Inveja e Avareza escrita por Diego Lobo


Capítulo 2
Tristeza e Agonia




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Cherry estava encostada na pequena janela do avião. Era madrugada e os poucos passageiros que havia na primeira classe dormiam tranquilamente. Alphonse estava desmaiado e roncava baixinho. Seus cabelos negros cintilavam e mesmo dormindo ele parecia sorrir para ela.



— Não consegue dormir? — perguntou Alphonse despertando.

— Não…

— Você esta tão linda nessa janela.

― Volte a dormir Al. ― pediu séria.

― Não quero. ― falou ele se aproximando da garota, que se assustou imediatamente.

― Me pergunto sempre… até quando eu vou conseguir me conter para não beijá-la? — disse o garoto mais próximo ainda de Cherry — Bem… cheguei a meu limite…

— Al não… ― Tarde demais, Alphonse avançara com tudo nos lábios de Cherry.

Ela tentou segura-lo, mas seu corpo cedeu quase que imediatamente, com movimentos famintos. Ele a beijava com tamanha intensidade que Cherry já não sentia seus pés.

“Depois que ele lhe der o primeiro beijo, começara a te esquecer”.

A frase apareceu em sua cabeça como um choque, que foi o bastante para ela acordar de seu sonho.

Estava encostada na janela, chovia muito lá fora. Alphonse roncava tranquilamente ao seu lado com os dedos entrelaçados aos seus. Seria esse o motivo do sonho tão real? A primeira vez que ele fizera aquilo com ela foi preciso o uso de água. Seria possível?

— Cherry querida… — gemia ele baixinho, ainda sonhando.

Ela o observou comovida. Era difícil para ele também, não podiam se beijar, o risco era muito grande. Cherry não queria sequer cogitar em perder Alphonse. Ele a esqueceria para sempre e ela teria que viver com a dor da pessoa amada não se lembrar dela.

Um pesadelo, ou uma espécie de conto de fadas maluco.

― Assim mesmo Cherry… assim está bom. — Cherry revirou os olhos, pronta para dar um soco no garoto, mas ele gemeu de dor antes que ela o tocasse.

― Ai, é brincadeira! ― disse ainda dormindo.

Concluiu que a Cherry do sonho batera por ela. “Ele é chato até dormindo, pelo amor de Deus!”. Sentiu vontade de ir ao banheiro, mesmo que estivesse traumatizada pelo resto da vida. Levantou e viu que estava quase tudo apagado.

As aeromoças deveriam estar em outro compartimento do avião, e os outros passageiros dormiam espalhados por vários cantos, realmente havia pouca gente ali. Ela caminhou lentamente até o banheiro e se assustou um pouco com o trovão do lado de fora do avião “Alphonse se for você eu juro que…”

— Boa noite doçura!

Quase enfartou quando um jovem rapaz lhe cumprimentara bem a sua frente. Ele aparecera do nada, era alto e tinha cabelos ruivos que desciam até seu pescoço. Havia mais alguém de pé logo atrás, era uma garota negra de cabelos rebeldes.

— O gato comeu a sua língua? ― perguntou o jovem com um sorriso, ela imediatamente percebeu que se tratava de alguém incomum. Era atraente demais e cheio de si.

É claro que existiam pessoas assim em todo lugar, mas era inexplicável o ar que aquela pessoa transmitia.

— Arg Albert! “O gato comeu a sua língua”? Você tem cinqüenta anos por acaso? ― comentou a garota se aproximando, Cherry recuou alguns passos.

— Calma querida, eu não mordo. ―brincou.

Era extremamente atraente e exibia varias argolas douradas nos braços e brincos extravagantes nas orelhas; era uma africana surpreendentemente linda.

— Nossa… você tem traços interessantes. — disse o rapaz estendendo as mão para o rosto de Cherry, um outro trovão caia lá fora, e perdendo o fôlego mais uma vez viu que Alphonse estava parado entre os dois.

