Bastarda escrita por Lena Saunders


Capítulo 12
Aquele da Rainha


Notas iniciais do capítulo

Esse capítulo vai para a Snow Girl e para a fofa da Cni, que, apesar de ser uma leitora nova, foi a única a comentar no capítulo anterior.
Obrigada pela consideração e pela atenção, garotas.
Espero que gostem desse capítulo.
~Lena



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Era eu. Não havia outra forma de descrever aquela garota.

Eu segurava o escudo de minha mãe, agora com os pequenos diamantes que Aires adicionara, e meu machado.

Atrás de mim, Valkíria resplandecia sob tons de ônix e cobalto. Ela parecia majestosa, enquanto voava em direção ao céu.

Acompanhei a curva de seu corpo e olhei em direção ao teto. Uma lua e um sol se completavam.

– Isso é um pouco demais para mim. - Eu disse para Falk. - Mas entendi o recado. Eu falarei com os dragões por você. Mas não prometo nada.

Ela poderia ter batido palminhas, de tão feliz que parecia.

– Se suas antepassadas aprenderam a lutar, porque não passaram isso para as gerações futuras? - Eu peeguntei, enquanto retornávamos para o quarto.

– Não sabemos lutar contra dragões. E nenhuma de nossas armas parecia machucar Dor. Ah, e não foram nossas antepassadas. Fomos nós. Toda vez que uma garota virgem, entre treze e dezoito anos, morre sem cumprir seu destino, é submetida a um teste de caráter, lealdade e dedicação. Se ela passar, pode escolher entre seguir em frente e descobrir os mistérios do além, ou vir para cá. Somos imortais agora. Mas não podemos deixar a ilha.

– Então você é... Um fantasma?

– Já fui um. Fui a primeira a passar no teste e a escolher a ilha, séculos atrás. Sou a mais velha, a primeira. Agora possuo um corpo e minha alma imortal fica nele, até que eu esteja pronta para seguir em frente ou morra novamente, em batalha.

– Mas se vocês não são parentes de verdade, porque se parecem tanto?

– Nós adquirimos nossa aparência física com base no corpo que tínhamos e nos humanos reais com quem convivemos. Para acompanharmos a evolução do mundo. Yaffar viveu aqui por anos e assumimos caracteristicas dele.

– Valkíria, - Eu chamei, da porta do quarto. - vamos deixar Aires aqui por alguns minutos. Preciso que você me ajude.

"Tem certeza?"

Olhei para Aires. Ele parecia tão sereno, tão tranquilo, com o cabelo loiro espalhado pelo travesseiro.

– Sim. Acredito que ele ficará seguro aqui.

Quando as irmãs de Falk abriram as portas, fiquei ainda mais chocada. Eram mais dragões do que eu calculara anteriormente. Eles se empoleiravam nos pequenos muros da construção ou se esparramavam pelo chão, aproveitando o calor do sol.

Eu montei em Valkíria e as Calísydias nos seguiram, com Falk ao meu lado.

"Não sei se gosto desse vestido." - Valkíria disse. - "É bonito, mas a saia está atrapalhando meu rabo."

– Vou tirá-lo assim que isso acabar.

Ela parou diante dos dragões.

– Pergunte o que eles querem. - Eu pedi.

Valkíria moveu as orelhas, parecendo desconfortável.

"Eu acho que... Eles disseram que você pode falar diretamente com eles."

– Muito bem, então. - Eu elevei meu tom de voz. - Preciso que escolham apenas um de vocês para falar.

O enorme dragão de fogo caminhou em nossa direção. Ele era muito parecido com Mercúrio, o dragão de Skar, exceto pelo fucinho mais fino e longo e os chifres maiores.

"Ele disse que seu nome é Thyerre. Ele está aqui há mais tempo do que todos os outros. Eles se sentem livres agora que a ligação foi cortada, mas seus humanos continuam mortos. Eles sabem que foi você que matou Yaffar e já se decidiram. Alguns deixaram a ilha e os outros... Bem, eles querem saber o seu nome, eu acho."

