Rainha dos Corações escrita por Angie


Capítulo 86
Epílogo


Notas iniciais do capítulo

Pela última vez: HOJE É QUINTA, HOJE É DIA DE RDC!
Seis anos... Seis anos com quintas dias de RDC (nem sempre quinta, quase sempre com meses ou semanas de intervalo entre os capítulos hahahah)... E agora estamos aqui. Nem acredito que consegui chegar a esse momento. Esse ano foi muito difícil para mim (e para todos, na verdade), mas ele me deu a oportunidade de finalmente terminar essa fanfic e cumprir uma promessa que fiz pra mim mesma 6 anos atrás. E não poderia estar mais feliz. Colocar um ponto final nessa história era o que eu precisava pra fechar 2020 e começar 2021 com o pé direito.


Só tenho a agradecer a todos que me acompanharam até aqui. Por isso, dedico esse final a vocês. À Ravena/Sofia, que enviou as fichas mais malucas (no bom sentido) e sempre me ajudou de diversas maneiras (desde dando ideia para vestidos até escrevendo alguns capítulos comigo quando eu estava em bloqueio criativo). À Rosalie que me fazia chorar com seus comentários elaborados e que, muitas vezes, como ela mesma diz, era a bandinha na minha mente me incentivando a escrever. À Queen (que era Queen no Nyah pelo menos hahaha) que, mesmo sem acesso ao Nyah, me surpreendeu por ainda acompanhar essa história sem fim. À Alice Zahyr/Gabi que me fazia rir com seus comentários divertidos e que se tornou uma grande amiga fanfiqueira. À Ket que fez a capa que agora saúda vocês toda vez que abrem RDC, me salvando da monstruosidade que eu fiz no Paint (socorro). Aos meus amigos não fanfiqueiros que me aguentaram falando dessa história por anos (e que sempre comentam nos meus vídeos no YouTube!). E, por fim, a todo mundo que leu essa história, independente do momento que chegou aqui (em 2014 quando tudo era ainda muito novo, ou agora, se assustando com o número exorbitante de capítulos). Vocês todos são os meus grandes incentivadores!


Espero de coração que gostem!
Até as notas finais! ♥



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17 anos depois

 

Isabella Aurora se agachou para colocar as malas no chão de pedra. Ao se levantar, observou o ambiente em sua volta. Com o clima ainda morno de fim de verão, as árvores que cercavam o Palácio de Charlottenlund coloriam a paisagem de verde. As flores, muito bem cuidadas pela família, cresciam sem restrições no jardim, trazendo as mais belas cores ao local. Se olhasse para trás, a jovem Princesa de 18 anos poderia ver o interior do Palácio, o lugar que chamava de lar desde que se entendia por gente. Tudo ali parecia familiar. As bicicletas de Eleonora e Frederik — sempre nos lugares mais inconvenientes, para a infelicidade de todos os outros moradores do local — deitadas em frente à porta. A confusão de sapatos que ninguém tinha coragem de arrumar na entrada. Os sofás confortáveis sempre repletos de cobertores, prontos para mais uma noite de filmes em família na sala de estar. Por meses, a confusão daquele local, tão diferente da organizada casa dos avós em Amalienborg ou da casa da tia em Oslo, fazia Aurie contar os segundos para o dia de sua mudança. Porém, deparando-se com o momento com o qual sonhara por meses, já pronta para deixar a Dinamarca, ela não conseguiu controlar a nostalgia. 

Ao olhar ao seu redor, tudo que conseguia ver eram lembranças. À sua frente, conseguiu ver uma Isabella Aurora ainda pequena, com os cabelos ao vento e os pés descalços, correndo ao brincar de pique-esconde com os pais. No mesmo gramado, via, alguns anos depois,  os fartos piqueniques que Eleonora insistia em fazer durante o verão, sempre muito animada em ter algum tempo extra com a irmã mais velha. No banco ao lado da porta, viu sua avó contando alguma história ou ensinando alguma coisa para a neta mais velha. Nas árvores mais ao fundo da propriedade, Aurie e Leopold riam enquanto se desafiavam a alcançar o mais alto dos galhos — o que, na maioria das vezes, terminava com dois pares de joelhos ralados. E, por mais que pudesse ver também as inúmeras vezes que saíra chorando pelas portas de Charlottenlund — por motivos infantis ou não — as lembranças boas se sobressaíam, deixando-a com um sorriso no rosto. 

