Rainha dos Corações escrita por Angie


Capítulo 84
Rainha dos Corações | Juliane


Notas iniciais do capítulo

HOJE É QUINTA, HOJE É DIA DE RDC! Demorei mas cheguei! E para o último capítulo antes do epílogo!

Nesse último mês, tive que focar muito nas minhas aulas online (EAD matando todos nós), então não consegui nenhum segundinho extra sequer para escrever RDC. Essa semana, porém, tive umas curtas férias e consegui escrever esse capítulo. Minha ideia inicial era, na verdade, já adiantar o epílogo, mas esse capítulo aqui precisou de mais carinho do que eu imaginava. Por isso, já vou avisando que o ÚLTIMO CAPÍTULO VAI SAIR, mas não tenho previsão de quando ainda. Para quem ainda está aqui comigo, peço para que aguente mais algumas semaninhas para colocar um ponto final nessa história comigo (depois de 6 anos, eu sei... mas vamos chegar lá!).

Alguns avisos: revisei os capítulos 10, 11, 12 e 14 nesses últimos tempos. Nenhum deles tive mudanças drásticas no enredo, mas, como sempre, adicionei mais detalhes e tirei algumas passagens BASTANTES problemáticas (o capítulo do Henrik [14] que o diga).

Agora sobre o capítulo: ele saiu um pouco diferente do que eu imaginava, mas estou satisfeita com o resultado. Achei que terminar (antes do epílogo) a fanfic com um capítulo da Juliane seria bom para amarrar toda a história direitinho, já que começamos (depois do prólogo) com um capítulo da Jujubs. Assim, recomendo que vocês leiam o primeiro capítulo novamente antes de ler esse aqui (eu não revisei esse cap ainda, então preparem-se para uma escrita bem básica, mas prometo que a releitura fará vocês verem o quanto tudo mudou desde o sorteio).

Espero de coração que vocês gostem!
Até as notas finais!

PS: Tem uma matéria nova no blog e, daqui alguns dias, vou postar mais algumas. Como ela é (meio que) um spoiler do capítulo, vou colocar o link nas notas finais!



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Naquela tarde de sol de início de julho, o jardim do Palácio de Charlottenlund — nos subúrbios de Copenhague — transformou-se em um paraíso roxo e cor-de-rosa. Em toda a extensão do vasto gramado do local, estavam espalhados balões dessas mesmas cores, unindo-se às belas flores brancas nas árvores para criar uma atmosfera elegante. Meia dúzia de mesas cobertas por toalhas cor de creme e decoradas com belos arranjos de flores nos mesmos tons do restante da decoração também cobriam parte do jardim, servindo como apoio para as conversas dos vinte convidados daquele evento. Um pouco mais afastado das demais mesas, estavam um pequeno bufê de doces e canapés preparados especialmente para o evento e um bar de refrescos. A arrumação da festa era simples, assim como a homenageada do dia, mas Juliane tinha de admitir: estava tudo perfeito.

A Rainha não conseguia, depois da morte de Isabella — mais de meio ano antes — imaginar que sua família um dia estaria pronta para voltar a celebrar a vida da maneira que faziam naquele momento. Por mais que eles tivessem feito uma pequena e íntima comemoração para o aniversário de Saphira, esta não chegara sequer aos pés das comemorações que costumavam fazer. No ano anterior à Seleção, quando as gêmeas completaram 16 anos, a Família Real organizou um pequeno baile para elas e suas amigas da Academia Real Militar. No aniversário de 19 anos de Alexander, fizeram um banquete para toda a família, incluindo os irmãos e sobrinhos de Christian e Juliane. Para o aniversário de Henrik, convidaram a realeza de diversos outros países para uma festa de vários dias — uma das mais grandiosas que já organizaram. Desde que Bella morrera, porém, comemorar não fazia mais sentido. Depois de perder um membro tão importante, tudo virara cinza e triste para a família, e a cor e a alegria de uma festa pareciam não mais se encaixar em suas vidas.

Algumas semanas antes, Alexander sugerira o evento para comemorar o aniversário de Laryssa, alegando que a mudança de rotina seria boa para todos eles. Apesar de ter concordado com o filho  —  aprovando a comemoração sem muitos questionamentos — a Rainha, até alguns minutos antes de chegar em Charlottenlund, não acreditava que estava pronta para uma festa. Não achava, na verdade, que um dia estaria pronta. Meses haviam-se passado desde a morte da filha, mas, ainda assim, Juliane ainda sentia que existia um vazio em seu coração, que não permitia que ela fosse feliz. Para ela, parecia que estar ali significava trair a memória de Bella. E a consciência de Juliane pesava ainda mais ao saber que Ingrid também se sentia assim. 

