Bastarda escrita por Lena Saunders


Capítulo 11
Aquele da Guerreira


Notas iniciais do capítulo

Sei que demorei horrores, mas quero que vocês saibam que eu nunca abandonaria essa fic. Posso demorar, mas juro que vou continuar.
Muito obrigada aquelas que me enviaram mensagens. E obrigada por ainda acompanharem.
Sem mais delongas, boa leitura ;)
~Lena



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Elas se jogaram das árvores, caindo com perfeição. Obviamente, estavam habituadas a isso.

– Garota do dragão, essas são minhas irmãs. - Falk anunciou. - E quem são vocês?

– Sou Kyra. E essa é Valkíria. E aquele em cima da árvore é o Aires. Traga-o para baixo, Val.

Valkíria não esperou por uma segunda ordem.

– Vocês nos salvaram. Seu amigo ainda está vivo, então podemos tratá-lo. Vamos ajudá-los com o que quer que precisem.

– Obrigada, mas acho melhor levá-lo de volta para casa.

– Ele não vai sobreviver a mais de meia hora de voô. Perdeu muito sangue. Deixe-nos ajudar. Vamos cuidar de vocês.

Eu não arriscaria a vida de Aires. Deixei que elas nos escoltassem até uma enorme construção de pedra. Eu e Aires fomos em cima de Valkíria, enquanto elas caminhavam ao nosso redor.

As "Calísyadas" - ao menos era assim que elas se referiam a si próprias - permaneceram em silêncio durante todo o caminho. Estimei suas idades para algo entre os treze e os dezessete, talvez dezoito anos.

A construção se assemelhava a um castelo, embora fosse relativamente pequena. Muralhas altas cercavam a construção e um grande pedaço de grama ao redor dela.

Me recusei a sair do lado de Aires, então Falk fez com que algumas garotas arrastassem uma tina de madeira até o meio do quarto onde ele repousava.

– Você pode se banhar se quiser. - Ela explicou. - Trarei algo para comer daqui a pouco. E peça para o seu dragão não machucar ninguém, por favor.

Olhei para Valkíria, deitada ao pé da cama. Ela parecia exausta.

– Não se preocupe. Ela não vai.

Assim que Falk saiu, molhei uma das toalhas na água morna da banheira improvisada e me dediquei na limpeza minunciosa de Aires. Limpei cada gota de sangue, enquanto ouvia sua respiração quase falha.

Todo aquele sangue viera de pequenos cortes feitos ao longo da linha da clavícula. Pequenos mas profundos. Com Aires ainda inconsciente, costurei um por um e os cobri com gaze e um emplasto de ervas que Falk arrumou. Ele ficaria bem. Aires sobreviveria e voltaríamos para Seiryn.

Tudo isso ficaria no passado.

Depois de me certificar que ele ficaria bem, eu me lavei e vesti o traje limpo que as irmãs de Falk me arranjaram.

O vestido descia em camadas suaves até tocar meus pés na parte traseira e era curto na frente, permitindo que meus pés se movessem sem dificuldade. O tecido era tão fino e sedoso que eu me sentia nua. Pequenos enfeites de cristal foram bordados no corselet e em alguns pontos da saia, fazendo tudo brilhar conforme eu me movia. Era diferente de qualquer coisa que eu já usara.

Falk trançou meu cabelo. Ela disse deixaria minha movimentação melhor. Aceitei o jantar que ela me arrumara: frango temperado com alecrim. Eu adorava o sabor do alecrim.

Ela se ofereceu para comer comigo e eu aceitei, por pura educação.

– As garotas querem saber por quanto tempo você pretende ficar.

– Não se preocupe. Partiremos assim que for seguro para a saúde de Aires. Ele deve despertar em um ou dois dias.

– Ah, não. Você me interpretou mal. Elas querem que você fique. Todas nós queremos.

Não pude esconder minha surpresa.

– Ãh? Por que?

– Você matou Yaffar. Teve mais coragem do que qualquer uma de nós. Se não fosse por você, viveríamos eternamente à mercê dele.

– Bobagem. Outra pessoa as ajudaria. Ouvi dizer que aqui no continente há milhares de pessoas. Eu pretendo morar aqui um dia.

– Oh, querida. Acho que você se enganou. Aqui é a ilha de Calísya. Há apenas nós e os dragões.

Bem, isso certamente explicava as semelhanças com Seiryn. Outra ilha.

– Há anos Yaffar atrai os dragões e seus cavaleiros para cá. Qualquer um que voe próximo da ilha se sente impulsionado a pousar aqui. Então ele prende o cavaleiro e realiza o Ritual de Sangue.

– Bem, pela forma que isso soou, imagino que o seu Ritual de Sangue e o meu sejam bem diferentes.

– Não sei como é de onde você veio, mas Yaffar fazia os cavaleiros sangrarem e bebia o sangue deles. Com o tempo, havia mais sangue do cavaleiro nele do que no próprio cavaleiro. Os dragões e os caveleiros são ligados pelo sangue, como você deve saber. Assim, o dragão passava a pertencer a Yaffar e ele matava o cavaleiro.

Ele roubava os laços de cavaleiro e dragão. Imaginei como seria perder a ligação entre eu e Valkíria e um arrepio percorreu minha coluna.

– Se Yaffar está morto, o que houve com os dragões?

– A princípio pensamos que eles estivessem mortos. Nós tinhamos certeza. Mas, uma hora atrás algo estranho começou a acontecer. Olhe pela janela.

