O sol começou a incomodar Karina, que logo olhou o relógio do celular e percebeu que já estava na hora de levantar e ir pro treino, Bianca dormia feito uma pedra, também com aquela máscara nos olhos não tinha sol que pudesse incomoda-la. Ela se levantou em silêncio, foi ao banheiro, tomou banho, se vestiu e foi tomar café.

̶ Bom dia Bete! ̶ Disse Karina sorrindo e abraçando a moça, que retribuiu o abraço.

̶ Acordou tarde hoje... Seu pai já foi pra academia. Já sei! Teve aquele sonho bom de novo não foi? ̶ Disse Bete observando a menina corar. ̶ Qual é o nome dele? ̶ Disse Bete olhando Karina ficar igual a um tomate.

̶ D-dele quem? Não sonhei com ninguém Bete! Tô morrendo de fome... ̶ Disse Karina tentando desviar o assunto, ela confiava em Bete mas não tinha coragem de revelar um segredo tão bem guardado.

̶ O café está na mesa, eu vou precisar ir lá no mercado, as cebolas acabaram e seu pai me pediu pra fazer bife. Você sabe como ele fica quando não encontra as cebolas no bife... ̶ Disse Bete que entendeu que ela não iria contar nada sobre o tal menino.

̶ Está bem Bete, eu vou comer e vou lá pra academia. ̶ Disse Karina indo na direção da mesa e se sentando.

̶ Eu volto logo, antes de Bianca acordar eu já estarei aqui. ̶ Disse Bete se despedindo e deixando Karina sozinha com seus pensamentos. Seu único pensamento.

̶ Tchau Bete! ̶ Disse Karina, mas ela já havia fechado a porta. Karina comeu o mais rápido que pode, queria chegar cedo pra ver Duca, e quem sabe o pai dela não tivesse saído, eles poderiam treinar juntos! No ringue! Depois desse último pensamento ela saiu em disparada, pegou o celular e se foi.

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̶ Pai é sério?! Você vai deixar eu fazer o teste pra ribalta??! ̶ Pedro questionou seu pai, que fez um sinal de “sim” com a cabeça, deixando o garoto explodindo de felicidade. ̶ Pode deixar que eu não vou decepcionar o senhor! ̶ Disse Pedro saindo de casa mais eufórico do que nunca. Eles já haviam se mudado pra casa nova, e o restaurante abriria no dia seguinte, ele foi como um foguete em cima do skate na direção da Ribalta, que já tinha anunciado o começo dos testes.

Sabe o que acontece quando duas pessoas, com a cabeça em outro planeta, andam por aí sem ver direito pra onde estão indo? Isso mesmo. Elas acabam batendo em alguma coisa ou em alguém, nesse caso Karina e Pedro se chocaram um contra o outro e caíram no chão da praça.

̶ Ai seu imbecil! Não olha pra onde anda não? ̶ Disse Karina enfurecida por ter sido “atropelada” por aquele desconhecido sem noção. ̶ O que você está fazendo que ainda não saiu de cima de mim? ̶ Disse ficando cada vez mais irritada.

̶ Imbecil? Você que se meteu na frente do meu skate sua louca! ̶ Disse Pedro saindo de cima dela e se levantando.

̶ Você me ATROPELA e ainda tem coragem de me chamar de louca?! Moleque você tá pedindo... ̶ Disse ela quase partindo pra cima dele ̶ Se acalma Karina... ̶ Disse ela pra si mesma, tentando não matar o moleque irritante. Estava difícil de se controlar.

̶ Nossa você é toda esquentESPERA AÍ. Karina?? ̶ Disse Pedro incrédulo, era ela, a sua ex-melhor amiga de infância.

̶ Eu não acredito. É você seu idiota?! Você não tinha sumido?? ̶ Disse Karina também sem acreditar no que estava vendo.

̶ Nossa, você continua “delicada” ̶ Disse Pedro fazendo aspas com os dedos.

