The Seventh Zone escrita por Isa Chaan


Capítulo 14
Oceano rubro.


Notas iniciais do capítulo

Bianca: Bom dia/Boa tarde/Boa noite/Boa madrugada, queridos leitores! Eu estou tendo que recepcioná-los porque certa autora está atrasada...
Isa-chan: Espere! Eu to chegando! *aparece caminhando de bengala, quase morrendo*
Bianca: WHATAFOX aconteceu com você?! Está de bengala por quê?
Isa-chan: Esse capítulo custou parte da minha alma *tosse*
Bianca: E por acaso isso afeta o corpo?
Isa-chan: ¬¬ Cale-se, agora afeta
Bianca: Ahan
Isa-chan: Eu precisava fazer uma entrada dramática u-u
Bianca: E por quê?
Isa-chan: Porque parte da minha vitalidade foi-se embora escrevendo esse capítulo DE 7.000 PALAVRAS SENDO QUE ERA PRA SER 3.000 COMO DE COSTUME!!
Bianca: Sinhôzinho...
Isa-chan: Um pequeno erro nos cálculos hehe
Bianca: Tão pequeno que só está maior que a sua one-shot inteira ¬u¬
Isa-chan: Cale-se²
Bianca: Ui, grossa
Isa-chan: Foi uma grande jornada escrevê-lo... Até minha querida Beta Reader está mancando até agora... Segura as pontas aí, Bluny!
Bluny: Affu, eu sou jovem, mulher, não manco não! Aqui é abdominal todo dia!
Isa-chan: '-'
Michael: Opa, aí sim! Bora aprender umas técnicas maneiras com armas brancas?
Bluny: E isso foi uma pergunta? :> Vamos que vamos, cara!
*Os dois vão embora*
Bianca: '-'
Isa-chan: Pai amado é nosso, o mundo tá ferrado! Salvem-se que puder, a dupla assassina foi formada! Todos fiquem dentro de casa, e não saiam até eu dar o sinal!
Bianca: '-'
Isa-chan: Não entre em pânico, Bianca! Eu sei que é medonho, mas você precisa se proteger e-
Bianca: Eu não acredito...
Isa-chan: Nenhum de nós conseguimos acreditar, mas temos que-
Bianca: Ela... ROUBOU O MEU BOY? O-MEU-BOY? É ISSO MESMO PRODUÇÃO? O MEU BOY MARAVILHA PSICOPATICAMENTE SEXY?!
Isa-chan: Quê...? VOCÊ NÃO VÊ A GRAVIDADE DO ASSUNTO, MINHA FILHA? MICHAEL E BLUNY! JUNTOS! NUMA JORNADA ASSASSINA! É O APOCALIPSE!
Bianca: ESPERA, MICH! Eu também sei manusear armas brancaaaas! *Sai correndo por onde eles foram*
*Happy que estava observando a cena, todo esse tempo, falou finalmente*
Happy: Bem, já que você está com essa bengala, aproveita e se aposenta de uma vez.
Isa-chan: Me aposentar? *Olha pra bengala* Meu querido, isso não é apenas uma bengala de Papai Noel... *aperta um botão, e ela transforma-se magicamente*
É UMA 308 MUAHAHAHA TRIO ASSASSINO AÍ VAMOS NÓS!
*Isa-chan desaparece, e Happy pega um telefone*
Happy: Alô? É da polícia? Eu *risadinha maléfica* gostaria de fazer uma denúncia... ~huhu
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*Primeiramente, quero agradecer a todos os leitores que comentaram no último capítulo. Eu percebi que deu uma leve caída na quantidade, mas isso felizmente, não me afetou até porque os comentários que recebo são maravilhosos. Vocês me deixam doida Hahaha ♥

*Gente, perdão, nunca na minha vida eu imaginei que esse capítulo ficaria deste tamanho! Aconteceu que surgiram muitas ideias e tal. O único fato que me deixa apreensiva é que caso esteja cansativo, ou vocês não tenham saco ou tempo para ler tudo isso de uma vez, então, pensando nisso, dividi-o em duas partes. Assim, quem não conseguir ler tudo, não precisará parar a leitura no meio de uma cena, ou se perder na hora de retomar ;D

*Eu gostei muito de escrever este capítulo, e torço que gostem também!

Obs: Há música indicada durante a leitura para melhores experiências.

Boa leitura.



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Primeira Parte.

Sixth Zone

(Sexta Zona)

Atualmente. – Sétimo dia. – Tarde.

Outro dia, mais uma vez, seguia as mesmas etapas. Recolhia e estendia montes de carumas afofando-os sobre a terra, para que o chão ficasse o mais confortável possível; deitava a lona por cima; e espaçava a barraca por todo o comprimento, ajeitando as varas de sustento junto aos nós. Era seu trabalho preparar o abrigo, enquanto o colega buscava madeira para a lenha da fogueira. A azulada já estava acostumada a armar barracas – que graças a Deus trazia sempre uma consigo em sua bolsa mágica – devido aos árduos treinamentos de um soldado, por isso terminara tudo com rapidez e preocupava-se com a demora do outro, afinal, caçar bons gravetos e galhos era bem mais complicado, ainda mais em uma floresta de estatura alta como aquela, os galhos eram grandes e pesados demais.

Ela gostaria de ajudá-lo com a tarefa, principalmente tratando-se de alguém tão atrapalhado e sem senso de direção. Qual era a probabilidade de ele se perder em meio a tantos pinheiros? Noventa por cento? Suspirou, sentando-se na grama de pernas cruzadas. O que ela poderia fazer? Tinha que tomar conta do abrigo e da garotinha de cabelos azuis-escuros que encontraram no caminho, que desde muito tempo permanecia quieta. Por mais que mantivesse observando os passos de Levy, claramente seu espírito não estava presente.

— Ei, está tudo bem? – A mais velha abanou as mãos a frente da garota distraída, que em reflexo ergueu a cabeça apoiada até então em seus próprios joelhos, e fitou as íris avelãs que denotavam preocupação.

— Ah, desculpe, estava só pensando… – Sorriu sem muita força de vontade, abaixando o olhar timidamente para a trilha de formigas próxima de seus pés.

— Sua mãe?

— Sim… Ela deve estar pirando agora… – Comentou com um riso tristonho.

— Só agora? Acho que há umas cento e vinte horas já! – Exclamou em tom de brincadeira, buscando animá-la ao menos um pouco.

