The Seventh Zone escrita por Isa Chaan


Capítulo 15
Relatos de um velho ancião.


Notas iniciais do capítulo

ATENÇÃO. CAPÍTULO EDITADO.



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Som (música + crepitar de fogueira)

 

Ei, você!

Sim, você mesmo. Traga já seus marshmallows e sente-se aqui perto do fogo.

Hoje viajaremos para tempos longínquos. Para tempos de glória e desgraça. E encontraremos seres místicos fantásticos, alguns bons outros maus.

Mas reze para que nosso deus-dragão venha te abençoar, criança, pois hoje lhe contarei sua história –a lenda de Phoenix, o dragão de fogo. E como sua vinda ao nosso mundo, nos trouxe a salvação mas também a calamidade…

 

Há muito tempo… Em tempos remotos, quando a terra de Ishgar era inóspita e gélida, e o poderoso clã Draconix, ainda não reconhecido como tal, não passava de um pequeno grupo familiar que vinha do norte de Iceberg, em busca de terras descongeladas, um forte estrondo chacoalhou a terra…
Ninguém soube dizer o que acabara de acontecer.
Um terremoto?” Perguntaram, afoitos…
Não havia como preverem a grandiosidade que estava por vir. Até que um deles, um pobre e faminto homem, a quem nos lembraremos mais tarde como o primeiro patriarca dos Draconix, que tentava desesperadamente acender uma chama para sua fogueira, apontou para os céus e disse: Olhem!
Um gigantesco réptil de asas que se estendiam por quase 10 metros de comprimento sobrevoava pela imensidão noturna. Uma criatura mágica que eles jamais imaginariam ter a dádiva de contemplar em suas curtas e miseráveis vidas. Escamas carmesins lhe preenchiam todo o corpo, resistentes as mais altas temperaturas encontradas. Um dragão!
Um dragão acabara de emergir das profundezas ardentes de EarthLand.
Mas claramente, em uma época tão remota, pouco conhecimento acerca destas criaturas, fora difundido pelo mundo, justamente pela raridade em que eram vistos. Milênios se passavam entre um relato e outro. Desta forma, é compreensível que muitos nem mesmo conheciam a designação para dragão.
E para nosso povo ancestral, aquela criatura de aspectos tão fabulosos e sobrenaturais, era o que mais se assemelhava à sua perspectiva de deus.
Nomearam-no de Phoenix, graças a suas enormes asas ardentes. A ave mágica era até então a insígnia do Clã, mas que passaria a ostentar a silhueta do réptil de asas.
O dragão trouxe consigo ondas de calor que aqueceram os campos congelados e a vegetação rasteira. Logo, muitos grupos nômades puderam finalmente se alojar naquelas áreas, juntando-se ao Clã. Eles veneraram o dragão como seu deus oficial, por enfim encerrar o inverno eterno que se instalara na região.
Junto ao calor, florestas cresceram, os animais das mais variadas espécies apareceram; rios antes congelados voltaram a correr, e plantações começaram a dar frutos carnudos e suculentos. A vida cresceu na região.
Com a chegada do Phoenix, o clã Draconix se fortaleceu e sua população cresceu cada vez mais a cada ano. Eles lhe entregavam oferendas e em troca, o Phoenix lhes ensinava a arte da magia. A magia do fogo.
Durante centenas de anos, o dragão e os humanos conviveram pacificamente, e o clã do fogo experimentou seus dias de glória por mais de um milênio, entre os clãs mais poderosos que já pisaram neste mundo.
Esta terra que vos pisais hoje, há dois mil anos não passava de um campo congelado, com geadas tão rigorosas que poucos animais eram capazes de sobreviver. Mas graças ao fogo de nosso deus, tudo mudou. E a família Draconix, aquela que teve o primeiro contato com o dragão e deu origem ao nome do clã, caminhou por aqui e se alojou na vila, hoje conhecida por Kondor.
Mas tempos de glória não são infinitos, e trazem junto a si tempos de ruínas. E uma vez que se atinge o esplendor, a queda é inevitável e muito mais violenta.
Assim sendo, um dia houve uma mulher… Uma bruxa! Aquela que usa a magia para rituais negros! Ela fez com que o dragão caísse em seus encantos. Ele se apaixonou por sua beleza, por seu corpo, por sua delicadeza e singeleza. Ele desejou se tornar humano para viver com ela. A bruxa disse que poderia lhe conceder o desejo, se ele assim quisesse. Ele aceitou, e por seis dias e seis noites eles se deleitaram em prazer e felicidade. Entretanto, na madrugada do sétimo dia, após conseguir o que desejava, a bruxa mostrou sua verdadeira natureza.