Desde que Ingrid voltara da Noruega, Juliane caminhava em ovos. Por mais que a filha do meio estivesse demonstrando significativos sinais de melhora, ela ainda apresentava comportamentos preocupantes, como explosões esporádicas de raiva direcionadas aos mais diversos membros da família. Na última semana, ela acusara Elisabeth de ser uma substituta, de estar ali apenas para tapar o buraco deixado por Isabella, o que causara confusão, já que Lisa sofria com a culpa da morte da prima. Para mais, a atitude da Princesa que concretizava um dos maiores medos da Rainha: que a filha pensasse que eles estavam substituindo a irmã gêmea. A terapeuta — com a qual a jovem Princesa estava tendo sessões semanais havia quase um mês, por sugestão de Laryssa — dissera que eles deveriam ir devagar com Ingrid, que ela demoraria um tempo para passar por todas as fases do luto. Mas, ao ver seu sorriso brincando com Isabella Aurora e Saphira em uma toalha de piquenique lilás mais ao canto da festa, Juliane sentia que tudo ficaria bem. 

Além do mais, Laryssa merecia aquela festa. Todos eles mereciam depois de tantos meses de tristeza. E, além de alegrá-los, aquele evento também servia para dar as boas-vindas oficiais à noiva de Alexander, que naquele momento conversava tranquilamente com outras quatro antigas Selecionadas que foram convidadas para a festa. Para aquele evento, a garota usava um vestido solto cor de creme com pequenas flores coloridas que realçava seus belos cabelos ruivos. Ao seu lado, Mayrelles, Maeli, Emery e Kristal conversavam — rindo discretamente das histórias que uma delas contava. Já Mabelle, também sentada à mesma mesa que as outras antigas Selecionadas, conversava com o Príncipe Said, que acabara de voltar de um curto período de férias em casa no Marrocos. Olhando aquele grupo assim, um estranho nem poderia imaginar tudo que acontecera no último ano, principalmente a Laryssa.

— Quem diria que, um ano atrás, quando decidimos fazer a Seleção, estaríamos aqui hoje. — Christian olhou para Juliane, sentada logo a seu lado em uma das mesas no jardim, acordando-a de seus devaneios. — Nada do que planejamos aconteceu.

— Quanto mais penso nisso, mais me surpreendo com o quanto estávamos errados — ela respondeu, dando uma risada suave. — Esperávamos que Alexei escolhesse uma noiva em o que, dois meses? Antes do aniversário das meninas.

— Sim. Lembro-me bem de quando conversamos com sua avó sobre o evento, e ela afirmou que teríamos uma nova Princesa até novembro. — Ele acompanhou a esposa nas risadas, achando graça de sua própria ingenuidade. — Toda essa situação apenas nos mostrou que não podemos controlar nossos futuros e, muito menos, o futuro de nossos filhos.

Juliane observou as pessoas a sua volta. Sybbie e Althea, suas primas distantes, brincavam de pique-esconde pelo jardim do Palácio, gritando palavras incompreensíveis em grego. Em uma das mesas, sua irmã caçula conversava com Henrik e Elisabeth — sua sobrinha que ela pensava que nunca mais veria.  Mais ao canto, Alexander falava com Christine e Robert, respectivamente a tia e o pai de Laryssa, parecendo muito nervoso. Meses antes, aquela cena seria inimaginável. Nunca pensaria que suas primas gregas distantes morariam em Amalienborg como refugiadas de guerra. Nunca aceitaria que Hannah ficasse hospedada em sua casa por tanto tempo. Nunca pensaria que a filha de sua falecida irmã mais velha estaria morando com ela por tempo indeterminado ou até para sempre. Nunca acreditaria que seu filho primogênito estaria tentando a todo custo impressionar a família plebeia de sua futura esposa. Nunca poderia conceber um futuro como aquele. Mesmo assim, Juliane estava feliz.

— Eu não me arrependo de nada — ela admitiu sorrindo e pensando em tudo que viveram naquele último ano. — Eu nunca pensei que aceitaria isso, mas nossos filhos estão encontrando seu caminho no mundo, cada um de seu jeito. E, por mais que tenhamos perdido Isabella, ganhamos uma nora e uma neta com as quais nunca poderíamos sonhar.