Perdida em suas memórias, Isabella Aurora foi trazida de volta ao momento presente por uma sensação felpuda familiar em sua perna. Ziggy, o cachorrinho da família, trazia em sua boca um pequeno graveto — provavelmente encontrado em uma de suas aventuras pelo bosque ao lado do Palácio — apontando-o alegremente para a Princesa. Com um sorriso no rosto, ela fez carinho na cabeça do animal antes de atirar o objeto para longe. O border collie de pelos negros e brancos correu pelo pátio, retornando à entrada em velocidade recorde para, mais uma vez, pedir para que a menina arremessasse o graveto.

— Agora não, Ziggy. — Ela afagou sua cabeça com carinho, recebendo como resposta algumas lambidas empolgadas. — Mais tarde você pode brincar com Nora e Fred. Tudo bem?

— Nós podemos brincar com ele agora! — uma voz feminina afirmou, surgindo ao lado de Isabella Aurora. — Temos que aproveitar suas últimas horas aqui, Aurie!

Com os cabelos loiros bagunçados como sempre, a segunda na linha de sucessão ao Trono Dinamarquês trazia uma expressão alegre no rosto. A garota de 11 anos, de olhos castanhos tão parecidos com os do pai, era a pessoa mais animada que Aurie conhecia, sempre levando toda a família à loucura com toda sua energia interminável. Naquele dia em específico, ela trajava um macacão de listras coloridas, e seus cabelos ainda estavam presos em um coque desengonçado — indicando que ela acabara de sair de mais um de seus ensaios de ballet, a única atividade na qual ela conseguia canalizar toda sua energia para encantar a todos. Logo atrás dela, sempre seguindo a irmã mais velha, Frederik vinha saltitante, logo pegando o graveto do chão e arremessando-o. 

— Vamos passear com Ziggy pelo bosque! — Eleonora pediu, implorando com os olhos. Sem obter uma resposta da mais velha, os dois mais novos pegaram as mãos dela, tentando levá-la com eles. — Vamos!

— Não, não, não. — Isabella Aurora puxou os irmãozinhos para perto de si novamente. — O carro já está chegando. Vocês vão ter de esperar até o Natal.

— Estará muito frio para isso no Natal… — reclamou Frederik, o caçula da família, ainda segurando a mão da mais velha. — Nós vamos ter que esperar tanto tempo.

Percebendo que lágrimas se formavam nos olhos do irmãozinho, Aurie se ajoelhou para ficar na mesma altura dele. Carinhosamente, ela passou as mãos pelas bochechas do menino, que fechou os olhos com tristeza. Apesar da grande diferença de idade — quase 9 anos — os dois irmãos sempre foram muito próximos. Por vezes, quando a mãe precisava, com o coração na mão, se ausentar, era Isabella Aurora quem acalmava o pequeno. Quando ela, por sua vez, estava triste por algum motivo, Frederik era sempre o primeiro a perceber, tentando alegrá-la com abraços e com histórias divertidas sobre seu dia. Por mais que, na maioria das vezes, ele estivesse correndo por aí com Eleonora, ele sempre fazia questão de passar um tempo com a mais velha. E Aurie sabia que, para ele, aquela separação seria muito difícil.

— Quando você menos esperar, vou estar de volta. Vai passar muito rápido, você vai ver! — ela afirmou, passando a mão pelos cabelos castanhos do irmão. — Pense em todas as coisas divertidas que você vai fazer até o Natal. Tantas coisas que você vai poder me contar quando eu voltar para casa!

— Nós vamos visitar a tia Ingrid em Oslo, lembra? Astrid e Agnes disseram que elas nos levariam ao parque de diversões! — Em pé ao lado de Isabella Aurora, Eleonora tentou animar Fred. — Depois disso, vamos visitar o vovô e a vovó em Odense. Vamos nos divertir muito!

— Mas tudo seria melhor se Aurie estivesse conosco… — Ele lamentou, colocando os braços ao redor do pescoço da irmã mais velha. — Você tem mesmo que ir?