A partir daqui você já pode imaginar o desastre que viria a seguir. Mas não tema, criança. Enquanto tivermos a fé na bênção protetora de nosso Deus-dragão, nenhum mal nos atingirá. Então continuemos a história com valentia…

Enfraquecido em sua forma humana, ela pôde cravar-lhe uma estaca no coração do dragão enquanto dormia. Phoenix jamais descobriu a traição em vida. E a bruxa apenas sorriu com o seu sangue entre as mãos, enquanto massageava a barriga…
Sim, o filho do poderoso dragão estava dentro de si, e ele espalharia a calamidade e destruição à humanidade.
Como pode ver, as tentações e prazeres terrenos não são reservados somente aos seres humanos, mesmo os deuses sofrem de seus males. Nosso deus fora apenas mais um alvo dos prazeres carnais e o fruto disso se tornou o nosso pior pesadelo. O filho do Dragão de fogo e da feiticeira Aganeel, a quem seria conhecido como Dragneel, o Salamander. Herdou a supremacia do pai e crueldade da mãe. Metade homem, metade dragão, possuia a força de mil homens e controlava o fogo mais habilmente do que qualquer mestre que já existira no clã Draconix.
Após o nascimento, ela deixou o bebe nas ruas de uma pequena vila do clã Draconix, a vila Kondor.
Alheios ao que acontecera, o povo do vilarejo acolheu a criança amaldiçoada como se fosse um dos seus e ela crescera saudável como qualquer outra criança em seus primeiros anos de vida. Até que coisas ruins começaram a acontecer periodicamente. No início, eram pequenos eventos desafortunados como a perda de uma colheita pelo fogo ou um incêndio inesperado no armazém. Ao que todos diziam ser em decorrência do verão extremamente quente e seco da região ou do descuido de alguém com sua magia.
No entanto, estes eventos continuaram a se repetir inexplicavelmente, trazendo o racionamento de comida e a fome. E levando a certas providências. O líder do clã então ordenou que homens de confiança vigiassem em turnos os locais afetados pelos incêndios para assim desmascarar o responsável e dar-lhe a devida punição. Mas, no final, os acontecimentos não foram de acordo com os planos. Ao amanhecer, o que encontraram não fora o culpado preso e esperando a penitência, mas os cadáveres dos homens encarregados da vigia, carbonizados.
Contam que o cheiro da carne queimada era tão nauseante quanto os corpos desfigurados e cheios de feridas horrendas. Primeiro vieram os gritos, depois os lamentos e por fim, o silêncio do luto. A desconfiança cresceu entre os membros do clã, que começaram a viver isolados uns dos outros. A desunião do povo foi a ruína do clã.
Mortes misteriosas continuaram ocorrendo pelos próximos anos. O líder do clã em atitudes desesperadas, rezou para o seu deus desaparecido, buscando respostas e sabedoria. Mas Phoenix permaneceu em silêncio e nunca mais retornou.
Quando finalmente assumiram a morte do dragão, marcaram o dia de seu desaparecimento como o início do mal presságio. E o líder, não conseguindo lidar com os desastres e sua ruína cada vez mais iminente, enlouqueceu. Qualquer um considerado suspeito era jogado à pira aos seus comandos, e queimado vivo pelas chamas mágicas dos algozes.
Ninguém culpara uma criança até então, porém, quando boatos e histórias começaram a circular pela boca do povo, assimilando o desaparecimento de Phoenix com o surgimento da criança no vilarejo, já era tarde demais. Nenhum mago era mais capaz de enfrentar a criança amaldiçoada.

Assistindo ao pai ser consumido pela loucura e o povo tumultuar-se nas ruas, enquanto uma entidade maligna perambulava à solta pela aldeia, o filho do patriarca, em uma medida exasperada, requisitou ao decadente Clã Staryen seus melhores magos, para que pudessem dar cabo do menino monstruoso.

Mas o que o pobre filho do patriarca não imaginava era que o Clã Draconix já estava de dias contados, e que ele apenas acelerara a chegada de sua ruína.

Os dois Clãs haviam forjado uma aliança de matrimônio faziam muitos alguns anos, e viviam em uma coexistência harmoniosa. No entanto, já era de consciência geral os rumores a cerca da magia-suja cultivada pelos Staryen, a chamada bruxaria – a magia provinda das forças ocultas. Felizmente, a união de forças conjuntas dos Clãs de Ishgar juntamente ao mediador mágico já tomavam providências para combater seus integrantes pecaminosos, e não tardaria muito também para a Insígnia dos Staryen finalmente tombar.