— Alphonse! — gritou alegre o jovem. Alphonse abriu um sorriso imediatamente.

— Albert, meu irmão! — respondeu abraçando-o com vontade.

Parada ali Cherry se sentia uma completa idiota. Não sabia o que estava acontecendo e a vontade de ir ao banheiro só a deixava mais nervosa.

— Ok, você nunca me disse que tinha um irmão — comentou ela tentando simular um sorriso amigável. “Um irmão que não se parece nem um pouco com você”.

Ele a ignorou completamente, continuou abraçando o ruivo com vontade, era quase uma disputa de força.

— Garotos… — disse a garota que estava com Albert, Cherry sorriu concordando. A idéia de duas figuras misteriosas aparecem no avião não a deixava nenhum pouco tranquila.

Os dois finalmente pararam com o abraço.

― Quanto tempo meu irmão! ― disse Albert.

― Seis meses meu irmão, seis meses! — disse Alphonse sorrindo, estava realmente emocionado — Não esperava uma recepção antes de pousar nos Estados Unidos.

— O avião entrou em espaço americano há algumas horas, eu não pude evitar, ainda mais com essa tempestade maravilhosa! — falou ele apontando para janela. — Mas não esperava que você trouxesse uma distração da Europa, você sabe que minhas recepções são sempre calorosas!

— Distração? — perguntou Cherry com a voz meio alterada. Alphonse deu uma risada envergonhada.

— Creio então que tenho a permissão para pousar no seu território meu irmão? — perguntou Alphonse cortando o assunto.

— Mas é claro que tem, fico até ofendido que precise me perguntar uma coisas dessas! — disse o jovem energeticamente dramático — Eu poderia ter mandado um de meus filhos é claro, mas eu sabia quer era você.

Cherry arregalou os olhos quando ouviu a palavra “filhos” sair da boca daquele rapaz que aparentava ter dezessete anos. Alphonse percebeu o espanto da garota, mas a ignorou novamente.

— O que veio fazer em meu país? — perguntou ele interessado, Alphonse respondeu imediatamente.

— Negócios meu irmão, somente negócios.

— Entendo… às vezes preciso ir para o Japão ou China para resolver assuntos financeiros, você ficou sabendo que o Luxúria Asiática foi morto?

Fez-se um breve silencio.

— Não…, não estou a par das fofocas do nosso mundo! — riu Alphonse, a morena parecia não acreditar naquela risada.

— Foi melhor assim, aquele cara dava dor de cabeça —disse Albert distraído — Esses impuros estão cada vez mais ousados.

— Eu concordo meu irmão. —falou Alphonse com seu sorriso insistente.

Estava bem claro para Cherry que ele não era uma pessoa normal, “como ele sabia sobre o Luxuria Asiática?”, pensou ela. O cara que fora para NewCastle com a intenção de assassinar o Luxúria da Europa, Alphonse. Uma espécie de disputa por títulos doentia.

Albert olhou mais uma vez para Cherry, estava um pouco intrigado.

— Bela garota — comentou pensativo — Eu vou nessa meu irmão! — Ele deu meia volta passando pela jovem eu o acompanhava — Muito o que fazer, vou dar uma festa daqui a três dias…

— Estarei lá! — respondeu Alphonse de imediato, Cherry o encarou, mas ele a ignorou mais uma vez. — No seu navio eu suponho?

— Sim, eu comprei mais um! — riu Albert cheio de si.

— Sempre é bom ter mais de um, assim não nos cansamos facilmente — disse Alphonse dando de ombros.

Mas algo estranho aconteceu, aquelas palavras ditas por Alphonse provocaram uma feição estranha no rosto de Albert, Cherry pode ver ali uma tristeza, mas já tinha sido substituída rapidamente por um sorriso.

— Até breve meu irmão. — disse o garoto ruivo, ele tocou o braço da linda jovem morena e em segundos desapareceu ao som do trovão.

