Memórias escrita por Gabriela Candal


Capítulo 2
Um Buraco Vazio


Notas iniciais do capítulo

Leiam com atenção, agradeço aqueles que leram o primeiro capítulo. E que estão acompanhando, minha história não é nada sem leitores.



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As aulas no Grupo de Dança só voltaram um mês depois.

Nesse tempo eu tive que ir as aulas do colégio. Nos primeiros dias as pessoas me olhavam com tristeza por causa do luto que se instalou, algumas até resolviam falar comigo e eu respondia o básico.

Algumas falavam o quanto aquilo tudo era triste e se perguntavam porque uma pessoa tão linda e carismática como Cecília se mataria. Outras pessoas diziam que era pecado se matar e que agora ela estaria no inferno.

Eu sabia que eles não estavam realmente interessados no que eu estava sentindo, então como eu sempre imaginei e até temi, o tempo foi passando e as pessoas se esqueceram. Estamos no final do mês, e Cecília só é lembrada na sala quando acidentalmente algum professor se esquece e a chama lista de presença. O silêncio se instala em questão de segundos e todos ficam com aquela expressão de luto miserável.

Eu não sou do tipo de pessoa que fica demonstrando tristeza a todos que aparecem então pode ser que para os trinta colegas de sala de aula e mais oito professores, pareça que eu tenha superado.

Porém a verdade, é que minha alma está tentando cada dia entender o porquê de tudo isso, a verdade é que eu não entendo.

A última vez que eu falei com Cecília, estava tudo certo. Ela estava... feliz.

Rompi meus pensamentos e percebi que já tinha chegado onde deveria estar, na porta da Companhia de Dança. Eu não sabia se estava preparada para ir até ali.

Aquele lugar me trazia as piores recordações, tudo que eu tentei evitar por semanas estava ali dentro, eu me sentia como um boi indo até o matadouro.

—Ei, More?

Ouvi uma voz calma e suave me chamar, senti um tom de melancolia antes mesmo de reconhecê-la.

—Danilo?

Forcei um sorriso ao lhe observar, tinha olheiras enormes e estava com o cabelo bagunçado, ele parecia uma versão de mim, só que masculina.

—Puxa, você está péssimo.

Soltei logo de cara e ele deu de ombros.

—Estava aqui pensando em como mentir para você sobre seu estado, mas você foi tão sincera que me sinto no dever de fazer o mesmo, você também está horrível.

Eu ri pela primeira vez em dias e sem pensar muito o abracei.

Algumas lágrimas correram pelo meu rosto e eu sussurrei:

—Estava com saudades.

Eu percebi que ele também estava chorando quando sua voz embargada respondeu:

—Por que não atendeu os meus telefonemas então?

—Me desculpe, eu estava sem paciência.

Ele se afastou, e com um meio sorriso bateu nas minhas costas.

—Da próxima vez vou até sua casa e arrombo a porta, se não me atender.

Subimos para a aula depois de ver o carro de Sandra estacionar, não conseguimos ver ela por muito tempo pois ela foi para a secretaria. Estava de óculos escuros e calça jeans, com os cabelos presos em um coque. Ela também não estava nenhum pouco bem.

Fomos o primeiro a chegar na sala e eu parei antes de realmente por os pés na entrada, as janelas estavam fechadas e meu coração se contorceu ao ver que tinha uma mancha marrom na porta.

Sangue.

Me sentei no canto da sala, com Danilo do meu lado e segurei bem forte o seu braço, encostei no seu ombro e fechei os olhos.

Eu me sentia confortável ali no ombro dele, nós dois compartilhando nossa tristeza, Danilo e Alice eram os meus melhores amigo depois de Cecília e apesar de tudo eu tinha que me lembrar que não ia substituí-la.

Alguns alunos começaram a chegar, primeiro Stefane, depois Maria Clara, Larissa, Isabel e por fim Alice que também não parecia dormir a semanas. Ela nos abraçou em silêncio e se sentou ao meu lado.

Sandra entrou, cumprimentou a todos e se sentou numa cadeira a nossa frente, mas depois decidiu sentar no chão como todos.

—Faz um tempo que não estamos tendo aula por causa do que – Fez uma pausa. —Aconteceu. Eu creio que todos aqui sentiram muito com a perda de Cecília... Foi algo terrível, algo que eu gostaria de nunca ter vivido e ainda me dói muito me lembrar dela.

Era uma ótima aluna, uma das pessoas mais carinhosas que já conheci e é óbvio que ninguém entende o que aconteceu... Mas a verdade é que nunca sabemos o que uma pessoa realmente sofre não é?

Ela fez uma pausa novamente para observar as pessoas e enxugar algumas lágrimas que surgiram, olhei em volta e todos estavam com os olhos molhados.

—A saudade vai permanecer para sempre, e falo isso por mim. Só que hoje temos uma coisa horrível para resolver, é algo que eu nem queria fazer por enquanto mas a direção da companhia me obrigou.

—O que é?

Maria Clara perguntou depois do silêncio que surgiu.

—Não importa o que a direção diga, eu queria falar com vocês, infelizmente vamos ter que substituir Cecília, mas isso vai ser uma decisão nossa. O que vocês disserem está feito e se eles não concordarem, fazemos greve. O que vocês acham?

O clima estava pesado, todos se entreolharam e era bem claro que ninguém queria substituir Cecília

Foi a vez de Alice falar.

—Eu acho que Cecília não ia querer que ficasse um buraco no grupo, uma falta no espetáculo, eu tenho a absoluta certeza que ela iria querer que fosse substituído. Ela... quer que o grupo cresça.

Aos poucos as pessoas foram concordando com Alice, todos apoiaram aquelas palavras.

—Então, levante a mão quem acha que deva substituir.

As mãos foram se levantando aos poucos, e apesar de eu concordar com tudo, esqueci de levantar a mão. Sandra olhou para mim com compaixão e perguntou:

—Morena, por que você não concorda?

Os olhares se voltaram para mim, todos compreensivos, e esperavam que eu falasse porque ali eu sabia que aquele grupo se importava comigo.

—Eu concordo, só estava viajando e esqueci de levantar a mão.

Alguns sorrisos romperam aquele clima e até alguns risos.

—Morena, sempre viajando!

Disse Danilo em voz alta, fazendo alguns rirem.

Talvez as coisas pudessem realmente voltarem ao normal algum dia, pensei.

Não teve aula, apenas aquela reunião e depois todos conversando entre si, falamos sobre Cecília e teve lágrimas mas também sorrimos. Danilo, Alice e eu fomos os únicos que sobramos.

No fim, Alice também se despediu e foi embora.

Danilo se ofereceu para me levar em casa e quando cheguei a porta, me despedi mas assim que entrei, ele falou com voz apreensiva:

—Morena? Eu preciso falar uma coisa.

Eu me virei e o encarei, fazendo com que prosseguisse:

—Eu não posso acreditar que Cecília tenha se matado sem motivos, e não vou conseguir dormir se não conversar sobre isso com alguém.

Nesse exato momento, minha mãe chamou meu nome para conferir se era eu que estava entrando em casa, respondi a ela e logo em seguida falei com Danilo desesperada e ao mesmo tempo feliz por saber que existia alguém com o mesmo pensamento que eu. Enfim eu não estava paranoica.

—Me encontro com você, hoje no Lago, as oito, tudo bem?

Ele concordou e entrei em casa.


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Notas finais do capítulo

Por favor comentem o que acharem! Sou super receptiva quanto a críticas construtivas! Um super beijo! Aguardem o próximo capítulo com grandes surpresas!



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