Portanto, pedir socorro aos Staryen era, sob qualquer perspectiva, uma tremenda tolice; mas ainda assim, parecia ser a única solução, ao qual, o jovem patriarca conseguia cogitar. Se a magia oculta dos Staryen não fosse páreo para matar o ser perverso, então nada mais poderia. Mas caso fossem bem-sucedido, o jovem patriarca prometera oferecer o apoio e a proteção do Clã do fogo aos bruxos. Deste modo, aceitando as condições impostas, os Staryen enviaram uma jovem, a melhor maga de seu Clã, para cumprir a missão.
Quando a mulher se revelou sob a fortaleza centenária dos Draconix, todos foram arrebatados por sua beleza. Com belos cabelos negros e olhos dourados como o sol, ela reverenciou o jovem patriarca.
"Aqui estou para corresponder às suas vontades, jovem mestre. Livrarei esta terra do mal que a cerca"
Ao que ele respondeu:
Em nome de todos os que carregam o sangue do Dragão, agradecemos a cooperação.” E por fim: “Levem-na até o demônio.”
Até então os Draconix haviam descoberto a única coisa que detinha o poder de acalmar a fera, até que seu carrasco chegasse. Sangue. Desta forma, não houve outra maneira senão ofertar toda a criação de cabras à criança – que parecia ter um apetite sem fim. O sacrifício dos pobres animais o manteve ocupado por semanas. E quando a mulher enviada pelos Staryen finalmente chegou, o ser amaldiçoado permanecia no mesmo lugar – dentro do cercado das cabras.
A criança cheirou o ar com a nova presença e se levantou. Todos as pessoas que estavam ali para assistir o desenrolar dantesco – alguns de longe, outros escondidos por detrás das folhas das janelas – resfolegaram com extremo horror, quando o pequeno ser demonstrou desinteresse às cabras com a chegada da nova visitante.
A mulher permanecera parada, observando, enquanto o menino se aproximava a curtos passos. A aparência inofensiva como a de um anjo; isto é claro, desconsiderando todo o sangue que lhe escorria os beiços e os múltiplos cabritos amontoados como sacos de tripas um após o outro.
O povoado da aldeia era um silêncio expectante.
A três passos de distância da mulher, a criatura parou, olhando para ela. E o que se sucedeu foi o cenário mais pavoroso imaginável.
A maga dos Staryen, com a mais branda das calmarias, se agachou diante da criança e abriu os braços.
"Venha, meu filho. Venha ao meu encontro."
Todos estavam mudos de assombro. Até que o patriarca, puramente enraivecido, gritou:
Madame, o que pensas que estás fazendo?”
Ela o ignorou; e quando o menino finalmente se achegou de seu corpo, a mulher expôs um dos seios para fora do casaco. A resposta imediata da criança foi abocanhá-lo; os dentes pontiagudos rasgando-lhe a carne.
Sim, minha criança” gemeu de dor. "Tome do meu leite e do meu sangue. Sugue minha essência e livre o mal que cerca esta terra."
O jovem patriarca não poderia assistir um segundo mais daquele teatro repugnante. Bradou uma ordem aos guardas, para que afastassem a bruxa do menino a todo custo.
Mas a mulher apenas se deleitava em risos, vendo quão inúteis e desesperadas eram as palavras do patriarca.
"Óh, minha criança, nascida de meu ventre. Purificai esse mundo enfadonho e cruel com tuas chamas sagradas! Óh, o fogo purificante!"
Nesse momento, o caos se instalou. Todos assimilaram o que estava prestes a acontecer. Muitos começaram a rezar ao deus morto – clamavam proteção.
Enquanto isso, o menino soluçou, com a voracidade que sugava o peito, faminto.
Eu, Aganeel Staryen, feiticeira da primeira ordem dos Andarilhos, descendente dos reinos do céu, matadora de dragões, mãe do Escolhido da calamidade, rogo-te!” A mulher olhou intensamente ao filho, que interrompeu seu banquete para ouvi-la. "Queime. Queime tudo."
E ele queimou. Inclusive a ela. Até não sobrar nada além de cinzas.
No fim, ninguém sobreviveu a tragédia. Nenhuma morada permaneceu em pé.
Toda a evolução daquela civilização milenar foi apagada em um sopro, naquela noite fatídica. Os únicos documentos que restaram para comprovar a existência do poderoso clã Draconix foram as escrituras em pedra que descansam no Templo Negro ainda hoje. A construção de pedras na base da montanha que nenhum fogo mágico poderia queimar, jamais… pois aquela é a morada sagrada do Phoenix, o Deus-dragão do fogo. O rei de todas as chamas.
E seu filho, bem, ele permanece dormindo nas estranhas do vulcão; aguardando até seu próximo episódio cataclísmico.

E agora você deve estar se perguntando:

Mas se ninguém sobreviveu, como podemos ouvir a esta história agora?

Muito boa pergunta, criança.

Poderia ter sido alguém que estava de passagem? Talvez o espírito de Aganeel, que ainda dizem vagar por aí sob a forma felina de um gato preto? Ou uma mensagem divina vinda de nosso deus para nos alertar?

Seja o que for, histórias não virariam lendas se não carregassem um ar de mistério, não é mesmo?

Ah, e me desculpe. Acabei comendo todos os seus marshmallows.

 

Relatos de um velho ancião.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam sobre essa lenda?
Foi um capítulo diferente mas tomara que tenham gostado! Ouvir essa música enquanto escrevia foi bem sinistro Haha
Espero que tenham lido com atenção, porque há muitas informações importantes que serão retomadas em breve. ;)

Até a próxima, queridos leitores! ;*