudo o que já passara por ali, devido à ansiedade.

—Trago notícias, informações sobre o nosso estado. — Sua voz dura escondia a fragilidade em que se encontrava no momento. Sabia que assim que lhes desse as más novas uma enxurrada de julgamentos pesaria em cima de si mesma.

—Conseguimos capturá-lo?

—A missão foi bem sucedida?

—Houve bastante feridos?

—A notícia é que falhamos. O primeiro selo não pôde ser capturado, não dessa vez. —Isso causou um tumulto esperado e tedioso na sala. Se houvesse como, a diretora silenciaria todos.

—Isso é culpa de suas decisões mal pensadas!

—Lhe avisamos que intrometer crianças nisso não era boa coisa. Estamos tratando do futuro da nossa espécie neste planeta, mas você aparenta não levar isso muito a sério.

O tumulto continuava, as palavras tinham um efeito horrível: cresciam cada vez mais e diminuíam a diretora, que os ouvia atentamente, que segurava esse fardo pesado.

—Acho que incluímos muitas pessoas quando dizemos nossa espécie. — Um deles chamou a atenção de todos os outros — ela sequer é um humano completamente. É um ciborg. Nosso planeta está sofrendo com o excesso e espécies nele. Humanos, Ciborgs, Mutantes. Talvez não haja espaço para todos.

Vocês deveriam tomar mais cuidado com o que dizem! — A voz da diretora finalmente tomou força. O silêncio passou a reinar, todos estavam curiosos para ouvi-la defender a si mesma. —Acredito que o nosso diferencial, o fato de sermos racionais, vem nos tornando cada vez mais em animais do que os outros, ele nos transforma em ignorantes.  Vocês podem ver cada um com suas diferenças e rotulá-los por não serem iguais, mas não esqueçam que somos nós que estamos lutando para manter a bunda de vocês a salvo. Quando fui apresentada a esse conselho, eu era completamente humana e todos depositavam suas esperanças em mim. Todos vocês me viam como a salvação. E o que mudou agora? O fato de o meu corpo ser 30% eletrônico não me torna menos capacitada. E não vou deixar que suas mentes ignorantes venham me impedir de agir. Eu falhei agora, mas acreditem, ouçam, registrem e esperem: isso não acontecerá novamente.

Um silêncio constrangedor pairava sobre a sala. Todos estavam quietos, engolindo de mau-grado as palavras sinceras da diretora, que parecia ter se livrado de um fardo tão grande..

—Tenha cuidado com suas palavras, ciborg. Não se esqueça que nós ainda somos seus superiores. — Disse um deles num tom grotesco. A diretora se aquietou totalmente contra sua vontade, mas ainda iria mostrar para todos eles o quão ridículos estavam sendo, não poderia deixar essa chance de ouro escapar.

—Vamos marcar outra reunião...

BOCA DO VULCÃO; MORADA DO DRAGÃO BRANCO

Abyss se remexeu, voltando em si e sentindo dores por todo o corpo. Sua mutação foi adormecendo aos poucos, lhe concedendo o formato de mulher mais uma vez.

Sentou-se cansada e, quando sua visão normalizou, pôde ver um rapaz em sua frente, descalço, sem camiseta, cabelos brancos como a neve, olhando entediadamente para ela. Então, Abyss deu por si: aquele era o tão famoso dragão, que tinha expulsado os seus rivais escolhido seguir ela. Era um troféu valioso o que tinha em sua frente.

—Finalmente! — Disse ele se levantando ao perceber que ela o encarava — Achei que tinha morrido.

—M-me desculpe por fazê-lo esperar! — Estava desesperada, afinal, ele era importante no plano. — Vou mandar a base vir nos buscar já! Não devem demorar a chegar.

—Alto lá! Antes me diga: o que vocês pretendem fazer com meu poder?

—Você é o primeiro de sete selos que devemos juntar. A mutação de vocês é de um tipo valioso — Abyss explicou — Dizem que vocês carregam consigo uma habilidade de, quando unidos, vocês podem alterar os fatos. Quando foram criados, os cientistas pediram a vocês que banissem a fome do mundo e assim aconteceu. Mas logo foi e espalhado a notícia do que vocês eram capazes e por isso espalharam vocês pelo planeta em lugares impossíveis de se achar. Outros cientistas entraram na onda e começaram experiências em fetos, tentando transformá-los no que eram vocês, mas o único experimento que deu certo causou um grande estrago na humanidade. O tempo passou e chegamos a isso: superpopulação, tecnologia abundante, ignorância em seu auge. E é por isso que estamos atrás de vocês — Os olhos dela brilhavam enquanto falava como se vivesse somente para isso. — Queremos acabar com esse preconceito existente em relação aos mutantes. Pensamos que, se todos os seres humanos evoluírem para mutantes, não haverá mais preconceito. Mas o modo mais fácil de acabar com os que não evoluíram é começando uma guerra, que só podemos ganhar se tivermos o apoio dos selos.

O garoto ficou quieto por um tempo, pensando sobre isso. Os seus olhos brilhavam de tamanha admiração.

