Lorena

Jefferson, Caio, Julia e eu estávamos em uma bela tarde de domingo aproveitando o último dia de férias. A rua de nossa casa, geralmente calma, hoje estava movimentada devido a todos que estavam voltando de viagem.

- Será um milagre se esses que chegaram hoje forem pra escola amanhã. – Comentou Jefferson, de onde ele estava deitado no gramado. Nós concordamos com ele.

Nós quatro sempre estávamos juntos, nas alegrias, nas tristezas, nas brigas...

Caio, o mais velho, é o nosso protetor, principalmente o meu pois vivo me machucando. Jefferson é o encrenqueiro da turma, por assim dizer, pois mexeu com algum de nós, mexeu com ele. Eu sou a esperta da turma, não que os outros não sejam inteligentes, longe disso, mas é que eu gosto de me manter informada, não é a toa que o Caio me chama de sabidinha. Julia é a princesinha da turma, por ser a mais nova. Ela não é metida, mas adora quando Caio e Jefferson a enchem de atenção.

A tarde passou rapidamente e nós quatro, juntamente com as outras crianças do bairro nos preparamos para brincar de esconde-esconde. Quando estava escuro o bastante pra isso começamos a brincadeira. Nós todos do bairro preferimos brincar quando já está escuro, pois assim fica mais difícil de um encontrar o outro. Por ser o mais velho, Caio foi o escolhido para nos encontrar, coisa que ele odeia, tenho que acrescentar.

Julia, Jefferson e eu nos escondemos atrás de alguns arbustos. Nunca é uma boa ideia mais de duas pessoas se esconderem no mesmo lugar, mas nós três sempre ficávamos juntos. Jefferson e eu temos a mesma idade, nove anos, ele sendo seis meses mais velho que eu. Caio é dois anos mais velho que nós e Julia dois anos mais nova. Mas voltando ao assunto, nosso esconderijo era perto e longe de onde Caio estava e se ele nos encontrasse havia um carreiro atrás de nós que seria nossa fuga. Terminando o tempo de contagem, Caio olhou em volta e por sorte ele foi para o lado contrário ao nosso. Respiramos aliviados, mas então me virei e congelei.

Atrás de nós estavam o maior leão do mundo e ao seu lado dois rapazes. Um era loiro, olhos azuis e alto. O outro tinha os cabelos e os olhos castanhos escuros, o cabelo estava um pouco bagunçado, ele era apenas um pouco mais baixo que o loiro. Ambos seguravam espadas.

Agora, eu sou conhecida por ser uma sabe-tudo irritante, mas nunca me chame de covarde. É claro que senti um pouco de medo e apreensão, mas isso foi por Julia; ela tinha apenas sete anos, ainda uma criança, eu posso ser uma criança também, mas na mente eu sou mais velha. E assim é Jefferson. Nós nos levantamos e encaramos os três estranhos de queixo erguido. Julia se prostrou ao meu lado e segurou a minha mão.

Caio

Os três pestinhas não me viram, estavam ocupados olhando pra algo, que quando vi também petrifiquei. Um leão e dois garotos armados com espadas. Lorena e Jefferson os encaravam de queixo erguido, enquanto Julia estava encolhida ao lado de Lorena. Isso me enfureceu, ninguém deixava meus irmãos ou a sabidinha com medo. Reuni minha coragem e caminhei até eles, ficando entre Lorena e Jefferson. Eu olhei para os garotos e o moreno olhou pra mim com desdém. Estreitei os olhos.

- Quem são vocês? – Perguntei o mais educadamente que pude. Você não iria querer falar rudemente com o maior leão do mundo ali te observando.

- Isso não é importante. – Disse o moreno e eu cerrei os punhos. Lorena percebendo colocou a mão em meu braço e eu relaxei um pouco.

- Acho que importa sim, pra vocês aparecerem aqui. – Retrucou ela e foi minha vez de sorrir.

- Eu sou Edmundo Pevensie. – Respondeu ele com orgulho. Eu olhei pra ele estranhamente.

- E você? – Perguntou Jefferson para o loiro, que sorriu.

- Eu sou Pedro, irmão mais velho desse idiota. – Respondeu ele e Edmundo olhou ofendido.

- Eu não sou idiota! – Exclamou ele e nós não aguentamos e rimos.

- Crianças. – Repreendeu o leão e eu congelei. Sim, o leão falou, eu não estou ficando louco, eu acho...

Olhei pra Lorena, que estava pálida; eu praticamente podia ouvir as engrenagens em sua cabeça tentando processar essa informação. Eu não estava me saindo muito melhor, nunca em minha vida eu pensei que algo assim pudesse existir, talvez eu esteja ficando louco. Jefferson estava olhando para o leão no temor e Julia estava espantada.

- Você fala! – Exclamou Julia depois de algum tempo. O leão soltou um som como se rindo; leões podem rir?

- Sim querida. – Respondeu ele e eu relaxei um pouco. Se ele tratou meus irmãos bem eu poderia considerar confiar, mas só um pouco. Esse sonho estava ficando mais louco a cada minuto...

- Como é seu nome? – Perguntou Julia.

- Me chamo Aslan, sou o criador de um lugar chamado Nárnia. – Respondeu ele e eu franzi a testa em confusão.

- Eu nunca ouvi falar de um lugar com esse nome. – Lorena expressou meus pensamentos. Sua expressão era de concentração, como se tentasse lembrar todas as cidades do mundo. – Eu sei que existe a cidade de Nárni, na Itália.

- Não é a mesma. – Disse Pedro, antes que ela perguntasse. – Nárnia é única. – Disse ele com expressão sonhadora.

- Mas o que vocês estão fazendo aqui? – Perguntei impaciente. Eu sempre fui curioso e esses três estavam fazendo minha curiosidade subir para um nível totalmente novo.

- Conhecê-los. – Respondeu Edmundo, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

- Desculpe? – Perguntei e Pedro suspirou exasperado.

- Tínhamos que conhecê-los. – Respondeu ele e Lorena franziu a testa.

- Por quê? – Perguntou ela confusa.

- Ainda não é o momento certo para que saibam. – Respondeu Aslan e eu levantei a sobrancelha.

- Se não é o momento certo, por que nos deixar curiosos? – Perguntei e Edmundo riu.

- Essa era a ideia. – Disse ele sorrindo, sendo atingido na parte de trás da cabeça por Pedro logo depois.

- Idiota. – Pedro murmurou e nós rimos do beicinho de Edmundo. – E não era para deixá-los curiosos, não tínhamos ideia de que vocês iriam nos ver.

- Caio! – Gritaram várias vozes e nos viramos para ver que todas as outras crianças olhavam pra mim irritadas.

- Você deveria nos procurar, ou esqueceu? – Perguntou uma garota chamada Vanessa com ironia e eu sorri.

- Na verdade... – Eu disparei até o meu local original, onde eu estava contando enquanto eles se escondiam, e vendo o que eu iria fazer eles gritaram e correram. Eu ri e olhei para meus irmãos, que ainda estavam no mesmo local, com olhar de espanto em seus rostos, como nossos três visitantes desapareceram em um piscar de olhos.