A Rainha olhou para onde a pequena Isabella Aurora estava sendo paparicada pela avó materna e pelas tias. Em apenas quatro meses, ela fora capaz de conquistar todos, sendo mimada por todos os membros da Família Real. Aquela linda menina de finos cabelos castanhos acobreados e olhos verdes escuros era, de fato, uma brisa fresca após uma tempestade violenta. Depois de todo o sofrimento, Isabella Aurora chegara para trazer esperança. E tudo isso porque Alexander foi contra os desejos da mãe e escolheu Laryssa — já grávida de outro homem — como esposa. 

Ao olhar em direção ao local onde a futura Princesa conversava com suas amigas,  Juliane sorriu novamente. Apesar de tudo, ficava feliz em ganhar uma nora como ela, em recebê-la como esposa de seu tão amado filho primogênito. E, a Rainha ponderou, Laryssa merecia saber disso.

— Com licença, querido — Juliane pediu, levantando-se com pressa ao ver a aniversariante se afastando de seu grupo. — Já volto. 

Juliane andou graciosamente até ao bar à esquerda da festa, onde um dos serventes de Charlottenlund preparava deliciosos refrescos com frutas da estação para os convidados. Por alguns segundos, a monarca apenas observou a pequena mesa meticulosamente disposta pelas criadas, coberta com uma toalha branca de renda e com morangos, groselhas, framboesas e cerejas que, em conjunto, formavam uma bela flor. Antes que pudesse realmente fazer um pedido — o que não era sua principal intenção ao ir até ali — porém, ela sentiu a presença alegre de Laryssa a seu lado. As duas mulheres sorriram uma para outra. 

— A festa está linda, Majestade — a futura princesa afirmou maravilhada, olhando para os lados. — Muito obrigada por planejar uma comemoração tão linda para mim. 

— Não precisa agradecer, querida. — disse a mais velha, satisfeita. — E eu já disse que você pode me chamar de Juliane. 

— Desculpe-me, é costume — a outra admitiu, rindo.

— Com o tempo, meu primeiro nome virá com mais naturalidade. — A Rainha afirmou, sorrindo mais uma vez, chegando mais perto da futura nora e esticando seu braço em direção a ela. — Será que eu poderia roubar a aniversariante por alguns minutos?

— Com prazer — Laryssa respondeu, entrelaçando seu braço ao da futura sogra. 

Assim, de braços dados, as duas seguiram a trilha de brita que ligava o jardim mais reservado do Palácio até a frente da construção. Por onde passavam, eram agraciadas pela natureza estonteante do local — que em muito lembrava as regiões mais pitorescas da Dinamarca. Vindo das árvores, agora já cheias de vida, o canto dos chapins-azuis e dos chapins-reais embalava seu passeio, tornando-o ainda mais encantador. 

— Sabe, tenho que admitir que nunca gostei da ideia de realizar uma Seleção para Alexander. Ele é meu filho primogênito, o herdeiro à coroa, e eu sempre pensei que se casaria com alguém de sangue azul — a Rainha admitiu quando já estava afastada o suficiente do local da festa, a fim de que apenas Laryssa ouvisse suas confissões. — Para mim, o casamento sempre foi uma maneira de estreitar laços diplomáticos ou de melhorar o status de uma família. Você sabe, meu casamento com Christian, a princípio, foi por interesses, não só de minha avó, mas também meus. Casar-se com alguém tão nobre e poderoso era a forma que eu encontrara para sair da Baviera e ter um destino mais luxuoso do que o de minha irmã mais velha, Augusta, que na época já estava casada com um nobre da região. O amor não importava muito.

— Bom,  o amor também não importava muito para algumas garotas da Seleção, tenho certeza. — Laryssa riu discretamente, sendo acompanhada pela Rainha. 

— Acho que nesse sentido eu e as Selecionadas mais interesseiras temos muito em comum. Como elas, eu era uma jovem ingênua e com muitos sonhos. Eu queria ser importante, queria ser Rainha. — A mais velha sorriu, nostálgica, apertando uma das mãos da futura nora. — No meu primeiro ano de casamento, fui Rainha por ambição, por poder. Imagine que, antes disso, eu dividia um quarto apertado com minha irmã mais nova, não tinha relevância nenhuma, apesar de ser sétima na linha de sucessão ao trono germânico. Ser Rainha era a realização de um grande sonho. Quando Alexander nasceu, porém, percebi que eu estava construindo uma família, que aquela era minha vida para sempre.

