O Acampamento Místico escrita por Dama dos Mundos


Capítulo 4
Seja bem-vindo ao Chalé das Pestes.


Notas iniciais do capítulo

Yei, pessoal, saudades de mim?
Não...? Fazer o que. -q

Tenham todos uma boa leitura :3



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Depois de encarar aquela mão estendida por um bom tempo, Don finalmente moveu-se para apertá-la, trocando sua caneca de mão no processo. A pele da garota – ou seria melhor defini-la como mulher? – era macia e delicada ao toque, mas ele rapidamente quebrou o contato. Ajeitou os óculos sobre o nariz, sem tirar os olhos dela, e se apresentou. — Dominick… er, você disse Louise? A dona do quarto com a chuva de meteoros?

Ela assentiu com a cabeça. — Sim, sou eu mesma. Por que pergunta…?

Mas ele já havia passado por ela com pressa, como se a moça tivesse alguma doença contagiosa ou fosse uma psicopata. Apressou-se ainda mais para deixar o corredor ao cruzar com um Michael recém-desperto, que encarou-o por alguns instantes, antes de voltar os olhos para Louise.

— O que deu nele?

— Eu não sei… será que foi algo que eu disse? — ela cruzou os braços, inclinando a cabeça para a direita e franzindo as finas sobrancelhas.

— Não, você é um amorzinho de pessoa. — Michael esperou que a garota viesse até ele para lhe dar um meio abraço, já que também decidira deixar seus aposentos carregando uma caneca de cerveja.

— Francamente, você está bebendo cedo assim?

— O que foi? Fala como se eu fosse ficar bêbado… — fez uma pausa, tomando um gole do líquido. — Pretendia ver o novato para mostrar-lhe alguns lugares, mas parece que você foi mais rápida.

— Hum, deve ser porque meu quarto fica mais próximo do dele, e talvez porque eu não me levanto faltando dez minutos pro meio dia. Aparentemente é um péssimo hábito dos rapazes, esse…

Ele ignorou completamente a alfinetada e levou o dedo indicador a testa. — Como você acha que eu deveria começar o tour?

— Pelo que me consta, ele provavelmente cai começar sem você.

— Louise, Louise, sempre tão visionária. — ele apertou sua bochecha com os dedos da mão vazia, o que fez com que ela resmungasse em resposta. Só então pareceu prestar atenção na dupla de meninas paradas, uma em cada lado da porta de Don, olhando sem a menor noção de privacidade o interior do cômodo.

As gêmeas, Et e Cetera, tinham as fisionomias idênticas, lembrando bonecas de porcelana, pálidas e de traços harmoniosos, com o mesmo corpo mirrado e pequeno e a mesma juba encaracolada. Ambas dividiam também os olhos azuis gelo.

Et era uma chama carmesim. Seus cabelos eram ruivos e usava sempre roupas com cores quentes, do vermelho ao amarelo. Vestes fluídas, típicas de espetáculos circenses, ainda mais de trapezistas, que precisavam estar confortáveis para se movimentarem.

Cetera era um oceano gelado. O cabelo azul-turquesa combinava com seus olhos claros, e sempre usava uma roupa para que combinasse com a irmã, embora estas fossem voltadas para os tons frios, geralmente azuis, verdes ou roxas.

Naquele dia em especial, as duas usavam colans com suas cores principais, vermelho e azul, com saias de tecido semitransparente abertas frontalmente e inúmeras faixas de tecido que enrolavam-se nos ombros, pernas e braços. Não demorou para que começassem um diálogo, alheias aos seus dois observadores.

— Nossa…

— … que quarto tedioso.

— Não tem nem…

— … graça invadir isso aqui.

E sim… elas também falavam completando uma a outra.

Michael sorriu de canto, como se já imaginasse tal coisa, e começou a andar em direção ao último quarto do corredor. Louise, curiosa por causa dos comentários das duas meninas, seguiu-o. — Et, Cetera, se mandem daí, andem!

— O quê? Mas é verdade!

— Chato, chato, muito chato!

— Se não acreditam, venham ver por si mesmos! — complementaram juntas, abrindo espaço para que os outros dois olhassem também.

Michael bufou de tédio. Louise piscou os olhos, claramente decepcionada.

— Acho que definitivamente ele precisa dar uma passada pelo seu quarto…

— Ahan.

