Me levantei e tirei meu casaco com a linda gosma verde da mamãe. Dei para ela e ela assoou o nariz no casaco deixando eu e Tatsuo com cara de nojo.

– O que houve, Ayumi? – pergunta Tatsuo.

– Ah... a sra. Lee faleceu. Ela era nossa vizinha. Eu adorava ela... – cheguei perto do seu ouvido e cochichei – adorava seus biscoitos.

Ele deu uma risadinha. Enquanto isso, o sr. Jonson apareceu me perguntando a mesma coisa, onde eu disse novamente que a sra. Lee tinha batido as botas. Subiu no telhado, faleceu, morreu, colocou o pé na cova, dane-se. Por que não perguntam para os policiais?? Ele sentou no meio fio junto com mamãe e a abraçou. Torci para que ela não limpasse seu nariz na blusa xadrez dele.

– Podemos entrar?- pergunta Tatsuo – Não quero ficar no meio dessa bagunça toda. E é capaz de policiais querer vir fazer um livro de perguntas.

– C-claro...

Saímos do meio da rua daquela confusão toda e entramos em minha casa.

– Gostaria de algo? – perguntei.

– Não, obrigado. Estou bem.

Fiquei ali, olhando para os lados sem saber o que falar ou fazer. Então, novamente fiz uma pergunta besta.

– Sabe jogar vídeo-game?

– Claro! Tem quais jogos?

Nossa... Não sabia que ele iria reagir assim. Mostrei minhas três pastas de games deixando-o admirado.

– Vamos jogar esse? – perguntou pegando um game de corrida.

– Ok. Só lembrando que eu sou muito boa no volante. Mas irei deixá-lo ganhar pois não quero ver esse rostinho lindo triste. – fiz uma voz fofa mas intimidadora, provocando-o.

Ele olhou para mim com um sorriso lateral e eu sorri. Começamos a jogar o jogo e o que aconteceu? Por dois segundos perdi para ele. Mas ele apenas disse:

– Jogou bem.

Olhei para ele e corei. Cara, por que eu coro toda hora???? Essa história tem que ser modificada! Enquanto isso mamãe entrou soluçando pela porta com o sr. Jonson segurando-a pelo quadril.

– Ayumi, poderia pegar um copo d’água para sua mãe, por gentileza?

– Mas claro, sr. Jonson. Só um minuto.

Corri até a cozinha, abri a geladeira e peguei um copo. Enchi o copo até a metade com água e levei à mamãe. Ela bebeu dando alguns soluços. Disse ao sr. Jonson que ela iria ficar bem, mas não tinha muita certeza. Ela ficou mal por um dia inteiro na cama quando relembrou a muito tempo atrás da sua amiga... Imagina com sua vizinha? Aquela que estava ali desde quando mamãe se mudou. Antes de eu nascer a véia já estava ali! Tatsuo coloca o controle do vídeo-game na mesa de centro e se levanta, avisando que tinha que ir embora. Levei-o até a porta e ele me deu um leva beijo na bochecha com aqueles lábios quentes.

– Te vejo amanhã. – disse eu.

– Até. – respondeu.

Ele se virou e foi embora. Eu fechei a porta e voltei junto à mamãe e o sr. Jonson.

– Está tudo bem. Eu cuido dela. Está escurecendo, e acho que o senhor tem muitas coisas à fazer, não tem? – perguntei a ele.

– Claro. Se cuide, Mariko – disse dando um beijo na testa da mamãe – Adeus, Ayumi!

Abri a porta para ele e ele saiu. Tranquei a porta e sentei ao lado da mamãe.

– Sabe, mãe... Ela era uma boa vizinha, uma boa amiga, uma boa cozinheira... – brinquei - Mas todo mundo tem a sua vez, não é? Um dia todo mundo terá a sua vez... Até mesmo eu.

Não sei se isso ajudou, mas vez ela chorar ainda mais. Tentei confortá-la, falei para ela ir tomar um banho e descansar um pouco. Sei como ela se sente... Na verdade, não sei não. Mas é muito ruim perder alguém muito próximo. Fiquei pensando naquele momento o que o Tatsuo tinha falado para mim na cafeteria: “Esse tipo de garota nunca foi o meu tipo”. Meninas mimadinhas que nasceram em berço de ouro puro banhado à ouro puro derretido ? Ou será o jeito das meninas? Mas a Naomi não é mimada (pelo meu ponto de vista). Eu gosto do Tatsuo, mas não queria deixar Naomi chateada ou nervosa comigo. Mas eu não sabia por quanto tempo poderia deixar isso de lado.

Assim que mamãe saiu do chuveiro escutei sua porta do quarto bater. Só falta a mulher ficar um dia inteiro na cama de novo. Levei um copo de leite quente com chocolate em pó para ela e obriguei ela tomar pelo menos metade do copo, assim, com o leite morno, irá dormir mais facilmente. Ela primeiro recusou, mas depois tomou tudo e pediu mais '-' Vai entender minha mãe... Antes que eu fosse pegar o leite, ela caiu no sono. Cutuquei ela para ver se não tinha morrido (talvez o leite estivesse vencido ou envenenado). Larguei o copo na cozinha e me despi para tomar um banho quente. Deixei a água cair em meu rosto para tentar apagar tudo que estava acontecendo. Como uma menina com apenas dezesseis anos pode suportar tudo isso? Morte, dor, sofrimento e paixão... É muita pressão. Sai do banho e vesti um pijama qualquer, um com short curto e uma blusa grande e folgada de tecido leve.

Deitei na cama e fechei os olhos. Não consegui dormir... Não estava a fim de descer até a cozinha para pegar um copo de leite morno para mim. Peguei meu celular e eram uma da madrugada. O que fazer esse horário? Dormir. Mas como não conseguia, mandei uma mensagem para Tatsuo.

“Quer vir aqui em casa?”

Depois de uns minutos meu celular vibrou e nele contia uma mensagem do Tatsuo. Abri e li a mensagem: “Vai dormir menina! :p Amanhã tem aula. Outro dia combinamos, tudo bem?”

Ao ler aquilo não estava nem um pouco a fim de responder, mas então eu insisti.

“:( Ahhh... Eu quero ganhar de você naquele maldito jogo de corrida ):”

Sério que eu mandei isso para ele? Depois que eu cliquei em “enviar” eu reli o que tinha escrito para ele e quis cancelar a mensagem, mas já era tarde demais.

“Tá legal... Mas como já está tarde demais, irei jogar uma partida apenas. Me espere :p”

O que eu estava fazendo? Meu cérebro está cansado – como pode ver – mas eu não estava nem um pouco com sono! Agora o menino de quem eu gamo tanto está vindo, à uma da madrugada, jogar comigo... Não quero nem ver aonde isso vai dar.