Antes que Sean e Daphne dissessem qualquer outra coisa sobre a cena, as sombras me transportaram para qualquer lugar em Hogwarts e eu trombei em alguém.

─ Desculpe. ─ Murmurei me equilibrando com a ajuda da pessoa que me segurava pela cintura.

─ Apenas olhe por onde anda da próxima vez. ─ Respondeu sem expressão. Era um garoto... Não! Um rapaz, de no mínimo 22 anos, com cabelos castanhos e olhos... Vermelhos? Congelei. Eu sabia quem ele era. Claro que sabia!

─ Claro. ─ Respondi engolindo em seco e dando um passo para trás. ─ Sinto muito mesmo, apesar.

Ele apenas assentiu, olhando minha gravata.

─ Quem é você, garota da Corvinal?

─ Lyara Skyford, prazer. ─ Apresentei-me tentando engolir o pavor.

Eu era uma filha de Hades, eu não deveria ter medo. Você já provocou Voldemort em outra vida, Lya. Coragem! Ele é só o namorado da sua mãe... O NAMORADO DA MINHA MÃE! Porque eu tinha que lembrar isso? Por quê?

─ Hm, você é o noivo da Annia Bellator, não é? Tom... Tom Riddle. ─ Perguntei fingindo lembrar o nome dele, quando ele não disse nada.

─ Sim. ─ Ele disse por fim. ─ Como sabe disso? Pensei que eram apenas os Sonserinos que sabiam. E você disse... Skyford? Eu não fazia ideia de que Sean tinha uma irmã. ─ Estreitou os olhos vermelhos.

─ E ele não tem. ─ Respondi indecisa. ─ Você não ouviu falar sobre os três alunos novos?

─ Os do futuro? ─ Tom arqueou uma sobrancelha. ─ Ah. Então você é a filha de Sean. Eu vejo! Já me conhecia antes?

─ Já. ─ Respondi calmamente. Era verdade. O conheci na minha “outra vida”, na primeira vez que vim para Hogwarts. Conheci como Quirrell também. Eu não estava mentindo então.

─ Intrigante. ─ Ele deu um sorriso estranho. ─ O que serei no futuro?

─ Importante. ─ Respondi de imediato. ─ E isso é tudo o que direi, desculpe-me.

─ Importante, você diz? ─ Ele parecia pensativo. ─ Bem, suponho que terei de me contentar com isso. Agora terei de me despedir. Vou dizer a Annia que lhe conheci, ela me contou sobre você.

─ Espera... O que? Ela contou? Então porque fingiu não me conhecer? ─ Surpreendi-me.

─ Para ver o que você diria. Afinal, você também fingiu não me conhecer a princípio. ─ Sorriu friamente. ─ Espero trabalhar com você no futuro, Srta. Skyford.

─ É, eu suponho que vamos, tio Tom. ─ Sorri tão friamente quanto ele, que apenas arqueou uma sobrancelha e saiu.

Tive vontade de me jogar no chão e agradecer a Merlin por ainda estar viva. ISSO FOI TÃO ESTRANHO! EU QUERO MORRER! Comecei um ciclo de inspirar e expirar para poder me acalmar e então percebi algo.

─ Ele me deixou chamá-lo de tio Tom? ─ Arregalei os olhos. EM QUE MUNDO ESTOU?

Decidi ir comer, antes que eu ficasse louca de uma vez. Mais louca do que eu já era...

─ Ei Corvinais. ─ Chamei a atenção de todos. Após o jantar daquela noite, combinei com Harry e Daphne que os encontraria em frente à sala precisa. Agora eu iria definitivamente me despedir dos que eu ainda não tinha me despedido. Quando todos me olharam, dei um sorriso de canto. ─ Eu confesso que nunca me imaginei na Corvinal. ─ Comecei. ─ E eu achava que vocês eram apenas nerds apaixonados por livros. Mas são mais do que isso. São inteligentes por seus próprios méritos, amigos dos que precisam, e corajosos quando necessário. E tão ambiciosos quanto às serpentes. Vou me sentir aliviada quando voltar para minhas masmorras no futuro, mas também sentirei saudades, pois foi aqui que aprendi que a ambição não é tudo e que a sabedoria deve ser sempre uma parte importante de nossa vida.

Pausei por um momento, antes de dar a noticia final.

─ Vou embora essa noite, então quero me despedir. Vocês são legais, apesar de acordarem muito cedo. Se quiserem umas sugestões, procurem acordar mais tarde e dormirem mais. Dormir também é importante e ajuda bastante se você acordar relaxado. Bem, é isso... ─ Parei constrangida.

