Acordar no outro dia parecia algo impossível, eu queria poder acordar e ver que tudo foi somente um pesadelo, mas não foi bem assim, acordar foi o pesadelo, pois quando isso aconteceu eu fui atingida pelo baque da realidade que me fez ter vontade de nunca mais me levantar, de nunca mais sair do meu pequeno mundo, o meu quarto. Não queria enfrentar as pessoas e as perguntas que fariam, não queria dar explicações, mas não podemos tudo que queremos, então me levanto e vou em direção ao banheiro tomar um banho esperando que minhas preocupações se fossem junto com a água.

Mad uma vez me disse que eu tinha o costume de me vestir de acordo com meu humor, nunca acreditei muito, acredito que devido ao fato de eu nunca ter me sentido tão para baixo, exceto quando meu pai morreu, mas nessa época eu não costumava me preocupar muito com roupas, mas vendo a roupa que escolhi percebo que ela tem razão, nunca havia vestido uma roupa tão escura na minha vida, pelo menos que eu me lembre, mas resolvo não me preocupar com isso, sei que não acharei graça em nenhuma outra roupa. Logo após passo para maquiagem, eu facilmente poderia ser comparada a um panda, meus olhos estão completamente inchados devido ao choro e com bolsas rochas em baixo deles devido a noite mal dormida. Apesar do reboco que passei ainda coloco óculos de sol para que ninguém consiga ver a situação de meus olhos.

Depois de me olhar no espelho uma última vez, desço encontrando toda a minha família reunida na cozinha, tomando café, a partir do momento que notam minha presença seus olhos captam todos os meus passos, mas eu nada falo, simplesmente pego uma maça e sigo para meu carro, ainda sob o olhar atento de todos.

Durante o trajeto até a escola tento não pensar em nada, principalmente em Nat ou Peeta, se não ficaria louca. Ao chegar nem mesmo procuro meus amigos sigo direto para a sala me sentado o mais afastada possível, na ultima carteira para ser exata, sei que muitos vão estranhar já que nunca me sentei aqui, mas eu não devo explicações a ninguém ainda mais hoje que não estou em meus melhores dias.

Não demora muito e as pessoas começam a entrar, como esperado muitas me olham surpresas, mas eu nada falo e continuo quieta, até que ele chega. No momento em que nossos olhares se encontram eu vejo o quão magoado ainda está, mas ele logo desvia o olhar, porém eu continuo a olha-lo, até que ele se senta, bem distante de mim devo dizer, e então eu abaixo minha cabeça, não querendo ver mais nada.

Eu continuei com a cabeça repousada até que o sinal tocou e eu fui obrigada a levanta-la, assim vendo que Clove, Peeta e Annie já estavam na sala e todos estavam sentados próximos a mim, me lançando olhares preocupados, mas eu não os olhei, encarava o nada não querendo dar explicações, as quais eu saberia que teria que dar, o único que não precisaria era Peeta e esse era o único que me olhava preocupado com meu estado, mas nem mesmo isso eu queria ver.

Passei o resto das aulas, até o intervalo, sem encarar os amigos com os quais tinha aula, Clove chegou a me mandar uma mensagem perguntando o que estava acontecendo, a qual eu simplesmente ignorei, mas isso só durou até o intervalo onde eu sabia que seria encurralada.

Assim que eu me sentei todos se aproximaram, com a pergunta escrita em suas testas “O que aconteceu?”, mas eu fingi não ver até que Cato falou.

–Chega Katniss! Você vai falar que merda aconteceu? Será que você não percebe que está deixando todos preocupados? Mamãe nem eu quase não dormimos preocupados com o que teria te feito chorar, isso depois de ficar o dia inteiro sumida. Mas que diabos aconteceu para te deixar assim? Você vai falar por bem ou teremos que descobrir? Será que você não percebe que pode confiar na gente, e te ver assim nos mata por não saber como ajudar? – Cato explode me fazendo me sentir mais culpada ainda, mas eu não estou preparada para falar sobre.

–Não quero falar sobre. – digo encarando a mesa.

–Tem haver com Nathan não tem? – pergunta Annie em sua costumeira voz calma, e eu a olho surpresa, como se perguntasse por que ela acha isso – Ele não está aqui, vocês não se falaram em nenhum momento, e a todo momento se olham pelos cantos, mas sem que o outro perceba, ou esperam isso, mas no momento em que você o olha eu vejo culpa e desculpas, e quando ele te olha vejo magoa, só não sei o por que, então você pode fazer o favor de explicar por que eu não aguento mais isso! Eu estou aflita! – ela diz visivelmente preocupada, e isso me desarma fazendo com que eu solte um suspiro antes de finalmente dizer.

