O retorno do menino do espaço escrita por Celso Innocente


Capítulo 21
A primeira briga.




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Às onze horas e trinta minutos, final do dia letivo, tentei sair o mais rápido possível. Apanhei minha bicicleta aro dezesseis e nem esperei por Paulinho, procurando escapar de confusão. Mas não foi possível. Daniel, Marcio e Evandro, também muito rápidos, me alcançaram antes mesmo que eu tivesse montado na bicicleta. Evandro a puxou com força para trás, enquanto Daniel gritava:

— Calma aí seu metido a sabe tudo!

Evandro não levara muita sorte. Quando puxou a bicicleta com força, talvez por meu espanto, soltei-a e ela derrapou, acabando por cair sobre ele, machucando seu olho direito com a alavanca do freio. O moleque estremeceu de dor e saiu de lado a se socorrer, enquanto que Daniel, covardemente (devido nossas diferenças de tamanho e físico), me segurou pelo colarinho da camisa branca, tentando me levantar, dizendo:

— Vou quebrar seus dentes e mostrar quem é que manda neste pedaço. Cretino!

Parece que estava mesmo com sorte. Quando ele forçava pra me levantar, eu mesmo tropecei em uma pedra, que juraria não estar ali, fazendo com que ele caísse de cara no chão da rua mal recapeada e com isso, machucando suas duas mãos nos pedriscos, a ponto de sangrar bastante, fazendo com aquilo, o grandalhão gritar de dor.

Então, Marcio, furioso, resolveu me agredir sozinho. Eu, porém, sem esperar, me abaixei, a fim de apanhar minha bicicleta caída e o pivete acabou por tropeçar em mim, caindo de costas sobre minha pobre bicicleta, machucando suas próprias costas, a ponto de levantar do chão, torto de dor.

As crianças que nos rodeavam, gritavam em come-moração à minha vitória prévia, quando apareceu Paulinho, acompanhado por outros três garotos da oitava série.

— Calma aí! — Gritou ele — Quem pensa que vai maltratar meu irmãozinho?

— Não se preocupe — O tranquilizou André (de minha sala). — Regis, sozinho, já deu um jeitinho nos covardes.

— Tá tudo bem Regis? — Perguntou-me Paulinho.

Não soube responder nada. Na verdade, estava tão assustado, que nem saberia dizer o que realmente tinha acontecido. Então apenas balancei os ombros.

Mesmo assim, Paulinho e seus colegas recém-chegados, deram alguns safanões nos marmanjos dizendo:

— Saiba que este é meu irmãozinho preferido. Além de que, toda a escola gosta dele. Ai de quem pensar em relar a mão neste menino, ou em qualquer outro.

André colocou a mão em meus ombros e disse a Paulinho:

— Nós ajudaremos a cuidar desse garoto. Se bem que o danado parece saber se virar muito bem!

A roda de crianças foi se dissolvendo, inclusive André e os colegas de meu irmão, além de meus agressores. Com isto, de bicicletas, retornamos à nossa casa.

No caminho, Paulinho ainda me perguntou:

— O que houve? Por que seus companheiros de equipe tentaram lhe espancar?

— Não coloquei o nome deles em meu trabalho — expliquei.

— Não colocou? — Se admirou meu irmão.

— Não! Eles não me ajudaram a fazer nada!

— Que eles não iriam ajudar eu já sabia! Mas que você não colocaria os nomes deles… Vá ter coragem assim não sei aonde!

— Por quê? Eu deveria ter colocado?

— Outro menino de seu tamanho, se comparando o tamanho deles, colocaria!

— Agi mal?

— Você agiu como um herói! O problema é que muitos heróis acabam morrendo.

— Hem! — Me assustei.

— Não se preocupe. Você não vai morrer. Alem do mais… Parabéns por sua coragem! Te admiro muito maninho.

Dei um leve sorriso, depois pedi:

— Paulinho... Não conte nada pra mamãe, tá!

— Sei disso garoto — riu ele. — Conheço a mamãe melhor do que você!

Chegando a nossa casa, fui direto ao quarto, ainda acompanhado por Paulinho, para trocar de roupas e depois almoçar. Enquanto trocava, me lembrei do senhor Frene e comecei a decifrar o enigma de tal quebra cabeças: só poderia ter sido ele. Nem um menino do mundo, teria tanta sorte, a fim de três agressores se acidentarem atrapalhada-mente ao mesmo tempo, enquanto tentavam espancá-lo. Até imaginei a cena:

“O senhor Frene chama meu outro eu e Erick à sala do computador e diz”:

— Três valentões pretendem massacrar nosso Regis na Terra. Nós não iremos deixar! Certo?

— O que faremos senhor Frene? — Pergunta Erick.

— Pra que temos o botão ípsilon três?

— Proteger Regis na Terra — confirmou o outro eu.

— É isso aí! — Exclamou o senhor Frene. — Então, entremos em ação!

E como em um vídeo game do futuro, conforme os moleques tentavam me agredir, os três, lá no espaço, batalhavam por mim.

Eu já de cueca, estava rindo. Era realmente isso o que teria acontecido. Então olhei para o alto e disse sozinho:

— Obrigado senhor Frene. Tenho certeza que foi o senhor.

Acabei de me vestir e fui almoçar com os demais, que já estavam a postos, defronte à mesa. Sentei-me, observando na parede, uma foto minha, com roupas de astronauta:

— Como está indo de escola, Regis? — Perguntou-me papai.

— Eu? — Me espantei, olhando para Paulinho — Muito bem! Estou me adaptando.

— Adaptando a que? — Quis saber mamãe.

— É… — Me embaracei — Ao convívio com crianças maiores do que eu!

