Rainha dos Corações escrita por Angie


Capítulo 13
Deveres de uma Rainha | Juliane


Notas iniciais do capítulo

Oi oi, jujubas (chamava a Juliane assim, mas acho tão fofo, então pode ser o apelidinho carinhoso de vocês), sentiram minha falta?
Estudei como uma condenada nassas duas últimas semanas! Quase morri! Mas agora estou de volta com muitas ideias uhuuu!
E esse capítulo é da nossa amada Tia [sogra] Juju! Espero que gostem!!
PS: Recebi uma recomendação, tá certo isso produção?? Tive um ataque quando recebi o recado (...recomentou sua fanfic Rainha dos Corações- Interativas)!! A primeira recomendação da minha vida. Precisava te agradecer, Amberly Schreave bjss!
PS²: A música que aparece no capítulo se chama Für Elise e, como a rainha já fala, é de Beethoven (ele tem umas músicas fantásticas que vão aparecer no decorrer da fic).Para quem quiser ouvir: https://www.youtube.com/watch?v=zO_xjzHzHZ0


[CAPÍTULO ATUALIZADO 05/01/2021 - LEIAM AS NOTAS FINAIS]



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Os raios de sol passavam delicadamente através das cortinas, anunciando o início de mais um dia de final de verão em Copenhague. Sentada em seu escritório no segundo andar do Palácio, a Rainha sentiu uma brisa suave e um tanto gelada — anunciando a chegada iminente do outono na Dinamarca — tocar em seu rosto. Era uma manhã ensolarada e calma, totalmente o contrário das nebulosas e estressantes tarefas que Juliane deveria realizar naquele dia. Por mais que já estivesse sentada à escrivaninha havia horas, ao olhar para a pilha de petições em sua frente, parecia que seu trabalho triplicara. A leitura daqueles longos documentos era infinita, ainda que se esforçasse muito para terminá-la o mais rápido possível. E isso, com certeza, levaria Juliane à loucura em pouco tempo. 

Naquele exato instante, tentava a todo custo concentrar-se em um manuscrito mal feito de um prefeito de uma das cidades dinamarquesas mais distantes. A dificuldade de compreensão da caligrafia do homem era tanta que Juliane teve de colocar seus óculos — os quais não usava havia bastante tempo. Por que um sujeito desses, que geralmente se encarregava apenas de assuntos locais de pouca importância nacional, enviaria uma petição classificada como urgente para os Governantes da Dinamarca?

“Por meio desta carta, pretende-se informar Vossas Majestades e Excelências sobre o perigo da região de Малый Дания (Pequena Dinamarca). Diariamente, militares armados das tropas russas invadem a capital da província, causando mortes e tumulto. Acredita-se que o movimento se trate de uma revolta das cidades russas mais próximas.”

As próximas palavras eram incompreensíveis, provavelmente estavam no dialeto local do recém-conquistado território. Para a Rainha, entender o dinamarquês gramatical já era difícil, visto que não era sua língua materna — tendo apenas chegado a um nível bom de proficiência depois que se casara com Christian, quase 20 anos antes. Assim, compreender a mensagem do dinamarquês-russo exigia o máximo de sua concentração. Concentração que ela mal conseguia alcançar por conta do som de piano vindo da sala ao lado. 

Som de piano?

Desconfiada, Juliane levantou a cabeça a fim de ouvir melhor. Era sim o som de teclas sendo pressionadas, formando uma bela melodia de Beethoven muito familiar para a Rainha e que, desconsideradas as circunstâncias e o horário, teriam sido um deleite para os ouvidos da monarca. Geralmente, os corredores do Palácio estavam vazios, visto que seus moradores permanentes seus filhos sabiam muito bem o quão crucial era o silêncio nas primeiras horas do dia. As Selecionadas, que haviam chegado a Amalienborg apenas alguns dias antes, porém, não conheciam as regras — ou pelo menos não as respeitavam.