As duas apenas se encararam por um tempo, cada uma perdida em suas próprias reflexões, mas ainda sem parar de caminhar pela pequena estrada de brisa. Juliane pensava sobre todos os momentos de sua vida como Rainha, desde quando chegou à Dinamarca até aquele momento. Em 20 anos de casamento, ela aprendeu muito e se tornou uma pessoa completamente diferente da Lady que deixara a Baviera com tantos sonhos e expectativas. Ao olhar para Laryssa — uma garota tão nova e esperançosa quando um dia Juliane fora e que esperava pacientemente pela próxima fala da futura sogra — todas as lembranças de sua juventude vinham à tona.

— Eu me tornei Rainha, sim, mas também me tornei mãe e esposa, e nunca poderia desempenhar esses papéis sem amor — Juliane parou de falar para observar brevemente uma árvore repleta de flores cor de rosa. — Mesmo assim, até pouco tempo atrás, eu achava que meus filhos teriam o mesmo pensamento que eu quando jovem. Achei que Isabella não se apaixonaria por Arthur porque eu não queria que fosse assim. Achei que Henrik aceitaria casar-se com Luísa sem questionar. Achei que Alexander desistiria da Seleção e se casaria com uma nobre, pois sabia que eu nunca gostei da ideia de entregá-lo a uma plebeia. Mas meus filhos tem paixões, meus filhos amam, e eu nunca poderei controlar isso.

As duas mulheres chegaram à porta principal do palacete. Dali, elas conseguiam observar melhor o estilo neo-renascentista da construção, com fortes influências das arquiteturas renascentista francesa e barroca. Sem dúvidas, era um belo e elegante local, principalmente no verão. Emolduradas pelas folhas verdes das árvores, as paredes brancas com delicados detalhes em amarelo se estendiam até uma pequena cúpula de tijolos azulados. No centro prédio, uma porta acinzentada conectava o lado exterior ao interior, onde diversos criados trabalhavam para suprir a festa do jardim. Por conta do vai e vem dos funcionários, a Rainha e a futura Princesa resolveram se sentar lado a lado em um banco perto da porta de entrada, assim podendo não apenas observar a beleza do Palácio, mas também da natureza a seu redor. 

— Majestade… Juliane, se tem uma coisa que eu entendo é que não podemos controlar nosso futuro. Há pouco mais de um ano, minhas únicas preocupações eram as provas escolares e minhas aulas de piano. Dali a quatro anos, planejava entrar em uma Universidade, estudar direito ou medicina como meus pais e, depois de formada e com um emprego estável, queria começar uma família. Nada disso, porém, se concretizou. — A jovem soltou o ar pela boca com força. — Esse último ano foi repleto de acontecimentos com os quais eu nunca poderia sonhar. Coisas ruins e boas aconteceram. Por mais que eu quisesse que tudo fosse diferente, que aquela tarde horrível em que fui violentada nunca tivesse acontecido, ela aconteceu, e eu não posso mudar isso.

Ao ver lágrimas se formando nos olhos de Laryssa, a Rainha segurou uma de suas mãos afetuosamente. Em pouco tempo de convivência — e apesar da descrença de Juliane no princípio — a jovem já tinha se tornado muito querida para a Rainha. Com os meses, ela acabou descobrindo que a futura nora era, de fato, uma pessoa muito agradável. Juliane apreciava conversar com a garota em seu tempo livre, principalmente quando queria ficar um pouco com a neta também.  

— Eu a admiro muito, sabia? — Juliane se aproximou da futura nora, carinhosamente enxugando uma lágrima que escorria por sua bochecha. — Mesmo depois de tudo pelo que você passou, você se tornou uma mãe extraordinária. Você é uma pessoa extraordinária. Apesar de eu não ter percebido isso quando Alexander nos informou sobre sua escolha, agora eu sei que nós temos sorte de receber alguém como você em nossa família. Só tenho agradecer a Deus por ter apresentado você a meu filho e por ter permitido que vocês dois se apaixonassem.

As duas sorriram uma para a outra, ficando em um silêncio agradável por alguns segundos. 

— Eu também tenho muito a agradecer por tudo que aconteceu desde o momento que cheguei a Amalienborg. Meses antes da Seleção começar, eu pensava que nunca seria feliz novamente, que eu entrara em um poço sem fundo e que nunca mais veria a luz. Principalmente depois de descobrir que estava grávida, nunca pensei que poderia estar aqui. Pensei que Alexander me eliminaria no momento em que descobriu tudo. Mas isso não aconteceu. — A mais jovem deu um sorriso um tanto agridoce, lembrando-se de todos os acontecimentos, tristes ou felizes, daquele ano. — Sou grata por ter conhecido seu filho, e por ele ter me ensinado que eu poderia amar novamente. Vocês todos me ensinaram isso, na verdade. Vocês aceitaram a Isabella Aurora e eu em sua família, nos fizeram parte de sua história. E eu não poderia estar mais grata por tê-los em minha vida. 

