Sentei na cama e fiquei olhando para os lados. Quando meu celular novamente vibrou. Era uma mensagem de Tatsuo: “Estou aqui em baixo esperando. Dá para abrir antes que eu pegue uma gripe nesse sereno? ~u.u”

Desci as escadas minunciosamente para não fazer barulho. Destranquei a porta e Tatsuo estava hilário. Estava – pela primeira vez – com seu cabelo bagunçado (mas muito sexy) e de calça xadrez vermelha confortáveis e uma regata branca com pantufas de dragão (acho que ele era verde...). Olhei para ele de baixo à cima e dei uma risadinha.

– O que foi? Não poderia trocar de roupa a essa hora da manhã só para jogar um joguinho. E não poderia deixar o Senhor Flamejante para trás.

– Senhor quem? – gargalhei baixinho para não acordar mamãe.

E ele apontou para suas pantufas de dragão.

– Tá, tanto faz. Pode ir subindo.

Traquei tudo e subi as escadas indo de dois em dois degraus. Cheguei no meu quarto e ele estava sentado no chão. Entrei e fechei a porta, podendo ascender a luz do abajur.

– Belo quarto... Adorei a decoração do chão: roupas e uniforme. Quando tiver minha casa própria irei reformar desse jeito – brincou tirando risadas de mim. – Coloca logo a jonça do jogo.

Liguei a TV e coloquei o jogo para rodar. Mas levamos um susto pois eu não abaixei o volume da televisão, fazendo eco em quase toda casa.

– Desculpa – disse eu abaixando o volume e me virando para Tatsuo.

Ele pegou os controles e colocou outro ao seu lado. Sentei ao seu lado pegando o controle e colocando na partida. Enquanto ele escolhia seu carro, perguntei:

– Por que não está dormindo à esse horário?

– Estava na internet.

Eu olhei para ele com um ar sério mas depois acabei dando risadas.

– Obrigada por aceitar o convite. Nunca pensei que você aceitaria um convite retardado como o meu. E ainda a esse horário.

– Estou de boa.

Jogamos acho que umas vinte partidas, onde consegui ganhar três. Não sei se ficamos muito tempo jogando, quando fui dar conta, eu dormi. Acordei eu estava no chão com o controle na mão e a TV estava ligada. Olhei para o relógio e eram sete horas e vinte minutos.

– ESTOU ATRASADA! – gritei.

– EI! Fale baixo – uma voz chamou minha atenção.

Meu sangue gelou e olhei para o lado, e vejo Tatsuo esfregando a cara e ajeitando o cabelo. Apenas com um olho aberto, me pergunta que horas eram.

– O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO AQUI? – disse espantada.

– Comendo espaguete italiano com almondegas que não é – brincou, mas logo viu que não estava para brincadeiras. – Acho que nós jogamos demais e acabamos pegando no sono. A propósito, você ronca. – disse sorrindo.

O QUÊ? ;--; Acho que naquele momento eu iria chorar ou bater nele ou me atirar pela janela, ou subir no telhado e me jogar de lá de cima, ou virar um avestruz e enfiar a cara na terra. Fiquei vermelha. Senti meu espírito sair de mim. Acabei dando um tapinha em seu braço.

– Não temos tempo!

Não acredito que Tatsuo Nagashima dormiu comigo. Ei! Não pense besteira, dormir não dormir, DORMIR, mas sim dormir no mesmo cômodo º~º Eu corri para o banheiro me trocar. Depois que eu voltei Tatsuo estava ainda sentado no chão coçando a cabeça.

– VAMOS MENINO! Trouxe seu uniforme?

– Mas é claro que não. Nem sabia que ia passar uma noite aqui.

“Mas que droga” pensei.

– Relaxa, Ayumi. Não tem problema eu me atrasar.

Além desse problema, tinha que hoje nós tínhamos que ver em que sala íamos ficar, pois o semestre tinha finalizado semana passada. E nunca é bom chegar atrasado. Tatsuo se levantou pediu para usar o banheiro e eu assenti. Mostrei onde era e enquanto isso fui pegar alguma coisa para comer. Mamãe estava na cozinha, quando eu congelei. Fingi que não a vi, me agachei e fui de gatinhas até a mesa. Sem olhar, levantei o braço e fui tateando a mesa até achar uma torrada.

– Dormiram bem? – mamãe perguntou tranquila.

Eu congelei com o braço ali, levantado com a mão em cima da mesa. Talvez se eu não me mexesse ela não ia me notar tanto assim. Mas espera... Ela disse DORMIRAM? Sai de trás da mesa e falei bom dia para ela. Ela sorriu para mim e fez o mesmo. Então voltou à primeira pergunta a fazer para mim.

– C-como assim? – disse eu.

– Seu amigo já acordou?

Ali senti algo dentro de mim que fez eu tremer. Como ela sabia que Tatsuo estava no meu quarto, digo; jogando?!

– Hmm... sim...? Mas como você sabe que ele veio aqui à noite?

– Querida, desde antigamente, você ainda pequena, eu passo no seu quarto para ver se está coberta. Se não está, fecho as janelas e te cubro.

Estava explicado porque uma vez acordei suando e quase cozinhando debaixo das cobertas. No momento menos esperando o Tatsuo aparece atrás de mim falando bom dia para minha mãe, mas seu cabelo estava arrumado. Virei como se tivesse algum exorcista atrás, com muito cuidado.

– Sentem-se. E é melhor vocês se apressarem, pois já está quase no horário de entrar em aula – disse mamãe.

Enfiei uma torrada com geleia na boca enquanto Tatsuo bem tranquilo passava manteiga em sua torrada. Parei de mastigar para apreciar a sua calma e tranquilidade em um dia importante. Ele olhou para mim e eu girei minha mão em sinal de “anda logo”. E, para me provocar, ele levou a torrada bem devagar até a boca.

– Tatsuo, desse jeito não irei te esperar!

– Ainda terei que ir para casa tomar um banho e me arrumar. Não quero ir com o Senhor Flamejante na aula.

Vi a mamãe rir um pouco.

– Lembro quando a Ay tinha a Princesa Fofinha. Era uma pantufa, estilo a sua, só que era uma coelhinha com uma coroa na cabeça. – disse mamãe para Tatsuo – Você ainda tem ela, né filha? – disse virando para mim.

Discordei envergonhada. Eu menti, sim... Mas por quê? Tatsuo foi até em casa com sua pantufinha. Acho que poderia dizer a verdade.

Depois que Tatsuo terminou a refeição, ele se levantou, agradeceu o café da manhã para minha mãe e nós fomos embora. Eu não poderia deixá-lo na mão, então fui até sua casa espera-lo.