Isabella Aurora abraçou Freddie com força, logo puxando Nora também. Por meses, ela sonhou com aquele momento. O dia em que finalmente criaria asas para voar para longe do ninho. Ela nunca iria desistir de seu grande sonho, mas toda sua determinação não deixava aquela despedida menos difícil. Ela queria poder levar os irmãozinhos com ela para Londres. Queria poder realizar todos os seus sonhos sem ter de se separar de sua família.

Interrompendo aquele momento de carinho, a música alta e animada que Isabella Aurora utilizava como toque de seu celular assustou os irmãos reais. A mais velha, um tanto irritada, então, se separou dos outros dois lentamente. Ao ver o nome de Esmeralda na tela, porém, o sorriso voltou a seu rosto.

— É Esmie. Vocês querem falar com ela? — Isabella Aurora perguntou antes de atender à chamada. Eleonora e Frederik fizeram que sim com a cabeça, entusiasmados. — Venham, então.

Se amontoando para caber na imagem da câmera, os três irmãos viram a face sorridente da meia-irmã mais velha surgir na tela do celular. Apesar de se parecer muito com o pai — tendo, portanto, muitas das características de Fred e Nora — seus olhos expressivos eram iguais aos de sua mãe, Ophelia. Desde pequena, a mais velha dos quatro irmãos, agora com 21 anos recém completos, fora uma âncora para toda a família. Todas as vezes que os pais brigavam, ela era quem acalmava os ânimos, mesmo sem compreender o que estava fazendo. Quando dois caçulas já haviam levado todos à loucura, era ela quem tinha a paciência para acalmá-los e distraí-los — fora ela quem apresentara o ballet para Eleonora anos antes. E, acima de tudo, era ela quem entendia Isabella Aurora melhor que ninguém. No ano anterior, porém, ela se mudara para a casa dos avós maternos em Bilbao, no Reino Ibérico, deixando um vazio em toda a família, principalmente em Aurie. No dia em que a irmã mais velha se despediu, assim como ela mesma fazia naquele momento, a mais nova chorou muito. Não conseguia imaginar sua vida sem as visitas semanais divertidas de Esmie. Mas, com o tempo, sua ausência se tornou normal, assim como a da própria Isabella Aurora se tornaria dali algumas semanas.

— Você está aí ainda, Bella? — Ela era a única pessoa da família que chamava a irmã mais nova assim. Os outros, em respeito à memória de sua xará e tia, a falecida Princesa Isabella, preferiam chamá-la de Aurora ou de Aurie. Esmeralda se sentia especial por poder chamar a irmãzinha assim. — Pensei que, quando ligasse, você já estaria em Londres!

— Meu voo é só às duas da tarde. Daqui a pouco vou ao aeroporto — a mais nova respondeu com animação. Por mais que, nos últimos dois meses, tivesse repassado seu itinerário à irmã mais velha inúmeras vezes, ela nunca parecia lembrar de todos os detalhes. — Estava me despedindo dessas duas pestinhas aqui.

— Não sei como esses dois vão viver sem você. Ano passado, já duvidei que eles sobreviveriam sem a minha presença. Agora, a casa estará tomada por esses dois doidinhos! — Ela riu e depois voltou o olhar para a outra irmã. — Nora, como você se sente sendo a filha mais velha agora?

— Muito bem, na verdade — a loira afirmou, colocando o braço em volta dos ombros do irmãozinho. — Como irmã mais velha, já reservei o quarto de Aurie para mim. Finalmente não precisarei mais dividir o quarto com Freddie. 

— Não acho que sua mãe aceitará isso — a mais velha retrucou. Laryssa sempre fora a favor de dar uma infância normal para seus filhos, o que incluía dividir um mesmo cômodo pela maior parte da infância e da juventude. — Na verdade, vocês tecnicamente não precisam dormir no mesmo quarto. Há cômodos suficientes em Charlottenlund para todos vocês. 

— Mas papai prometeu que eu teria o quarto de Isabella Aurora quando ela saísse de casa! — Eleonora suspirou alto. — Estava planejando colocar um tablado e uma barra lá para eu poder fazer meus exercícios.