E assim, conversando meio preocupado, continuamos o delicioso almoço, preparado por mamãe, que era ótima cozinheira.

Ao terminar o almoço, corri a meu quarto e me deitei para descansar um pouco. Aquilo já era uma rotina: sempre dormir um pouco após o almoço.

Acordei por volta das três horas da tarde e encontrei mamãe, ainda trabalhando na cozinha.

— De novo não ajudei você, mamãe — insinuei triste. — Me desculpe.

— Não se preocupe — pediu ela. — Quero que você cumpra apenas a sua obrigação.

— E qual é minha obrigação? — Perguntei duvidoso.

— Estudar, ser criança e ser feliz.

— Puxa mamãe! — Ri alegre — Sou o menino mais feliz do mundo!

— É isso o que mais queremos — disse ela com sinceridade.

— Posso ir à casa da Beth?

— Dê-me um beijo.

Atendi seu pedido com carinho e saí às pressas de bicicleta até a casa de Beth, que estava a quatro quadras de nossa casa.

Chamei no portão e sua mãe me atendeu. Como sempre, muito feliz, me cumprimentou:

— Bem vindo Regis. Entre.

Adentrei a sua sala, onde encontrei Beth sentada no sofá, com um livro na mão.

— Oi Beth — cumprimentei-a. — Estudando, pra variar?

— Não! Estou apenas lendo um romance.

Beijei-a no rosto, sentei-me a seu lado e perguntei:

— Bonita história?

— “Amor, o Pacto Quebrado” [1]. Muito lindo! E você? Como está?

— Briguei na escola — contei-lhe um tanto chateado.

— Você! Regis! Brigou na escola?

— Briguei.

— Duvido! Ninguém ousaria brigar com você.

— Três grandalhões brigaram comigo… Mas não se preocupe. Correu tudo bem.

— Bateram em você?

— Não deu muito certo pra eles.

— Se alguém bater em você, me avise — disse ela brava. — Juro que vou lá e arrebento a cara do ordinário!

— Calma Beth! — Pedi rindo exageradamente — Não tenha tanta violência.

— Você é meu namorado. Protegerei você com unhas e dentes.

— Obrigado! — Agradeci ainda rindo — Paulinho e seus amigos me protegeram.

— Mesmo assim, dê meu recado a quem quer que seja — pediu ela ainda brava. — Ai de quem relar os dedos em você.

— Não se preocupe. No geral, sou amigo de todos.

— Também acho que seja.

— Sabe Beth. Eu te amo muito e sei que você gosta muito de mim também...

— Gosto muito uma ova! — Reclamou ela — Te amo do fundo de meu coração.

— Obrigado! Mas é por te amar que quero lhe pedir algo.

— O que você vai inventar agora?

— Você terá que arranjar outro namorado.

— Pare com essa conversa, menino — reclamou ela, fingindo braveza. — Já tivemos esse papo e não vou deixar que você me abandone.

— Não quero te abandonar — insinuei triste. — Mas você não vai poder me esperar. Daqui a pouco tempo, estarei parecendo seu filho.

— Que assim seja!— Disse ela — Se não podermos casar, terei você como a um filho!

— Mas você precisará de um marido.

Pôs o dedo indicador direito em meus lábios, como de costume e disse:

— Não quero um marido. Só amo você... gatinho!

Dona Joana apareceu na sala e disse:

— Parem com esse namorico e venham tomar um suco.

©©©

Às sete horas da manhã seguinte, já dentro da sala de aulas, enquanto aguardávamos a entrada de dona Izabel, professora de Ciências, Daniel, talvez pra não mostrar moleza, se aproximou de minha carteira, puxou minha camisa no ombro e disse:

— Olha aqui seu molequinho! Não esqueci o que aconteceu ontem não, tá! E não vá dar de bebê chorão correndo a contar ao irmãozinho não, viu! Se você bobear, vou acabar com sua panca de metido. Ontem você levou muita sorte, mas a sorte não acontece todo dia não. Certo? É melhor ficar esperto.

— Cala a boca Daniel! — Gritou sua irmã Andréia, se levantando — Deixe o menino em paz. Vá mexer com alguém do seu tamanho.

— Você que não se meta! — Ameaçou ele a própria irmã — A conversa não chegou ao galinheiro ainda.

— Vá ser valentão com alguém de sua laia! Você quer mostrar de valente por cima de Regis, só porque ele não fez o trabalho de mão beijada pra você? Ele agiu corretamente — olhou para mim e disse. — Parabéns Regis. Se todos os garotos agissem como você, não teria valentão explorando as crianças menores.

— Dá próxima vez estarei na equipe deste pirralho novamente — afirmou Daniel. — Quero ver quem vai impedir!

— Não quero estar na sua equipe! — Neguei um pouco assustado.

— Veremos! — Disse ele, rangendo os dentes.

Nesse momento, a professora dona Izabel, entrou na classe. Todos se sentaram. Quando Daniel se virou para seguir até seu lugar, sua camisa enroscou na carteira de Alex, que sentava atrás de minha carteira, fazendo com que ele saísse tropeçando quase caindo, com a camisa rasgada. Toda a sala de aula riu, inclusive Evandro e Marcio. Apenas três pessoas não riram: o desastrado Daniel, bufando de raiva, eu por medo e a professora por respeito.

Na saída, adotei uma estratégia diferente ao dia anterior: aguardei que praticamente todos os alunos se retirassem da escola, saindo quase por último. Apanhei minha bicicleta e avistei Paulinho, me aguardando na esquina. Acho que Daniel, Marcio e Evandro, resolveram deixar de confusão, pois como só estavam eu e Paulinho, éramos presas fáceis demais para eles.

[1] Obra de “Barbara Cartland”


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