Caminhei até as longas cortinas e abria-as.

Dragões cercavam o castelo. Trinta ou quarenta deles, de diferentes tipos e tamanhos. Permaneciam imóveis, apenas respirando.

– Nós não temos idéia do que eles querem, mas parece que não irão embora tão cedo. Eu pensei que talvez você pudesse pedir para o seu dragão ir até lá e... Sei lá, perguntar o que eles querem, talvez.

– Valkíria.

– Perdão?

– O nome dela. Ela se chama Valkíria. - Eu disse, passando a mão na cabeça do meu dragão. - Hey, bebê. Acorda.

Ela levantou a cabeça e fungou, soprando calor pelo ambiente.

– Preciso te pedir um favor. O lugar está rodeado por dragões e preciso que você... Ãh... Se comunique com eles. Queremos saber o que eles querem.

Valkíria se espriguiçou como um felino e Falk e eu assistimos um brilho sinisto percorrer toda a sua coluna. Ela voou para fora sem nem ao menos me responder.

– E agora? - Falk perguntou.

– Agora nós esperamos.

Valkíria levou poucos minutos para retornar e me contar o que havia acontecido.

– Eles disseram que a ligação foi rompida. - Expliquei para Falk. - Eles querem conhecer seu novo humano. Não vão machucar ninguém.

Neste momento, Aires tossiu, praticamente convulsionando na cama. Corri para o seu lado e apoiei seu corpo em uma posição mais confortável. Ele adormeceu em segundos.

– Vamos? - Falk perguntou.

– Onde?

– Você mesma disse. Os dragões querem conhecer sua nova humana.

– Ah sim, pode ir. Eu espero aqui.

– Khyra, acho que você não entendeu. Você é humana deles. Você matou Yaffar.

– Sim, mas você parece ser a líder. Eu nem moro aqui! Eu vim apenas procurar Aires!

– Isso não interessa. É você que eles querem.

– E como você pode saber disso?

– Nos estávamos te esperando. Eu soube no momento em que te vi. Por isso te persegui na praia.

– Falk, você não está fazendo sentido. Assim que Aires estiver melhor eu vou sair daqui e voltar para casa. Isso é tudo o que eu sei.

– Venha comigo. Por favor. Aires ficará bem. Valkíria pode cuidar dele.

"Posso mesmo. Nada de ruim vai acontecer com ele enquanto eu estiver aqui."

Eu confiava em Valkíria.

– Muito bem então. - Eu decidi. - Mas não vou demorar.

Falk me guiou pelos corredores até uma escadaria de pedra. Descemos dois andares até duas enormes portas de madeira.

– Nós criamos essas salas há anos, quando o tédio se tornou insuportável. Trabalho manual é ótimo para distrair a mente.

As portas de madeira rangiram alto quando ela as empurrou. Haviam portas dos dois lados no corredor interno e Falk parou na terceira do lado esquerdo. Ao contrário das outras, essa porta não fez um único som.

Pinturas cobriam as paredes e o teto, com cores fortes e metais encrustados. Muitos metais.

– Está aqui há décadas, mas não sabíamos o que significava. Pelo menos não até vermos você e Valkíria.

O rosto da garota me era tão familiar quanto seu cabelo loiro, trançado magnificamente. O escudo e o elmo de roseiras me mostraram o porque. Ela estava, de alguma forma, conectada com minha mãe. Comigo.

Mas eu não sabia dizer se já tinha visto-a. Não se parecia diretamente com ninguém que eu conhecia.

Ao seu lado, um dragão psíquico abria as asas, cobertas de penas, esplendorosamente. Suas penas eram feitas de opala, provavelmente. Sua cauda continuava por trás da garota e se estendia pela parede, ligando uma série de eventos.

O próprio dragão, em uma versão menor, sobrevoando uma ilha. O sol refletindo no escudo da garota, enquanto ela liderava um grupo de garotas com lanças. Então, mais dois dragões surgiam, um elétrico e um aquático.

As escamas do elétrico alternavam safiras e fios de ouro, enquanto as do aquático eram feitas com quartzos quase transparentes e fios de prata.

Era um trabalho impecável, que deve ter levado anos.

– Nós a chamávamos de Guerreira. Não há registros de seu nome, ela nunca nos disse. Décadas atrás ela nos salvou de um grupo de homens que aportou aqui. - Falk disse, olhando com melancolia para as paredes. - Nós eramos indefesas, um povo pacífico. Mas a Guerreira nos ensinou a fabricar armas e lutar por nossa terra. Muitas morreram, mas triunfamos. Matamos todos ele. Todos os que nos caçaram, estupraram ou maltrataram. E pensamos que tudo ficaria bem. Foi Alexandria quedes a galeria, contando a história dela. Ela também fez um desenho que a Guerreira fez antes de ir embora. O papiro original está trancado. Veja.

Acompanhei sua mão, e olhei para a direção na qual a guerreira olhava. Um homem enorme, sobre um dragão de terra. Yaffar. Ele parecia romper a parede de pedra e, sob as patas do dragão, as garotas que eu conhecera mais cedo se contorciam em expressões horríveis.

A cauda do dragão terrestre percorria o outro lado da parede e acabava... Em mim.


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Notas finais do capítulo

Vocês viram que coloquei uma capa nova? Espero que tenham gostado dela e do capítulo. Me dêem suas opiniões, por favor :*
~Lena