O Destino do Rei escrita por AKAdragon


Capítulo 6
Conhecidos


Notas iniciais do capítulo

Na casa da Família Eus, após o ocorrido no restaurante...



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“Onde estou?” – Pensava Kilaki Shimizu.

Estava deitada em um lugar onde não conhecia, estava quente e sentia cheiro de sopa. Aos poucos conseguia abrir os olhos. Passara-se dois dias desde que foi machucada pelo homem no restaurante. Sua vista ainda era pouco turva, mas alguém estava ali com ela. Tinha o corpo pequeno e magro, usava um vestido branco e os cabelos compridos eram tão negros que chegavam a ser azulado. Suas palavras eram baixas demais para ouvir, mas tinha certeza que sussurrava algo como uma oração. Se estivesse em uma situação normal, Kilaki certamente teria se assustado, pois a criança ali presente parecia um fantasma, mas sua cabeça ainda doía, como se grandes sinos estivessem tocando aos seus ouvidos e não lhe dava tempo para raciocinar direito.

Outra pessoa entrou.

– Ainda reza por ela? – Resmungou.

– Rezo e rezarei – Concluiu – Sabe disso.

Era muito parecido com a de branco rezando, mas era alto e usava vermelho. Sentou-se ao lado da jovem e ficou analisando de cima a baixo Kilaki. Discretamente ele aproximava o braço para perto da garota de branco. Kilaki esforçava-se para não fechar os olhos novamente. Estava com fome, e o cheiro de sopa a ajudou a ficar sóbria... A sopa. Já não estava mais lá, o rapaz que usava um quimono vermelho saboreava-o aos poucos, como uma criança comendo com vontade a comida da mãe. Seus esforços pra tentar levantar eram em vão.

– Senhora Lilian – Disse uma voz que vinha de fora do quarto, era familiar, apenas não se lembrava de onde – Como esta Kilaki?

– Espero que esteja melhor, ela não se levanta há dois dias - Sussurrou outro.

– Arthemis! – Gritou o rapaz que comia a sopa – Traga mais daquela sopa!

Até então, a criança não parecia ter notado a presença do rapaz, estava concentrada demais no mantra. Ela cessou a oração e encarava-o friamente, sem dizer uma sequer palavra. Nem precisou. Ele emburrou e se desculpou com ela – a pessoa errada para se dirigir o perdão. Virou-se para garota ali deitada ainda inconsciente, mas ciente do que ocorria. Aproximou devagar até ela poder sentir sua respiração. Sussurrou algo em seu ouvido. Após isso pegou a grande tigela que uma vez havia sopa e saiu.

– Sinto muito por isso, Senhorita – Disse a garota. Sua voz era rouca e baixa.

Não se lembrava de nada desde que foi jogada e feriu por causa daquele homem ignorante. Apenas lembrava-se da sensação de alguém de mão frias a carregando, quando se deu conta já estava aqui, nesse quarto de uma casa onde não se saia onde era ou porque estava lá.

Mais tarte alguém novamente chamou.

– Senhora Lilian? - Era uma voz feminina, e abria de relance a porta para espiar o que se passava dentro do quarto - Posso entrar?

A garota não respondeu, mas fez um sinal com a mão que lhe dizia para entrar.

– Obrigado - A mulher entrou e fechou a porta com cuidado para não fazer barulho - Como ela esta?

– Preocupada com sua amiga?

– Um pouco - Se sentou ao lado da garota - Mas talvez eu não seja mais amiga dela - Juliet tinha um olhar triste enquanto observa as próprias mãos evitando olhar para Kilaki.

Lilian não se atreveu a perguntar o porquê, mas Juliet leu sua expressão de curiosidade.

Juliet sorriu para a criança.

– Foi há muito tempo - Começou ela - Nos conhecemos no orfanato, ah, sim, eu perdi meu pais quando nova naquele acidente de ônibus, creio que passou nos jornais. Depois disso ninguém da minha família de habilitou a fica comigo, por isso fui para aquele orfanato...

Lilian assentiu.

– Os pais de Kilaki ainda são vivos, mas eles não tinham condições de cria-la e o juiz a mandou para o orfanato, desde então ficamos amigas, passamos o colegial, a faculdade juntas - Juliet sorria enquanto contava sobre seus momentos felizes com Kilaki, porém esse sorriso foi desaparecendo conforme ela continuava - E então, certo dia… Eu a abandonei… Quando ela precisou de mim, eu a abandonei - Lágrimas ameaçavam a descer de seu olhos.

