A Minha Vida Alheia escrita por Lari


Capítulo 2
Preso em uma porta giratória




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Não consegui dormir, então me levantei antes da hora e fui tomar banho. Quando sai pela porta do banheiro me deparei com a tinker pedindo ração. Fui para meu quarto e me troquei, desliguei a televisão e arrumei o material.

– Não posso me esquecer do vaso que pintei para aula de artes. - me peguei pensando.

Peguei o pote de ração da tinker e coloquei um pouco na tigela dela, raramente acontece isso mas, com calma e sem correria, peguei minha mochila e desci a escada devagar, desta vez consegui abrir o portão sem ter que chutar, socar, empurrar e xingar. Observei o nascer do sol enquanto caminhava pela rua, desci a escadaria que há no caminho e passei novamente pela senhora da rede. Ao subir no ônibus notei que havia apenas um acento vago, não gosto muito de ocupar um lugar quando tem poucos vagos, porque sei que logo algum senhor ou senhora irá entrar no ônibus, e como sou jovem, sempre me levanto para os mais idosos, mas naquele dia estava muito cansada por não ter dormido e ainda tinha a questão do vaso da aula de artes, que poderia quebrar na mochila, então resolvi me sentar.

E afinal, que azar o meu, no ponto seguinte uma senhora entrou no ônibus e eu me levantei para que ela se sentasse. Cheguei no ponto de ônibus, subi a passarela e encontrei minhas amigas.

No último tempo de aula, tivemos uma palestra de dst (doenças sexualmente transmissíveis), foi uma aula bem interativa e eu até me peguei rindo, pois teve um brincadeira que chamamos de "batatinha quente" com um vibrador e a pessoa que estivesse com o vibrador quando a música parasse tinha que colocar um preservativo no Latrel (O nome que demos ao vibrador, inspirado no filme "As Branquelas") e depois teria que responder uma pergunta sobre o assunto.

Assim que acabou a aula fui para o ponto de ônibus e peguei o 321 para a prefeitura, peguei mais um ônibus para UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), é la que faço um curso para jovens que querem ou precisam de um emprego. A aula acabou 17:10 desta vez. Mais um ônibus se foi e peguei o último do dia .

"Stuck in a revolving door
Caught in our race for sure
Just look into your eyes
Now do we have the strength to survive if I live here..." - S.O.J.A

Minha música foi interrompida pela sirene da ambulância que passava ao lado do ônibus, tirei meus fones e observei o engarrafamento. Tentei imaginar alguém naquela ambulância, alguma pessoa precisando de cuidados, coloquei meus fones de volta e fui interrompida novamente, desta vez por uma mochila preta que bateu fortemente no meu braço, olhei pro lado e notei um garoto tatuado, com uns sete piercings e fones que gritavam em seus ouvidos.

Quando chegamos na linha vermelha ele se sentou ao meu lado, e consegui sentir o cheiro de cachaça e maconha, tirei novamente meus fones pois a bateria do meu celular já estava acabando, escuto uma música de rock qualquer e olho de lado o garoto atendendo o telefone, ele chama a pessoa do outro lado da linha de tio, mas não parece tratá-lo com muito respeito.

– O que você quer tio?

Ele falou mais um pouco e desligou sem ao menos dar tchau, acho que ele notou que eu estava prestando atenção, mas ignorou, pegou sua mochila e foi embora, esbarrando em todos mais uma vez, quando cheguei pro lado senti algo como quando deito no controle remoto da televisão, então peguei e vi que era um celular, o mesmo que estava com o garoto.

Surpreendentemente estava sem senha, me senti mal por estar mexendo, mas de qualquer jeito eu precisava olhar na agenda o número de algum parente para tentar devolver o aparelho. Assim que entrei em registro de chamadas, um tal de fumacinha o chamou no aplicativo whatsapp, eu ignorei e cliquei em "tio joão", liguei umas quatro vezes, mas chamou e ninguém atendeu.

Como sou uma garota muito curiosa, fui dar uma olhada no whatsapp, e a menssagem do fumacinha dizia:

– Desenrola uns beck pra mim amanhã parceiro.

