ASSIM QUE O SINAL TOCOU avisando que às aulas acabaram, os alunos saíram da sala como se estivesse sem oxigênio lá dentro. Assim que saí vi Aria e Noel sussurrando e gritando ao mesmo tempo, e quando eles perceberam minha presença, ele se afastou e se despediu de nós.

– O que aconteceu? Vocês pareciam estar discutindo. – perguntei, curiosa.

– Sean Ackard me chamou para sair na frente dele e ele ficou com ciúmes, mas ele também não quer assumir que estamos namorando. – ela reclamou. – Estou tão cansada de garotos da escola. Eles são bobos e imaturos.

– Você gosta do Noel? Se sim então você devia conversar com ele sobre essas coisas. – tentei aconselhar, mas eu não era a pessoa ideal para isso.

– Bem, não conversamos muito. – eu sorri maliciosamente e ela corou. – Ele não gosta de conversar sobre sentimentos e essas coisas.

– Talvez ele não esteja... preparado para lidar com.... o que sente por você. – ela franziu a testa depois segurou o riso. – Eu não sei, eu sou péssima com conselhos amorosos! – falei, rindo.

– Eu senti tanto a sua falta! – ela me abraçou e a abracei de volta. – A gente podia fazer uma daquelas antigas festinhas que fazíamos no seu celeiro um dia desses, que tal?

– Claro! Tenho que checar com Melissa, por que ela se apossou do celeiro. – revirei os olhos. Melissa sempre tinha tudo que queria, eu e a odiava por isso. Éramos amigos até eu fazer 10 anos, ela tinha 16. Agora ela estava na faculdade e eu no penúltimo ano do ensino médio, então nossos pais nos botavam para competir. Aquilo era tão frustrante por que Melissa estava sempre acima de mim, e meus pais a tratavam melhor por causa disso. – Talvez ela possa emprestar nesse fim de semana.

Emily e Alison se aproximavam, também discutindo. Hanna vinha do outro lado, abraçada com Caleb.

– Emily, ela fuma! – Alison dizia. Encaramos ela, confusa. – Em está se envolvendo com uma drogada.

– Eu não estou me envolvendo! – ela se defendeu. – Uma garota entrou agora que nem você Spence, e ela é nova em Rosewood. Como é minha vizinha, me ofereci para mostrar o bairro para ela. E Maya também é, sabe, lésbica. Eu achei ela legal e tudo, mas não é como se estivéssemos saindo!

– Opa, está saindo com alguém, Em? Quem é ela? – Hanna disse, entrando no meio da conversa.

– Eu não estou saindo com ninguém! – ela falou rispidamente.

– Nossa, se está tão irritada com a possibilidade de vocês saírem significa que ela não é só uma amiga. – Ali disse, maliciosamente e rimos. Emily ainda parecia irritada mas se juntou as risadas.

– Aria estava falando de fazermos uma festa do pijama no celeiro um dia desses. – comentei.

– Ah, quando? Eu vou sair com Toby esse fim de semana. – ela disse, e tentei com todas as minhas forças não bufar ou revirar os olhos. O fim de semana INTEIRO? Qual é.

– Por mim pode ser qualquer dia dessa semana. Vou falar com Melissa e mando uma mensagem para vocês mais tarde. – disse, e me despedi delas.

Fui andando para casa, apesar de Emily insistir em me dar carona por causa do negócio do assalto. Passei pelas casas de Rosewood, todas pareciam coisa de filme de tão bonitas. Aquela cidade inteira parecia ser de filme, uma cidade perfeitinha por fora mas cheia de segredos por dentro. Assim como minha família. Só de pensar naquilo, estremeci. Sempre desconfiei que meus pais escondessem alguma coisa por que eles pareciam muito suspeitos às vezes, mas não tinha nenhuma prova concreta. Virei a esquina e vi a casa de Toby. Sua caminhonete, que ele comprou no meio do primeiro ano do ensino médio, se aproximava, vindo da casa da Alison.

