Naquela noite, Teresa não conseguiu dormir, estava frustrada com tudo. Na manhã seguinte, Lisbon ainda esperava uma ligação, uma mensagem de Patrick para saber o que estava acontecendo, porém não obteve resposta nenhuma. Saiu então para trabalhar, e não se surpreendeu com o fato de que Jane não estava no FBI.

Ao chegar, Abbott a encontrou e pediu que ela o acompanhasse até a sala dele.

Abbott: Teresa, como você percebeu, Jane não apareceu para trabalhar hoje, eu fiquei preocupado com isso, então eu te pergunto, o que aconteceu, tem notícias dele?

Teresa olhou para baixo relutante, depois ergueu a cabeça e disse amargamente.

Lisbon: Ontem a gente... bem, tivemos uma conversa séria... E ele... Ele... Ele simplesmente saiu da minha casa... Então não, não tenho notícias dele.

Abbott assentiu, entendeu a situação e resolveu não tocar mais no assunto. A agente saiu da sala de seu chefe, Lisbon sabia que Jane estava em seu trailer, sabia também que ele não queria enfrentá-la, mas uma hora ou outra, ela sabia que eles deveriam conversar. Foi ai então que ela decidiu, sairia do trabalho e iria visitá-lo, tentaria arrumar a situação dos dois.

Depois de trabalhar em mais um caso, Teresa dirigiu direto para sua casa, chegando lá tomou um banho e resolveu qual roupa iria vestir. Pensou em colocar um vestido, mas mudou de ideia e colocou uma calça jeans e uma camiseta branca de manga comprida. Desceu as escadas pegou a chave e foi para a garagem. Começou a dirigir, então, para o trailer do consultor, a ansiedade a consumia de certo modo, resolveu então, ligar o rádio para tentar relaxar, e por ironia, a musica que estava tocando era More Than Words. Lisbon desligou o rádio. De repente, aquele tortuoso caminho até a casa de Patrick havia acabado, ela chegara ali. Respirou fundo e criou coragem para ir até o trailer, e assim o fez, subiu as escadas que a levavam até a entrada e bateu na porta do Airstream, dez segundos depois o loiro abriu.

Ao vê-lo, Lisbon ficou em estado de choque, o consultor estava péssimo, as grandes olheiras indicavam que ele não havia dormido na noite passada, igual a ela. Jane por sua vez, embora estivesse com uma aparência horrível, tentava manter uma expressão séria, sabia que ela viria ali naquela noite. Teresa foi a primeira a romper o silêncio e os olhares sérios.

Lisbon: Jane, nós precisamos conversar...

Jane a olhou com ternura e a deixou entrar, sem dizer uma palavra.

Os olhos de Lisbon se viraram para o interior do Airstream, a cama de Jane estava bagunçada, o que sugeria que ele tivesse passado o dia inteiro na cama, havia louças sujas na pia, mas um detalhe atingiu os olhos de Teresa, havia uma garrafa de Whisky em cima da mesa, e ela estava pela metade. A raiva chegou aos olhos da morena e ela o encarou, disse então com uma certa frieza, apontando para a mesa onde estava a garrafa.

Lisbon: Então essa é sua nova carreira hein, um bêbado?

Jane frustrado atravessou a sala e se sentou no sofá que estava próximo a mesa, afastou a garrafa e disse então.

Jane: Eu tinha essa garrafa no meu estoque de bebidas, então eu peguei e ... Bem, simplesmente... Comecei a beber.

Teresa não sabia o que fazer, então simplesmente encarou o chão e disse com uma voz amarga.

Lisbon: Você não apareceu para trabalhar hoje... Então Abbott me chamou para conversar...

Jane se levantou da mesa e foi até o balcão da cozinha do trailer, se apoiando nele, e disse olhando nos olhos da pequena.

Jane: É para isso que você veio aqui, para conversar sobre trabalho?

Teresa se aproximou dele, ficando a uns dez passos de distância.

Lisbon: Você sabe muito bem porque eu vim aqui, Patrick.

Ele e a encarou e disse:

Jane: Está bem, bom... Eu acho que você quer uma resposta, então sim, todas as coisas que você disse ontem estavam certas, eu tenho medo dessa relação, e eu realmente me culpo pelo o que aconteceu com você, Teresa...

Ele desviou os olhos dela e começou a encarar a sala ao seu redor.

Jane: A verdade, Teresa, é que eu não posso fazer isso mais. Eu sou ruim para você, sou assim desde o dia em que eu te conheço, eu não mereço você. Eu te transformei em uma mentirosa e quase arruinei sua carreira inúmeras vezes... Eu quase fiz você ser morta por causa da minha arrogância, eu sou egoísta...

O loiro suspirou, sorriu tristemente e disse:

Jane: Eu nem consegui terminar com você, eu apenas saí correndo do seu apartamento, sabendo que você me encontraria e viria até mim, eu sou um covarde, estou tentando te proteger de mim, Teresa...

Os olhos azuis do consultor se viraram para ela, Lisbon o encarou com seriedade e cruzou os braços.

Lisbon: Aqui vamos nós de novo, se eu me lembro bem Patrick, eu te disse a muito tempo atrás que eu não preciso que você me proteja, eu sei cuidar de mim mesma, simplesmente pare, pare com isso Jane.

O loiro desviou o olhar de novo e encarou o chão, respondeu então friamente.