Wendy abriu um meigo sorriso com a tentativa da outra. Tão meigo quanto as tímidas tulipas amarelas que nascem em meio ao chão revestido de branco da neve, quase inteiramente escondidas, por entre a grossa camada gelada, mas que mesmo assim colorem nossos olhos com sua cor forte e viva. Aquilo reprimiu o coração da Vice-Tenente que se perguntava o porque de agentes do Conselho perseguirem tão friamente uma criança amável como ela. A resposta era muito simples, e por isto Levy sentia o formigamento em seus lábios, porém contraía a vontade de xingar aqueles malditos.

— Muito obrigada, por tudo o que vocês estão fazendo. – Agradeceu singelamente a menina, pondo Charlie em seu colo, já que a gata batia a patinha na perna da jovem há alguns minutos, pedindo por atenção.

— Imagine! É o mínimo que podemos fazer. Não está em nosso manual “Abandonar garotas perdidas”. – Piscou, divertindo a pequena com seu jeito seguro e extrovertido. – E não se preocupe, vamos encontrar sua casa. – Levantou-se em um salto, animada, seu olhar brilhava determinação.

— Mas minha casa está- – Sua voz insegura fora cortada pela confiante de Levy, que se aproximou da sacerdotisa, agachando-se ao seu lado.

— Em cima de uma montanha rodeada por magia de invisibilidade… – Completou a frase que ouvira de Wendy alguns dias atrás. – Você disse que a montanha se localiza ao norte do país, e olha só o que eu tenho. – Retirou uma bússola prateada com algumas figuras místicas desenhadas em dourado do bolso. – Não se preocupe. Levy Mcgarden encontrará sua casa, isso eu prometo! – Segurou as mãos delicadas da mais nova de forma reconfortante.

O semblante da pequena azulada iluminou-se em esperança e felicidade no mesmo instante, e não se contendo, abraçou sua salvadora com força. Lágrimas de alegria escapavam de seus olhos que terminavam sua aventura caindo sobre as folhas, misturando-se ao orvalho. Ela estava feliz não só porque voltaria para casa, mas porque não estaria mais sozinha. Havia feito uma amiga.

— Obrigada.

Mcgarden sorriu ao ouvir o agradecimento, e fechando os olhos, afagou os longos cabelos escuros da garota. Páginas de sua memória passaram velozmente em frente a si de repente. Aquele momento a recordava de certa varanda, onde uma menininha de cabelos dourados chorava em seu ombro, chamando desesperadamente por sua mãe, – que não mais atenderia a filha – e só lhe restava acariciar seus cabelos e pronunciar palavras de consolo.

Sentiu uma tristeza lhe invadir. Lucy sempre demonstrou-se forte a todos, mesmo quando algo a abalava, pois ela guardava essa dor para chorar sozinha em seu quarto. Apenas Levy conhecia o sofrimento da amiga, e era apenas Levy quem Lucy permitia que soubesse. Porém, esta mesma azulada não estava presente para ela em um momento de tamanha tragédia.

— Uma coisa que não entendo é… – Começou a Vice-Tenente, apartando o abraço, e impedindo que novas lembranças lhe trouxessem mágoa. – Por que sua mãe colocaria magia de invisibilidade na própria casa? E quando ela saí, como ela encontra de volta?!

Wendy soltou uma risada gostosa.

— Ela é bem protetora, quer me proteger do mal do mundo, então a magia impede que homens maus encontrem nossa casa… – Explicou. – Mas como foi minha mãe quem aplicou a magia, não funciona a ela, senão seria um problema, de fato.

— Por que homens maus estariam indo atrás da casa de vocês? Afinal, vocês moram sobre uma montanha! Ladrões não escolheriam assaltar um lugar desses.

— Não se trata de ladrões, é só que… – Mordeu o lábio inferior hesitantemente, pensando se estava tudo bem em contar aquilo. Grandeeney sempre dizia que não deveria falar a ninguém, no entanto a sacerdotisa confiava em sua salvadora. – Sou filha de uma divindade e um humano, a ligação entre o mundo divino e o mundo terráqueo. Em outras palavras, sou a porta para os humanos atravessarem os limites da magia deste mundo, e alcançarem os poderes dos Deuses.

Um longo silêncio pairou sobre os ares gelados da floresta, como se apenas os ventos incessantes que atravessavam as folhas verdes dos pinheiros tivessem congelado os lábios de Levy, impedindo-a de falar. De certa forma, Wendy já previa esta reação, ou melhor, esta falta de reação, por isso não se surpreendeu com os olhos piscantes da outra.

— E… Você não acreditou em nenhuma palavra que eu disse… – Suspirou desanimadamente.

Ainda silenciosa, ela acenou afirmativamente com a cabeça, os orbes levemente arregalados, e a boca formava um bico.

— Você acertou em cheio. – Disse por fim, provocando mais risadas da pequena com sua careta. A Vice-Tentente era realmente divertida. As duas azuladas estavam se dando bem.

— Tudo bem, é normal essa descrença no início. Talvez com o tempo você aceite, conhecendo-me melhor. Mas por hora… – Encarou-a com os olhos castanhos vidrados de curiosidade. – Você não me disse nada sobre você, o que os dois fazem por estes arredores?

O semblante engraçado de Levy murchou lentamente, fazendo a outra se arrepender no mesmo instante de ter perguntado, pois poderia ter tocado em uma possível ferida.

— Bem, estamos procurando uma amiga. – A azulada abaixou o olhar para as duas mãos, encarando suas frágeis palmas, e cerrando-as em punho em seguida com raiva. – Ela foi em direção à cidade para avisar sobre incidente que nos ocorreu sete dias atrás…

— Incidente? – Questionou cautelosamente, em dúvida se estava intrometendo-se muito, entretanto uma pontada de preocupação foi combustível o suficiente para lançar a palavra.

— A inesperada erupção de um vulcão em nossa vila.

O espanto da sacerdotisa prolongou os minutos. Se antes ela ainda tinha dúvidas, agora ela sabia, com certeza, de que nunca devia ter questionado. Levy notara a face horrorizada e culpada da menina, portanto amenizou a seriedade traçada em sua face, e a fitou com ternura.

— Não se sinta culpada, é algo que eu tenho que lidar senão nunca seguirei em frente. Uma hora ou outra essa recordação voltaria, mesmo se você não a tivesse interrogado. E se ainda eu tenho lágrimas a derramar, farei isso em outro momento, quando minha missão acabar e tudo estiver bem. É isso que meu comandante faria.

— Grande Vice-Tenente. – Uma voz masculina sobressaltou-se na conversa das duas. Um recém-chegado que permanecia encostado a uma árvore há algum tempo, junto a uns grossos galhos derrubados ao lado de seus pés.