Um estante de silencio tomou o avião. Alphonse simplesmente voltou ao seu lugar, Cherry o seguiu, trasbordando de curiosidade.

— Legal, você pode começar a falar! — pediu ela garota baixinho.

— Falar o que? — Alphonse adorava deixar Cherry curiosa.

— Quem era aquele cara, e não me venha falar que é seu irmão!

— Ele é meu irmão. — afirmou ele — Não temos os laços de sangue, mas crescemos juntos…

— Alphonse, eu quero detalhes! — ordenou.

— Minha curiosa linda! — riu pegando em suas bochechas. — Ele se chama Albert Moore. Como você deve ter notado ele é um pecado assim como eu…

— Luxúria também?

— Sim, ele é americano e tem o título sob a America do norte. — Cherry deduziu então que se tratava de alguém muito poderoso — Ele também descende da linhagem pura, ou seja, ele herdou esse poder.

— Igual a você — concluiu Cherry.

— Exatamente. Eu o conheci ainda pequeno… viajávamos pelo mundo através de tempestades. — Era uma coisa assustadora para ela, o fato de alguém poder se transportar de um lado para o outro, através dos raios. — Nos encontramos em uma ilha no caribe, já sabíamos que os pecados tendem a enfrentar uns aos outros então travamos uma batalha.

— E quem ganhou? — Ela tinha que perguntar.

— Isso importa?

— Sim. — respondeu teimosa.

— Ele ganhou. — disse revirando os olhos, Cherry riu.

— Mas foi por pouco!

— Claro que foi.

— Continuando… — falou zangado — Ele me derrotou por pouco, mas poupou minha vida, creio que crianças não têm muito instinto assassino.

— Ao menos isso.

— Depois nos tornamos grandes amigos, aprendemos a usar nossos poderes de forma surpreendente, e ficamos com incontáveis garotas ao redor do mundo.

Ele olhou para cara de Cherry esperando alguma reação, ela não disse nada.

— Incontáveis garotas no mundo inteiro, muitas mesmo! — insistiu ele — Montes e montes de garo..

—Eu escutei da primeira vez, não sou surda! — falou nervosa.

Agora satisfeito ele resolve continuar, enquanto os olhos de Cherry giravam em 360º.

— Depois de um tempo encontramos outro garoto Luxúria, e formamos então um trio.

— Os três Luxúrias? — perguntou ela, imaginando o nome do trio.

— Não.

— Triplo charme?

— Não.

— Os gatões?

— Não, mas essa boa.

— Desisto…qual era o nome do seu trio fantástico?

— “Garotos Perdidos”. — falou Alphonse finalmente.

— Hum…imaginava algo mais…A sua cara!

— Pensamos mais no significado… Nenhum de nós tinha pais. Minha mãe morreu quando eu era novo e eles nem tiveram a mesma sorte de ter uma mãe. Estávamos perdidos…Perdidos no mundo.

A mãe de Alphonse morrera muito cedo, ele nunca havia conhecido o seu pai. Cherry tinha uma triste teoria sobre aquilo, pois ela suspeitava que assim como Alphonse, seu pai também possuía a maldição do pecado Luxúria, em que se esquece da pessoa com quem teve relações.

A mãe dele ficou então sozinha e logo em seguida adoeceu. Cherry nunca falou nada, mas tinha uma forte admiração pela mãe de Alphonse, desejava sempre que ela ainda estivesse viva, queria conselhos da pessoa que esteve na mesma situação que ela. Pensava triste, em como deve ter sido a vida do pobre garotinho Luxúria sem sua mãe, mesmo com toda a vida luxuosa que teve, ele sempre deixava transparecer que sentia falta de laços familiares.

— O que foi? — perguntou Alphonse, ela nem reparara que estava distante.

— Nada…Mas o que houve com vocês? Quer dizer, vocês não andam mais juntos não é?

