Música

–Então é para isso que você queria tempo? – ele pergunta irônico, mas da para perceber a sua mágoa.

Lá no inicio do corredor estava Nathan parado nos encarando, mas o que me matava era ver no seu olhar a dor, algo que eu evitei causar, mas não consegui, por que a única coisa que via em seus olhos agora era dor, e isso me quebrou. Por mais que eu não gostasse de Nat do jeito que ele esperava, eu o amava com um amigo, e nada poderia me machucar mais do que aquele olhar.

Ao vê-lo rapidamente me separo de Peeta me dando conta da burrada que estava fazendo, eu não poderia ter beijado Peeta! Não foi justo com Nathan, ele não merece o que está sentindo, mas agora já é tarde demais, não tem mais volta.

–O que você está fazendo aqui? – sussurro, mas mesmo assim ele escuta, e dá uma risada sarcástica.

–Não queria que seu casinho fosse descoberto? – ele diz com uma ironia e frieza que me assustam – Mas mesmo assim eu te respondo, eu tinha vindo aqui buscar minha namorada porque eu queria conversar com ela e falar que eu não queria mais esse tempo, que eu não conseguia mais ficar longe dela, mas olha que bela surpresa eu tive!

–Nat, me escu... – tento falar, mas ele me corta.

–Não Katniss, agora quem fala sou eu. – ele diz e eu abaixo a cabeça – Eu sempre soube que você gostava dele, mas por que você não terminou comigo? Não seria melhor do que eu ter que ver isso? Por que você deixou que eu tivesse esperanças de que você poderia vir a sentir um terço do que eu sinto por você? Por acaso você achava engraçado eu ser corno? Diga-me quanto tempo você vem me traindo? – a voz dele fica cada vez mais fria, e isso me assustava, sem que eu percebesse lagrimas quentes já rolavam pelo meu rosto – Era por isso que você sempre defendia ele nas nossas discussões. Você em algum momento me deu uma chance de verdade? Alguma chance de me amar? Por que pelo que eu vi aqui você nem mesmo deve ter me dado essa chance. Por que me iludiu? Por quê? Por que aceitou namorar comigo se sabia que não esqueceria Peeta? – nesse momento lagrimas também escorriam por seu rosto, em bem menos quantidade que as minhas, mas existiam. Eu percebo que ele queria falar mais alguma coisa, mas desiste e me lança um olhar de decepção e se vira para ir em direção à saída.

Eu fico um tempo em transe, mas logo corro atrás dele, que está no estacionamento, e só agora percebo que está chovendo, mas não me importo, vou atrás dele mesmo assim e seguro o seu braço, que ele logo solta, sem nem mesmo olhar para mim.

–Nat, por favor, me escuta! Deixa eu me explicar! – ele não me olha, mas para de andar – Eu juro que tentei dar uma chance para a gente, mas não deu certo, eu não consegui esquecer Peeta. A nossa ultima briga não saiu da minha cabeça, eu pensava que não era justo ficar com você enquanto eu gostava de outro, nos dois sairíamos machucados dessa situação, por causa disso eu havia tomado uma decisão, eu iria terminar, mas eu não sabia como, por que eu não queria te ver sofrer.

–MAIS DO QUE AGORA? – ele pergunta, se virando, já exaltado.

–Eu nunca planejei beijar Peeta, eu não queria que acontecesse, mas não posso mentir para você se disser que me arrependo, por que não me arrependo. Se teria feito de novo? Provavelmente não, mas aconteceu não tem como voltar atrás. Eu não pensei quando estava o beijando, me deixei ser levada pela situação, pelo sentimento, um grande erro, assumo. Eu só quero que você saiba que eu jamais faria algo para te machucar, a última coisa que eu queria era te fazer sofrer. – digo.

–Mas fez Katniss, e tá feito, não tem mais volta, já é tarde.

–Eu sei, e também sei que você não vai me perdoar tão cedo, mas eu gostaria que isso um dia acontecesse, mas por enquanto eu só tenho uma única pergunta a você, há alguma chance de algum dia a gente voltar a ser amigos?

–É serio isso Katniss? Como você quer que nós sejamos amigos? Você acha que eu conseguiria olhar para você sem me lembrar do que eu vi hoje? Sem me lembrar da dor que eu estou sentindo? Que tipo de amizade seria essa? Que nós não conseguiríamos nem nos olhar sem ressentimento? – ele diz me olhando como se eu estivesse falando uma coisa absurda, mas eu acho que estou.