– Obrigada, Valkíria. Meu nome é Kyra e...

Thyerre rugiu alto e todos os dragões, sem exceção se curvaram, rápida e silenciosamente.

– Valkíria, o que está acontecendo?

"Thyerre disse para todos se curvarem para a Rainha Kyra."

As Calísydias deduziram por si próprias o que estava acontecendo e seus joelhos tocaram o chão antes que eu pudesse evitar.

– Falk, pelo amor dos deuses, levante-se e peça para as suas irmãs fazerem o mesmo. E Thyerre, pare com isso, por favor.

O dragão vermelho rosnou novamente e todos se levantaram.

"Ele disse que eles não tem para onde ir. Querem que você seja a humana deles e vão te dar suas pedras de dragão. Eles precisam de um lar."

– O que são pedras de dragões? - Perguntei.

"Thyerre disse que quando um dragão completa dez anos, ele e o cavaleiro devem fazer uma jornada juntos, para encontrar sua pedra de dragão. Isso termina de fortalecer a ligação e os torna imortais."

– Não quero as pedras. Não as mereço. Eu vou voltar para o lado de Aires. Tenho certeza que as Calísydias vão ficar felizes em tê-los aqui, contando que não arrumem problemas. Com licença.

Eu voltei para o quarto onde Aires estava sem esperar por uma opinião. Valkíria ficou feliz quando eu a liberei para ficar lá fora, com os outros dragões.

Me sentei no pé da cama de Aires, depois de verificar sua respiração e sua temperatura.

– Você deveria ao menos considerar. - Falk entrou no quarto sem cerimonias. -Você poderia ficar. Viver aqui, conosco, com os dragões, com Valkíria e com Aires. Vocês seriam felizes aqui. Fique. Nos governe. Nos proteja. Seremos leais a você. Juro. Pense sobre isso, por favor.

Eu podia ver o desespero em seus olhos. E eu entendi.

Se fossemos embora, ela e as irmãs ficariam indefesas novamente. Elas acreditavam que eu poderia protegê-las, mas estavam erradas. Eu só fora capaz de salvá-las por que contei com o elemento surpresa. Yaffar não imaginava que eu conseguiria escapar ou que Valkíria sequer existisse.

Eu passei o resto da noite sozinha no quarto. Valkíria ficara lá fora, com os outros dragões. Ela parecia estar se divertindo.

Olhei para Aires, dormindo tão pacificamente. Ele iria querer voltar para casa. Eu tinha a chance de um lar aqui, pela primeira vez. Mas Heike precisava de mim. Era meu dever ajudá-la. Em compensação, as Calysídias também precisavam de mim. E eu cumpria com o meu dever.

Eu adormeci nos pés de Aires, ainda pensando no que fazer.

Fui acordada por Falk e Valkíria.

– Eu percebi que você não parecia muito confortável com o vestido, então arranjei isso para você.

A calça de couro negro serviu perfeitamente, enquanto o peitoral de couro ficou um pouco justo. Mas era melhor que um vestido. Deixei-a trançar novamente meu cabelo, que ela entrelaçou com fitinhas douradas, para combinar com os ornamentos do peitoral.

– Eu preciso voltar para casa. - Eu disse, sem cerimonias. - Mas vocês são imortais e, talvez, eu e Valkíria também sejamos um dia. E então eu retornarei e protejerei vocês. Eu juro.

– Nós seremos eternamente gratas, Rainha Kyra.

– Ah não, não serei sua Rainha. Isso...

– Por favor. - Ela me interrompeu. - Sei que é pedir demais, mas as outras, elas precisam de esperança. Precisam ter a garantia de que alguém se importa com elas. Precisam de incentivo, motivação. Venha ver.

Valkíria, que parecia mais animada do que nunca, correu pelos corredores, passando na nossa frente.

– Nala, Kiara e Sarabi trabalharam nisso a noite toda.

