Wings Of Hope escrita por Shunnie Youko


Capítulo 10
Parte X - Memories




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Wings of Hope

Parte X – Memories


Naquele momento, parecia que tudo havia desaparecido. Lisa simplesmente não conseguia descobrir em que diabo de lugar estava. Não sabia onde estava Tsubasa, seu Roy, ou seus amigos. Apenas pensava naquele vazio – literalmente – em que estava.

Estava sozinha – disso podia ter certeza. Mas onde? Que lugar era aquele?

Mesmo vivendo durante anos em Shadows Hill, Lisa não sabia dizer. Já havia ido – outra vez, literalmente – até o inferno, que nem mesmo a assustara tanto quanto onde estava agora.

De repente - mas ao mesmo tempo aos poucos -, a cena foi mudando. A loura se viu “sobrevoando” uma vila. E viu, também, algumas crianças brincando. Talvez, naquele momento, tenha entendido onde estava, mesmo que se recusasse.


-x-

“Por que não sai de perto?” Disse uma garota ruiva, empurrando uma menina loura, de uns 2 anos. “Ninguém te quer aqui, sua bruxa!” E começou a rir e saiu correndo, ao ver a mais nova choramingar.

“É isso que vai acontecer se ficar muito perto de mim, Lily.” Disse-lhe uma menina pálida, de cabelos pretos. Talvez fosse uns 3 anos mais velha.

“Não quero. Ale, você não é uma bruxa.” A pequena Lisa começou a puxá-la, na direção de um lado mais escuro da Shadows Hill daquela época. “Vem comigo.”

A pequenina levou a amiga até um cemitério, abandonado e fora dos limites da cidade. Caminharam em silencio, passando por diversos túmulos, a maior parte com suas lapides destruídas, devido a ação do tempo. Lisa parou na frente de um. O único que estava ainda inteiro, apesar de ser tão antigo quanto muitos naquele local.

O tumulo mais distante de todos, cuja lapide podia-se ver escrito claramente Robert Applefield.

“Porque?” Alessandra parecia inconformada. “Por que me trouxe até o tumulo de meu pai?”

“Você disse que queria conversar com ele novamente, não é?” Lisa sorriu – um sorriso um tanto quanto macabro para uma criança de 2 anos – e começou a balbuciar. Todavia, apenas uma parte foi possível de se entender. “Agora, eu, como descendente de Lilith, lhe ordeno, levanta-te, Robert Applefield.”

-x-

Depois disso, Lisa apenas pode ver o rosto assombrado de sua amiga – ainda viva. Sabia que se arrependeria disso. E como sabia.

Aos poucos, viu tudo girar novamente. De repente, se viu ao lado de sua mãe – na verdade, madrasta, mas naquele momento, ela ainda não sabia disso -, ouvindo uma bronca.

Ah, e como detestava aquela mulher. E as suas broncas. E, depois do que ela fez naquele dia...

Realmente, o castigo que Lisa deu nela foi absolutamente o que ela precisava – embora a loirinha não pensasse nisso, e nem assim, naquele momento.


-x-

“Mamãe.” Lisa choramingou. “Mamãe. Tá me machucando.”

A mulher que a puxava olhou para o pulso da criança, o qual segurava com força.

“Não vou fugir, me solta. Por favor mamãe.” Suplicou.

E – novamente, - foi ignorada. A adulta apenas soltou-a quando foi ao encontro de outra moça muito pálida, e com cabelos castanhos – um pouco mais velha que sua mãe, aos olhos da menina – que parecia ser sua amiga. Lisa parou para prestar atenção na conversa.

“Madelaine!” A castanha falou. “Quando tempo, Maddie! Senti saudade!”

“Isabel! Pois é, ando tendo bastante trabalho com aquilo” E apontou discretamente para a filha – como se ela não tivesse percebido que era o assunto. “Quem sabe, agora ela aprenda a me ouvir.”

“Se ela não aprender, vai se castigada também.”

E a conversa acabou ai. O que ela queria dizer com “castigada”? Lisa não compreendia.

Claro, isso mudou quando a mãe a arrastou até o mezanino da Igreja.

Foi nessa hora que ela viu sua melhor – e única, convenhamos – amiga presa a um suporte de madeira, pendurado no teto. E, obviamente, em baixo dela, uma fogueira acesa – que, é claro, não podia faltar, não é mesmo?

Por um momento, o crepitar das chamas fez Lisa congelar. No segundo seguinte, tentava – novamente, sem sucesso – se livrar da mão de sua mãe.

“Mamãe?” Lisa sibilou. “O que a Alessandra ta fazendo ali?”

“Por que não cala a boca pirralha?” O tom na voz de sua mãe fez a loura pular. “Primeiro, não sou sua mãe. Só aceitei cuidar de você porque os Hawkeye me pagaram bem pra isso.” Pausa. Lisa sentia lagrimas escorrerem de seus olhos. “E sua amiguinha só está ali porque aprontou. Vai ser castigada.”