Ele estacionou e assim que saiu do carro, olhou para mim. Eu não sabia o que dizer ou fazer então simplesmente o encarei de volta e continuei andando. A rua estava parada e a única coisa que se ouvia era as folhas voando com o vento forte, que a assobiava. E claro, os passos de Toby vindo em minha direção.

P.O.V. Toby

Eu não sabia o que dizer para ela. “Oi, eu sei o que eu disse isso de manhã, mas eu não amo Alison, na verdade, sempre foi você, Spencer.” não era uma boa maneira de começar, também por que não queria dizer isso agora. Estava ventando e senti o cheiro do perfume de baunilha dela e naquele momento eu só queria beijá-la para sempre. Eu nem sabia por que tinha dito que amava Ali. Eu a amo como amiga mas... não para namorá-la. Eu já gostei dela, de verdade, mas não gostava faz tempo e eu sabia que não podia terminar com ela por que ela sabia. E Alison não tinha pena, ela contaria para todo mundo.

– Toby? – ela disse, me tirando do transe. – Está tudo bem? Você está parado há uns dois minutos.

– Sim, sim tudo bem. – não sabia como continuar. – Ahn, quando eu posso passar na sua casa para vermos o filme? Eu sei que o trabalho é para daqui há 10 dias mas tem outros trabalhos, e as provas estão chegando, então...

– Ah, isso. – ela respondeu. O que ela pensou que era? – Bem, você pode passar lá em casa amanhã, pode ser?

– Pode. Bem, então eu alugo o filme e.... a gente se vê amanhã? – eu disse, desejando internamente que ela dissesse não e fôssemos no Brew conversar como nos velhos tempos.

– Claro. Até amanhã. – ela girou nos calcanhares e foi indo em direção a sua casa, que era no outro lado da minha rua. Suspirei e atravessei a rua, voltando para a minha casa. – Espere.

– O que? – perguntei, esperançoso.

– Se você realmente ama Alison, por que fez isso com ela? – demorei um pouco para pensar e ter certeza de que ia falar o que ia falar.

– Porque não a amo. – soltei, e me senti tão aliviado. Falar a verdade às vezes dava uma boa sensação.

– Mas o que? – ela disse. – Como assim?

– Nos vemos amanhã. – respondi, e atravessei a rua. Quando menores, ela sempre que ela precisava saber alguma coisa que eu sabia, eu ficava a enlouquecendo com isso. Olhei para atrás e ela me encarava como se esperasse eu voltar e disser que era uma brincadeira e explicar para ela. Mas eu não ia fazer isso.

P.O.V. Spencer

– Sério, Toby? Não temos mais 11 anos! – gritei para a casa dele e revirei os olhos. Fui andando para casa, o vento batendo fortemente contra mim. Assim que cheguei no quintal, vi Melissa nos fundos pegando algumas caixas e indo em direção ao celeiro.

– EI! – gritei, indo em direção a ela, que se virou para mim.

– Oh, oi Spence! – ela disse, falsamente animada demais. – Você perdeu o “Estrela do Dia” de hoje! Adivinha quem ganhou?

Estrela do Dia era algo que fazíamos em todas as refeições em família. Era um jogo que falávamos as coisas boas (= acadêmicas) que aconteceram conosco, como uma nota ou uma competição, um contrato etc. Melissa ou meu pai sempre ganhavam. Não precisava nem adivinhar.

– Pela sua felicidade, você! – eu disse, sem nenhum ânimo. – Então, você pode me emprestar o celeiro um dia desses?

– Para que? – ela voltou ao normal, ou seja, a arrogante de sempre.

– Bem, eu acabei de voltar para cidade e Aria estava me lembrando das festas que costumávamos fazer no celeiro, então... – terminei a frase aí, para ver se ela entendia aonde eu estava chegando.

