Praticamente Inofensiva escrita por lolat


Capítulo 3
Parte III




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Carregando uma sacola plástica com uma revistinha inédita e com um sorriso de contentamento estampado na face, Sheldon voltava para o automóvel quase esquecido das desventuras da viagem de ida. Entretanto, ao sentar-se no assento e sentir o cheiro do aromatizante de carros que Penny usava, o medo tomou conta dele outra vez.


Perscrutou as reações dela. Parecia ter-se tranqüilizado, acomodara-se ao volante com a mesma cara de boba-alegre de sempre. Porém, ela não ligou o motor. Ficou parada, olhando a rua.


- Penny? Algum problema?


Sheldon não pôde compreender a profusão de emoções que se confundiam no rosto dela. Podia resumi-las em apenas uma expressão: Penny estava estanha.


- Sheldon. – disse ela, com uma voz chorosa. Ele escutou com atenção (sua vida dependia de uma Penny psicologicamente saudável naquele momento) – Por que todos os homens são assim? E por que eu sou tão idiota e me apaixono por eles? Por que você não me disse que Leonard era igual a todos os outros?


Desabou em lágrimas outra vez. Sheldon depositou dois tapinhas em suas costas, mas ela o puxou e o abraçou com força. Ele se assustou. Sentiu que deveria dizer algo consolador. Tentou explicar a ela a situação.


- É natural que os homens troquem de parceira reprodutora sistematicamente, afinal eles foram biologicamente programados para fecundar o maior número de fêmeas possível no menor tempo. Penny? - ela não o soltava, e ele sentia a manga da camiseta do Flash tornando-se úmida. Prosseguia - Assim como é normal que as mulheres se apeguem ao macho e o queiram sempre por perto, já que seu objetivo, biologicamente falando, é o de constituírem um ninho e cuidarem da prole, amparadas pelo parceiro, o qual possui a função primitiva de caçar alimento e proteger a fêmea, assim como os seus descendentes...


Foi interrompido. Sentiu algo estranho. Lábios foram pressionados contra os seus.


Segurou Penny pelos ombros e tentou afastá-la, mas ela estava muito presa ao seu pescoço.


Ela não tinha nenhuma explicação racional para aquilo. Agira por impulso. Aqueles olhos, muito redondos, cinzas sob a iluminação fraca da rua, o jeito inocente dele, até mesmo o próprio desejo de repeli-la – tudo aquilo, somado à sua profunda decepção com o único homem que julgara decente dentre todos os que já tivera, a atraía naquele momento como um ímã irresistível.


Sheldon estava atordoado e com muito medo. Penny se inclinava inteira em sua direção, e ele segurava o tronco dela de modo a mantê-la a uma distância segura de seu próprio corpo.


Ela depositou beijos sobre os lábios dele, em cima e embaixo. Mordiscou a boca que ele entreabrira em um gesto automático. Procurou sua língua com a dela. Sabia que os corações dos dois batiam muito forte - e fazia tanto tempo que ela não sentia aquilo com apenas um beijo! Encontrou-a por um breve momento, úmida, fugitiva, deliciosa.


Ainda entorpecida, Penny sentiu a cabeça girar ao ser empurrada para trás, com força o bastante para que seus braços, enlaçados ao pescoço dele, se desprendessem, e suas costas batessem contra o estofamento do banco.


Dois olhos grandes e cheios de pânico a fitavam. Sheldon tinha a mão sobre o trinco da porta e o corpo inclinado para longe da garota fervilhante de hormônios ao lado de si.


- Você ficou louca?


- Sheldon, eu sinto muito. – ela baixou os olhos, destruída por aquele olhar. Sentiu-se absurdamente frágil, com um medo que não sabia definir do quê crescendo no peito.


Ele, por sua vez, tinha uma noção bem clara do que o apavorava, e mantinha a maior distância possível da área de perigo.


Penny girou as chaves, mordendo a própria boca. Ela era estúpida. Não sabia por que, mas era.


Sheldon manteve-se mudo durante a viagem inteira. Quando estacionaram na garagem do prédio, ele escapou do carro e saiu correndo, com a sacola da revista na mão.


Penny, confusa e atônita, arrastou-se pelas escadas até seu próprio apartamento. Não havia ninguém no corredor. Abriu a porta e entrou, largando as chaves e se deitando como uma bola no sofá azul.


Não dormiria naquela noite.

 


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