Caim levantou-se e dirigiu-se a saída: 

—Tenha calma, Caim. -Sugeriu Aleck. -Me disseram que você queria falar sobre as criações divinas... 

Caim continuou andando enquanto ignorava Aleck: 

—Eu sou uma pessoa bastante orgulhosa, mesmo que me interesse bastante por você, se você sair por essa porta, eu posso te dar certeza que não irei segui-lo e a sua Eclipse permanecerá quebrada por todo o sempre. 

Caim parou a apenas alguns passos de distância da saída: 

—Então a Eclipse está realmente quebrada... -Sorriu Aleck confirmando suas suposições. -Sim, eu sei como concerta-la. 

Caim deu um passo para trás e encarou Aleck: 

—Eu não gostaria de ficar em dívida com você mas essa parece ser a única opção... -Disse ele relutante. 

—Se você me procurou pelo nome de C. Keal, você deve ter sido guiado pela minha irmã, então até mesmo um ser humano como ela pode ser útil as vezes... 

—Vá direto ao ponto, cada segundo que converso com você apenas me deixa mais nauseado. 

—Vamos para um lugar mais discreto, precisamos de mais privacidade. -Sorriu Aleck mostrando o caminho. 

Caim seguiu-o silenciosamente até uma sala extremamente organizada com duas poltronas, uma mesa grande e vários armários repletos de papéis. Todo aquele lugar era repugnante e exalava a presença nociva de Aleck. Caim hesitou em entrar: 

—Não se preocupe, eu não mordo. -Sorriu Aleck apontando para dentro daquela sala. 

Caim suspirou e entrou. Os dois sentaram-se em poltronas diferentes e Caim foi logo ao ponto: 

—Vamos começar pelo pior, o que você quer em troca de concertar a Eclipse? 

Aleck riu enquanto balançava a cabeça horizontalmente: 

—Você está muito apressado, vamos deixar isso por último, por enquanto eu quero apenas ver o estado da Eclipse. 

Caim abriu seu inventário e retirou as centenas de pedaços da Eclipse: 

—Uh, isso é bem mau, eu acho que é de se esperar, você lutou contra um pecado e saiu vivo. -Comentou Aleck. 

Cada palavra de Aleck era meticulosamente pensada, fingindo que sabia da luta de Caim contra um pecado, ele fazia Caim revelar informações que confirmavam suas suposições e ao mesmo tempo aprendia cada vez mais sobre ele: 

—Você consegue concerta-la? 

Aleck juntava todos os dados que tinha enquanto tentava entender a motivação de Caim: 

—Ele deseja tanto a Eclipse ao ponto de negociar comigo para tê-la de volta mas ele não deseja apenas derramamentos de sangue, caso contrário, ele teria apenas voltado às linhas de frente com Blut. E ao mesmo tempo, ele parece bastante desesperado...como se não tivesse muito tempo a perder... -Pensava Aleck. 

Ele observou os pedaços da Eclipse enquanto franzia o rosto: 

—Isso é pior do que eu imaginava...Eu vou demorar umas duas semanas ou mais para arruma-la. -Mentiu ele. 

—Isso é muito tempo, três dias é prazo máximo que posso te dar ou não há acordo. -Retrucou Caim. 

—Então ele realmente não tem tempo a perder...isso é interessante...muito interessante... -Pensava Aleck. -Mas porque? Ou melhor, o que ele quer fazer com o tempo que tem? 

Aleck recolheu os pedaços da Eclipse e se levantou: 

—Eu farei o meu melhor mas o mínimo que posso oferecer é quatro dias. -Disse ele numa postura convincente. 

Caim suspirou mas qualquer poder seria necessário e por isso foi forçado a aceitar. Mesmo não sabendo por quanto mais tempo ele seria capaz de suprimir Kurokawa, ele desejava aproveitar cada segundo como se fosse o último. Ele planejou utilizar esses quatro dias para descansar e pensar no que faria a seguir. Aleck providenciou-lhe um quarto e o necessário para sobreviver. 

Caim aproveitou esses dias para explorar a cidade e os seus arredores, caçar alguns animais e monstros e até mesmo desafiar outros jogadores. A euforia de estar entre a vida e morte durante batalhas era definitivamente emocionante mas aproveitar a vida com calma também era. Mesmo que existisse um sentimento dentro de seu peito que o forçava a querer aproveitar  cada segundo como se fosse o último, essa situação onde ele não tinha escolha a não ser esperar pacientemente permitiu-lhe viver a vida com calma, pelo menos uma vez. 