A fim de verificar o que estava acontecendo, a soberana levantou-se da cadeira rapidamente, tendo que segurar a saia colorida que usava. Antes de sair, olhou-se no espelho atrás da porta de seu escritório, certificando-se que seu visual estava aceitável para não ser considerada desleixada pelas pretendentes de seu filho mais velho. Assim que chegou ao cômodo ao lado, abriu a porta lenta e silenciosamente, revelando ali a bela sala de música de Amalienborg. Aquele local era, de longe, o mais barulhento dos andares superiores do Palácio. Ali podia-se encontrar todo tipo imaginável de instrumento erudito, desde os grandes e sonoros bumbos — que permaneciam guardados fora de vista — até os conhecidos e melodiosos violinos. Era um paraíso para os amantes da música.

Ao entrar, a Rainha logo se deparou com três garotas devidamente fardadas com os uniformes da Academia Real Militar. Mesmo tendo pouco espaço no pequeno banco em frente ao piano, elas o dividiam com alegria. Uma delas, uma morena de face arredondada sentada entre as outras duas, comandava o instrumento. Ela parecia ensinar as outras, já que fazia movimentos exagerados e articulava notas em voz alta.

Juliane não poderia negar que aquela era uma cena muito bela, principalmente se considerado o contexto no qual ela estava inserida. Acima de tudo, as Selecionadas estavam no Palácio para competir pelo poder e pelo coração de um garoto. Elas tinham consciência de que as demais meninas eram suas concorrentes, porém, ainda assim — pelo que era possível ver naquele momento — tentavam fazer amizades. A Rainha sabia que, se estivesse no lugar delas, jamais conseguiria ter essa mesma atitude.

Por alguns curtos minutos, ela permaneceu encostada à porta em silêncio, apenas apreciando a harmonia dos sons que formavam a doce melodia de Für Elise. É claro que a menina que coordenava o pequeno grupo precisaria de algumas aulas para aperfeiçoar a habilidade, porém sua forma de tocar já estava deveras agradável na percepção de Juliane. As Selecionadas que ouviam também aparentavam estar gostando, pois não notaram a presença da soberana logo ao seu lado. Apenas quando a pianista apertou a última tecla finalizando a música, as três perceberam que não estavam sozinhas no cômodo.

— Majestade — disse a mais da ponta, levantando-se. — Não percebemos a sua entrada, desculpe-nos.

Todas já de pé, as três reverenciaram a Rainha em sinal de desculpa, como se não reparar na presença da mulher mais importante do país pudesse ser um ato a ser desculpado. Juliane deu uma risada maléfica, aproximando-se das meninas. Observou-as, avaliando suas feições ao vivo. Kristal, como leu no crachá, não tinha a expressão tão determinada quanto pensara no dia do sorteio. Emery era mais bonita do que ela imaginara, mesmo não tendo uma beleza convencional. E Anna Carolina, a que tocava... bem, essa nem mesmo chamara sua atenção — tanto na foto do sorteio quanto na vida real.

— A Sra. Vikander não lhes informou sobre as regras do Palácio? — a Rainha perguntou com um ar crítico, juntando as mãos em frente ao corpo.

As Selecionadas negaram, constrangidas. Juliane, então, sentou-se na poltrona à frente do piano com uma calma que provocou arrepios nas garotas. Para as pobres competidoras, qualquer interação assim tão próxima com um membro da Família poderia ser uma faca de dois gumes —qualquer um deles poderia amá-las e falar bem delas para o Príncipe, ou poderia muito bem eliminar qualquer uma das três.

— A fim de manter a tranquilidade, tanto para nós quanto para os funcionários do Palácio, o silêncio geral do Palácio vai até as oito horas da manhã — a autoridade era nítida em sua voz. — Então, como o relógio ainda marca seis horas, vocês estão infringindo uma regra muito importante.

Uma delas quase deixou a boina escorregar de tão baixa que sua cabeça estava. Os rostos já não demonstravam a alegria de momentos anteriores.

“Eu nem estou sendo tão exigente. Elas irão sofrer na semana em que estarão no Palácio o dia inteiro.” Pensou a Rainha ainda observando as pretendentes de Alexander.

— Vão ficar paradas? — questionou ela. — Vocês serão levadas à Academia daqui 10 minutos!