̶ E você continua irritante, tagarela... ̶ Disse Karina fazendo o garoto ter a sua confirmação. Era ela mesmo, esquentada como sempre. “Certas coisas nunca mudam” pensou ele.

̶ Parece que alguém aqui esqueceu de passar na fila da gentileza, educação... Puberdade... ̶ Disse Pedro, fazendo Karina se irritar tanto que até o empurrou no chafariz da praça ̶ Ô sua louca o que você pensa que está fazendo?! ̶ Disse Pedro já totalmente encharcado.

̶ Se eu não passei na fila da puberdade, você muito menos. Contiua magrelo! ̶ Disse Karina fazendo uma careta e dando as costas.

̶ Ah você não vai embora não!! ̶ Assim que disse isso Pedro puxou a esquentadinha pelo braço, fazendo ela cair no chafariz junto a ele. ̶ Pronto, isso foi pra te esfriar um pouco esquentadinha! ̶ Disse Pedro sorrindo vendo Karina gritar de raiva.

̶ Ah você me paga moleque! ̶ Disse Karina levantando totalmente encharcada também. Ela saiu bastante enfurecida, como se não fosse ruim o suficiente encontrar aquele idiota, ele ainda tinha que tê-la encharcado? O dia estava tão bom até encontra-lo...

̶ TCHAU SUA ESQUENTADINHA! ̶ Disse Pedro também se levantando do chafariz e indo pegar o skate. Ela continuava a mesma maluca de antes, só que agora, por incrível que pareça, mais agressiva.

Karina pensou em ir pra casa e se trocar mas lembrou que Bete tinha saído e por mais que ela tenha dito que voltaria logo, ela sempre demorava. Nunca ia só comprar cebolas ou qualquer outra coisa, ela sempre voltava com uma feira. Bianca a aquela hora já havia ido pra academia, ficar na secretaria “dobrando papel”, como Karina já havia descrito que era só o que a irmã fazia lá. Ela não tinha a chave de casa, concluiu que tinha que ir pra academia mesmo estando toda molhada, ela só estava rezando pra que a aula ainda não tivesse começado de fato. Rezou em vão, a aula já estava rolando e todos pararam o treino ao ver a menina chegando. As risadas não puderam ser contidas, risadas baixas é claro, ninguém ousava tirar onda com a cara da lutadora, por mais que ela fosse “baixinha”, e não apresentasse nenhuma ameaça, ela era muito boa no Muay Thai, o suficiente para bater em qualquer um que não fosse o Duca, o Cobra ou o seu pai.

̶ KARINAA !! ̶ Disse Gael num grito ensurdecedor. ̶ O que você está fazendo aqui assim toda molhada? ̶ Disse o mestre incrédulo.

̶ P-pai é que um moleque me atropelou e me jogou no chafariz. ̶ Disse Karina o que fez todos se perguntarem “Quem é esse louco? Ou melhor, quem ERA.”

̶ Como assim te jogou no chafariz? Quem é esse moleque? E porque ele fez isso com você? ̶ Disse Gael enfurecido.

Quando Karina ia responder Pedro entrou na academia olhando para o zíper da capa do violão, ele estava fechando a capa quando esbarrou na menina. Outra vez.

̶ Eu não acredito nisso! O que você tá fazendo aqui moleque?! Foi ele pai! ̶ Karina disse, fazendo Pedro ficar confuso, mas ao ver a expressãode raiva no rosto de boa parte dos alunos da academia e do pai da esquentadinha, o mestre, ele entendeu o motivo da acusação.

̶ Foi ela que se jogou na frente do meu skate! E ela que me empurrou no chafariz eu só retribui... ̶ Ele viu o rosto de gael sair de enfurecido para incrédulo, parecia uma piada para o mestre. Karina vivia se metendo em confusão. ̶ Nunca vi garota mais esquentadinha. ̶ Disse Pedro sem chance de falar mais nada pois Karina já havia cortado a sua frase enfurecidamente.