Enquanto isso Aleck utilizava todas as oportunidades que tinha para interagir com Caim e tentar entender a sua forma de pensar. O prazo de tempo de quatro dias serviu apenas para esse propósito, Aleck podia ter concertado a Eclipse em apenas algumas horas caso realmente quisesse. Mas infelizmente o tempo estava próximo de esgotar-se e Aleck ainda não havia entendido qual era o objetivo de Caim. 

Enquanto lentamente sentia uma sensação de desespero percorrer o seu corpo, Aleck foi novamente presenteado pelo destino. Ele estava sentado em sua sala exercendo a sua ocupação quando Caim foi ao seu encontro: 

—Eu vim aqui apenas conferir se a Eclipse está pronta, faltam apenas duas horas para o teu prazo de quatro dias acabar. -Afirmou Caim. 

Aleck preso num beco sem saída pensou se deveria pedir um aumento do prazo para ver se conseguia descobrir mais sobre ele nesse espaço de tempo. Mas isso provavelmente apenas aumentaria a fúria de Caim: 

—Sim, não se preocupe, tudo está quase pronto. -Prosseguiu Aleck com suas mentiras. 

—Você provavelmente vai querer cobrar por isso de alguma forma mais tarde mas mesmo assim eu gostaria de saber, como você sabe tanto sobre as criações divinas? -Perguntou Caim. -Pelo o que eu saiba, elas são algo bastante oculto que alguns nem sabem da existência e eu penso que mesmo Blut não seria capaz de consertar uma. 

Aleck gargalhou em sua mente, Caim ter iniciado essa conversa era nada mais do que um presente divino, era tudo o que ele precisava para retirar dele o último pedaço de informação necessário: 

—Isso é meio que um segredo mas por você eu não me importaria de dizer. -Sorriu Aleck. -Eu conheci Shikimori pessoalmente e ele ensinou-me muitas coisas sobre as criações divinas. 

—Shikimori...ele ainda está vivo? -Perguntou Caim. 

—Isso é algo que está além dos meus conhecimentos, quando eu conheci-o, eu era apenas uma criança e muitos anos já passaram, ele pode muito bem ter morrido nesse tempo. -Respondeu Aleck sinceramente. 

—Entendo...obrigado. -Agradeceu Caim enquanto ia se retirando. 

—O que você pretende fazer depois disso, Caim? -Perguntou Aleck estendendo a conversa. 

—Eu sinceramente não tenho nenhum motivo para te responder. -Respondeu Caim. -Mas como você respondeu a minha pergunta aparentemente com sinceridade, eu farei o mesmo. Não sei, talvez volte para as linhas de frente com Blut e tente acabar essa guerra nos próximos dias. 

Aleck sentia que se aproximava cada vez mais de seu objetivo e por isso prosseguiu com a conversa: 

—Mesmo você provavelmente não seria capaz de tal, eu te ofereceria um cargo aqui na cidade mas você não parece ansiar por poder. Talvez você quisesse a glória de ser o herói da guerra? Não, isso é muito simples. De qualquer forma, você pode ir embora, eu te chamarei quando a Eclipse estiver pronta. 

Caim deixou aquela sala com um olhar profundo em seus olhos e voltou para o seu quarto. No momento em que Caim afastou-se o suficiente, um sorriso distorcido surgiu no rosto de Aleck: 

—Eu achei! Eu achei a motivação de Caim!!! -Gargalhava ele incontrolavelmente. 

Após alguns segundos de euforia, ele acalmou-se e começou a ajeitar todas as informações que tinha reunido, sem nunca tirar aquele sorriso desprezível de seu rosto: 

—Caim não tem muito tempo sobrando, ele provavelmente morrerá em breve ou no mínimo perderá a liberdade de agir como quiser e por isso ele quer fazer algo memorável com o pouco tempo que tem. Ele quer provar o seu valor como ser humano para si mesmo e para todo o mundo, ele quer ser lembrado por todos...que patético... 

Aleck não conseguia controlar sua felicidade e cada vez que tentava pensar sobre o assunto voltava a rir exageradamente. Mesmo que tentasse se controlar, sua gargalhada sinistra ainda podia ser ouvida por aqueles que passavam a porta de sua sala: 

—Parece que alguma coisa boa aconteceu... -Comentou Caleb passando com uma papelada. 

—Eu tenho fome, Caleb... -Reclamava Shizu. 