A sala em que entramos era do lado de fora da construção. Lá era quente como um forno e tão iluminada que parecia não ter teto, mas era apenas a enorme fornalha.

Falk se referia a uma coroa. Grande, dourada e encrustada com pedras preciosas.

– Hey! Falk! - Uma garota baixinha, que aparentava a minha idade, gritou. - Rainha Kyra. - Ela fez uma pequena e desajeitada reverência. - O que achou? Nós queríamos fazer uma surpresa, mas se a senhorita não gostar, podemos começar do zero.

– Não sou rainha. Não me reverencie e...

Eu parei ao notar a tristeza dela. Ela parecia desolada, mesmo sobre algo tão bobo. Me lembrei de Falk, dizendo que elas precisavam de esperança. Eu provavelmente era décadas mais nova do que aquela garotinha, mas isso não importava para ela. Ela queria que eu fosse sua rainha. Queria que eu a protegesse. Eu podia fazer isso. Por ela. Por todas elas.

– É a coroa mais bonita que eu já vi. Quer me ajudar a experimentar?

Seus olhos se iluminaram no mesmo instante e eu inclinei a cabeça, enquanto ela ajustava a coroa.

Era pesada. Muito pesada. Mas elas ficaram tão radiantes que não tive coragem de tirar.

– Você está linda! - A outra garota, um pouco mais alta, disse. - Veja.

Quase não acreditei no que vi refletido no espelho. Era uma versão minha, mas não aquela confusa e assustada. Essa parecia decidida e a coroa parecia combinar, se encaixar ao redor dos meus cabelos.

– Você nasceu para usar isso. - Falk disse.

– Parece que ficou bem mesmo. - Respondi.

– Nós vamos fazer outras! Com outros materiais e outros formatos! - A garota baixinha se empolgou.

– Não precisa. - Intervim. - Essa já está incrível.

– Por favor! Vai ser tão divertido!

– Bem, se você acha que vai de divertir, eu não vou te impedir! Apenas faça algo mais leve, por favor.

– Claro! Sarabi, o que você acha que devemos usar agora?

– Ouro e ônix. Talvez diamantes. Para combinar com o dragão! - A mais alta das três disse.

– Certo, nós vamos deixá-las trabalhar. Certo, Rainha Kyra? - Falk perguntou.

– Ãh, claro. Com licença.

Nós saímos calmamente, enquanto eu ouvia lenha sendo jogada na forja.

– Sabe, elas poderiam pedir ajuda ao Thyerre. Tenho certeza de que ele não se importaria de ajudar e o fogo dele pode queimar por horas, mesmo sem combustível. Pouparia algum esforço.

– Excelente idéia. Irei sugerir isso mais tarde.

– Muito bem então. Eu vou ficar com Aires, tudo bem? Quero estar lá caso ele acorde.

– Kyra, você é nossa Rainha. Não precisa de permissão. Pode fazer o que quiser.

Era a primeira vez que aquele título me parecia interessante. Mesmo com minha condição de bastarda, eu tinha deveres em casa. Precisava seguir um padrão de comportamento. Mas Falk dissera que eu não precisava fazer isso ali.

– Certo. Eu vou ficar no quarto de Aires até ele acordar. Se alguém quiser ir até lá para falar comigo, será bem vindo. - Eu disse, tirando a coroa que era pesada demais para o meu pescoço. - Se os dragões quiserem dizer algo, devem informar Valkíria e ela me passará o recado. Até mais tarde, Falk.

– Até mais tarde, Majestade. - Ela se curvou, apesar de minha tentativa de impedí-la.

Enquanto caminhava de volta, vi Valkíria brincando com os outros dragões e reconheci Soleil entre eles. O dragão de Aires. Eu havia me esquecido completamente dele, mas fiquei feliz em saber que estava bem.

Valkíria parecia feliz, como se esse fosse o seu lugar. O nosso lugar. E talvez fosse mesmo.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Suas opiniões são muito importantes para mim!
~Lena