Lilian a confortou com um abraço.

Kilaki ainda estava inconsciente, portanto não ouviu a conversa ou as lágrimas da companheira - ou não mais companheira. Mas alguém estava por trás da porta, alguém que ouvira toda a conversa.

♠♦♠♦♠

Já estava escuro, e a lua cheia que a agraciava com seu brilho estava em seu ponto mais alto no céu negro. Todos dormiam. Era a chance perfeita.

Não sabia o que aconteceu após o rapaz sair, porque novamente caiu no sono, apenas teve a sensação de que havia sempre alguém ao seu lado. As orações da garota de alguma forma a fizeram se recuperar, dores pararam e agora ela podia se mover livremente. Levantou-se e saia de fininho – ainda cambaleava. Alguns passos até a porta e estaria longe daquele lugar estranho. Mesmo a casa estando em completo silêncio ela sentia como se estivesse sendo vigiada. Sua mão pousava aos poucos na maçaneta da porta e apenas com um pouco de força poderia sair.

– Kilaki... – As palavras saíram em espanto da boca da pessoa que estava ali presente diante da doente fugitiva – Kilaki Shimizu, que bom, já se recuperou? – Sua reação fora o completo oposto do que ela esperava.

– Você… Desculpe, eu - Ela tentava sair, sem êxito.

– Vamos, por favor. Fique.

– Eu não quero, tenho coisas para afazer, meu chefe vai ficar furioso - O rapaz atrapalhava a passagem de Kilaki para a porta - E eu nem ao menos te conheço, agora meu deixe sair!

– Como a senhorita disse: “eu nem ao menos te conheço”, então porque lhe obedeceria? - Ele riu ao vê-la hesitar - Não se preocupe, sou Arthemis, é um prazer conhece-la, Juliet falou sobre você.

Arthemis segurou as mãos de Kilaki e dirigiu adentro da casa.

Não queria, mas foi fraca demais contra ele, seu toque era tão gentil... E tão familiar.

De volta ao quarto, que era o último lugar onde queria estar, ela ficou inquieta enquanto esperava o rapaz voltar. Não o conhecia além de seu nome, mas ele estava sendo tão gentil com ela. Provavelmente se sentia culpado por ela ter se machucado enquanto ele estava por perto e poderia ajudar, ou então estava apenas querendo ajudar mais uma cliente, ou queria passar uma boa impressão, ou estaria obedecendo ordens de alguém. Kilaki já estava perdida em seus pensamentos e não sabia mais o que pensar sobre o rapaz que a ajudara. Se assustou quando uma pessoa atrapalhou seus pensamentos.

– O que uma escoria como você ainda faz em minha casa? – Perguntava aquele por trás do fusumá – Achei que poderia finalmente me livrar de você... Sua presença me incomoda.

Ele era alto, seus cabelos bem cortados estavam completamente desarrumados como se tivesse acabado de acordar, seu quimono vermelho estava amassado e mal amarrado.

Era estranho o modo de como aquele rapaz a deixava... Irritada. A adrenalina em seu sangue apenas aumentava. Ela andou em passos longos e rápidos, próxima o suficiente dele seu corpo acabou se movendo por si só, sendo levado pela raiva que ela estava acumulando dentro de si. Quando se deu conta sua mão já havia se encontrado no rosto do rapaz.

“O que aconteceu?” - Kilaki se pegou surpresa, acabara de bater no rosto de alguém que mal conhecia.

– Senhora Shimizu? - Arthemis voltou - Chefe? O que houve?

– Nada - Respondeu Kilaki com indiferença - Apenas me deixe ir embora.

– Com prazer - O homem se retirava e em pouco tempo sumiu na escuridão do corredor da casa.

Arthemis olhava a cena confuso. Se aproximou de Kilaki e novamente segurou suas mãos, não disse nada, seu olhar falava por ele: “fique”.


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Notas finais do capítulo

Bem, foi o que eu disse: spoiler. Juliet e Kilaki se conheceram há muito tempo, mas depois que Kilaki foi traída por sua amiga elas numa mais se falaram, mas Kilaki reconheceu o nome no crachá "Juliet Julian"



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