— Eu não estou saindo de casa ainda, Nora. Não me expulse antes da hora. — Aurie empurrou o ombro da irmãzinha de leve. — É só por alguns meses. Logo estarei de volta para estudar na Universidade de Copenhague.

Eleonora deu de ombros. Por mais que soasse bobo para uma herdeira a um dos mais antigos tronos da Europa, o sonho da menina era ter um quarto só para ela. Toda vez que ela visitava as primas em Oslo, voltava para Copenhague apenas contando para seu pai como Astrid e Agnes tinham quartos “lindos e femininos” que elas podiam “aproveitar sem ser incomodadas”, nas palavras da própria Princesa. Isabella Aurora sempre achou graça dos pedidos suplicantes da irmã mais nova, mas nunca poderia entender como era, de fato, dividir o quarto com alguém. Por conta da grande diferença de idade entre ela e os irmãos, ela fora filha única por quase 7 anos. Sendo assim, quando os pais reformaram o Palácio antes da mudança, ela ficou com um grande cômodo ao lado do quarto deles. E, com a chegada dos outros dois bebês, Laryssa e Alexander apenas decidiram que sua filha mais velha manteria o quarto que fora dela desde os 2 anos de idade, sem ter que dividi-lo com as novas crianças — as quais ficaram com o cômodo logo à esquerda do dos pais.

— Esmeralda, que surpresa! — O Príncipe Herdeiro surgiu por trás dos três filhos mais novos, assustando-os. — Pensei que você ligaria apenas quando Aurie estivesse em Londres.

— Parece que, mais uma vez, eu confundi todos os horários, pai. — Pai e filha riram juntas. — Mas foi bom, pelo menos consegui falar com vocês todos também. Estou com saudades. 

— Nós também estamos — respondeu Alexander, colocando os braços ao redor dos ombros de Eleonora e Frederik. 

— Esmie, querida, como é bom vê-la! — Mais um rosto, dessa vez acompanhado por longos cabelos ruivos presos em um rabo de cavalo alto, se espremeu para aparecer na videochamada. Olhando para o lado, Isabella Aurora viu o belo sorriso da mãe, que parecia esconder uma enxurrada de sentimentos. — Como estão as coisas aí?

— Tudo bem, Lary. Mamãe está feliz por finalmente estar de volta ao Reino Ibérico. — Esmeralda sorriu para a madrasta. — Mas você sabe, ela sempre fica com saudade da Dinamarca. Acho que é por causa de um certo alguém…

— Sei bem, sei bem — Laryssa disse, rindo. Ophelia, a mãe de Esmie, depois de passar toda a sua vida se dedicando à filha e a seu emprego no Palácio, começara a namorar uma pessoa na Dinamarca alguns anos antes. A Princesa Herdeira, por ser muito amiga da madrinha de Isabella Aurora, sabia de tudo e não podia deixar de se alegrar com a afirmação da enteada. Queria ver Lia feliz. — Bom, eu sempre espero que seja por minha causa também.

Antes que pudessem continuar sua conversa, o som de pneus passando pela estrada de pedregulhos que levava a Charlottenlund chamou a atenção da família. 

— O carro chegou! — exclamou Frederik.

— Bom, acho melhor eu ir então — constatou Esmeralda. — Boa sorte, Bella. Não esqueça que eu te amo.

Isabella Aurora apenas sorriu, nervosa com a despedida iminente. Em um piscar de olhos, o rosto da mais velha dos irmãos sumiu, fazendo com que, por longos segundos, Aurie apenas encarasse a tela preta e vazia de seu celular sem notar o alvoroço a seu redor.

— Nora, Fred — chamou Alexander. — Ajudem-me a colocar as bagagens de sua irmã no carro, por favor.

Prontamente, os dois pequenos foram, saltitantes, até a bagagem da irmã mais velha, ainda no mesmo local onde ela a deixara mais cedo. Juntos, eles se esforçaram para levantar uma das malas, enquanto o pai levava a outra logo atrás dele. Por mais que mal tivessem forças para aquela tarefa, eles pareciam se divertir — tudo era diversão para eles, característica que Isabella Aurora, com certeza, sentiria falta. 