— Não, depois de um tempo nós acabamos brigando uns com os outros, por diversas causas, enfim nos separamos…

— Que droga…

— É… Mas nos víamos às vezes, eles foram o mais próximo que eu tive de uma família depois da minha mãe…

— E que história é essa de ter filhos? — perguntou

— É como ele se refere aos nossos “subordinados”. Aqueles que aceitam a Luxúria que nós oferecemos, ele os chama de filhos.

— Isso é… meio estranho.

— Um dos fatores que causou nossa separação foi esse seu desejo compulsivo de atrair mais jovens para seu domínio, ele transforma centena deles por ano.

— Meu Deus, centenas? — Perguntou espantada.

— Por aí…eu nunca gostei muito de ter esses subordinados, só me dão dor de cabeça! — Cherry lembrou do seu encontrou com alguns desses subordinados, “Demônios da Luxuria”, que tentaram violá-la, mas a culpa também era de Lara que armou aquilo tudo, “Aquela vaca”.

— A garota que estava com ele, quem era?

— Zahara, ela é linda não é?

— Parecia uma Deusa africana. — admitiu.

— Ela é uma Gula, uma raridade. — Cherry ficou surpresa sem aber que a jovem era um pecado também.

— Raridade? — perguntou confusa, Jenny sua amiga também era o pecado Gula.

— Ela é uma raridade por ter nascido como a Gula. São pouquíssimos os que nascem com esse pecado… ele é mais comum por ser adquirido.

Cherry não disse nada, ficou pensando em quantos mais pecados encarnados existiriam pelo mundo. Todas as coisas ruins que aconteciam no dia a dia… Seria por culpa de algum pecado?

— Você me ignorou completamente agora pouco… como se eu não existisse. — comentou Cherry baixinho cruzando os braços.

— Nunca atuei tão bem em toda a minha vida! — falou ele cheio de si.

Ela desviou os olhos.

— Ah Cherry, eu estava fingindo!

— Não consigo entender o porquê? — disse aborrecida — Tem vergonha de mim?

Cherry disse aquilo com uma imensa insegurança e culpa. Afinal quem era ela para julgar um comportamento daqueles, sendo que não conseguia dizer para o seu próprio reflexo no espelho que era namorada de Alphonse. Uma parte do seu cérebro bloqueava aquilo, ele era simplesmente contra todos os seus valores e preferências.

Desde pequena sonhava com seu príncipe encantado, nunca imaginaria que se apaixonaria pelo vilão. A mocinha sempre é seduzida pelo rapaz cheio de si e arrogante, mas é o doce e compreensível que leva a garota. “Essa é a lei da natureza”, pensava ela.

Nunca se quer sonhara que iria terminar namorando um cara que suas frases mais comuns eram:

“Você esta deliciosa hoje”

“Eu sei que sou irresistível”

“Eu te deixou sem ar?”

“Desse lado eu fico mais atraente?”

“E desse lado?”

“E esse?”

“Agora olha esse?”

“Cherry, e desse?”

“E esse?”

“E esse?”

— AI! — reclamou Alphonse — O que eu fiz? ­

Estava confuso, pois acabara de levar um soco da garota.

— Isso é por você ser chato até em meus pensamentos! — disse ela.

Alphonse sentia as dores no braço sem entender nada.

— Eu fiquei atraente desse lado? — perguntou exibindo o braço que levara o soco.

— Você quer levar mais um? — Perguntou zangada.

Com o passar do tempo, ela não conseguira dormir. Alphonse repousara sua cabeça no colo de Cherry e mexendo em suas coisas ele encontrou o baralho de tarô que a jovem há algum tempo havia encontrado no castelo.

Alphonse admirava, ainda deitado, sua carta “Luxúria”.

— Você acha que eu me pareço com esse cara? — perguntou apontando para imagem de um homem robusto se banhando com vinhos. Cherry estava sem paciência, bufou e revirou os olhos.

— Não, ele é mais bonito que você!