–Eu e Nathan terminamos.

Eu vejo o choque no olhar de todos, exceto Peeta que sabia o que aconteceu e Mad que sabia que essa era a minha intenção, mas mal sabe ela como isso aconteceu.

–O quê?

–Como assim?

–Por quê?

–Eu mato esse desgraçado!

Nem preciso dizer que a ultima foi de Cato, e ele já se preparava para ir até Nathan, vermelho devido à raiva, mas eu seguro seu pulso e negando com a cabeça, mas mesmo assim ele persiste na ideia, até que eu peço por favor e ele cede, mas logo me perguntando o que aconteceu.

–Não era para ser. – digo, não diria que beijei Peeta, Cato o mataria.

–Por quê? – pergunta Finnick novamente.

–Sei lá... Acho que... Não devia ser.

–Mas por que vocês não continuaram amigos? – pergunta Clove.

–Acho que isso seria impossível devido ao que aconteceu. – murmuro, mas Mad, que estava ao meu lado, escuta e me olha confusa, e eu lhe manda um olhar que diz “prometo explicar depois” e ela assente – Acho que não daria certo. – respondo a Clove, e expresso um pedido silencioso para que não façam mais perguntas, o que eles parecem entender e mudam de assunto.

(...)

No final da aula eu mando uma mensagem no grupo que só tem as meninas marcando uma reunião lá em casa antes do ensaio com Peeta que estava marcado ás quatro, eu precisava me abrir com alguém, e ninguém melhor que elas. Todas confirmaram que iriam e pouco tempo depois estavamos no meu quarto para que eu falasse o que ocorreu.

–Então? – fala Mad – Vai abrir o jogo?

Eu suspiro e assinto com a cabeça antes de soltar a bomba.

–Eu e Nat terminamos por minha culpa.

–Como assim? – pergunta Ann.

–Eu meio... que... o... trai. –digo abaixando a cabeça e abaixando o tom cada vez mais, tanto que a ultima palavra é quase inaudível, mas elas escutam e por um momento ficam em completo silencio digerindo a informação para logo depois me olharem chocadas e me bombearem de perguntas perguntando o que havia acontecido, então eu conto tudo a elas, que me escutam sem interromper em nenhum momento.

–E foi isso. – concluo já chorando e logo sendo amparada pelos braços das minhas amigas.

–Oh Kat. – diz Ann.

–Tá tudo bem amiga, a gente tá aqui, pode contar com a gente para qualquer coisa. – diz Mad me apertando mais em seus braços.

–Se quiser eu quebro a cara dele por você, se isso te fizer se sentir melhor. – diz Clo, me arrancando um pequeno sorriso, e olhares feios das meninas, mas logo todas estamos rindo. Só a Clove para dizer algo assim!

–Olha Kat, o que você fez não foi certo, e você sabe e já assumiu o erro. – diz Mad me olhando com cautela – Mas agora é bola pra frente, se vocês tiverem que ser amigos vocês serão, mas não se preocupa com isso agora não, e saiba que para qualquer coisa nós estamos aqui.

–Obrigada meninas, vocês são as melhores. – digo e as abraço.

–Chega de noticia triste! – diz Mad – Credo! Só tá faltando cair um temporal para o dia ficar mais depressivo ainda! Cadê as meninas doidas e animadas que eu amo? – ela diz fazendo todas nós rimos.

–E o que você sugere para animarmos o dia? – Ann pergunta.

–Sinceramente eu não sei. Mas tenho uma noticia boa! – ela diz e se cala enquanto nós ficamos a encarando.

–Fala logo mulher! – diz Clo.

–Eu e Gale... começamos... – ela diz e cada vez eu ficar mais curiosa – namorando. – não é necessário mais que um minuto para que nós começarmos a gritar nos jogando em cima da loira que apenas ri.

Quando todos nos separamos Clove diz.

–To me sentindo uma vela! – ela diz e nós a olhamos confusa – A Ann tem o fim, a Mad agora tem o Gale e a Kat tem o Peeta. – eu já ia protestar, mas ela me interrompe. – Fala serio, Katniss! Até um cego vê que vocês dois são completamente apaixonados. – depois dessa eu resolvo ficar calada – E eu aqui, sozinha. Cadê meu príncipe? – ela diz colocando o rosto entre as mãos fingindo chorar.