— Nós é que somos gratos por ter você. E, agora que Aurora nasceu, pensamos que está na hora de toda a Dinamarca também saber disso e finalmente conhecer você. — A expressão da Rainha se tornou subitamente séria. — Como de costume, pretendemos anunciar o noivado de vocês para o povo com um comunicado oficial, seguido de uma entrevista para as principais agencias de noticias dinamarquesas e de uma breve aparição na sacada de Amalienborg. 

Olhando para o horizonte, Laryssa ficou em silêncio por alguns instantes. Desde que Alexander anunciou sua Escolhida para a família, a jovem garota estava sendo preparada para o inevitável momento em que toda a Dinamarca saberia de sua existência — ou melhor, sua existência como a futura Princesa Herdeira e, eventualmente, Rainha Consorte. Por conta da gravidez da garota, o Primeiro Ministro e todo o conselho real fizeram de tudo para acalmar os súditos já ansiosos à espera do resultado da Seleção para que Laryssa pudesse se adaptar à vida como mãe sem a pressão do público. Mas agora, com Isabella Aurora já com 4 meses de idade, não havia mais como adiar. E, depois de meses treinando-a para o momento em que fosse oficialmente uma Princesa da Dinamarca, Juliane sabia o quanto o anúncio público de seu noivado com Alexander — o primeiro passo em direção ao tão esperado casamento —  amedrontava Laryssa. 

— Não sei se um dia estarei pronta para isso. — A jovem mordeu o lábio inferior, apreensiva. — Durante todos esses meses, criei cenários em minha cabeça sobre o momento em que iremos anunciar nosso casamento para o público. Ainda estou receosa sobre apresentar Isabella Aurora para toda a Dinamarca. Tenho medo de que eles não a aceitem ou que a desprezem depois de saberem minha história. Sinto também que eles irão julgar Alexander por casar-se com uma garota que já tem uma filha que não é dele. 

— Eu já lhe disse que não é preciso se preocupar com isso. Pode ser que demore algum tempo, mas os dinamarqueses eventualmente irão perceber que você é, sim, digna de ser a esposa de Alexei. — A Rainha segurou uma das mãos da futura nora calorosamente. — E sobre Isabella Aurora, Christian e eu decidimos que ela será uma princesa assim como todos os outros filhos que vocês dois um dia teriam juntos. Além disso, ela será a Duquesa de Odense, sua cidade, representando toda a sua história e sua força. Ela pode não ser minha neta biologicamente, e nós nunca iremos ignorar tudo o que você passou antes de e para tê-la, mas ela já faz parte de nossa  família, e ninguém poderá questionar isso. Pode parecer supérfluo, mas dar-lhe um título é nossa maneira de dizer que ela é uma de nós. 

De súbito, Laryssa se aproximou de Juliane, envolvendo seus braços ao redor dos ombros dela. Mesmo com o susto que levara, a mais velha retribuiu o gesto com carinho. A Rainha sentia a jovem soluçar discretamente em seus braços, enquanto ela mesma via sua visão embarcar com as lágrimas que se formavam em seus olhos. 

— Muito obrigada — a ruiva disse em um sussurro, ainda abraçando a futura sogra.

Após longos segundos, as duas se afastaram, voltando a ficar uma de frente para a outra.

— Um último anúncio de nossa parte. — Juliane sorriu para Laryssa, que enxugava as lágrimas discretamente. — Charlottenlund, esse palácio, será de vocês depois do casamento. Apesar de ser próximo de Copenhague, aqui vocês poderão ter uma vida mais tranquila. Aqui há mais espaço para Isabella Aurora brincar e para crescer mais afastada da mídia.  Além disso, Charlottenlund é longe o suficiente para que vocês tenham sua própria vida, mas perto o suficiente para que ainda possam nos visitar sempre. Saphira nunca me perdoaria se eu os mandasse para muito longe. 

— Nós nunca poderíamos afastar Aurora da melhor tia do mundo. —  Laryssa brincou, pegando emprestado da princesa caçula o termo que ela usava para se referir a si mesma, e fazendo a mais velha rir. — Nunca poderia pedir por um lugar melhor para chamar de lar, para criar uma família. Já posso imaginar Isabella Aurora correndo por esse gramado daqui a alguns anos.