O instrutor puxou a maçaneta para fechar a porta, deixando o cômodo protegido dos olhares curiosos – além dos deles mesmos. — Eu até entendo o lado dele, quer dizer, nem todo mundo pede pra vir para cá, mas… é uma oportunidade única. Deveria tirar o melhor proveito dela. Quem sabe quando ele estará livre para voltar ao mundo lá fora?

— Imagino que nós tenhamos uma visão diferente das coisas, afinal passamos por situações diferentes, e… — Louise deu de ombros. — Como você mesmo disse, não é todo mundo que quer descobrir um universo mágico…

— Mas magia é legal. — alegou Et.

— Magia é incrível. — concordou Cetera.

— De qualquer jeito, temos de dar um tempo para que ele se acostume à ideia. — Michael voltou a beber sua cerveja, dando de ombros.

— E vocês tem de parar de intimidá-lo, o que será dele quando vir algum integrante do Chalé das Trevas? — a moça elevou as mãos. — Vai ter um infarto ou sabe-se lá o que mais!

— Quem é que está intimidando quem? Eu não sou nada assustador. — o mago sorriu daquela maneira ofuscante e quase predatória. Et e Cetera deram as mãos e passaram a girar enquanto cantarolavam.

— Seja bem-vindo, seja bem-vindo, ao show mais bizarro da terra! Nós damos as boas, boas vindas e pegamos emprestado algumas artérias!

Louise soergueu uma sobrancelha para a cena, levando a mão aos lábios para esconder o sorriso amplo que surgiu imediatamente em sua boca. — Bom… para quem está acostumado, vocês são muito divertidos.

— Sabemos o quanto nos ama. — brincou Michael, piscando um dos olhos, e acabando de beber sua cerveja num gole só. Quando terminou, respirou profundamente, a despeito da sua incapacidade de ficar bêbado, parecia bem alto. — Hum… já que o novato sumiu, vamos aos nossos afazeres diários.

Um coro de desapontamento ecoou pelo corredor.

— Treinamento, treinamento e mais treinamento. — Et cruzou os braços e bufou. A irmã apoiou-a em sua reclamação.

— Quando diabos vamos fazer algo diferente para variar?

— Vocês fazem algo diferente todo santo dia. — o mago revirou os olhos, descrente. — E além disso, Mizori estará ocupada hoje nas fronteiras, então eu e Morgana vamos ter que tomar o dobro de cuidado…

— O que anda acontecendo para que ela esteja ocupada? — cortou Louise.

— Vai entrar em contato com um candidato ao último cargo de Instrutor.

A boca da moça abriu-se em um “ah” de entendimento. Depois ela franziu as delicadas sobrancelhas. — Isso quer dizer que ela não estará de olho em nós?

— Eu vou manter meus dois olhos principalmente em vocês para que essa deficiência seja suprida. — A porta atrás de Michael abriu-se e um rapaz de traços belíssimos saiu lá de dentro. Seus cabelos eram negros e curtos e os olhos tinham um tom avermelhado, que combinava com o kimono preto com detalhes em carmesim que usava.

Ninguém poderia exatamente deduzir de onde vinha a beleza transcendente de Eyen no Yami. Talvez fosse de seu rosto delicado quase andrógeno, sempre demonstrando certa malícia. Ou era o efeito que seu poder causava nas pessoas ao redor, mais voltado ao sexo feminino. Eyen era um sacerdote de um deus das trevas, representante do pecado capital luxúria.

O cúmulo do absurdo fora que, estranhamente, ele apaixonara-se a primeira vista pela única mulher em todo o Acampamento que não poderia correspondê-lo de forma alguma.

— Ah… bom dia, Eyen. — saudou-o Louise com simpatia.

— Estão mais animados que o normal hoje, há alguma novidade? — ele não parecia estar num bom humor naquele momento, mas não deixava de ser educado.

— Mizori vai trazer o novo Supervisor. Estamos decidindo o que faremos já que ela não estará presente.

— Eu não acabei de dizer que nada de mais acontecerá? — suspirou Michael. Era óbvio que tinha uma bomba para desarmar, seu Chalé era o mais entusiasmado com tudo, nunca sabia o que fazer com tanta energia extra.

Et e Cetera prontamente o ignoraram.

— Eyen, vai brincar conosco…

— … ou procurar por Mizori?

A revolta ficou transparente na bela face por alguns segundos, antes que ele se controlasse e fizesse-a desaparecer. — Não tenho nada para tratar com aquela mulher.