—Nem comece...você comeu quinze minutos atrás... 

—Eu vou tirar anos da sua vida... 

—Tudo bem...eu arrumo comida para você... -Suspirou Caleb. 

Algumas horas se passaram e enquanto Caim pensava sobre a sua vida em seu quarto, algumas pessoas vieram importuna-lo. Essas bateram na porta, avisaram que a sua amada espada estava pronta e que ele deveria ir até a sala de Aleck. Ele dirigiu-se para lá na maior velocidade possível. 

Aleck estava agindo normalmente, arrumando alguns papéis em sua secretária. Caim aproximou-se e perguntou sobre a Eclipse, Aleck olhou-o nos olhos e tirou a espada de baixo da mesa: 

—Eu posso dizer que a espada é essencialmente a mesma mas eu não posso ter cem por cento de certeza, mesmo que eu tenha feito o meu melhor e tenha conferido que todas as partes estavam presentes. -Comentou Aleck. -Pelo fato de possuírem uma alma, elas conseguem se adaptar e regenerar sozinhas por isso eu não acho que vá haver problemas. 

Caim aproximou sua mão lentamente de Eclipse e sentiu que novamente havia vida ali: 

—Elas devem estar bem irritadas comigo... -Suspirou ele. -De qualquer forma, eu tenho que te agradecer. Mas agora vamos a parte que te interessa, o que você quer de mim? 

Aleck segurou-se para não esbanjar seu típico sorriso nojento: 

—Por enquanto nada, eu irei te contatar no futuro. 

Caim deixou escapar um pequeno sorriso enquanto se dirigia a porta: 

—Felizmente, eu provavelmente não durarei até você tentar me contatar... -Sussurrou ele para sí mesmo.  

Enquanto Caim ia embora, Aleck começou a conversar com uma de suas assistentes propositalmente alto o suficiente para que Caim conseguisse ouvir: 

—Não sei se vai funcionar, é muito arriscado e poderia mudar a história de uma cidade inteira.  

Caim parou de caminhar e lentamente mordeu a isca de Aleck: 

—Algo que pudesse mudar a história de um cidade...A glória de ter o meu nome impresso na história... 

Caim caminhou na direção de Aleck: 

—Do que você estão falando? 

—Não se preocupe, não é nada importante, você pode ir embora. -Disse Aleck deixando Caim cair cada vez mais fundo em sua armadilha. 

—Eu estou interessado, considere isso como a minha forma de recompensar a sua ajuda. 

Aleck de um segundo para o outro deixou um ar sério dominar o seu rosto: 

—Isso é um assunto muito importante e confidencial se você quiser ouvir mais detalhes terá que se comprometer a ajudar, aceita? 

—Aceito! -Afirmou Caim sem pensar duas vezes. 

—Tão inocente...você mordeu a isca tão facilmente... -Pensava Aleck se deliciando com a situação. 

Ele ordenou que sua secretária deixasse os dois a sós e que impedisse todos de se aproximarem daquela sala: 

—Bom, agora que estamos a sós. Se você parar para pensar, todos os grandes impérios e seus respectivos grande imperadores tiveram início na morte do líder anterior. -Disse Aleck. -E a pessoa que tira a vida de um grande imperador imediatamente terá o seu nome cravado na história e receberá um pedaço da glória daquele imperador. Você percebe a importância dessa pessoa? 

Caim suspirou: 

—Isso parece interessante...mas pelo amor de deus...você podia ir direto ao ponto? 

—Eu até iria mas dessa vez eu realmente preciso de fazer você compreender algo. A pessoa responsável pelo fim de um império é aquela responsável por todas as mudanças que virão a seguir. Você entende o impacto dessa única pessoa na história? 

—Vendo por esse ponto de vista, essa é realmente uma posição importante, tão importante quanto a posição do próximo imperador... -Concluiu Caim. 

—Exato! -Afirmou Aleck. 

—Claro que não, seu retardado. -Pensava Aleck simultaneamente. -O nome do assassino provavelmente apenas se perderá na história independente do que ele faça, enquanto o próximo imperador terá sua glória limitada apenas às suas capacidades. 

Aleck fez uma pequena pausa para recuperar o fôlego: 

—Nós vamos matar o rei de Euler enquanto a batalha final contra Kepler acontece e será você o responsável pelo assassinato. 

—Você é louco...trair Euler e assassinar o rei? -Falou Caim perplexo. -Eu não consigo pensar em algo mais genial...eu aceito...