–Você havia falado que nós seriamos amigos, mesmo que terminássemos. – eu sei que estou sendo absurda, mas estou me agarrando a qualquer esperança de que a nós ainda teríamos um ao outro, não quero perder sua amizade, ele é importante para mim.

–Eu disse, mas não esperava que você fosse me trair. – é a última coisa que ele diz antes de ir, e essas palavras me atingem com força total, fazendo com que meu choro só aumente. Eu o trai, algo que eu não suporto e eu fiz, não consigo imaginar a dor que ele está sentindo, e tudo isso por minha culpa, estou sentindo ódio e nojo de mim mesma.

Sento-me em um dos degraus da escadinha que tem na porta da escola e abraço minhas pernas, chorando cada vez mais sob a chuva, isso tá parecendo cena dos filmes clichês, mas é a minha realidade. Só agora consigo entender o que Mad quis dizer com “algo termine o namoro por você”, esse “algo” foi causado por mim, eu sou a maior culpada.

Não sei por quanto fiquei daquele jeito, a única coisa que me tirou da minha bolha de dor foi a mão de Peeta encostando em meu ombro, fazendo com que eu o olhasse.

–Me desculpe. – ele disse e eu vi o arrependimento em seus olhos, assim como a culpa – Fique bem. – ele diz dando um sorriso triste e um beijo em minha testa antes de se retirar.

Eu poderia culpa-lo, sim poderia, mas o que isso geraria? A perda de mais pessoas que eu amo? Isso com certeza eu não preciso. Além de que a culpa não é totalmente dele, ele tem tanta culpa quanto eu. Tudo bem, ele me beijou, mas eu retribui por vontade própria, eu não tenho por que brigar com ele, sendo que a culpa também é minha, eu estaria sendo injusta com ele.

Sentada no degrau, sem ninguém, completamente sozinha, eu penso melhor chegando à conclusão que eu tenho mais culpa do que Peeta, porque eu não consigo controlar minha maldita boca quando estou com raiva e falo coisas sem pensar, eu jamais deveria ter aceitado o namoro, e nem por ter aceitado eu posso culpar Peeta, porque ele tem o direito de ficar com quem quiser, nós não somos nada para que eu desse chilique! A maior culpada disso tudo sou eu que aceitei começar esse maldito namoro mesmo algo dentro de mim sabendo que isso jamais daria certo!

É como se o carma voltasse porque eu fiz Nat sofrer, mas quem está sofrendo agora sou eu. Pelo menos a lição está aprendida, eu devo aprender a tratar as pessoas que eu amo como quero ser amada, se eu queria estar sempre com Nathan eu devia ter terminado com ele quando tive oportunidade, nós estávamos destinados a acabar eu que quis ficar forçando.

Não faço a menor ideia de quanto tempo fiquei ali, só com minha própria dor, só fui ter forças para ir para casa quando o sol já estava se pondo. Eu levantei e fui em direção ao meu carro, ainda chorando, a culpa me corroía. Nem mesmo sei como cheguei em casa, passei o caminho inteiro imersa em pensamentos, além do meu choro o que dificultava com que eu visse qualquer coisa, mas eu cheguei viva.

Assim que abri a porta vi minha mãe e meus irmãos na sala, com olhares aflitos, Cato andava de um lado para o outro, mas todos pararam o que estavam fazendo assim que me viram, soltando suspiros de alivio, mas logo o olhar preocupado foi estampado em seus rostos ao ver me estado, e olhar para Cato só fez com que eu retomasse minha crise de choro, olhar para meu irmão me lembrava de Nat, já que foi ele que nos apresentou.

–Até que enfim Katniss estava ficando preocupada. – minha mãe diz levantando e vindo me dar um abraço, mas ele logo se desfaz, para que ela me olhasse com preocupação.

–O que aconteceu? – pergunta Cato, mas eu não quero falar sobre isso, então simplesmente saio correndo para o meu quarto, sem dizer nada a ninguém e assim que entro tranco a porta.

Obviamente todos vieram bater a porta, saber o que aconteceu, até mesmo Mad e Gale tiveram aqui, e os outros ligaram, mas eu não queria falar com ninguém, não queria ver ninguém, eu só queria poder sofrer minha dor sozinha, enquanto a chuva ainda caia lá fora.