Já faz algum tempo desde que ele me aplicou o sedativo, seu efeito estava quase passando, mas meu corpo estava estranho depois de ter sido sedado várias vezes.

– Tyler só tem mais algumas horas, o prazo está acabando. -ele sorriu cinicamente.

– Me deixa ir embora. –supliquei em vão.

Sabe quando você acha que vai morrer, e flashbacks da sua vida passam em sua cabeça como se fosse um filme?Já tinha acontecido isso comigo várias vezes depois que fui seqüestrada. Algo em mim, me alertava que isso não ia acabar bem.

➢ ➣ ➤

Acabei de receber mais lanche de um fast-food qualquer, mas dessa vez eu não estava com muita fome.

– Qual é,não é tão ruim assim.-ele diz se referindo ao resto do meu lanche.

– Tenho sede.

– E esse suco não é o suficiente?

– Tenho sede de água. –lhe falei.

– Só um segundo. -ele se retirou indo ao que parecia ser outro cômodo do lugar em que estávamos.

Segundos depois que ele saiu ouvi barulhos e vozes, mas eu não conseguia distinguir as palavras. Logo depois os barulhos foram ficando assustadores, como se pessoas estivessem brigando e quebrando objetos.

– Cadê ela?-Era uma voz absurdamente aborrecida, era a voz de Tyler. Parecia ser, só podia ser, claro que era!

Reuni toda a potencia das minhas cordas vocais e gritei o mais alto que eu podia. Gritei estridentemente por Tyler. E logo depois eu o vi na minha frente, ele tinha sangue escorrendo de seu nariz e mais alguns cortes pelo rosto. O alivio tomou conta de meu ser quando ele começou a me desamarrar, e as lágrimas não paravam de rolar pela minha face.

– Eu vou te tirar daqui. -Tyler segurou minha cabeça entre suas mãos e deu um beijo em minha testa, tentando me acalmar. E depois voltou sua atenção as cordas que me prendiam.

Eu não conseguia conter as lágrimas que teimavam em sair dos meus olhos. Eu estava aliviada, mas mesmo assim sentia medo. O irmão de Andrew voltou e então tudo foi rápido, ele empurrou Tyler violentamente para longe de mim e no calor do momento atirou. Eu nem tinha percebido que ele estava com uma arma nas mãos, ele parecia estar fora de si e depois de ter ouvido o barulho do tiro,ele ficou paralisado olhando para Andrew que vinha em nossa direção.

Depois do tiro,tudo o que se ouvia era meu grito desesperado.Tyler estava caído no chão e eu vi uma pequena poça de sangue se formar ao redor dele.Andrew veio até a mim para me ajudar a me soltar e o irmão dele continuou sem reação,jogou a arma no chão e ficou olhando para nós petrificado.Acho que ele nunca tinha feito isso,nunca tinha atirado em alguém.

Assim que alcancei Tyler, Andrew foi confrontar o irmão. Eu não conseguia fazer outra coisa a não ser chorar.

– Tyler,você vai sobreviver está bem?Confia em mim, nós vamos ficar bem. -minha voz estava trêmula tanto quanto o meu corpo.

Ele acenou positivamente com a cabeça enquanto agonizava de dor.

– Andrew, precisamos de uma ambulância com urgência. -o informei, já que ele parecia não notar a situação.

Tyler segurava a minha mão, enquanto eu beijava sua bochecha, seu queixo, seu nariz, suas pálpebras e sussurrava que tudo ia ficar bem e que ele aguentasse firme.

E tudo ficou uma confusão só, homens fardados (parecia se tratar de policiais federais, ou agentes da CIA ou sei lá) invadiram o lugar e levaram os irmãos Campbell, o pai do Tyler veio correndo ao lado de paramédicos para que o levassem até um hospital e eu tentei acompanhar, mas fui impedida.

Simplesmente parecia que eu estava invisível, até que um paramédico me avaliou rapidamente e pediu para um policial me levar para casa. Não importava que eu estivesse histérica, eles me colocaram dentro de um carro e estavam determinados a me levar para casa.

– Por favor se acalme,tudo vai ficar bem.Primeiro preciso que você vá comigo a delegacia...