— Ah, finalmente você chegou! Achei que tivesse se perdido! – Exclamou a azulada de cabelos repicados se levantando, e caminhando ao encontro do rapaz.

— E me perdi… – Suspirou confessando, fazendo a outra gargalhar da situação cômica. – Mas pelo menos, cheguei com a lenha! – Defendeu-se, ajeitando os habituais óculos de lentes azuis em seu nariz. Fazia isso toda vez que se irritava um pouco.

— Só você mesmo, Loke… – Abanou a cabeça negativamente, rindo da cara do garoto de cabelos alaranjados. – Nem acredito que o maior galanteador conseguiu me salvar.

— Ei! Não me desmereça! – Replicou cruzando os braços, dando mais motivo para as duas azuladas rirem mais ainda.

[...]

Sétima Zona – Sete dias atrás (Capítulo 1).

— Tenente. O comandante a chama para novas estratégias. – Relatou o líder do quinto esquadrão, o famoso galanteador de cabelos alaranjados.

— Entendido. Por coincidência eu ia justamente ao encontro dele. – Lucy dirigia-se pelos corredores carregando algumas papeladas e mapas. – Loke, avise à Vice-Tenente para me acompanhar.

— Como quiser, Tenente Lucy. – Seguiu pelo caminho oposto em relação ao da loira.

Depois de repassar a informação à garota, que seguia seu caminho à cabine de Jellal, prosseguiu até o compartimento de Levy Mcgarden. Durante o trajeto por entre vários corredores fechados – sem qualquer vestígio de luz solar – construídos em metal e aço, e das portas pesadas e automáticas constantes nas duas margens, – que protegiam diversas salas repletas de arquivos importantes sob códigos e leitores digitais – encontrava-se com algumas mulheres atarefadas passando, e fazia questão de piscar para provocá-las, mesmo que com isso ganhasse alguns olhares mortais.

A iluminação das compridas lâmpadas brancas tornavam o ambiente monótono e desbotado. O rapaz odiava passar por aqueles corredores, por isso recusou o cargo de Tenente que lhe foi oferecido, pois isso significaria ficar trancafiado o dia inteiro dentro da base, andando de um lado para o outro segurando documentos. O ar resfriado pelas paredes de metais juntamente ao ar-condicionado lhe davam agonia, sentia-se preso. Só passava por lá para transferir informações do seu esquadrão ao comandante, ou quando este lhe convocava. Entretanto, havia algo que gostava de fazer ali, portanto sempre que vinha não perdia a oportunidade de passar pelo compartimento de certa moça.

Ela estava constantemente se esforçando em seus afazeres, e desta vez não foi diferente, e era por isso que ele a admirava tanto, sempre o impressionava, desde quando a encontrou. Por baixo daqueles cachos rosados e rosto gentil estava uma garota esforçada e inteligente. Encostou o ombro no batente, assistindo a rosada escrevendo em amontoados de papéis, tão concentrada que nem notara sua presença. Ela era encarregada de traduzir as cartas e notícias que vinham de fora do país para o idioma de Fiore e encaminhá-las à cabine de comando, bem como também digitar as mensagens da situação atual da base à central de Magnólia, onde seriam recebidas pela presidente militar, Erza Scarlet.

— Talentosa como sempre, Áries. – Pronunciou finalmente, chamando a atenção da jovem, que o fitou sem jeito.

— Desculpe-me. – Respondeu envergonhada tanto pelo elogio quanto, a seu ver, pela falta de educação. – Não havia percebido que estava aqui, estou cada vez mais distraída… – Lamentou-se.

— Concentrada, você quis dizer. – Suspirou, não gostava quando ela se rebaixava assim. – Você tem que parar de se culpar deste jeito, parar de pedir desculpas se não há culpa de nada. Eu não a culpo de nada!

— Desculp- – Tampou a boca ao perceber que pedia desculpas por pedir tantas desculpas, por mais estranho que fosse, esse era o seu jeito e sentia-se culpada por fazer o outro se preocupar tanto consigo. Ele voltou a suspirar, aproximando-se, fazendo Áries abaixar a cabeça e fungar.

— Veja. – Apontou para a pilha de papéis que a rosada havia terminado. Ela levantou o olhar e seguiu seu dedo. – Olhe todos esses documentos que você terminou em aproximadamente duas horas… Você traduziu umas dez línguas diferentes em apenas cento e vinte minutos! Nunca tivemos uma tradutora tão rápida, e graças a isso, temos tempo suficiente para nos preparar para as ameaças de invasão. Isso é incrível, Áries! Melhore essa sua autoestima, estamos bem graças a você! – Sorriu, afagando o topo da cabeça da tímida menina.

— Obrigada, Loke-san. – Abriu um sorriso desconcertado porém, sincero. Tão brilhante que o rapaz até precisou abaixar o olhar sob tanta luz angelical.

— Não use mais 'san', já nos conhecemos há cinco anos... – Comentou, ajeitando os óculos, o que simbolizava seu nervosismo, e tentando esconder o rubor de sua face.

— Ah, desc- Ops… – Tampou novamente os lábios, enquanto o outro ria da mania da rosada.

— Vai treinando. – Piscou para ela, dando alguns passos para trás.

— Já vai? – Perguntou tristonha.

— Sim, tenho que relatar um chamado à Vice… Mas! – O rosto triste de Áries se alertou quando Loke levantou o indicador. – Amanhã eu venho e ficarei mais tempo, não se preocupe! – Alargou o sorriso, vendo-a assentir animadamente, e continuou seu caminho, o coração quase explodindo dentro de si, tamanho era o motor que o impulsionava.

Ele era conhecido como o famoso mulherengo da região, e mesmo que essa reputação não fosse nem um pouco boa, ele não se importava. Não se incomodava com o que os outros achavam de si, pois eram pessoas que não lhe eram nem um pouco importantes, e que julgam sem nem antes conhecer os motivos que o fizeram assim. O pai hipócrita, a mãe bêbada. Surras, gritos, lágrimas, brigas, adultério. O que aprender com essa família? Que a vida é baseada em sem-vergonhice, e o que o amor é uma mera fantasia criada para embelezar a feiura da raça humana. Era nisso que acreditava, isso que o fez assim. Pelo menos até alguns anos atrás, quando uma chama ardeu em seu peito, e acidentou seu coração. A chama do amor, algo que pensou ser inexistente. Ele a amava, mas do que importava? A rosada era muito inocente para notar o que ele sentia, e mesmo que notasse, quem gostaria de um galanteador como Loke? Mas estava tudo bem, enquanto pudesse vê-la sorrir, estava tudo bem. Era o que se obrigava a crer.

