Os Olhos do Demônio escrita por Bacon


Capítulo 3
Il


Notas iniciais do capítulo

... Oi. Em minha defesa, eu voltei. E, sinceramente, só porque a minha bae (Brubs ♥) pediu. Agradeçam a ela, rly. Long story short, o cap estava 90% pronto, o PC deu pane e apagou, eu surtei e nunca mais voltei.
:B
acontece

mASSSSSSSSSSS, indo ao que realmente interessa, eu reescrevi o prólogo e o primeiro capítulo, então aconselho relê-los. (Até porque já faz quase um ano, ninguém deve lembrar desse treco ainda 8'D) Muito obrigada Lipa e Aoba que favoritaram a fic! ♥

Boa leitura ♥



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Dor.

Dor.

Dor.

Tudo. O mundo todo. Absolutamente tudo era a mais pura dor. Não existia luz. Não existia som. Apenas a dor. Vinda de seus olhos. Como se seus olhos estivessem sendo arrancados das órbitas, veia por veia, e, ao mesmo tempo, como se dedos invisíveis os esmagassem dentro de seu crânio. E queimavam. Ardim.

Virus achava que ia enlouquecer. Talvez já tivesse enlouquecido. Ou mesmo morrido. Ele não queria saber. Não se importava. Ele só queria que aquilo parasse. Tinha que parar. Tinha que parar, tinha que parar, tinha que parar!

Ele não sabia onde estava. Não sabia por que seu mundo, assim tão de repente, tornara-se aquele inferno. Mas ele sabia o que acontecera anteriormente, alguns dias atrás.

Foram levados em fila para um corredor branco, os quatro meninos. Havia várias portas, talvez dezenas delas. Apenas quatro delas foram abertas; todas semelhantes em seu interior: uma sala esterilizada com uma mesa de cirurgia no centro, ladeada por mesas menores de metal, sobre as quais poderiam ser vistos vários tipos de bisturis, agulhas, linhas, gases, seringas. E é claro que, para combinar com o design de toda aquela enorme torre, as salas eram coloridas predominantemente em branco, que vez ou outra se fazia cinza, salvo por pouquíssimos detalhes em azul claro.

Na ordem em que foram chamados pela enfermeira, os meninos adentraram um cômodo cada um. Virus lembrava-se de ter observado enquanto Trip despreocupadamente trespassava a porta. Perguntara-se se o ruivo era de fato assim tão indiferente ou se apenas fingia bem. Mas logo deixou o assunto de lado — não era como se Virus realmente o entendesse, ou mesmo quisesse entender.

Quando chegou à sua respectiva porta, Virus a atravessou com facilidade. Apesar de sentir um pequeno desconforto em relação àquilo tudo, não deixaria que suas emoções o traíssem. Para os dois médicos que o aguardavam dentro da sala, o rapaz usava sua expressão calma de sempre, examinando tudo com cuidado através de seus óculos de lentes medianas.

Virus caminhou até a dura cama de cirurgia e se deitou, obedecendo ordens que não precisavam ser ditas. Os dois médicos nem prestaram atenção — estavam mais entretidos examinando o conteúdo transparente dentro das seringas e limpando seus bisturis e agulhas uma última vez. Enquanto esperava que se aprontassem, Virus respirou fundo e deixou-se imaginar o que diabos haviam planejado fazer com ele dessa vez. Mas não fazia ideia, e as perguntas sem resposta logo deixaram-no entediado.

Após o que se pareceram alguns poucos minutos, os médicos iniciaram o que estavam planejando fazer. Um deles, o que provavelmente estava no comando, pegou uma lanterna do bolso do jaleco e testou os reflexos dos olhos de Virus, enquanto o outro médico prendia faixas de couro ao redor dos pulsos, tornozelos e cabeça do rapaz, aprisionando-o à cama de metal.

Aquilo o deixou nervoso quanto ao que viria a seguir; ainda assim, não disse nada. O médico da lanterna se afastou e colocou suas luvas de plástico, o outro fez o mesmo. Virus esperou que lhe fosse aplicada a injeção de anestesia, que ele presumiu ser local. Mas foram pegos os bisturis, não as injeções.