Jane: Você sabe onde é a porta Teresa, por favor, vá.

Ela olhou incrédula para ele. Quando ele ergueu o rosto de novo, Lisbon viu que ele ainda estava se controlando, o mesmo controle que ele teve na casa dela surgiu ali agora mesmo. A morena criou coragem e finalmente disse:

Lisbon: Então é assim, passamos por uma situação complicada e simplesmente acaba? Depois de tudo? Depois de todas as promessas que você me fez?– a agente deu três passos, o consultor a encarava, Teresa via a dor em seus olhos, continuou então – Eu sei que você não quer que eu vá. Você sabe bem no fundo do seu coração que nós, eu e você, somos melhores juntos do que sozinhos, eu sei que você ainda me ama, Patrick.

Jane respondeu irritado:

Jane: Sim, Teresa, eu te amei há muito tempo e ainda te amo, nesse momento, mas isso não muda as coisas, eu já me decidi.

A pequena de aproximou mais, acabando com a distância entre os dois, seu corpo estava bem próximo de Jane, e o consultor não havia recuado. Ela ergueu o queixo do loiro com uma mão, fazendo o consultor olhar diretamente para ela.

Lisbon: Você não vê Patrick? Isso muda tanto as coisas!

Ele não conseguiu falar mais nada, então a morena o beijou ternamente. Incapaz de lutar contra a urgência do beijo, ele a beijou de volta, saboreando e explorando cada parte da boca da pequena mulher, ele a colocou no balcão, fazendo-a ficar de frente para ele. Teresa o enlaçou com as pernas o puxando mais para si. Patrick interrompeu o beijo e tirou a camiseta de Lisbon, voltou a beijá-la com uma certa necessidade, os beijos se tornaram famintos. O loiro atacou o pescoço da agente enquanto ela desabotoava sua camisa. O consultor moveu suas mãos pelo corpo de Teresa, até que então, uma delas alcançou o machucado. De repente ele parou, estava ofegante, se afastou dela e disse:

Jane: Me desculpe Teresa, me desculpe mesmo...

Quando ele conseguiu falar de novo, ele disse:

Jane: Eu falei sério, isso entre nós acabou, eu acho... Acho que você deveria ir agora.

Teresa o encarou por alguns segundos. Ela então soube que embora ele estivesse se controlando, ele não iria ceder facilmente. Ela se sentiu cansada demais, esgotada demais para discutir. Não era justo ela apenas se esforçar para aquele relacionamento dar certo, então ela pegou a sua blusa a vestiu e disse:

Lisbon: Você está certo... Eu... Bem, vou para Chicago visitar meu irmão por algumas semanas, acho que dá tempo de você pegar suas coisas da minha casa. Vou conversar com Abbott para ajeitar minha transferência para algum outro lugar.

Jane a olhou no mesmo instante, chocado e disse:

Jane: Você não deveria se transferir, eu devo fazer isso, fique em Austin, Teresa.

Lisbon: Abbott não vai desistir de você, você é mais valioso para ele do que eu.

Jane, ainda perplexo, falou:

Jane: Eu... Eu vou falar com ele.

Lisbon: Tudo bem, faça o que quiser.

Antes que ela se controlasse, ela deixou escapar:

Lisbon: Jane, se lembre que você quis isso, não eu. Você diz que quer isso, e embora eu não acredite em você, sei que não vou conseguir fazer você mudar de ideia...

Jane: Teresa...

A morena o interrompeu:

Lisbon: Você me quer fora da sua vida, certo, então não me ligue, não me mande cartas, me deixe te esquecer em paz...

A pequena foi andando em direção a porta, antes que ela cruzasse a saída do Airstream, o loiro disse frustrado:

Jane: Só te peço uma coisa Teresa, não fique com raiva de mim, estou te salvando de mim mesmo, e você sabe, assim como eu sei, que nós somos diferentes, muito diferentes, nosso relacionamento não deu certo por isso, por nossas diferenças.

Teresa o encarou pela última vez, lágrimas surgiram em seus olhos.

Lisbon: Não, Patrick, nossas diferenças não foram o motivo. O motivo, Patrick, é que você se odeia tanto, e se condena tanto, que o seu ódio por si mesmo, é maior do que o seu amor por mim.

A agente não aguentou ficar lá por mais nenhum segundo, cruzou a porta e correu diretamente para o seu carro, as lágrimas que escorriam pelo seu rosto se misturaram com a chuva que caía naquele momento. Jane apenas a observou ir embora. Sentou então no sofá do trailer e encarou o vazio, incapaz de fazer qualquer coisa e pensar em qualquer coisa.

Lisbon dirigiu para a sua casa, a tristeza a consumia por completo, quando chegou lá, chorou ainda mais, olhava para os cômodos e se lembrava de tudo, de todos os momentos, de todos os locais onde fizeram amor, de tudo o que passaram lá. Sentia o perfume do consultor ainda em sua pele. Ela não conseguiu dormir. Jane, por sua, vez também não. No trailer, ele pegou a caixinha onde estava o anel de Teresa, imaginado se um dia os dois estariam juntos de novo, imaginando se ele teria, ainda, outra chance de pedi-la em casamento. Ficou, então, pensando nas últimas palavras delas “o seu ódio por si mesmo é maior do que o seu amor por mim.”. Nesse momento as lágrimas o atingiram também. Tudo, absolutamente tudo havia mudado a partir daquela noite.