Estacionou ao avistar a porta de ferro imponente de quinze centímetros de espessura, no qual, encontrava-se curvas derretidas por um maçarico na placa de metal logo acima, formando duas palavras. Levy Mcgarden. Bem ao lado havia um leitor digital, em que sem demora, tratou de pousar a palma da mão na superfície lisa deste, que refletia o brilho vermelho do sensor. Logo após, apareceu a mensagem de permissão na tela.

5º Líder: Loke.

Entrada permitida.

O ruído do arrastar pesado do ferro no trilho revelou uma azulada debruçada sobre sua mesa, estudando um mapa atentamente. A garota elevou o olhar, quando a porta tornou a fechar atrás do líder de cabelos alaranjados.

— Quais as novas? – Indagou, largando o lápis que segurava.

— A Tenente a chama. – Respondeu, tossindo em seguida.

Aquele compartimento exalava a pó. Era como uma biblioteca fechada há anos. E por mais que fosse limpo toda a semana, continuaria com mesmo odor, afinal, não existiam janelas, e a porta estava sempre fechada. Ou seja, não havia como ter qualquer tipo de circulação de ar. O cheiro era de papéis velhos, e não era para menos, por onde quer que olhasse via-se estantes repletas de livros. Pelo menos os diversos tons das capas destes coloriam aquelas paredes acinzentadas.

— Onde ela está? – Contornou a mesa redonda, pegando uma bússola prateada presa a um cordão. Uma herança de família.

— Na cabine do comandante.

— Ah, já imagino por quê… – Suspirou, prendendo os cabelos com a habitual e costumeira faixa laranja, que até então estava enrolada no pulso. – Bem, obrigada pela informação, Loke. Dirigir-me-ei para lá agora mesmo.

— Tem algo acontecendo? Lucy parecia um pouco afobada segurando tantos papéis.

— É… – Os dois seguiram até porta afora, durante o tempo em que Levy parecia pensar no que dizer. – Parece que teremos alguns imprevistos… Nada comprovado, mas é bom precaver.

A porta trancou-se novamente, e em um piscar de olhos Levy já avançava a passos largos e rápidos em direção à aquele corredor sem fim, até que virou a esquina e sumiu da vista do líder. Um bocejo procedeu e ao conferir que o horário eram quatro horas da tarde, resolveu ir ao seu quarto e descansar um pouco.

[…]

Uma hora depois.

— Lucy. Ordeno que você saia correndo daqui. Sei que sobreviverá. E vá até a cidade depois do desfiladeiro. – Encarou seriamente os olhos castanhos nebulosos de pânico.

— O-o qu- – A garota tentou protestar, mas foi impedida por uma mão calejada tampando sua boca.

— É uma ordem, Lucy! – Intensificou sua voz. – Avise a Erza sobre isto. Diga que a lenda é verdadeira e para que acreditem em sua palavra, leve isto com você. – Deu o broche de comandante que usava.

— Mas e vocês?! Porque eu devo fugir? – A agonia sufocava seu peito. Eles todos morreriam.

[…]

Sentiu a pulsação dentro de si novamente. O sangue fervilhar por todas as veias. O coração doer, arrancando a primeira partida. O pulmão inflar dolorosamente, pedindo por ar. Uma respiração pesada e apressada. E a dor lancinante dos músculos atrofiados.

Moveu os dedos, repuxando toda a musculatura do braço. Urrou. A voz recém-descoberta.

A energia e ansiedade de acordar lutaram contra a prisão de seu próprio corpo, sentindo cada centímetro seu formigar. Ele nascia de novo.

O corpo que jazia parado no tempo e a vida que vagava por outras dimensões reencontraram-se mais uma vez.

Abriu os olhos para o mundo que outrora temia. Nunca mais fugiria.

As pupilas negras, que se assemelhavam a dois buracos negros, retraíram-se ao receber o banho de luminosidade da fúria do vulcão. Passaram-se dez anos desde a última vez que vira a luz, então, até parecia que seus olhos queimavam em chamas.

— Espero que tenham aproveitado muito bem a estadia neste planeta até agora, caros “companheiros”. – Sibilou, assistindo o céu acima de si enegrecer-se pela fumaça do Phoenix. – Porque é neste momento que meu renascimento se dá início. – Os caninos pontudos revelaram-se em seu sorriso.

[…]

— Não diga “Adeus” e sim um “Até breve”. – Sorriu, retribuindo o abraço, e afagando os cabelos de Lucy. – Recomende-me à Erza.

— Sim… – Deu um sorriso torto. A Tenente fitou a azulada que também chorava e no mesmo instante as duas se abraçaram. – Até breve, Levy-chan.

— Até. – Sorriu tristemente. – Boa sorte.

Jellal depositou sua mão no ombro da loira. – Agora vá. – A mesma assentiu.

Quando contemplou os cabelos dourados esvoaçarem e finalmente desaparecerem pelas escadas, seus olhos verdes se arrastaram até a figura de cabeleira azul, que observava o Phoenix com o olhar perdido, como se presenciasse, não a erupção de um vulcão, mas o desmoronamento de seu próprio mundo.

— Você deve ir. – Murmurou o comandante. O timbre, por mais sério e imponente que soasse, dedurava um pouco do medo e pânico que persistiam dentro de si, mesmo que quase inteiramente encobertos pela determinação.

— O quê? – Indagou incrédula. – Não! Lucy já carrega essa missão, eu vou ficar!

— Você é uma das pessoas mais próximas que ela tem, ela se sentirá sozinha. – Ele, de fato, conhecia Levy muito bem, pois usara palavras que certamente a desarmaria, porém ela também o conhecia tão bem quanto, por isso entendia o que ele tentava fazer.

— Não, ela não precisa se sentir sozinha, porque ninguém vai morrer! – Antes que Jellal pudesse dizer qualquer coisa, a azulada desatou a correr para as escadas, descendo a torre de vigia, desesperada, em direção a certo local. O comandante já previa onde. A cabine de comando.

Sua fisionomia entristeceu-se, porque sabia que não adiantaria. Nenhum esforço poderia impedir a destruição que viria.

— A lava desse vulcão não é comum, Levy. Phoenix era a casa de um dragão que comandava não só fogo, mas o calor também. – Proferiu ao vazio, era isso que gostaria de avisar à garota. Observou os aglomerados de fumaça tóxica espalhando-se e esgueirando-se para mais perto. – Nossa magia não é capaz de aguentar tal temperatura…

[…]

Segunda Parte.