–Clo, sejamos realistas, você tá sozinha por que quer! – eu digo e as meninas concordam, enquanto a baixinha me olha atenta a cada palavra – Qualquer um vê que você e Cato se amam e eu adoraria te ter como cunhada! Nem vem dizer que não é verdade, porque, como você mesma disse, “Até um cego vê”. – assim que eu digo ela cora.

–Tá eu gosto dele, ele é lindo! Além de ser super fofo! Mas por que ele iria reparar em alguém como eu? Logo ele, que tem qualquer garota aos seus pés! – ela diz com um olhar realmente triste.

–Clove, é isso que ele gosta em você, você é diferente, você não é fácil, não se deixa cair sem lutar, ele admira você, é isso que faz você ser tão especial para ele. – diz Mad.

Uma vez eu havia tido uma conversa com Cato sobre isso e ele falou que realmente gostava da baixinha, era a única garota que ele realmente havia gostado, porque ela era diferente, tinha sua própria opinião, independente do que os outros pensassem, mas não sabia como chegar nela, e desde então eu venho tentando fazer Clove confessar seus sentimentos, com a ajuda de Mad e Ann, assim a “operação cupido”, como nós nomeamos, poderia começar.

–Certo, mas eu não sei como dizer isso tudo para ele. – ela diz

–Na hora certa tudo acontecerá. – digo olhando para as meninas, dizendo que estava na hora do plano começar, coisa que Clove não percebeu, ainda bem, se não tudo iria por agua a baixo.

Não demora muito para elas irem embora, e Peeta chegar. No exato momento em que abro a porta ela me abraça, um abraço de urso, mostrando toda a sua preocupação.

–Você está bem? – ele pergunta em meu ouvido.

–Na medida do possível. – respondo ainda sem me soltar.

–Me desculpa. – ele pede novamente.

–Você não tem mais culpa do que eu, então não deve ficar me pedindo desculpas. – digo me separando para olha-lo nos olhos, mas nossas mãos continuam unidas.

–Mas eu tive a iniciativa de te beijar, não esperava que ele fosse aparecer. – ele diz abaixando a cabeça.

–Eu podia ter te empurrado, não ter retribuído, sei lá. – digo dando um sorriso sincero, o primeiro desde o acontecido, e levantando seu rosto, enquanto ele me olha atentamente – Mas não foi nada disso que eu fiz, eu retribui não foi? – ele acena discretamente com a cabeça – Então não me peça desculpas por nós dois termos cedido aos nossos sentimentos. – digo dando destaque ao fato de eu ser tão culpada quanto ele.

–Nossos sentimentos? – ele pergunta e eu coro ao me dar conta do que falei e logo abaixo a cabeça para que ele não veja – Ei, não precisa ter vergonha. – ele diz levantando a minha cabeça e abrindo um lindo sorriso – Fico feliz em saber que é reciproco. – ele diz e me beija.

No primeiro momento eu gosto daquela sensação, daquele calor que somente ele me proporciona, mas logo me lembro da situação a qual nos encontramos então me separo gentilmente, o que faz ele me olhar confuso.

–Peeta, eu também fico feliz em saber que é reciproco, mas eu não estou em condições de entrar em um novo relacionamento. Eu acabei de sair de um. Me desculpe. – digo desviando o olhar.

–Tá tudo bem, isso só mostra que você tem respeito, a si mesma e ao Nathan, e isso é uma coisa que eu admiro em você, eu já te esperei por anos Katniss, o que é mais algumas semanas ou meses? Você me fez voltar a minha essência, voltar a ser alguém melhor, e eu sou grato a você, por tudo isso e pela pessoa maravilhosa que você é. Para mim, está ao seu lado é uma honra, algo que poucos tem o privilegio de sentir.

Eu automaticamente coro com o que ele disse, mas algo me chama a atenção.

–Você disse que é apaixonado por mim há anos? – pergunta e agora ele cora, algo que eu nunca tinha visto, mas é muito fofo.

–Acredito que desde os 12 anos. –ele responde sem me olhar, e eu abro um sorriso bobo.

–Por que não me contou antes?

–Acho que tinha vergonha, mas ao ver você com Nathan foi como se eu finalmente percebesse que eu estava perdendo a única pessoa que eu realmente havia sentido algo verdadeiro, e eu não podia deixar isso acontecer, então tomei coragem e me aproximei, e bom aqui estamos nós. – assim que ele diz isso eu me jogo em seus braços.

–Você é o cara mais perfeito que eu já conheci. – mesmo sem ver, sei que ele está sorrindo.

–Você desperta o melhor em mim Katniss.