Apesar de não entender – ainda – o significado daquele castigo, mas sentia que era algo ruim. Principalmente depois da Isabel começar a missa. E ainda mais, quando ela disse “está na hora de deixar o fogo do inferno arder sobre essa bruxa.”

Todavia, não tem palavras pra expressar o que Lisa sentiu ao ver Adam – o fiel servo de Isabel – cortas as cortas que prendiam a plataforma ao teto. Muitas menos, para expressar o que foi para a pequenina ver sua amiga arder nas chamas. Nem o rosto de dor que Alessandra mostrou, antes de sorrir para Lisa, pela ultima vez.

-x-

Uma lágrima solitária brotou nos olhos de Lisa ao lembrar da amiga, e da dor que ela agüentou sozinha. Sem um único gemido.

Agora que se lembrava. Foi por causa de Alessandra que havia se tornado tão séria, principalmente em seu trabalho.

Seu trabalho... Se não fosse pela amiga, nunca seria militar.

Foi pensando nela que se inscreveu na academia. Talvez conseguisse trazer um pouco de justiça a esse mundo.

Milhares de outros fatos passaram pela sua cabeça. A madrasta, insistindo que Lisa a chamasse pelo nome – Madelaine. As broncas que levava, as meninas chamando-a de bruxa na escola.

Mas dentre tudo isso, apenas algo se destacou. E, depois daquele dia, a loura sentia que sabia direitinho o que a amiga havia sofrido.

O que era? Fácil. Todos os dias que passou, após Maddie – sua querida e amada madrasta – a entregar para Isabel.


-x-

“O que vai fazer comigo?” Mesmo que negasse, o olhar assustado entregava Lisa: se sentia apavorada enquanto Adam pregava duas madeiras, para ficarem parecendo uma cruz.

“Questione Isabel.” O homem respondeu com pesar. A menina tinha certeza que ele sabia o que era.

“E que diferença faz você saber?” Uma garota de cabelos louro-esbranquiçados, que havia acabado de adentrar o quarto, respondeu com um sorriso sádico. “Não vai sair daqui mesmo.”

Quando viu que Lisa ainda a encarava, resolveu se apresentar. “Não que vá fazer diferença, mas sou filha de Isabel. Meu nome é Beatriz Falman.”

“Bibi! Vai me ajudar?” Isabel disse, sorridente, ao ver a filha dentro do cômodo. “Adam, a cruz já está pronta? Ótimo. Pode prende-la.”

O homem ergueu Lisa e prendeu-a. Seus pulsos e tornozelos estavam amarrados por cordas. Assim como Jesus na cruz.

Dessa vez, aquela Maria Madalena iria virar Cristo.

-x-

Naquele momento, Lisa fechou os olhos. Não agüentaria passar por aquilo duas vezes.

Ainda se lembrava perfeitamente da dor. E do que fizeram com ela.

Chicotadas. Tapas. Socos. Pontapés.

E, é claro, quando estava com cortes o suficiente, lembra-se muito bem do que Beatriz fez.

Sabia que a menina era sádica, por ser filha de Isabel. Mas colocar a lourinha numa banheira cheia de SAL?(1)

A dor dela já não era o suficiente? Ainda precisava sofrer mais?

Mas nada se comparava ao que Madelaine falara. Um dia, Lisa havia amado aquela mulher, como uma mãe.

“Cuidado, é capaz de você ficar tão imunda quanto ela.”

A loura não sabia o que doera mais. A frase, ou o fato de ter sido estuprada por vários dos capangas de Isabel.

A sensação de ter sido uma boneca pra satisfazer aqueles homens assustava-a. Tinha sido algo doloroso.

Ainda mais para uma menina de menos de três anos.


-x-

- Lizzie? – Uma voz chamava a mulher, enquanto braços a sacudiam. – Pelo amor, Mary Elisabeth Demon Hawkeye, ACORDA!

- Ai! – Lisa levantou num pulo, e quando viu quem era, tornou a deitar. – Me deixa dormir, Mellie.

- Não, Liz, a Tsubasa SUMIU!

- Como é?! Vocês não estavam de olho nela pra eu poder descansar?!

- É eu sei, mas a gente acabou se desligando um pouco, e...

- Isabel.

- É, acho que é.

- Sabe, Mellie, é bom ela não tocar na minha filha.

- Hm?

- Eu sonhei com tudo o que ela fez, então

- Você está explodindo de raiva.

- Sim. E se ela AMEAÇAR machucar a minha menina, ela vai ter a morte mais dolorosa da vida dela.

- Mas, Ly, o que aconteceu quando ela tentou queimar você?

- Um dia você vai saber, Mellie, um dia.





Continua...

~*~

Dedicado a Lika Nightmare e Shadow Laet que quase me mataram pra eu escrever esse chapter. Deu medo viu?!

Notas:

(1) Pra quem não sabe, quando você coloca sal em cima de um machucado, é um ardor terrível. Usava-se muito isso pra se castigar os negros, na época da escravidão.


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Notas finais do capítulo

Eu prometo tentar atualizar mais essa fic. Já tenho ela continuada no Fanfiction.Net há um tempo, mas acho que tive preguiça de postar aqui x.x'



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