Música: Most Wondrous Battle Music Ever: Losing Touch

— Aqui é a Vice-Tentente! Escutem com atenção! O vulcão Phoenix está prestes a entrar em erupção! Por favor, não entrem em pânico, apenas ouçam minhas ordens: Líderes e esquadrões sigam para a estação A! Repetindo, líderes e esquadrões sigam para a estação A! – Ordenou do microfone, que reproduziu a mensagem em todas as caixas de som espalhadas pela vila. – Qualquer um que se localize dentro da base, saia imediatamente, o sistema de segurança de arquivos será ativado e todas as portas serão trancadas!

Conduzia e digitava velozmente pelo painel de controle, ativando o sistema de defesa e logo após o de segurança. O tempo estava se esgotando, e não havia mais nada a se fazer. O desespero crescia em seu peito, junto a ansiedade cada vez maior, impedindo-a de raciocinar.

De repente um estrondoso barulho arrepiou os pelos de seu corpo, por cinco segundos algo a impedia de continuar, segurava suas pernas no chão, e não atrevia-se nem a olhar para os lados. O medo, a tremedeira, o nervoso. Quando seus sentidos acordaram, apressou-se ao meio externo; até o pátio central – Estação D.

Um caos. Mães e filhos se escondiam dentro de suas casas, enquanto os soldados – alguns temiam e choravam, dizendo que era o fim. – dirigiam-se a estação A para ajudarem a segurar a lava vulcânica, que vinha na direção de todos como um mar vermelho. Um tsunami ardente que derretia tudo o que passava por seu caminho. O cheiro de árvores queimadas se tornou presente. Parecia um castigo que o próprio planeta os infligia, pois simplesmente o vulcão não parava de expelir, apenas aumentando a quantidade do conteúdo brilhante, que antes, progredindo sorrateiro, agora acelerava sua velocidade.

A barreira mágica já estava aguardando sua chegada.

Por um instante Levy desviou sua atenção para um ponto ao longe, mais precisamente, descendo a montanha do Phoenix. Parecia uma figura humana. Ela repetia mentalmente que aquilo era loucura, que talvez estivesse precisando de óculos, afinal, não era possível. Alguém poderia andar com os pés mergulhados na lava? Seu estômago se embrulhou. Seja o que quer fosse aquela coisa, estava vindo na direção deles. E se podia aguentar tal temperatura, estava na cara que era alguém bem forte.

— Levy! O que está acontecendo?! – O líder galanteador veio correndo até azulada. Precisou gritar já que o alvoroço era enorme.

— O que faz aqui ainda?! Você deveria estar na estação A! – Gritou de volta, agitada.

— Eu estava dormindo até agora pouco, e do nada acordo com uma manada de gente berrando, saio para fora e me deparo com esse caos! O que diabos aconteceu?!

— Parece que o sono foi tão pesado que nem ouviu minha mensagem de aviso. – Revirou os olhos. – Eleve seu campo de visão e você estenderá o que está acontecendo! – Foi o que ele fez, desatentou-se àquela loucura de pessoas gritando, e elevou o olhar. Seu semblante antes confuso, tornou-se incrédulo.

— Meu Deus… – Passou a mão sobre a testa que suava frio, repuxando os cabelos.

[…]

— Que estranho, essa carta não tem remetente… – Analisou a rosada, que já terminava de traduzir as últimas cartas do dia. – E é destinada a Minstrel… É, parece que o correio mágico nunca vai aprender que o 'm' minúsculo refere-se a Magnólia e o maiúsculo a Minstrel – Soltou uma pequena risada. Não era a primeira vez aquilo acontecia, mas pode se dizer que não era tão ruim, pois assim Fiore saberia de informações importantes que estavam por fora, como um complô entre países. Por isso, não hesitou em começar a traduzir.

“O equilíbrio foi rompido.

Agora existe uma zona a mais e um governante a mais;

O escolhido da calamidade-…”

— Zona? O que é isso? – Perguntou-se confusa, não houve muito tempo para pensar, pois logo pode escutar uma voz conhecida.

— Aqui é a Vice-Tentente! Escutem com atenção! O vulcão Phoenix está prestes a entrar em erupção! Por favor, não entrem em pânico, apenas ouçam minhas ordens: Líderes e esquadrões sigam para a estação A! Repetindo, líderes e esquadrões sigam para a estação A! – Levantou-se de um pulo. Não acreditou no que ouviu. Como poderia entrar em erupção se está inativo? – Qualquer um que se localize dentro da base, saia imediatamente, o sistema de segurança de arquivos será ativado e todas as portas serão trancadas!

O cérebro demorou a processar aquela informação. Tentou manter a calma mas era impossível. Todas aquelas cartas que traduzira deveriam ser entregues à central da cidade o quanto antes. Ela precisava levá-las junto a si, porém ao todo eram mil quatrocentos e dezesseis traduções.

— Deus! Onde estão as maletas?

“Sistema de segurança de arquivos: 10 segundos para o travamento das portas.”

Ouviu a voz mecanizada do programa.

Seu coração batia forte, pesquisando com os olhos em cada canto do aposento pelas maletas. Procurou nos armários, estantes, gavetas, detrás das cortinas, dos livros. Nada. A visão ficava mais turva a cada contagem do programa, quando em um estralo, lembrou-se de onde havia colocado na última vez.

5

Atrás da pintura, junto ao cofre.

Sem demora, retirou o quadro, revelando uma entrada, lá estavam elas. Pegou-as, e aproximou-se da mesa às pressas.

4

Sem cuidado algum, apenas jogava os papéis para dentro das malas, não se importando se amassassem, ela só queria ser rápida. No entanto, infelizmente, com a falta de organização, os documentos não cabiam e escorregavam para fora.

3

O pânico tomava conta da sua mente, Áries arremessou para fora alguns papéis que julgava não serem importantes.

2

Prensou tudo com força, até que ouviu o 'click' da mala se fechando. Segurou nas alças das maletas, correndo para a porta.

Entretanto, ela notou que esquecia algo. A carta, na qual, transcrevia até poucos minutos atrás estava com a tradução incompleta, e a rosada só havia pego os documentos que já estavam finalizados. Ela poderia desistir, e sair logo do compartimento, mas algo a dizia que o papel tinha informações muito importantes.

Seu olhar o localizou. Em cima da mesinha de trabalho, a quatro passos de distância.

1

Não pensou duas vezes, e retornou para buscá-lo. Sua respiração estava acelerada, e as pernas tremiam no caminho. Talvez essa fosse sua resposta, pois quando apanhou a carta, e já preparava-se para escapar, suas pernas traiçoeiras a fizeram cair no momento da pressa.