Virus tentou não se alarmar. Provavelmente estavam tentando assustá-lo para ver como reagiria ao medo. Talvez já o tivessem anestesiado e ele nem percebera. Talvez, talvez.

Ele sabia que nenhuma de suas hipóteses era verdadeira.

O médico no comando começou a aproximar o bisturi ao olho direito de Virus, lentamente. Tão lentamente que a gota de suor escorrendo pelo pescoço do louro parecia mais rápida ao deslizar por sua pele pálida. E foi se aproximando, se aproximando...

— Ei — chamou Virus, com a voz ligeiramente trêmula, ao ter a lâmina tão próxima de si. — Vocês esqueceram da anestesia.

Nenhum dos dois médicos pareceu lhe dar ouvidos. A respiração de Virus começou a se desestabilizar.

— Para. Para! — gritou, mesmo sabendo que não parariam. Ao ser ignorado uma segunda vez, começou a se debater contra a cama, contra as amarras, contra o médico que o segurava. Mas estava muito bem preso.

E a lâmina do bisturi encontrou seu olho.

E Virus gritou. E sua garganta pareceu explodir em chamas enquanto tudo tornava-se vermelho, preto, dor, escuridão, dor, dor, dor.

Ele não sabia mais se estava na sala branca, ou se estava de volta ao seu mundo de trevas, ou se tudo aquilo não passava de um pesadelo — ou mesmo se era essa a sensação de estar morrendo. Ele sabia, apenas, que não aguentaria mais por muito tempo.

Virus contorcia-se sobre si mesmo e gritava, como se isso pudesse de alguma foma aliviar a dor. Mas não aliviava, talvez até mesmo piorasse; ele gritava mesmo assim. Conseguia sentir suas lágrimas quentes rolarem-lhe pelas bochechas, misturadas a uma substância grossa, malcheirosa — sangue. Um soluço a mais escapou de seus lábios.

Ele não sabia mais o que estava fazendo; não tinha mais o controle de seu corpo. Garras pressionavam seus braços e ele debatia-se inutilmente para longe delas. Ele só queria que tudo acabasse. Acabasse, acabasse...

Não saberia dizer quando ou como, mas, enfim, sua mente se perdeu num sono febril, induzido por mais um droga que lhe fora inserida no corpo.

***

Acordou com uma forte sensação de entorpecimento. Todo seu corpo parecia um balão — tão pesado e, ao mesmo tempo, tão leve —, e ele não conseguia se mexer. Sua respiração vinha calma, lenta, e Virus percebeu que não sentia mais nada. Respirou fundo em alívio e tentou abrir os olhos.

Não foi algo de real utilidade. Virus não era capaz de enxergar nada; conseguia no máximo distinguir luminosidade. A julgar pelo fato de que uma sensação incômoda vinha de seus cílios toda vez que ele mexia as pálpebras, concluiu que estava vendado. Virus abriu a boca para dizer algo — o que, não importava —, mas alguém à sua esquerda foi mais rápido.

Ele não conseguiu entender o que a voz que ele ouvira disse, entretanto. Ainda assim, fora o suficiente para que ele continuasse imóvel em seu leito, atento. Naquela torre, qualquer ação mal calculada poderia levar a um fim não muito agradável. Principalmente agora. Virus iria esperar. Ouvir. E pensar.

As vozes que ele ouvia aproximavam-se, acompanhadas de passos. Eram, no mínimo, duas pessoas; ele conseguia distinguir o toc toc do salto alto de uma enfermeira qualquer do tap tap de alguma criança. Poderiam até mesmo ser três pessoas, se o som mais grave e ritmado — que não poderia pertencer nem a uma criança nem a uma enfermeira — indicasse algo. Talvez um segurança?

Ainda tá tudo azul e ao contrário, saco. Me dá logo alguma remédio pra isso — resmungou uma voz fina, seguida pelo ranger de molas sob um colchão. Virus conhecia aquela voz.