— Há ha, engraçadinha. — disse ele encarando a garota, mas como Cherry esperava ele levou a serio. — Você estava brincando… não é?

Ela não respondeu, estava longe dali. Lembrou que antes de partirem para o aeroporto a jovem jogara as cartas por mera curiosidade. Depois de ter colocado cada uma em suas respectivas posições, Cherry virou a primeira carta que correspondia a seu presente e lá estava uma cara de nome “A Encruzilhada”.

Leu em voz alta o que estava escrito na pagina de internet:

— Encruzilhada… ”como todas as cartas do baralho do Éden, A Encruzilhada pode ter vários significados, o seu mais comum então significa: um momento de decisão, de duvida a que caminho se deve seguir ou que decisão se deve tomar”.

A carta tinha uma imagem de uma estrada com dois caminhos, mas o que chamou a atenção de Cherry não foi isso. Ela enxergava algo mais ali, o céu. As estradas eram o significado da carta, mas o céu era nublado e tempestuoso, aquilo para a jovem tinha mais significado do que tudo. As outras cartas viradas não fizeram muito sentido, como sempre a carta que representava o futuro era a carta morte. Essa carta insistia em aparecer todas as vezes que ela jogava.

— Eu admito que até hoje me surpreende o fato de você cantar tão bem. — comentou Alphonse, despertando-a de suas lembranças.

— Por quê? — perguntou encarando o rapaz — É tão improvável assim?

— Não que seja improvável… mas seu charme de garota forte e decidida nunca iria me fazer imaginar que você poderia cantar uma canção tão doce…

— Em resumo, você me achava masculina demais para uma coisa dessas

— Não… eu não quis dizer isso! — gaguejou ele completamente sem jeito.

— Mas disse, e vai deitar essa sua cabeça enorme no colo de alguma garota mais delicada! — falou Cherry trincando os dentes, e tentando com todas as forças retirar a cabeça de Alphonse de seu colo.

— Perdão meu amor! — ria ele, apesar de tentar ser sério.

“A sua sorte é que você é irresistível!” gritou ela em sua cabeça.

Do lado de fora do avião o sol aparecia lentamente iluminando as nuvens. Os dois permaneceram acordados a noite inteira, mesmo que Alphonse tenha cochilado às vezes no colo da garota. Em seus momentos de fraqueza ela passou a mão nos cabelos dele, a sensação era muito semelhante a de um bichano ronronando em seu colo. Não sabia explicar, mas era relaxante.

Ele retribuía o ato de afeto com um carinho em seu joelho, deitado de lado e com os olhos fechados. Alphonse passava sua mão direita levemente no joelho da garota e ali ficava. A cada carinho que Cherry fazia na cabeça no jovem, os dedos dele se movimentavam lentamente seu joelho com o mesmo ritmo.

Cherry não demonstrava nenhuma alteração visível, mesmo tonta e sem ar, ela não fazia absolutamente nada. Era sempre assim, o que poderia fazer? Beijá-lo? Era tão torturante aquilo tudo, e talvez mais ainda por ela admitir para si mesma que amava Alphonse. Aquilo a corroia profundamente, pois mesmo com sua casca de “menina forte e decidida”, ela tinha essa imensa insegurança dentro de si.

Não era somente pelo fato de que ele poderia esquecê-la para sempre, aquilo era péssimo de fato, mas também havia o medo de ser a única a se sentir assim. Alphonse já dissera milhares de vezes que para ele era uma tortura também, mas ela não via isso. Considerava o seu lado o pior, pois esta muito submissa a esse sentimento. A cada mudança de humor de Alphonse existia o medo de que ele, de algum jeito, começara a esquecê-la.

Um medo doentio, ela sabia disso, mas não podia controlar. Ele provara seu amor, mas como saber se foi realmente sincero? “Ele se sacrificou para me salvar, pelo amor de Deus!”, pensou. Sim ele fizera isso, mas Alphonse não era uma pessoa normal. Para Cherry as coisas poderiam funcionar de um jeito diferente. “Para nós humanos normais o sacrifício é o auge, mas e para eles, os pecados?”, refletiu.