0

O ruído do ferro no trilho e o embate com a parede ecoaram no local.

A porta estava trancada.

Arregalou os orbes avelãs. O que ela via em sua frente não era simplesmente uma porta, ela via o fim. Presa em um lugar sem nenhum tipo de escapatória. Ela só tinha duas opções, morrer queimada se, realmente, a lava pudesse derreter a poderosa infraestrutura de ferro, ou, morrer asfixiada, pois em algum momento o ar dali acabaria.

Deslizou os pés até aquilo que antes era sua única saída, e mesmo que inutilmente, batia e esmurrava o ferro de quinze centímetros de espessura até que suas frágeis mãos começassem a sangrar. Lágrimas desesperadas roçavam pela sua face rosada.

Socorro! — Soltou um grito esganiçado de pavor. – Alguém por favor me ajude! – Escorregou até o chão, desistente e assustada. – Loke!

[…]

— Aguentem firme! – O comandante gritou para que os companheiros escutassem, já que estavam um pouco afastados um do outro. A lava já entrava em contato com a barreira mágica que criavam, e quanto mais tempo se passava, mais alto era seu conteúdo. Uma hora ou outra, seriam engolidos por aquele líquido pastoso.

— Vocês não vão aguentar.

O azulado levou um susto com o surgimento inesperado de um visitante, talvez não muito bem-vindo naquela vila. Seus olhos voltaram-se para frente, onde o som daquela voz – tão calma que chegava a ser arrepiante – havia soado, como o uivar dos ventos. Encontrava-se com orbes dragonificas* de um verde tão brilhante ao ponto de serem sombrias. Um rapaz de cabelos estranhamente rosados estava do outro lado da barreira, a substância vulcânica chegava até sua cintura e mesmo assim, aparentava não sentir dor. Como um verdadeiro monstro em forma humana.

Jellal permaneceu calado, muito transtornado, analisando aquela fisionomia que esbanjava ar de indiferença. Ele concluiu que o estranho jovem era o culpado daquele terrível destino, causando-o repulsa, no entanto, conteve-se, tentando entender, como alguém poderia ser tão frio em meio àquele cenário agonizante.

— Basta eu aquecer um pouco… – Pousou a mão sobre a camada que protegia a vida e o futuro de todos que moravam ali, e tanto o comandante quanto todos os líderes, que emitiam a magia, sentiram uma grande pressão sobre eles e uma rachadura percorreu quatro metros de comprimento pela camada. – E todos vocês evaporam. – Proferiu a última palavra com tanto ódio que Jellal precisou de muita coragem pra sustentar aquele olhar.

— E o que ganha com isso? – Indagou finalmente, abrindo a boca ressecada.

Uma risada estridente ensurdeceu os ouvidos do azulado por um instante.

— O que eu ganho? Eu não ganho nada. – O outro franziu as sobrancelhas, não entendendo. Ele fazia aquilo apenas por prazer em observar rostos aterrorizados de pessoas à beira da morte, simplesmente como se visse quadros mórbidos em uma ala de museu? – Eu só quero receber meu pagamento na mesma moeda. Ninguém sai ganhando, um empate justo.

Não, não era prazer. Era vingança. E o comandante conhecia muito bem aquele sentimento.

— Eu entendo como o caminho da vingança é sedutor, mas acredite, não vale a pena.

— Ah, é? E o que você entende sobre isso? – Cruzou os braços.

— A vingança é apenas um meio que nos sustentamos para continuarmos a viver. Logo depois que você a conclui, você não encontra nada mais para seguir. Só restará a culpa ao pensar que se rebaixou ao mesmo nível daquele que lhe infligiu, você se igualará a ele, e nunca mais encontrará a felicidade. – Algo parecido acontecera com si, porém houve alguém que o fez enxergar. Alguém que era motivo suficiente para ele continuar vivendo.

— Ótimo sermão de vida! Sabe, uma vez em que acreditei em palavras parecidas, quase fui decepado por uma tesoura de jardinagem enquanto dormia, então, acho que não cometerei o mesmo erro. – Sorriu irônico, voltando a encostar na proteção, só que agora, com as duas mãos.

A pressão voltou, e muito mais forte. O suor escorria por todos os seus poros do comandante, e sua expressão contorcia-se com o esforço. O corpo respondia que não resistiria por mais que alguns segundos. Apesar disso, Jellal sorriu travesso.

— E quem disse que eu buscava convencê-lo? Nem eu mesmo acreditaria! – O rosado suspendeu a sobrancelha, sem compreender, não esperava aquela reação por parte do outro. – Isso, você que tem que vivenciar para descobrir! E se tiver tanta sorte quanto eu tive, encontrará alguém que valerá mais a pena lutar!

— Isso, chama-se ingenuidade! Nunca haverá ninguém, não mais! – Os músculos atrás de suas costas deslocaram-se, algo tentava sair de seus ombros desnudos, movimentando-se por baixo da pele. Repuxou os lábios em um grunhido alto quando o esqueleto de uma asa encoberta por escamas vermelhas e rústicas rasgou sua carne, libertando-se de dentro do híbrido, e que com a majestosidade dos reis ao abrir-se, esticou seus três metros de comprimento.

O vermelho era tão vivo que não sabia se dizer se era da coloração do couro, ou do sangue, que manchava e tingia as escamas da cor alarde, dando certa brilhosidade. A outra asa não tardou a desprender-se de suas costelas. Ele já acostumava-se com aquela dor cruciante ao excarcerá-las, seu corpo sempre se regenerava rapidamente.

A supremacia que emanou enquanto mantinha-as abertas era incontestável, e tão logo os olhares embasbacados puderam contemplar aquele poder, as asas potentes açoitaram o vento com ira, arrancando voo.

Quando sua figura sangrenta embrenhou-se por entre as nuvens negras e tóxicas, alçando-se com destreza até os céus numa cortante velocidade contra os ares, todos tomaram consciência da desgraça diante de si.

Trilhas de centenas de fendas cortavam a magia de proteção em migalhas. A superfície tão delicada que o simples pousar de uma pluma poderia destroçá-la fatalmente.

Um dos homens – que já aceitava a angustiante realidade – virou-se para o azulado, a face enrugada de emoção, e honrosamente sorriu, proferindo palavras de extrema admiração que comoveram o orgulho, que Jellal tanto tentava sustentar.

— Foi muito bom trabalhar com você, é um grande comandante.