– Olha, eu estou me mudando para o celeiro definitivamente, ou seja, nada de festinhas nele. – já ia brigar com Melissa, mas ela me interrompeu com o dedo. – Porém, ainda não guardei nem metade das coisas, então você me ajuda a tirar o que eu já coloquei e vocês podem fazer uma última festa hoje. – ela terminou a frase falando como um juiz no tribunal, ou seja, era o máximo que ela ia ceder.

– Tudo bem. – disse, bufando. Peguei meu celular e enviei uma mensagem para as quatro.

SpenceH: Gente, a festa é hoje ou nunca! A vaca da Melissa disse que só vai emprestar hoje pq acabamos de nos mudar. Alguém pode vir ajudar?

AliD: To indo pra aí! XOXO

HannaM: Só vou poder ir lá pelas oito, vou sair com o Caleb hj :3

. . .

ESTAVA CARREGANDO ALGUMAS CAIXAS de Melissa para fora, e olhei para a mesma. Ela estava usando um chapéu exagerado demais para uma jacuzzi. “Nem para me ajudar” pensei. Olhei o relógio de novo, devia ser a quinta vez que eu fazia isso. Onde estava Alison? Acabei me distraindo e a caixa enorme que carregava “arrebentou”.

– Bosta. – murmurei. Ouvi passos no jardim e vi Toby vindo em minha direção. – O trabalho é só amanhã, sabia?

– Ei, Spencer! – ouvi Alison atrás e meu olhar foi de Toby para Ali várias vezes. – Chamei ele para nos ajudar, fiz mal?

– Que nada... bem, tem mais caixas lá dentro eu vou pegar o que caiu dessa aqui. – respondi, e eles foram lá dentro. – Só não transem aí!! – berrei e eles riram. Olhei em direção a minha irmã, que me olhava como se eu fosse maluca.

Eu não entendia Toby. Uma hora ele diz que não ama Alison e na outra ele aparece aqui para ajudar nós duas. Aquilo me enlouquecia e ele sabia disso. Às vezes achava que ele fazia aquilo de propósito, para me magoar. Tirei esse pensamento da minha mente. Toby não me magoaria de propósito. Terminei de catar tudo que estava dentro daquela caixa e levei para dentro. Voltei e Alison e Toby que levavam caixas para casa.

– Toby, você pode me ajudar com os colchões lá em cima? – perguntei.

– Claro. – ele disse, e segui os dois até a sala. Eles deixaram suas caixas lá e eu e Toby subimos as escadas. Assim que entramos no meu quarto, que tinha dois colchões extras enormes de ar debaixo da cama, me voltei para ele.

– Ok, por que você faz isso? – disse, brava.

– Isso o que? – ele retrucou, fingindo inocência.

– Não se faça de idiota, Cavanaugh. Eu te conheço há dez anos, você acha que não sei o que você faz ou pensa? – respondi friamente. – Uma hora você diz que ama Ali outra diz que não e depois vem até aqui com ela. E ainda me deixa curiosa e confusa e você sabe que eu enlouqueço quando fico curiosa e confusa. – falei sem uso de vírgulas e muito rápido, e Toby tentou não rir.

– Quer dizer que eu te deixo louca? – ele sorriu travessamente, e ri um pouco. Ele era tão idiota.

– Falando sério agora. Você a ama? Se não, por que disse que sim e por que está com ela?

– Spencer, eu não quero falar sobre isso, ok? Não podemos conversar como dois amigos normais que não se veem a dois anos? – ele parecia cansado. Mas eu precisava de respostas. O olhei insistente. – Eu disse que a amo por que queria que você pensasse que a amo e se afastasse de mim por que não quero que Alison descubra.

– Descubra o que? – nos voltamos rapidamente na direção da voz de Ali, e nos entreolhamos. – Desculpem, só ouvi essa frase. Precisam de ajuda com o colchão?