As gêmeas começaram a dançar novamente, dando as mãos com ele entre elas e rodando ao seu redor, exclamando com alegria: — Eyen levou outro fora, Eyen levou outro fora!

— Ei, vocês duas, isso não é muito maduro…

— O dia que Et e Cetera agirem com maturidade, pode ter certeza que algo muito ruim estará para acontecer. — Michael deu de ombros. Louise estava apoiada com as mãos nos joelhos, rindo da situação toda.

— Sejamos otimistas, Eyen. Se esforce!

O rapaz suspirou, exasperado, e desfez o pequeno círculo a sua volta separando as mãos das meninas a força. — Fiquem quietas por um instante, senhoritas. — então pousou as mãos nas nucas de ambas e ergueu o olhar afiado para os outros dois. — O que faremos enquanto ela estiver distante?

— Michael quer nos fazer treinar até nossos membros caírem. — Louise revirou os olhos, recompondo-se.

— Morgana dá mais liberdade aos campistas sob a responsabilidade dela. — disseram Et e Cetera, juntas.

— É exatamente por isso que alguém tem de cuidar para que eles não devorem nenhum de vocês. De nada, a propósito! — o mago apoiou uma das mãos na cintura, fazendo a caneca vazia desaparecer da outra num piscar de olhos.

— Por que simplesmente não organizamos um jogo? — sugeriu Eyen, inclinando a cabeça para um dos lados. — Nós contra o Chalé de Morgana?

Os olhos de todos os presentes brilharam com a ideia. Era claro que não podiam contar com os ocupantes do Chalé dos Seres de Luz, eles costumavam seguir as regras a risca (salvo algumas exceções), mas os demônios e afins liderados por Morgana adoravam uma balbúrdia.

— Mas Morgana não concordaria com isso. — cogitou Michael, coçando a bochecha.

— É só um joguinho amistoso, o que poderia dar de errado? — questionou Louise, até mesmo ela parecia ter gostado da ideia.

— Okay, okay… não temos nada mais interessante para fazer mesmo. — o Supervisor deu-se por vencido, girando na direção das escadas, disposto a ter uma conversa com Morgana.

 

Dominick deixou seu Chalé como um raio, mas sem saber que rumo tomar. Decidiu ignorar as criaturas com aparência exótica – a maior parte vindos do Chalé da Luz – e os poucos humanos que estavam do lado de fora e rumou para a Casa Grande.

Ainda não havia notado o quanto era bonita por fora. Não pôde deixar de reparar nas penas que eram sopradas do telhado pelo vento, azuis e enormes. Ainda não havia cruzado com seu dono, pelo que acreditava, e preferia manter-se assim. Algo que deixa cair penas tão grandes não pode ser inofensivo.

Cogitou que talvez devesse procurar por Mizori. Ela ainda fazia-o estremecer, mas Michael tendia a deixá-lo ainda mais apavorado por conta de seu jeito amigável e humor negro. Ao menos a diretora não o assustava de propósito…

Com isso em mente, abriu a porta principal da casa e entrou. Deparou-se com uma residência aparentemente normal, com mobília normal e tetos e paredes normais. Totalmente diferente do Chalé em que estava hospedado. Então percebeu que entrar assim, sem bater ou chamar, era meio que uma falta de respeito, e engoliu em seco. Quem sabe o que Mizori faria com ele por invadir sua casa?

— O que está fazendo aqui? — questionou uma vozinha fraca, vinda de cima, a esquerda. Dominick endireitou os óculos apenas para dar de cara com uma cabeça que atravessava o teto e olhava diretamente para ele.

Seu grito de pânico não foi nada másculo.

— Que diabos é você!?

— Eu sou eu, ora. — a menina – ou parecia ser uma pelo menos, levando em consideração os traços e os cabelos muito longos, visíveis mesmo com sua transparência – olhou-o com desdem, e então Don pôde vê-la passar o resto de seu corpo pelo teto, girar em pleno ar e cair de pé sobre o chão. — Você deve ser o recém-chegado.

Antes que ele responde-se, a mocinha já havia estendido as mãos e atravessado o seu abdômen com elas. O arrepio que cruzou sua espinha fez com que tremesse da cabeça aos pés. — P-pare com isso!

— Oh… humanos… — ela revirou os olhos, retirando as mãos e cruzando os braços. — Eu sou Hanna. A senhorita Mizori não está presente no momento, seja lá o que você tem a tratar com ela.