— E você, um grande soldado e amigo, Simon. Obrigado. – A visão tornando-se embaçada com o abalo emocional, recordando-se de todas as memórias e lembranças, ruins e boas, de cada vitória e derrota, de cada momento de alegria e tristeza, de cada pessoa que deixaria para trás… Tudo passava como um estralo em sua mente. A sensação da morte em seu encalço. Levantou o braço direito, a mão apontando o céu acima de si. O símbolo de união. Virou-se, tendo a plena visão das faces daqueles que o acompanharam corajosamente até os confins do purgatório. – Obrigado a todos os presentes! A todos que lutaram bravamente durante anos! A todos que não desistiram por um segundo, e não hesitaram nenhum momento sequer em guerrear pelo seu grupo, pela sua família, pela sua vila! – Um a um, foram erguendo as mãos. – Foi uma honra participar de todos os gritos de vitória quando vencíamos as batalhas, de todas as noites de bebedeira em nossas derrotas… Além da ressaca do dia seguinte, claro – Gargalhadas foram ouvidas, assim como “É isso aí, Jelly!” – Cale a boca, Wally, esse apelido é muito afeminado! – Respondeu rindo, e logo voltou a fitar determinadamente o olhar de cada companheiro de batalha. – Aprendemos muito com nossas perdas, com nossos erros, e por mais que fosse difícil de tolerá-los, nós toleramos, e obtivemos brilhantes conquistas… Nossa amizade e confiança foram postas à prova inúmeras vezes, e mesmo assim, elas perduraram até os dias atuais. – O ruído das rachaduras não conseguiu atrapalhar aquele minuto de felicidade presente no coração de todos, onde não havia lugar ao medo. – Em suma, é por isso que hoje, não vamos lamentar uma perda, vamos parabenizar nós mesmos por batalharmos tão duramente pelo bem de todos os que amamos, sem vocês nada disso seria como é… – Alargou um sorriso de bravura. – Então, em nossos momentos finais, vamos urrar aos céus! Vamos demonstrar a força e o poder da vila do Phoenix!

Um brado estrondoso chacoalhou as montanhas. Um brado de euforia, de determinação, de força.

Em meio a tudo, a todas aquelas vozes entrecortando a região de sentimentos de alegria e mágoa, lágrimas – há muito escondidas – de um homem que apenas desejava viver contornaram seu rosto.

— Erza, cuide bem da pequena Lucy.

A última coisa que sentiu ainda em vida depois disso, foi cada fibra de seu corpo queimar em uma dor excruciante.

Ao menos ela não tardou a cessar.

[…]

— Aries! Aguente firme! – A voz potencializada em agonia gritou para o lácrima – o qual, a rosada comunicava-se em soluços exasperados – dentre o tormento de pessoas que os dois esbarravam no caminho. Uma corrida contra o tempo. – Eu vou te tirar daí!

Os pés doendo com a rigidez imposta contra o solo. O atrito do asfalto parecia fazê-lo movimentar-se como uma tartaruga, enquanto os segundos extrapolavam a velocidade da luz.

— A energia do lácrima está esgotando… – Avisou num fio de voz.

O rapaz comprimiu os dentes.

— Eu vou te tirar daí! – Repetiu.

Suas narinas e garganta ardiam com a respiração apressada e cansada, mesmo assim, suas pernas tensionadas prosseguiam para a cabine de comando sem diminuir o ritmo, apenas acelerando cada vez mais. Precisavam cancelar o sistema de segurança, e a distância era a sua única inimiga.

— Loke! – Berrou a azulada – que corria atrás do mesmo durante o percurso – apontando para a barreira.

Olhou para trás, atendendo o chamado, e ao ver a face aterrorizada de Levy, acompanhou com os orbes azuis para onde o dedo da garota indicava, bem a tempo de observar as milhares de fendas que se interligavam como uma teia de aranha eclodirem subitamente.

Agora, nada mais os protegiam.

A lava, antes comprimida pela magia, libertou-se, engolindo a Estação A igual a uma onda agitada e traiçoeira, levando consigo tudo que encontrava no caminho. Os gritos tornaram-se mais apavorados, enquanto todos apressavam-se para a última e mais longe Estação, a G. Os moradores chocavam-se contra Loke e Levy, quase arrastando-os juntos, mas eles permaneciam parados por longos segundos, tentando absorver duas informações não absorvíveis. Tanto Jellal e os soldados quanto a cabine que dirigiam-se estavam na Estação A, onde tudo não passava de um oceano rubro e brilhante.

A Vice-Tenente caiu de joelhos, desalentada. Não reprimiu a vontade de gritar em meio ao choro incessante, seu coração retumbava em amargura. Aquilo não podia estar acontecendo, mas estava, no entanto o quinto líder recusava-se a crer.

— Onde… Onde eu posso encontrar um machado? Serra elétrica? Qualquer coisa! – Cerrou os punhos, abaixando o olhar para Levy, procurando encontrar a resposta em suas orbes castanhas.

— Quê? – Indagou, confusa, secando com as mãos seu rosto molhado.

— A base localiza-se na Estação B, eu ainda posso arrombar a porta!

— Você ainda pretende fazer isso? – Questionou retoricamente com os olhos semicerrados. – Não vê? Todos nós vamos morrer de um modo ou de outro, assim como Jellal e os outros! Não podemos salvá-la.

— Não! Eu posso- – Áries cortou sua sentença. Os lácrimas ainda estavam conectados e ela podia ouvir tudo.

— Está tudo bem, Loke. – Escutou a rosada sussurrar.

— Não, Áries! Não está! Eu vou tirar você daí, e nós vamos viver, eu estive treinando aquela magia, lembra?

— Se a Estação A já foi destruída, qual a chance de você ter tempo para chegar aqui e arrombar uma porta de quinze centímetros em puro ferro?

— Não saberemos se não tentarmos!

— Não, você precisa viver, Loke. Está tudo bem, eu finalmente poderei fazer algo de útil ao mundo.

— Do que você está falando? Algo de útil? Você já ajudou muito, Áries!

— Eu traduzi uma carta. Uma carta que pode salvar a todos de uma terrível calamidade!

— Do que diabos você está falando? Não adianta, eu vou buscar você!

— Por favor, não! Não venha! Apenas escute, guarde bem as palavras que eu vou dizer, e minha morte não será em vão. Eu estou presa graças a isso… Se você vier aqui, você também vai morrer, e essas palavras estarão perdidas para sempre!

— Não… Eu não posso perder você! – Bradou, as mãos tremiam com o medo de que aquilo realmente acontecesse.

— Por favor…

Fitou a lava adentrando cada vez mais na vila, o tempo passava, e via a chance de resgatá-la chegando a nulo. Respirou fundo, sentindo os olhos, quase transbordando, arderem e permitiu realizar seu último desejo.