— Não — foi a vez de uma voz feminina, a enfermeira. — Sua visão continuará assim durante algumas semanas; é um bom sinal.

— Mas eu não quero minha visão assim! Eu — som de arquejos, molas e algo que foi quase um rosnado. Virus tinha quase certeza de que Trip avançara contra a enfermeira e o suposto segurança o impedira. A julgar pelo suspiro da mulher e o que soou como o garoto se debatendo contra algo na cama, seu palpite estava correto.

— Você passará por diversos testes durante esse período — explicou a mulher — até sua visão se estabilizar. E com isso eu quero dizer "voltar ao normal". — Ela suspirou, e sua voz deixava perfeitamente claro quão desgostosa ela estava ao dizer: — Gostaria de uma venda para se sentir mais confortável?

— Gostaria que arrancassem a droga dos seus olhos pra ficar mais confortável. — Mais molas. Às vezes Virus se surpreendia com quão inconsequente Trip poderia ser. Ele estava falante naquele dia, e aquilo fora até mais surpreendente.

Mas o diálogo pareceu acabar ali. A enfermeira voltou a marcar presença ao fazer barulho com seus sapatos, mas não deixou o quarto — laboratório?, sala de cirurgia? — durante alguns minutos. Virus não fazia ideia do que ela poderia estar fazendo e, como não havia indicação de que iria embora logo, ele decidiu testar a sorte.

Começou a se mexer, contorcendo o rosto numa careta e grunhindo. Falar ou chamar por alguém seria dramático demais, e ele talvez nem tivesse voz para tal. Os ruídos dos lençóis engomados foram voz o suficiente para ele; logo o insuportável toc toc aproximava-se dele, e Virus sentiu mãos puxando seus ombros e apoiando suas costas, ajudando-o a se sentar.

— O que... — De fato, sua voz falhou. Tentou novamente: — O que acon...

— Você e seus colegas passaram por uma substituição de globos oculares — interrompeu-o a enfermeira, num tom que deixava clara sua impaciência. — Sua cirurgia passou por algumas complicações, então injetamos anestesia em você mais cedo.

Você chama aquilo de uma simples "complicação"?

— Vou retirar sua venda — ela avisou. E retirou.

Virus teve de torcer o nariz e apertar os olhos, tão claro estava o mundo sem a venda. Piscando e levantando as pálpebras aos poucos, Virus observou seus arredores. Mas não havia nada para ver. Era tudo um grande borrão azulado, com sombras aqui e luzes ali. Sua respiração ficou presa dentro da garganta e o coração ameaçou explodir dentro do peito, mas Virus continuou com o semblante imutável. Ele não poderia, de maneira alguma, demonstrar fraqueza. Não aquela fraqueza, não para os médicos. Eles poderiam facilmente descartá-lo por aquilo.

Subitamente uma luz intensa foi de um lado a outro dentro de seu campo de visão — se é que aquilo pudesse ser chamado de visão — e seus olhos seguiram a luz.

— O que você vê? — perguntou a enfermeira tediosamente.

— Está tudo azul. E de ponta cabeça — completou, repetindo o que ouvira da boca de Trip. Virus não poderia dizer se seu borrão estava ao contrário, inclinado a setenta e cinco graus ou o que fosse. Não havia nada lá.

— Ficará assim por algumas semanas, assim como para o seu amiguinho ali. — Imaginando que ela havia apontado para Trip, Virus virou o rosto para sua esquerda, direção de onde ouvira as vozes mais cedo, e concordou de leve com a cabeça. — Precisa de algo?

— Aquela anestesia que vocês me deram mais cedo, por quanto mais vai durar?

— Pouco, considerando que você acordou.

— Me dê mais. Minha cabeça está doendo.


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Notas finais do capítulo

Bem, é isso. Espero que tenham gostado e que me deem uma segunda chance para continuar acompanhando ;w; ♥ "Antes tarde do que nunca" resume minha vida de escritora ASDGFHDCNSMA

Por favor, comentem com a sua opinião qwq ♥

Até o próximo~