Como se tivessem levado um susto, as meninas arregalaram os olhos. Logo depois, saíram apressadas Enquanto era deixada sozinha entre os instrumentos tão amados de sua família, Juliane as observou deixando a sala. Com certeza, ela teria semanas bastante interessantes com aquelas garotas como hóspedes.

♕♕♕

— Majestade, chegaram algumas cartas para a senhora — anunciou Beáta, a criada assistente da Rainha, inclinando-se para colocar os papéis na mesa da Rainha.

Alguns minutos antes, quando um guarda qualquer aparecera na porta do escritório da soberana para avisar-lhe sobre a correspondência, a jovem servente saíra correndo. Em apenas um minuto, ela voltara, ofegante e com os cabelos desgrenhados, trazendo consigo uma pequena pilha de documentos. Como sempre, a eficiência e a dedicação espetacular da ajudante impressionaram Juliane, que sabia que tinha a seu dispor uma profissional muito competente. 

— Provenientes de onde? — perguntou a Rainha, sem mostrar muito interesse, ainda analisando as petições atrasadas do dia anterior. — Se forem de minhas irmãs, peça para que a Princesa Isabella leia-as, pois não posso me distrair com bobagens sem sentido no momento. Tenho certeza que ler e responder a suas tias tomará muito do tempo ocioso de minha filha.

— Não, Majestade. Elas vêm de sua avó Sybil, da Rainha da Sibéria — respondeu a criada, olhando para as cartas. — E do hospital.

Apenas a última informação conquistou a atenção da Rainha. O Rigshospitalet — ou Hospital do Reino — era o local onde a filha caçula estava internada desde antes do sorteio da Seleção, quase uma semana antes. Apesar de não demonstrar, Juliane se preocupou muito com a chegada daquela correspondência. Geralmente, as cartas do hospital vinham em duas ocasiões: quando o paciente melhorava ou quando piorava significantemente. E, naquele momento, Juliane temia que fosse a segunda opção.

— O que diz a do hospital? — a Rainha questionou, encarando os grandes olhos azuis da servente. — Alguma notícia?

— A Princesa Saphira está melhor e acredita-se que ela estará apta a voltar em poucos dias. — As palavras foram seguidas por um sorriso genuíno. — Ophelia irá visitá-la hoje à tarde.

Um suspiro de alívio escapou da boca de Juliane. Ela sabia que sua filha caçula nunca seria saudável como os irmãos mais velhos, mas sobreviver a mais uma das várias crises já era uma vitória para alguém que desde a mais tenra idade sofria com distúrbios sérios nos sistemas nervoso e respiratório. Um sorriso tímido se formou em seu rosto. Pelo menos uma das inúmeras preocupações de seu longo dia como Rainha Consorte já fora tirada de seus ombros.

Ainda restavam, porém, duas cartas que poderiam arruinar a felicidade momentânea de Juliane.

— O que deseja a Rainha da Sibéria? — perguntou, aflita. 

“Espero que não queira fazer uma visita durante a Seleção”, desejou ela. Uma visita de última hora naquele momento seria, de fato, uma confusão imensa..

— Aqui consta: “Vossa Majestade, a Rainha Odelle da Sibéria irá fazer uma visita para sua amiga, Vossa Majestade a Rainha da Dinamarca, por um período de 7 dias, entre 21 a 28 de setembro, e será acompanhada por sua filha, Vossa Alteza Real a Princesa Herdeira e sua sobrinha, Vossa Alteza a Princesa Yelizaveta.” — anunciou a servente, imitando um guarda cerimonial. — Teremos muito trabalho, Majestade.

Juliane colocou as mãos na face, massageando as têmporas lentamente com os dedos. A Rainha Odelle, que se casara na na capela de Amalienborg no auge da Revolução Siberiana mais de 21 anos antes, sabia muito bem que a residência oficial da Família Real Dinamarquesa estava tumultuada com a chegada das Selecionadas. Então por que motivo visitaria a velha amiga? A realeza era realmente incompreensível.