—Eu não vou com vocês. — Disse, acabando com as expectativas de Abyss.

—Mas como—

—Se existem mais pessoas com o tamanho poder igual ao meu, eu irei juntá-las sozinhos. —O Dragão estava empolgado, sua mente estava a mil só de pensar no que podia fazer com suas habilidades. — Obrigado pelas informações, e mande uma mensagem para seus superiores: Tenham cuidado, pois eu irei juntar os selos e daremos início a um mundo justo, onde só quem tem o poder genuíno reinará. Todos vocês se curvarão perante os selos, que serão tratados como deuses.

Abyss pensou em usar a força bruta, mas suas roupas estavam em trapos e provavelmente perderia numa batalha contra o dragão. Não havia nenhum aparelho próximo que pudesse capturar o dragão também. A única coisa por perto era o comunicador que ela usaria para chamar à central.

—P-por favor repense no que eu te disse... —Tentou ganhar tempo para chegar até o aparelho de comunicação, mas foi em vão.

Ao apertar o botão que levaria a nave até eles, Abyss presenciou as lindas e alvas penas das asas do dragão. O rufo de ar foi refrescante, mas pareceu trazer consigo o calor insuportável, que era pior ainda ligado a solidão da comandante, que já via o grande sermão que ouviria por não cumprir o seu dever.

COLÉGIO THE MUTANTS — SEMANAS DEPOIS

Com o tempo tudo se normalizou: Teny conseguiu se integrar bem ao seu novo estilo de vida, May recebeu alta, o grupo voltou a treinar juntos nos horários de ócio e os três “veteranos” do grupo de apoio ao grupo de exploração conseguiram um tempo extra pra por em dia a matéria perdida.

May parou por um tempo pra respirar. O suor passeava pelo seu corpo causando-lhe cócegas.

—Mas já está cansadinha? —Provocou Rachel, ao ver que May estava tirando um tempo para recompor as energias.

—Aproveite enquanto eu ainda estou em fase de recuperação, mas torça também para que você seja mais rápida do que eu, Rachel, pois quando eu estiver bem...

—Chega de intrigas! — Advertiu Meltran. — V-vcês q-querem b-brigar? E-entao vamos começar  o t-reino p-pra v-v-valer. Ca-Cacau, você c-contra Jen.

+++

—Eu não suporto essa garota! — Bufou May ao sentar-se num dos bancos do refeitório.

Jen sorriu enquanto pressionava o pacote de gelo contra a bochecha inchada. Era bom estar com a amiga de volta.

—Eu juro que, quando eu melhorar, vou acabar com a raça dela.

—Só tome cuidado para não ficarem nuas por aí... — Jen disse segurando o riso ao ver a cara de espanto da amiga.

—Oh meu Deus Jennifer me desculpe! — May ficou sem jeito ao lembrar-se da luta contra K. A loura já quase nem se lembrava como se isso fosse há anos e não semanas. —Ele me perdoou, não é?

—Ele ainda te olha meio torto, eu acho que vão ter que conversar—

—Essa conversa pode esperar. — Mailord interrompeu, mostrando um grande sorriso ao ver as duas olhando para ele. —É engraçado como vocês gostam de ficar aqui no refeitório. Miley, não? A diretora quer vê-la.

A loura olhou para a menor, que consentiu então ela se levantou e seguiu ao louro.  May percebeu que o rumo da conversa não seria bom assim que entrou na sala da diretora.

O ambiente simples possuía um clima pesado. O silêncio era quebrado pelo tic-tac do relógio, que se assemelhava aos passos da morte, vindo buscar May para a eternidade. A garota engoliu em seco e foi até mais perto da mesa da diretora

A aluna observou que, nas mãos da ciborg, havia uma papelada que aparentava ser a causadora de toda essa conversa que ambas teriam.

—May eu... – Ela tentou, mas não sabia como dizer isso a aluna que havia se tornado tão querida, mesmo com pouca interação entre elas — Eu não sei como te dizer isso. Eu sequer sei como responder a essa carta...

—Vá direto ao assunto! —May interrompeu totalmente ansiosa, e curiosa, para saber o conteúdo dos papéis.

—May, essas papeladas são referentes à sua transferência, seus irmãos imploram por sua presença no IPMP.


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Notas finais do capítulo

Pois é galera, é isso õ/
eu gostaria de agradecer a todos vocês que leram a história e não largaram ela devido as minhas demoras (eu me sinto muito envergonhado por demorar tanto assim pra postar, mas é que ou eu não tenho tempo pra escrever ou eu não tenho ideia de como desenvolver a história)
Bem, sobre a segunda temporada (pq sim, pois eu nunca desistirei dessa saga HAUHAUHUA) eu acho que irei escrevê-la toda pra depois postar aqui... Não sei, tenho que ver isso ainda.
Mas muito, muito obrigado mesmo, por você que leu até aqui! Sinta-se abraçado, beijado e amado por mim HUHAUHA
Nos vemos quando eu lançar a próxima temporada õ/
E isso é tudo, pessoal!



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