Um momento de silencio se fez antes que todos começassem a aplaudir. Fechei a cara para não corar e uma risada baixa chamou-me a atenção.

─ Lya, apenas prometa que não vai me esquecer. ─ Matt disse simplesmente, parando na minha frente. Olhei-o por um momento, indecisa sobre o que fazer antes de sorrir.

─ Você é que deve prometer isso, Matt. Você sempre estará em meu coração. ─ Respondi e ele sorriu. Deixando tudo para trás, avancei e selei minha promessa não dita com um beijo casto.

─ Eu nunca vou te esquecer. ─ Ele sussurrou depois.

─ Eu sei. ─ Assenti. ─ Até futuramente, Matt. Conquiste-me!

─ Eu irei.

E com isso dei adeus ao futuro e pelas sombras fui até o começo das escadarias do terceiro andar.

─ Lya. ─ Uma mão me puxou. Era minha mãe. ─ Tom me contou que te conheceu. Ele disse que tinha uma sobrinha interessante.

Engolindo em seco, dei um sorriso estranho.

─ É, acho que tenho um tio interessante também. ─ Falei e ela riu, me abraçando.

─ Você vai embora, certo?

─ Vou sim. ─ Respondi simplesmente, devolvendo seu abraço.

─ Até o futuro, Lya.

─ Até... Mamãe. ─ Dei um sorriso de canto e separei-me de seu abraço, observando suas feições. Ela parecia melancólica.

─ Não sei o que aconteceu com sua mãe, mas vou te amar como uma filha. ─ Respondeu sincera e eu quase gritei de frustração.

─ Obrigada. ─ Disse, apenas, com um sorriso falso. ─ Te vejo no futuro.

E corri para subir as escadas, antes que elas se mudassem de lugar, acenando em despedida para Annia.

“Não sei o que aconteceu com sua mãe, mas vou te amar como uma filha.” Pelos deuses, mãe! Você é tão burra assim? Merlin!

─ Ei, está tudo bem? ─ Harry perguntou quando me viu.

─ Sim. É só... ─ Comecei, mas franzi a testa. ─ Saudades adiantadas. ─ Falei lançando um olhar de “não é isso, conversamos depois” para Harry.

Ele apenas deu de ombros, continuando o disfarce. Ficamos um tempo encostados à parede esperando Daphne e enquanto isso eu ficava me remexendo, com um sentimento estranho de estar sendo observada.

─ Desculpem-me! ─ Ela chegou correndo e eu suspirei aliviada.

─ Relaxa, deu tempo pra curtir o passado mais um pouco. ─ Sorri matreira e ela revirou os olhos. Eu sei o que você estava fazendo, Daphne. Trocando saliva com meu irmão! Não sei se fico com ciúmes ou se rio da cara deles...

Erguendo as mãos, fiz uma parede de sombras para nos encobrir e soltei mais um suspiro aliviado quando me senti ocultada de quem nos observava.

─ Daphne, tente você ativar o portal. ─ Falei e ela assentiu.

Passando três vezes pela tapeçaria, finalmente uma porta semelhante a que tinha no Palast apareceu.

─ Vamos. ─ Disse ela e eu assenti.

Entramos no quarto fabricado pela Sala Precisa e instantaneamente perdi contato com as sombras, devido o quarto estar com as luzes acesas. Minha barreira de sombras deve ter caído, mas confortei-me em saber que a porta desaparecia assim que entrássemos.

─ Vamos? ─ Perguntei e os dois assentiram. Demos as mãos por precaução e começamos a entoar o mantra que nos trouxe até aqui. ─ Um, Nove, Sete, Quatro. Um, Nove, Sete, Quatro. Um, Nove, Sete, Quatro.

Por um momento senti tudo ao meu redor dar um giro de 360 graus, mas logo tudo se aquietou.

─ Será que deu certo? ─ Harry perguntou hesitante.

─ Só tem um jeito de saber. ─ Respondi, fechando os olhos.

Sean? ─ Chamei mentalmente.

Por um momento, nenhuma resposta veio. Até que eu ouvi o que eu queria.

Lya? Você voltou? ─ Sean perguntou animado.

Abri os olhos com um sorriso e os encarei. Eles, por si próprios, já sabiam a resposta.

Abrindo a porta para nosso futuro, eu tive a impressão de que daqui pra frente um futuro muito impressionante nos esperava.

Eu tinha certeza de que a aventura não tinha acabado ainda. Na verdade, só estava começando.