— Diga.

Ela sorriu tristemente do outro lado da transmissão, agradecendo mentalmente por ele a entender, mesmo que não concordasse com aquilo. Esforçou-se para que a voz não saísse falha e soluçante e assim fazê-lo se sentir ainda mais arrependido, e contou-lhe tudo rapidamente, todos os detalhes descritos naquele miserável pedaço de papel que havia lhe custado a própria vida, contudo, não se afligia, pois sabia que fora o correto a se fazer.

O rapaz segurava a vontade de chorar, não era do seu feitio, mas a cada segundo tornava-se mais insuportável segurar aquele sofrimento de não poder fazer nada para impedir a morte de uma pessoa amada. Decidiu que, se ele nunca mais a veria, deveria ser honesto naquele momento.

— Eu… E-eu gostaria de lhe contar uma coisa.

— Não fale isso. – Ele calou-se, confuso.

Em resposta ao silêncio de Loke, a rosada continuou.

— Eu sei o que você diria… – Foi possível escutar a menina fungar. – Não vamos tornar as coisas mais difíceis, sim?

— Você… Sabe? – Perguntou hesitantemente.

— Sim, e eu sinto o mesmo. – Pela melodia da voz da garota, ela deveria estar sorrindo.

Em meio àquela atmosfera carregada de desespero e tristeza, por um súbito instante, a felicidade abraçou o peito do rapaz, tão forte que nunca sentira algo parecido antes.

— Obrigada por tudo.

Porém, na mesma intensidade que ela veio, foi arrancada de si, quando o lácrima, com a energia esgotada, desvaiu a sua frente. O vazio preencheu sua alma, de tal forma que ele berrou com tudo o que lhe restava de forças, expelindo todas as lágrimas que ousara segurar. O conteúdo vulcânico consumiu sem misericórdia, o que um dia foi a Estação B, e o que um dia foi parte de seu coração. Continuava estendendo-se, e não demoraria a chegar onde os dois estavam, ambos de joelhos frente àquela realidade cruel. O que deu forças para Loke levantar-se com as pernas firmes, era o último desejo da garota. Ele não morreria por aquela maldita lava, ele não permitiria que a morte de Áries fosse em vão. Ele realizaria aquele pedido custe o que custasse.

Agarrou o pulso da azulada, que se assustou com o ímpeto, sendo levada pela corrida do líder para longe do tsunami vermelho. Pelos cálculos, Levy previa que não escapariam da fatalidade, o chão que os separavam já era medido em metros.

— Não vamos conseguir! – Exclamou quase desistente.

— Ah, vamos sim! – O olhar era tão determinado, que Levy pode concluir que de algum modo eles sobreviveriam. E ela estava certa. Loke estendeu a mão para frente do corpo, era agora ou nunca. – Abra-te portão do Mundo Celestial!

Um imenso portal azul surgiu diante deles, e num pulo atravessaram a magia com os corações quase escapando do peito. O portal desapareceu na mesma hora, e cinco segundos depois o lugar que estavam fora coberto pela lava.

[…]

Onde os ventos são mais furiosos e gélidos, onde mesmo o fumegar do calor escaldante do vulcão não pode aquecer, quilômetros de ar distanciando-a do solo, encontrava-se uma criatura a plainar suas asas reinadoras dos céus, invejando-lhe as mais belas aves que desfrutavam dos ares tropicais, aquelas quais pousavam sobre os galhos, intimidadas com a soberania.

Esta criatura observava a figura delicada e frágil de uma humana que aprofundava-se na mata. Os fios dourados – que ora apareciam e ora omitiam-se sob as folhas verdes das árvores – balançavam revoltosos na corrida desesperada. Os olhos de íris reluzentes e esverdeadas acompanhavam o movimento da fugitiva satisfeitos com a visão de superioridade sobre tudo abaixo de si.

— Parece que o cordeiro pensa que pode fugir do predador. – Sibilou venenoso como uma serpente, e afiado como os dentes de tigre que situavam-se escondidos pelos seus lábios entreabertos.

*Dragoníficas – Neologismo.


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Notas finais do capítulo

Bianca: Você está me zoando que O JELLAL TAVA MORTO TODO ESSE TEMPO?!
Isa-chan: Então... hehe
Bianca: Você nos enganou!
Isa-chan: Vocês que se precipitaram demais, uai! Eu só via gente falando "EEEEEEEH! JELLAL TÁ VIVO!" ou "Se o jellal tá vivo significa que os outros também podem estar!" e eu: ~huhuhuhu Tudo iludido, pobre coitados :v
Bluny: Você é muito má, devia maneirar aí, sabe? Pelo bem da sua saúde... :>
Isa-chan: Por que sinto que isso foi uma ameaça?
Bluny: Porque foi, oushi.
Isa-chan: Quantos tijolos pra fortaleza ficar pronta?
Happy: Uns 100.000.
Isa-chan: Acho que vou tentar uma vida em Marte '-'
Bluny: Como sabe que vou pra lá também? :D
Isa-chan: Saturno, talvez?
Bluny: Opa, adoro Saturno e
Isa-chan: Já decidi que vou pra Plutão!
Bem, enfim, eu posso ser má às vezes, então não ache que está todo mundo seguro, porque vou te dizer uma coisa... Ninguém está! hoho :>
Policial: Ah! Então é você que anda matando pessoas inocentes, não é?
Isa-chan: Quê? Não! Eu to falando da história que escrevo e-
Policial: E ainda tenta contornar a situação! Pois saiba, que você ficará presa por 50 anos por tamanhas atrocidades!
Isa-chan: Nããão! Não é verdade, sério, eu sou inocente! Falem pra ele, pessoal!
Todo mundo se entreolha e sorri: :> PREENDE ELAAAAAAAA!!!
Isa-chan: NOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO~
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Acho que depois desse capítulo, posso ficar longos meses sem postar, né? :v

Para os shippadores de Jerza, saibam que a morte de Jellal não significa que não terá o casal, e não, ele não vai ressuscitar ou virar um zumbi, ele morreu mesmo gente... Sorry... Mas aí vocês se perguntam "Como então?"
O shipp vai acontecer apenas em cenas do passado.

E o NaLu? Bem, o primeiro momento deles, onde os sentimentos estarão mudando, será, se tudo der certo, no capítulo 16 ;D

Agora, fiquem com a música recomendada pela nossa querida DJ tsumy-turuioku:
https://www.youtube.com/watch?v=r_WxpjhzKHI

Até a próxima, queridos leitores! ;*



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