Don precisou de um bom tempo para acalmar seu coração e fazer sua respiração voltar ao normal, antes de responder. — Deixe para lá… queria apenas ver alguns lugares, mas meu Supervisor parece uma versão mais simpática do Coringa, e não quero pedir nada para ele no momento.

Ela fez um barulhinho estranho com a boca, meneando a cabeça. — Que frouxo… espere só para conhecer os habitantes do Chalé das Trevas, eles vão jantá-lo e ninguém sequer lembrará que você um dia existiu.

Uma gota de suor escorreu pela nuca dele. — Prefiro não virar comida.

— E quem liga? — Hanna deu de ombros, fazendo um sinal para ele. — Venha comigo, não tenho nada para fazer mesmo.

Dominick não queria segui-la de jeito nenhum, mas era isso ou esperar por Mizori. Como seria muito patético voltar correndo para o próprio quarto e trancar-se lá pelo resto do dia, decidiu ir com aquela… oh, céus, ela era o que ele achava que era? — Não me diga…

— Não vou dizer, então.

Ignorando o sarcasmo dela, continuou: — Você é um fantasma?

Hanna parou de andar, virando a cabeça o suficiente para que conseguisse observá-lo pelo canto do olho. Um sorriso quase que macabro surgiu imediatamente em sua face. — E o que mais eu seria?

Então continuou a caminhar, esperando que Don fosse atrás dela.

— E… espere ai! — era rápida, parecia mais flutuar do que andar. Dominick apressou o passo para ficar ao seu lado, deixando assim a parte principal do acampamento para trás. Estavam adentrando a floresta mais espessa, e não pôde deixar de imaginar as coisas que deviam habitá-la. Seriam amigáveis? — Você foi assassinada ou algo assim?

— Isso não é o tipo de pergunta que se faça… é muito ofensiva. — Hanna protestou. — Eu não me lembro, de qualquer forma. Eu já morava na Casa Grande nesse estado antes mesmo de Mizori.

— Antes de Mizori? Ela está aqui a tanto tempo assim?

— De acordo com os cálculos, a uns trinta anos.

Don fez uma careta. Mizori não parecia ser tão antiga, mas desistira completamente de achar alguma lógica naquele lugar.

— Havia alguém… antes dela?

— Sim… era um homem, o antigo diretor.

— E o que aconteceu com ele?

— Se apaixonou. — foi a resposta, mais dita como uma sentença de morte.

Dessa vez o detetive calou-se por um tempo. Dessa vez, quem reiniciou a conversa foi o próprio espírito. — Veja bem… Pessoas tem perdido as memórias aqui dentro. Mizori não lembra boa parte do que viveu fora dessa barreira, eu não me lembro como morri e mais alguns campistas mais antigos, da época deste outro diretor… eles também não se lembram. Provavelmente isso é um fenômeno externo, alguma interferência para que não saibamos de algo… se você quer tanto alguma coisa para investigar, deveria começar por isso.

Ele não soube o que responder àquilo. Seu objetivo principal era retornar à sua vida anterior, mas havia mistérios demais a serem compreendidos… e, como o investigador que era, não duvidava que se tornaria cativo deles, mais do que estava preso ao próprio acampamento. E, foi nesse minuto que, inconscientemente, ele aceitou ficar.

Verdadeiramente, desta vez.


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Notas finais do capítulo

Olá! Temos mais personagens aparecendo neste cap, Et, Cetera, Eyen e Hanna. E mais virão, se estão curiosos para saber o que reside no Chalé das Trevas além de Morgana, logo logo vão saber.
E aqui vemos que o Chalé dos Humanos é um campo minado, que o Chalé das Trevas é uma hecatombe e que o Chalé da Luz é uma bandeirinha de trégua tentando sobreviver e parar os outros dois...
Temos também uma pequena aparição de nossa amada Louise. Aqueles que já a conheceram em LnMdS, podem dizer o que acham de como ela cresceu e "amadureceu".
Lembrando que esses primeiros capítulos são meio parados e mais voltados à comédia porque estão apresentando muitos personagens, o próprio espaço entre os mundos em que estão presos e algumas coisas do dia-a-dia. Mas as tretas chegarão, é só terem paciência e aguardar.
Acho que é isso por hora... kisses kisses para todos e até a próxima. ♥



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