Talvez não fosse grande coisa. Talvez a Luxúria o fizessem agir dessa maneira. Cherry sabia que estava sendo estúpida, mas seu medo era estúpido, e tinha medo que ele a cegasse.

— Não se preocupe Cherry, vamos dar um jeito. — falou Alphonse de repente.

Ela se assustou com a fala dele.

— Do que você esta falando? — perguntou ela olhando para baixo, onde a cabeça de Alphonse repousava.

— Estou falando sobre suas duvidas, que sempre reinam sua cabeça — explicou ele soltando um suspiro.

Cherry não conseguia entender como diabos Alphonse sabia daquilo.

— Estou respondendo a alguma delas — disse ele com simplicidade — Vai dar tudo certo!

Não adiantaria negar e inventar alguma coisa, então resolveu entregar o jogo.

— Como você sabe, pode ler mentes agora? — indagou completamente surpresa.

Alphonse soltou uma risadinha baixinha.

— Cherry meu amor, de todas as minhas incríveis habilidade essa é a mais simples. — disse ele com seu ego mais alto do que o avião.

— Então você pode? — insistiu impaciente.

— Bem... primeiro eu preciso lhe informar que não existe esse negocio de ler mentes, sua cabeça não é uma revista nem um jornal.

“Você poderia ter falado livro” pensou teimosa.

— Não é possível saber exatamente o que a pessoa esta pensando, não da pra ver imagens nem palavras — Alphonse hesitou por um minuto e refletiu — É claro que para toda regra existe uma exceção, mas isso fica para depois.

— Então como? — perguntou ela sem paciência alguma.

— Para cada tipo de pensamento, triste, alegre, nervoso etc… o seu cérebro envia uma carga eletromagnética. — Alphonse teve certo trabalho para pronunciar a ultima palavra ― É uma carga diferente para cada pensamento. Cada pessoa tem as suas cargas um pouco diferentes uma das outras. O que eu posso fazer então é decifrá-las!

— Então…você decifrou o meu código? — perguntou Cherry espantada.

― Sim, é bem lindo sabe? Porque diferente dos cientistas que só podem entendê-los através de medidores chatos e sem graça eu posso enxergá-los! — Alphonse tentava representar o que estava falando com movimentos engraçados — São coloridos e tão belos…

— Iguais ao seu? — perguntou Cherry, se referindo aos belos raios azuis que Alphonse liberava quando usava seus poderes.

— Sim, mas em uma escala menor. — acrescentou — Com o tempo eu pude decifrar seu código, você anda pensando muito nisso, nem tem mais espaço para seus outros sentimentos…Como se esse dominasse todos os outros.

— Você esta viajando Al…

— Você pode sorrir e me bater, mas são movimentos involuntários Cherry querida, em sua mente um sentimento prevalece e ele criou uma mascara para você viver no dia a dia.

— E que sentimento é esse? — Ela tentou parecer desinteressada.

— Na verdade são dois… — enumerou com as mãos — Tristeza e agonia.

Cherry permaneceu muda.

— Você anda triste e extremamente preocupada com algo, e é claro que eu deduzi que se trata de nossa situação — “Incrível”, pensou ela.

Nunca imaginaria que Alphonse passara tanto tempo a analisando. Ela sempre o vira rindo e fazendo bobeiras, mas agora percebeu que ele a vigiava também.

— Então Cherry, acredite em mim quando eu digo que vai dar tudo certo, confie em mim. — E dizendo assim ele adormeceu novamente.

Adormeceu deixando Cherry sozinha com seus pensamentos, e mesmo que ele tenha garantido que tudo daria certo, isso não era o bastante. O sorriso e a confiança de Alphonse não eram o bastante e não serviam de resposta para nenhuma das tristes e agonizantes duvidas, que a sufocavam.







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