— Comunique à equipe do Palácio sobre isso, Beáta — disse a monarca, ainda com o rosto entre as mãos. — E agora, me diga qual é a bomba da carta vinda de minha avó.

Beáta não riu da expressão coloquial da Rainha. Era instruída a jamais rir em  frente aos patrões. Assim, para manter o status e a moradia dela e de sua filha de sete anos nos porões do Palácio, ela seguia as regras à risca. Deveria manter-se séria e apenas falar e fazer o que lhe fosse diretamente solicitado.

— A senhora sabe o quanto ela escreve. Tenho aqui mais de três páginas com histórias sobre os filhos e as guerras. Não gastarei seu tempo com informações desnecessárias. — As palavras da moça eram decididas, o que deixou a Rainha muito feliz. — O objetivo de tudo foi avisar que ela também fará uma visita assim que estiver se sentindo melhor. Será acompanhada por suas tataranetas, filhas da Princesa Herdeira Ariadne, as Princesas Sybil e Althea, pretendendo deixá-las aqui como protegidas da Casa Real Schiønning.

— Sybbie e Thea...Mais duas crianças em nossa casa. Avise a Ophelia que ela terá mais trabalho... — Juliane disse, massageando as têmporas. — A velha Sybil perdeu a habilidade de raciocinar!

Irritada, a Rainha suspirou mais uma vez. Levantou devagar, tentando evitar a dor de cabeça iminente. Já sentia o estresse. Todas aquelas visitas a deixariam louca! Teria de cuidar de 35 garotas, duas crianças estrangeiras que não falavam uma palavra em dinamarquês, uma velha maluca, três siberianas e de quem mais resolvesse mágicamente visitá-los naquele mesmo período. Não poderiam dar uma folga a ela?

No caminho até a porta, porém, Juliane foi barrada pela assistente. O braço fino dela batia na altura da cintura da Rainha, que achou o gesto muito deselegante. Uma criada jamais deveria tocar em uma mulher de sangue azul daquela maneira. Entretanto,  Beáta era de confiança e sempre seguia as regras e se estava fazendo aquilo, era por um bom motivo.

— A Rainha Viúva ainda tem juízo e só está protegendo as tataranetas, Majestade — afirmou a criada, sem seu sorriso habitual, abaixando o braço. — A Grécia está entrando em guerra.


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Notas finais do capítulo

E aí? O que acharam?
Ansiosas para a visita das duas mini-divas Althea e Sybil e para a das siberianas?
E o que acharam da repreensão da Rainha para as três Selecionadas?
Uma perguntinha: Vocês querem que eu faça alguma matéria em especial no blog? (atualizei ele esses dias, deem uma olhada: http://rdccasareal.wix.com/fanfiction)
Uma explicação (só para ninguém boiar, já que isso vai estra explicado mais para frente): a Dinamarca, cem anos antes da época da fanfic, conquistou um território no leste da Rússia, que eles batizaram como Pequena Dinamarca ( Малый Дания) e lá se fala um dialeto maluco que mistura dinamarquês e russo.
Até o próximo!
xoxo ACE

[ATUALIZAÇÃO 05/01/2021]

Primeiramente: FELIZ 2021!!

Não faz nem uma semana que finalizei RDC e já estou aqui com mais uma atualização de capítulo antigo! Pelo que eu lembre, foi muito divertido escrever esse capítulo lá em 2014. Lembro-me da minha animação por estar colocando [SPOILER] uma guerra na fanfic. Na época, era muito emocionante! Hoje, questiono um pouco minhas decisões, mas (como fui instruída pela minha fiel leitora, Rosalie) preciso pegar um pouco mais leve com minha eu de 14 anos e não julgar tanto o que eu fazia quando comecei essa história. Então não vou comentar mais nada hahahah

Falando sério agora, foi bastante divertido revisar esse capítulo. Como em muitos outros que andei revisando, não mudei muita coisa no enredo, apenas adicionei alguns detalhes e incrementei a escrita um pouco.

Espero que tenham gostado. Qualquer sugestão, podem entrar em contato comigo!

xoxo ♥ ACE