Eu li quase a conversa toda deles dois, me senti mal mas ninguém ficaria sabendo mesmo. Então tentei ligar para o tio dele mais uma vez, quando escutei uma voz rouca:

– Alô?

– Alô, meu nome é Lana e eu achei este celular no ônibus, então procurei a última ligação e aqui diz que você é o tio do dono do aparelho, certo? - perguntei para o senhor que estava na linha.

– Tio? É o que o lipe botou ai? hahaha, pensei que quem criava era pai, mas enfim, ainda estou surpreso dele colocar tio ai. - respondeu a voz rouca

– Ah, então o senhor é mesmo o tio dele? - confirmei

– Sou sim minha jovem, me desculpa mas não posso lhe ajudar com isso. - disse o senhor.

– Como assim? E o celular do seu sobrinho? - perguntei.

– Não sei, não o vejo a mais de um ano. - disse ele com a voz tremula.

– Ah, entendo. - digo desanimada

– Não, acho que não entende não. - responde o ele.

– Então me explique, por favor.

O senhor então me explicou toda a história da relação entre ele e o seu sobrinho. Basicamente seu lipe se meteu com pessoas erradas, começou a usar drogas e se meteu em encrenca, foi espancado no meio da rua em plena madrugada, então ele fugiu por uns tempos, sem avisar nada ao único parente vivo que ele tinha, seu tio Jô.

Então quando perceberam seu sumiço começaram a procurar pelo Jô, para pagar pelo que o lipe não cumpriu, e como Jô não tinha dinheiro suficiente, os caras estavam querendo tirar sua vida para não perder a reputação pelas ruas. Então Jô também fugiu com o resto do dinheiro que tinha, e com previsão só de ida.

Agora totalmente separados um do outro, Jô entrou em depressão e lipe ainda estava metido com gente que não prestava, e já estava muito dependente de variados tipos de drogas. Lipe parecia preso em uma porta giratória.

Lhe perguntei se sabia mais ou menos onde lipe morava, para ver se conseguia entregar-lhe o aparelho pessoalmente, e ele me deu o último endereço que lipe morou, sem a certeza de que ele ainda estava lá.

Cansada demais pensei em fazer isso no outro dia, mas não teria tempo então parei o ônibus, peguei outro ônibus que ia em direção ao endereço dito por Jô. Toquei a campainha e observei a mulher semi-nua com o cabelo bagunçado me atendendo na porta. Perguntei se havia algum "lipe" ou Felipe morando lá.

– Ele não mora aqui todos os dias não - disse ela

– Ah sim, mas pode... - fui interrompida.

Novamente sinto uma mochila preta parecida com a dele me empurrando ao entrar na casa, sem ao menos um pingo de educação. Sem perceber, estou chamando por ele:

– Ei, você! Lipe né? - pergunto rapidamente

– Que foi? Ah você é a curiosa do ônibus. Sai daqui. - responde ele

A mulher da porta riu e fechou a porta na minha cara.

Depois de um dia cansativo, eu tento ser generosa e é isso que acontece? Desisto, peguei mais um ônibus e fui para casa. e de madrugada escutei uma música de rock e acordei assustada, era o fumacinha ligando, então atendi.

– Ta com meu celular né vadia? - gritou uma voz parecida com a de lipe.

– Se me chamar de vadia mais uma vez, vai ficar sem seu celular, porque eu tive o trabalho de ir ai para te entregar a merda do seu celular e você me tratou assim, igual uma vadia mesmo, então para de ligar de madrugada seu drogadinho de merda. - respondi com ódio.

– Eitaaaa, olha a garota, cheia de marra.

Então eu ignorei isso e com os olhos fechados continuei na linha.

– Foi mal mas agora eu quero meu celular porra, e não me chama assim porque você não sabe nada da minha vida. - disse lipe

– Sei mais que o fumacinha deve saber - retruquei.

– Para de bisbilhotar minhas coisas! - disse ele revoltado.

– Seu tio que me contou... - tentei explicar.

– Me devolve meu celular! - gritou ele.

Dormi.


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Notas finais do capítulo

Por favor, sendo comentários positivos ou negativos comentem.



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