— Não se esqueça de nos enviar uma mensagem… — começou Laryssa, tentando chamar a atenção da filha mais velha.

— Assim que encontrar tia Saphira no aeroporto — Aurie disse antes que a mãe pudesse continuar. — E quando chegar à casa do tio Henrik. Sim, mãe, eu sei. Não se preocupe.

— Lembre-se, você precisa ajudar Henrik e Lara em casa. Nada de pensar que você está em um hotel, entendido? — Isabella Aurora fez que sim com a cabeça. Sorrindo, a mãe pegou a mão da filha mais velha. — Não acredito que você está nos deixando.

— É só por alguns meses, mãe. Não é como eu nunca mais fosse voltar — a menina apertou a mão da mãe com carinho. — Tenho certeza que Nora e Fred nem a vão deixar sentir saudades de mim. Não precisa se preocupar comigo. Eu vou ficar bem.

Laryssa puxou Isabella Aurora para perto de si, abraçando-a com força e encostando sua testa à dela. Com lágrimas nos olhos, a mais velha colocou a mão no colar da filha, que havia ficado para fora da blusa lisa branca que usava. O pingente que pendia no ponto mais baixo do cordão de ouro era no formato de uma flor de lótus, o símbolo da resiliência, e fora o presente da mãe em seu décimo aniversário. Ter ele perto do seu coração era uma lembrança constante da história da mãe — a qual era, desde quando  Aurie era pequena, parte da sua história também. Ela sabia que a mãe era uma sobrevivente. Sabia o quanto ela tinha sofrido nos meses anteriores à chegada da filha mais velha ao mundo. E, para a jovem Princesa, saber que ela tinha pelo menos uma pequena parte da força da mãe era uma honra.

— Estou tão orgulhosa de você. — Laryssa passou a mão delicadamente pela face da filha. — Parece que foi ontem que eu descobri que você crescia dentro de mim… E agora aqui está você, indo seguir seu próprio caminho em outro país, longe de mim. 

— Eu nunca estarei longe de você, mãe — a garota afirmou, se afastando levemente da progenitora e limpando as lágrimas que ainda escorriam pelas bochechas dela. Logo depois, ela guiou a mão da mãe até o pingente mais uma vez. — Estamos juntas para sempre.

Interrompendo o belo momento entre mãe e filha, Alexander, Eleonora e Frederik voltaram à entrada do Palácio. Antes que Isabella Aurora pudesse propriamente se separar de Laryssa para se despedir do resto da família, ela se viu envolta por mais três pares de braços — dois dos quais nem chegavam a seus ombros. Ao sentir o toque tão carinhoso de toda a sua família, ela finalmente deixou todas as lágrimas que estavam guardadas em seu peito até aquele momento, desfazendo toda a imagem de menina independente e corajosa que mostrara até o momento. Ela acreditava em cada palavra de encorajamento que dissera a sua mãe e irmãos momentos antes — eram só alguns meses, logo ela estaria de volta — mas isso não a impedia de chorar. Chorar por todos os momentos felizes que vivera com sua família e que, com certeza, fariam falta. Chorar para fazer todo o amor que sentia por eles transbordar em forma de lágrimas.

— Eu vou sentir tanta saudade de vocês — ela admitiu em meio aos soluços. — Ainda posso desistir de ir? 

— Você é mesmo filha de seu pai — comentou Laryssa, trocando um olhar cúmplice com o marido e deixando os três filhos confusos. — Ele disse a mesma coisa no dia de nosso casamento.

— Em minha defesa, foi Ingrid quem sugeriu. — Alexander também riu, deixando sua mente se afundar em memórias de um passado quase distante. — O importante é que não desisti, assim como você também não vai. Eu sei que você pode ter medo, eu também tive. Mas, se eu tivesse saído da igreja naquele dia, perderia os melhores momentos da minha vida.