As duas mulheres observaram o Palácio em silêncio. Por muitos anos, o local não era habitado durante os meses de inverno, quando os gramados ficavam totalmente brancos com a neve, servindo apenas como residência de verão da Família Real. Quando a Mansão de Eric X terminou de ser construída  ao final do governo do rei homônimo, Charlottenlund foi substituída como refúgio de verão da Família Real Dinamarquesa. Assim, a residência ficara abandonada por muitos anos e provavelmente precisaria de uma grandiosa reforma interna para que se tornasse habitável novamente. Ainda assim, a atmosfera bucólica do local — mesmo estando distante apenas 10 quilômetros de Copenhague — seria apropriada para a pequena família de Laryssa e Alexander. 

— Bom, já afastei a aniversariante de sua festa por tempo demais — A Rainha finalmente disse, voltando o olhar para a futura nora. — Acho melhor voltarmos.

Juntas, elas seguiram pelo mesmo caminho que vieram em direção à festa. Lá, vinda de uma das caixas de som instaladas nos cantos do jardim, uma bela e vibrante canção popular animava os convidados, criando uma atmosfera divertida. As antigas Selecionadas, tendo há muito abandonado a mesa onde conversavam e comiam calmamente, seguiam o ritmo da música ao dançar com Saphira — que ria dos movimentos desengonçados das garotas. Assim como as meninas mais velhas, as pequenas Sybbie e Althea rodopiavam pelo jardim. Logo ao lado delas, Hannah mexia os braços de um Henrik um tanto desgostoso, enquanto ria com Elisabeth. Mais ao canto, Ingrid balançava Isabella Aurora levemente, fingindo também dançar com a pequena menina. 

Quando viu Juliane e Lary se aproximando da festa, Ingrid parou de dançar e se aproximou das recém-chegadas. Ao ver a mãe — como se já a reconhecesse — a bebezinha riu, o que fez o coração das três mulheres mais velhas derreterem. Sorrindo, Laryssa a pegou nos braços. Antes que a Rainha pudesse perceber, a futura nora já se juntara as amigas e a Saphira em sua dança animada. Logo depois, Ingrid também a abandonou, deixando Juliane sozinha para observar, contente, a bela cena que se desenrolava em sua frente. 

Antes sentado com o pai e a tia de Laryssa, Alexander levantou-se assim que a noiva e a filha chegaram à pista de dança improvisada. Aproximando-se de Laryssa, ele a abraçou de leve, tomando cuidado para não esmagar Isabella Aurora. Os dois sorriram juntos quando a pequena — agora confortavelmente posicionada entre os pais — soltou uma risada alta enquanto eles se balançavam. Com carinho, Alexei depositou um beijo primeiro, na cabeça da menininha e, depois, nos lábios da noiva. E Juliane não pode deixar de sorrir também.

Ela não poderia estar mais feliz com o caminho que o destino escrevera para sua família e, principalmente, para seu filho primogênito. No princípio, poderia fazer de tudo para que a Seleção não ocorresse, mas agora não poderia imaginar sua vida sem ela. Tudo que acontecera de bom e de ruim naquele ano a levara até aquele momento, até a alegria que sentia ao ver o filho sorrir nos braços da amada — uma menina doce, mas, ao mesmo tempo, forte que com certeza conquistaria todos os dinamarqueses no momento em que eles a conhecessem. Por mais que, por muitos meses, Juliane não acreditasse que isso fosse possível, Alexei havia encontrado sua rainha dos corações.


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Notas finais do capítulo

MATÉRIA DO BLOG: https://rdccasareal.wixsite.com/fanfiction/single-post/o-noivado-do-pr%C3%ADncipe-herdeiro (pretendo postar mais um anúncio e uma matéria durante a semana, fiquem ligadxs)

Seis anos e oitenta e quatro capítulos depois, Alexander encontrou sua rainha dos corações.

Nem sei o que falar sobre isso...

Acho que vou guardar tudo que eu tenho a dizer pro epílogo, porque sei que, assim que colocar o último ponto final dessa fanfic nos meus documentos do Google Docs, vou cair em lágrimas. Infelizmente, por conta do coronavírus, não vou poder sair para comemorar, mas quem sabe encontremos alguma coisa para fazer online com quem ainda está aqui hahahah

Até O ÚLTIMO CAPÍTULO!

xoxo ♥ ACE



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