̶ O que você disse moleque? EU VOU TE MOSTRAR A ESQUENTADINHA! ̶ Disse Karina jogando Pedro no chão e, em cima dele, tentando bater no seu rosto. O mesmo se debatia enquanto segurava os braços da menina e gritava para tirarem ela de cima dele. Foi preciso Duca e Zé para tirar Karina de cima do garoto, que ainda estava tentando se levantar.

̶ Me solta! Eu tô calma! ̶ Disse Karina, fazendo os dois lutadores a soltarem.

̶ Já acabou a palhaçada? Você! Se você tiver amor a sua vida moleque some da minha frente agora, e Karina, para de arranjar confusão, você não tem mais 10 anos! ̶ Disse Gael fazendo Pedro subir para a Ribalta. Ele mandou Duca continuar o treino, deu as chaves a Karina que se trocou e voltou pra academia, só por 2 horas pois já estava na hora da escola e ela não podia se atrasar.

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Pedro chegou no auditório, se apresentou e disse que pretendia entrar no curso de música, por mais que os professores estivessem achando graça do fato de que o garoto estava encharcado, eles tinham que concordar ele tinha muito talento pra música. Pedro passou no teste e saiu eufórico, voltou pra casa se trocou e foi pra escola. O ensino médio é coisa séria, ele não podia se atrasar no primeiro dia de aula, não é mesmo?

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Bianca tinha ido até a Ribalta, fez o teste e passou. Ela contou ao pai que sentiu orgulho dela e receio por ela querer seguir a carreira da mãe, ele não queria a sua princesinha naquele lugar que o fez sofrer tanto, mas no fim graças a Dandara ele concordou. Por ele ter sido tão paciente com aquela situação toda (por incrível que possa parecer) ,ela o convidou para ir com ela na inauguração do restaurante de uma amiga muito próxima e ele não teve como recusar.

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João tinha resolvido voltar a frequentar a escola, graças a Pedro. Os dois tinham ido juntos de ônibus demoraram um pouco mas chegaram na hora. Karina já havia chegado e estava sentada na última banca, não que fosse de tirar notas ruins, muito pelo contrário era uma das alunas mais aplicadas. Quando chegaram João e Pedro entraram e o roqueiro não acreditou no que viu no fundo da sala: A esquentadinha. Ele pensou em mudar de turma mas se lembrou que só havia uma turma do 2º ano, além de serem vizinhos eles teriam que se aguentar na escola também, e pra piorar só havia restado uma cadeira atrás e uma ao lado dela. Ele optou por ficar atrás, não queria ver a cara de raiva que ela certamente iria fazer ao vê-lo.

A aula correu tranquilamente, Pedro se surpreendeu ao ver que ela respondia todas as perguntas feitas pelo professor, e João mexia no telefone a aula inteira. Ao serem liberados eles tentaram se ignorar, pra não rolar confusão, mas Pedro começou a falar sobre o ocorrido pra João e Karina o ouviu dizendo “ela é uma maluca total, não mudou em nada. Continua a mesma chata esquentada de sempre, agora eu me lembro porque não senti falta dela”. Ela se sentiu incomodada com aquilo, ela pensava que durante o tempo que ele passou fora ele pelo menos tinha pensado nela, já que eles eram melhores amigos, ela achava que ele gostava dela e dizia aquelas coisas só pra irrita-la. No fundo era mentira, ele tinha sentido falta dela, ficou até feliz em vê-la, mas ela não podia nem sonhar com isso, é claro. Ele sempre teve uma quedinha por ela mas ela só tinha olhos para Duca, foi por isso que ele acabou contando para todos o segredo, para que ela percebesse que Duca não gostava dela e parasse de “fantasiar tanta besteira” como ele costumava pensar. Ele nunca disse isso a ela e com tantos anos longe um do outro ele pensou que esse sentimento tivesse morrido.

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