Isabella Aurora sorriu enquanto se separava da família. Desde pequena, ouvia histórias de como o pai era retraído durante a Seleção — competição que apresentou ele à Laryssa. As amigas da mãe na época sempre faziam questão de relatar a insegurança do Príncipe Herdeiro na época, alegando até não saberem como ele fora capaz de escolher Lary como sua esposa. Para Aurie, porém, o pai não era nada do que as madrinhas contavam. Para ela, ele era um homem seguro e de coração bom que tivera coragem o suficiente para escolher criá-la como filha. Para ela, ele era um herói, não o Príncipe hesitante de 20 anos antes. E, por mais que soubesse desde muito cedo que não compartilhava laços sanguíneos com ele, ela sempre seria sua filha.

— Vai dar tudo certo, meu amor. — Alexander beijou a testa de Aurie afetuosamente. — E nós sempre estaremos aqui, caso não dê.

A menina sorriu em agradecimento, sendo logo atacada por seus irmãos mais novos. Ela abraçou os dois, que prometeram ligar todos os dias com novidades — o que, considerando a animação dos dois, seria um presente de grego para a mais velha, que teria de passar horas falando com eles diariamente. Depois de abraçar a mãe mais uma vez, Aurie, então, se dirigiu ao carro, se acomodando dentro dele com o coração pesado.

Quando o veículo já estava pronto para partir, ela olhou para Charlottenlund, sua casa, pela última vez. Da porta da frente, seus pais e irmãos, já saudosos, abanavam para ela. Com lágrimas nos olhos mais uma vez, a Princesa agradeceu silenciosamente por ter uma família como aquela. Apesar de tudo, ela não os trocaria por nada.

 

FIM.


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Notas finais do capítulo

Assim como Isabella Aurora, estou feliz por deixar esse capítulo da minha vida para trás, mas, ao mesmo tempo, tenho medo de fazê-lo.

Por muitos anos, esses personagens aqui foram meu refúgio. Com tantas mudanças pelas quais minha vida passou nesse meio tempo, eles eram minha constante. Eles sempre estavam ali, por mais que eu demorasse séculos pra finalmente escrever alguma coisa. Essa fanfic se tornou parte de mim (quase um traço de personalidade, uma curiosidade que eu sempre fazia questão de compartilhar com meus novos amigos para que eles me conhecessem de verdade) e, para ser sincera, não sei como vou viver sem ela.

É um tanto agridoce.

Por um lado, estou muito orgulhosa de mim mesma por ter cumprido uma promessa que fiz em 2014. Por outro, estou triste por deixar esse universo que criei para trás. Alexander, Laryssa, Juliane, Ingrid, Isabella, Saphira, Mabelle, Elisabeth, Henrik, Christian, Layla e tantos outros estarão para sempre comigo, mas a partir de agora será diferente. Eu não vou mais usar cada segundo livre do meu dia para escrever sobre eles (ou para pensar que tenho que escrever sobre eles, na maioria das vezes hahahaha). Não vou mais pegar no sono (ou ficar acordada até altas horas) imaginando como descrever uma cena. Não vou mais usar o fim dos meus cadernos para anotar ideias para essa fanfic que surgem ao longo do dia.

A partir de agora, vou poder voltar a essa história (finalmente terminada) e lembrar de tudo de bom que ela me trouxe. Vou reler os capítulos e lembrar como amo esses personagens que criei (e que vocês me ajudaram a criar com as fichas). Vou passar meus momentos livres imaginando continuações malucas para a história de Isabella Aurora, Eleonora, Frederik e todos os outros filhos dos meus amados personagens (sim, eu criei a família de TODO MUNDO, todos os filhos, tudo, mesmo sabendo que talvez nunca possa escrever sobre eles). Vou poder contar a meus novos amigos que demorei 6 anos pra escrever uma fanfic, por mais que isso os assuste.

RDC vai para sempre fazer parte da minha vida. E, já diria Isabella Aurora, apesar de tudo (apesar de todos os erros que sei que cometi, apesar de ter demorado tantos anos), eu não trocaria essa experiência por nada.

Obrigada a todos que me acompanharam até aqui!

E para quem está se perguntando: eu não vou parar de escrever, porém, depois de tantos anos escrevendo uma coisa só, talvez eu dê uma pausa para pensar para onde seguir. Talvez vocês me encontrem aqui no Nyah, talvez em outro site. Mas tenham certeza que a fanfiqueira em mim nunca vai morrer!

Pela última vez (nessa fanfic):
xoxo ♥ ACE



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