– Delegacia? Você está louco?Eu preciso acompanhar o Tyler. -falei com a voz esganiçada.

– Ok.Então vamos resolver isso aos poucos.Onde você mora?

– Não irei a lugar algum a não ser o hospital. -falei determinada.

– Se você colaborar tudo vai ser mais fácil.

– Fácil? Tyler foi baleado, o que tem de fácil nisso?Vocês nem me deixam acompanhá-lo.

– Você estando lá ou não, ele vai ficar bem, deixe os profissionais fazerem seu trabalho e pronto.

– Você não entende... -insisti, mas fui interrompida.

– Você é quem não está entendendo. Fique quieta e me diga logo onde você mora, a não ser que queira ir direto para a delegacia prestar depoimento sobre os últimos acontecimentos.

Eu não queria ir para a delegacia agora, resolveria isso depois. Lhe passei meu endereço e esperei até chegarmos,depois eu faria Erick me levar até Tyler.

➢ ➣ ➤

– Cassie!-Perry me abraça fortemente assim que abre a porta, e minhas lágrimas voltam a rolar pelo meu rosto.

Assim que Perry me soltou, segurei firme nos braços de Erick o encarei dentro dos seus olhos profundamente.

– Me ajuda Erick, levaram o Tyler e não me deixaram ir junto. Ele não pode me deixar. -lhe falei.

– Calma Cassie, está tudo bem. Respira fundo e me explica tudo o que aconteceu. -pede Erick.

– Você é quase da família, o pai do Tyler vai deixar você vê-lo, você precisa me levar. Por favor.

– Calma amiga, primeiro toma um banho, come alguma coisa e descansa, depois você vai ver o Tyler. -diz Perry.

– Não me peça para ter calma, ele foi baleado e tinha muito sangue. Por favor Erick ,vamos agora.-supliquei com minha voz rouca de tanto ter chorado.

Erick ficou pálido quando contei sobre Tyler. Ele olhou para Perry como se esperasse que ela o autorizasse para me levar para o hospital, Perry assentiu e nós três saímos juntos.

Tyler no chão, e seu sangue ao redor. Isso não saia da minha cabeça. O pânico que eu sentia agora ultrapassava o que eu estava sentindo quando estava com o irmão do Andrew. Uma vida estava por um fio, a vida de Tyler, o cara que faz parte da minha vida desde o começo, o cara que eu sempre detestei e amei.

Tínhamos uma história complexa. Fomos amigos, depois passamos a ser excessivamente rivais e agora eu sinto algo tão forte por ele que não consigo explicar. Na verdade, anos atrás enquanto ele me odiava, eu apenas me sentia frustrada e magoada por ter deixado de fazer parte do seu mundo. Não sei o porquê ele se distanciou de mim e começou a me tratar mal, ele podia não se lembrar, mas eu ainda me lembro bem que ele foi a primeira pessoa que eu pude chamar de amigo.

Eu nem imaginava que esse “amigo” algum dia me trataria como se eu fosse sua inimiga, e muito menos que tempos depois nos reencontraríamos e eu fosse me apaixonar tão profundamente por ele, ou melhor, que eu fosse amá-lo. Esse é o segundo acontecimento que me serve de prova de que eu realmente o amo, esse medo tenebroso de perdê-lo é o que me faz relevar todos os momentos difíceis do qual passei por sua causa, e me faz perceber que nada tem mais importância do que tê-lo em minha vida.

– Ele não pode me deixar, isso é a única coisa da qual eu não o perdoaria nunca. -murmurei.

– Fique tranquila, a mãe dele me falou que ele está fora de perigo. A bala não atingiu nenhum órgão vital, e ele recebeu doação de sangue do pai dele. -diz Erick vindo na minha direção e na de Perry.

– Foi horrível.

– Está tudo bem agora. -me tranqüiliza Perry.

– Se não te incomodar, eu gostaria de saber o que aconteceu. Como você foi seqüestrada e como Tyler foi parar no estado em que está?-Erick me pergunta delicadamente.

Foco minha visão em um ponto qualquer do hospital em que estávamos, respiro fundo e começo a contar tudo para Perry e Erick. E assim que começo a falar, atraio a atenção da mãe de Tyler que vem caminhando em nossa direção.